sábado, novembro 30, 2024

Black Friday

 

De manhã, ao espreitar os mails ou as mensagens, nem sei, vi anúncios relacionados com a black friday. Não tinha percebido que era esta sexta-feira. Pensei, então, que poderíamos aproveitar para fazermos já algumas compras de Natal e aproveitávamos e almoçávamos no centro comercial.

A receptividade do meu marido foi nula. Fomos fazer a nossa caminhada com o nosso fofo dog e nem falei mais nisso. 

Uma pessoa, depois de ter andado décadas no stress do trânsito, das reuniões, dos almoços a correr e das compras feitas nos poucos espaços livres, quando se apanha à larga, já não consegue pensar em ir meter-se em confusões.

Ir para o meio da cidade, ir para centros comerciais, andar em lugares em que não se consegue estacionar à primeira, parece-nos pesadelo do qual fugimos a sete pés. Mas, por outro lado, em algum momento teremos que fazer compras. E precisava de ir ao supermercado...

Quando estávamos a chegar a casa da caminhada, o meu marido, com ar decepcionado e quase resignado, disse: 'Mas não é para andares a correr todas as lojas, não estou para lá passar a tarde.'

Consolei-o: 'Nem pensar. Almoçamos e depois é rápido.'

O meu marido ainda receou que estivesse muita gente por ser black friday. Descansei-o: 'É dia de semana. Durante o dia deve haver pouca gente às compras.'

Pois, pois... Dramático. 

Para começar, voltas e voltas para arranjar lugar para o carro. Por pouco, eu própria não sugeri que nos fossemos embora. 

Por fim, depois de termos conseguido descobrir um lugar apertadíssimo, lá fomos. 

Começámos por ir para o restaurante. O almoço foi bom. 

Mas a seguir foi para esquecer. Gente, gente, gente. 

Várias coisas que comprei não tiveram nada a ver com a black friday. Às tantas nem me lembrava disso. Quando me viu com umas blusas para os miúdos na mão, o meu marido alertou: 'Reparaste que isso está sem desconto? Não é por nada, mas não quiseste vir para aproveitar os descontos?'. Nem tinha dado por isso. Ambientes com milhares de coisas e muita gente deixam-me à beira da exaustão, sem oxigénio no cérebro. Vieram aquelas blusas na mesma, já não conseguia ir outra vez à procura de blusas bonitas e com os tamanhos certos.

Na loja seguinte, a mesma coisa. O que eu gostava, estava sem descontos. Mas, mesmo assim, dar com os tamanhos certos foi uma chatice. Depois, os miúdos estão a crescer, preciso de ver as coisas desembaladas para ver o tamanho. O meu marido já a ficar desesperado, volta e meia a vir ao pé de mim dizer que não tinha paciência. E eu, a vê-lo a andar por ali às voltas, impaciente, ainda mais desorientada fico.

Na livraria, uma barafunda de livros, de tretas, de descontos, e muita gente. Queria encontrar qualquer coisa e não descobria nada. Primeiro que encontrasse algum livreiro para me ajudar foi um castigo. Depois não era uma livreira, era uma funcionária que pouco sabia de livros. Andava também às aranhas por ali, de escaparate em escaparate, à procura. De vez em quando, aparecia o meu marido a perguntar porque é que eu não me despachava. Com isto tudo parece que figo cegueta, não assimilo o que vejo. Para além de que fico sem capacidade para procurar, folhear, discernir. Obtusa até à quinta casa, é assim que me sinto.

No supermercado, outro desatino. Queria encontrar brinquedos e não via nada do que queria nem encontrava nenhum empregado que me ajudasse. E, por fim, perdi várias vezes o meu marido. Na caixa, daquelas self service, outro desatino. A cada dois ou três artigos, aparecia a mensagem para chamar um empregado e não havia nenhum empregado disponível. O meu marido fumegava e eu já só queria que ele não resolvesse desistir, deixando ali tudo, a couve, as bananas, o pão, o entrecosto.

No meio disto, gastei um dinheirão, não percebi que tivesse usufruído nem um cêntimo da porcaria da black friday.

Quando chegámos a casa já era de noite. O cão, coitadinho, estava encolhido, creio que pensou que o tínhamos abandonado. 

Falta-me ainda comprar mil coisas mas não sei quando estaremos recuperados desta tareia para uma segunda investida. O meu marido diz que para a próxima não vai, que vá eu sozinha, que não tem paciência para estar horas à minha espera. Diz isto, apesar de saber que eu é que estou à espera (de empregados, da minha vez, de pagar). Por um lado, sozinha, liberta-me do stress de vê-lo a andar às voltas, num desespero. Mas, por outro, depois não tenho ajuda com os sacos.

Em suma: detesto cada vez mais fazer compras. E a black friday é para quem gosta de barafundas. Não é para mim.

sexta-feira, novembro 29, 2024

Afinal, aquela tanga da redução de 90% dos alunos sem profs era confirmadamente isso mesmo: uma valente tanga. E é o próprio Ministro da Educação que o assume.
E o que é que isso nos diz sobre todos os que defenderam essa tanga como sendo verdadeira?
Tudo.

 

Era óbvio, mais do que óbvio, que os números apresentados pelo stand up comedy, Fernando Alexandre, eram falsos. Não havia maneira de serem reais. Só por magia. Mas a magia está reservada a outro tipo de matérias, não a assuntos objectivos, concretos, mensuráveis.

Claro que qualquer pessoa com dois dedos de testa perceberia que não era possível que tivesse sido operado tamanho milagre. O PS veio logo desmontar a farsa e, pela explicação, logo ficou claro que a barracada que estava ali armada era inequívoca.

Pois, por muito óbvio que fosse que tudo aquilo era não apenas uma aldrabice como também bacorada da grossa, logo a carneirada cor-de-laranja veio jurar a pés juntos que os números do Governo estavam certos. Em coro, baliram loas ao Governo e, com os seus hábitos trauliteiros, atiraram à bruta sobre quem os desmentia. 

Ainda me lembro quando aqui em casa o meu marido fez zapping a toda a força quando a Maria João Avillez, naquele seu insólito papel de arauto do Governo, veio dizer que tínhamos que acreditar nos 'números oficiais' do Governo. E disse aquilo como se fosse uma virgem inocente e não alguém com idade para ter o rabo mais do que pelado, como se não soubesse que os números não mentem... excepto se andarem às cambalhotas com eles e se quem os analisa for ignorante a ponto de não perceber que as estatísticas e os rácios foram martelados ou estão de pernas para o ar.

E no meio disto, aponto também o dedo ao Expresso. O Expresso já devia estar mais do que escaldado. O João Vieira Pereira não disse que o Governo não voltava a enganá-lo? Pois... é todos os dias... Se não me engano foi justamente o Expresso que anunciou o falso milagre em altas parangonas... A credibilidade do Expresso vai-se esfumando de cada vez que os seus jornalistas são apanhados de calças na mão, a fazerem fretes ao Governo AD.

No meio disto, menos mal que o ministro veio assumir que não atina com os números e já não faz ideia de nada. Ah pois é bebé... Mas, pelo menos, veio a público assumir. Mas o facto de ter acreditado naquele milagre e de ter vindo a público anunciá-lo faz-me duvidar muito da sua inteligência, da sua perspicácia, da sua agilidade mental. 

Volto a dizer: não deve ser ministro ou secretário de estado quem quer mas quem tem competência para o ser. E, neste Governo, ainda não sou capaz de dizer se há algum competente no que anda a fazer. Em, contrapartida, incompetentes são à mão cheia, uma concentração de incompetência como não há memória.

quinta-feira, novembro 28, 2024

Mentenegro às 20 horas, a árvore de Natal em que ninguém reparou, a Coisinha que não quis ser o Menino-Jesus do presépio humano engendrado pelo saloio de Espinho e as oferendas dos reis-maguinhos (azeitonas de contrafacção e chamuças quentinhas que as forças da autoridade apreenderam no Martim Moniz) que também ninguém viu:
- em suma, um acto falhado.
Daí que, por estas e por outras, possa passar-se a atribuir ao Mentenegro o cognome de o 'Ridículo'

 

Afinal foi mesmo o Mentenegro e não o Bolsonaro que, às 20 horas, horário do mais nobre que há, irrompeu pelas nossas casas adentro. 

Antes de soarem as vinte badaladas, ninguém sabia o que justificaria tal despropósito: iria anunciar uma reestruturação de monta? Iria anunciar grandes medidas de fundo, quiçá fracturantes? 

Afinal, depois de o ver e ouvir, toda a gente continuou na mesma. Um acto falhado, foi o que toda a gente, em todos os canais, concluiu. Parece que tudo se resumiu a anunciar, mais uma vez como se fosse coisa dele, a compra de carros de que o Governo do Costa já tinha tratado. Uma reincidência patética em querer ficar com louros do trabalho alheio, algo que deveria merecer tratamento psicoterapêutico.

Passou-se, disseram quase todos. Não tem noção, disseram os restantes. Absurdo, concluíram todos em uníssono.

Mas não eu. Eu alcancei o propósito da coisa.

Nem vale a pena imaginar grandes motivações pois 'o saloio de Espinho' (Marcelo dixit) é rasteiro demais para isso. Geralmente, com pessoas assim, os propósitos são apenas os que estão à vista.

E o que esteve à vista foi a árvore de Natal. E foi isso que ele ali esteve a fazer, nem mais nem menos: a mostrar a árvore de Natal.

Bem, talvez tenha tentado um pouco mais que isso. Bimbo que é bimbo, não perde oportunidade de exibir a sua bimbalhice. E, portanto, penso que não errarei se disser que ele ensaiou também apresentar-nos um presépio humano. Todos sabemos que, com aqueles seus arroubos de macho alfa e sorrisinho de joker, o seu pratinho é exibir-se em modo moderno, arrojado. E, portanto, ao lado da árvore de Natal, ali esteve o Presépio de São Bento à moda do saloio de Espinho.

Ele, o São José, claro (e nem vou comentar); a Rita Júdice (coitada, de tão boas famílias e agora a ver-se metida nestas alhadas), a Nossa Senhora; a fofinha Fiasco, o menino Jesus. Provavelmente, terá mesmo pensado em apresentá-la nuazinha, deitada nas palhinhas, a dar às perninhas, numa little manjedoura colocada ali em cima da mesa. Mas ela deve ter dito que estava frio, que se não fosse isso até dizia que sim, chefe, e para reforçar a sua posição, apresentou-se de echarpe enrolada ao pescoço. Dos restantes que ali estiveram a fazer figura de corpo presente, coitados, não sei qual aceitou fazer o papel de burro, qual o de boi (acho que eram homens pelo que vamos esquecer a vaca). E ainda estava ali gente que chegava para dar para os Reis Magos e para mais uns quantos carneiros.

Admirou-me foi o saloio de Espinho não ter levado a sua Senhora, que se veste tão a preceito, quiçá poderia desta vez não ir toda de pink com blusinha em transparências e rendas como se apresentou no Parlamento para comemorar o 25 de Novembro, mas ir toda de branco, com um piedoso véu, para tentar disputar o lugar de Primeira Nossa Senhora e atirar a Rita para um papel secundário. Cá para mim, alguém do protocolo deve ter aconselhado a desta vez não ir até porque já não cabia mais gente naquele presépio.

Quanto ao resto, cá para mim não vale a pena querer encontrar mais alguma justificação. Não há. Foi só isto.

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Até aqui tenho o vídeo do encontro dos Reis Magos antes de lá irem levar os seus presentes. Foi pena não termos visto o momento em que fizeram a oferta: provavelmente o senhor da ASAE levou as azeitonas que, segundo ouvi dizer, foram apreendidas naquelas magníficas rusgas, o da Judite uma carteira Kelly de contrafacção e o da GNR a cavalo deve ter levado umas chamuças ainda quentinhas que arrebanhou nalguma lojinha do Martim Moniz.


E mais não digo

O Bolsonaro fala às 8 - informou-me ele

 

Isto foi o meu marido que, há bocado, quando me cruzei com ele na cozinha, me disse. 'O Bolsonaro fala às 8'. Depois ele foi para um lado e eu para outro. Mas fiquei a pensar qual a relevância da coisa para ele me anunciar tão despiciendo assunto. 

Quando voltámos a cruzar-nos, perguntei: 'E o que é que a gente tem a ver com isso?'.

Respondeu: 'Não é o Bolsonaro, é o Montenegro.'

Fiquei na mesma. O que é que eu tenho a ver com isso? O que é que ele pode dizer que me interesse?

O meu marido disse: 'Acho que prenderam uns tipos. E acho que vai apresentar-se rodeado de gente, uma coisa terceiro-mundista.'

Fiquei a pensar e ocorreu-me que, para a coisa ter alguma piada, o Mentenegro, com aquele seu ar de futebolista da 3ª liga regional, deveria aparecer com as cores das Selecção e com um camarada atrás a traduzir as tretas que disser em língua gestual.

Se não for assim, não deve ter piada nenhuma. A menos que passe a palavra à Coisinha Fiasco. Aí, sim, já a gente deve ter vontade de rir.

quarta-feira, novembro 27, 2024

Outras terras, outros sons: na Casa Branca

 

Não sei exactamente de que se trata mas, ao ver a imagem da casa no vídeo que aqui partilho, percebi que era em Portugal. E confirma-se. 

Pus a andar e gostei de ver e ouvir, embora não perceba bem o que se passa ali. Mas, para gostar, também não é preciso compreender - a emoção e o pensamento nem sempre têm que andar a par e passo. É um encontro de pessoas que têm interesses comuns, isso certamente. Não sei porquê ali, naquele lugar, mas isso também não interessa. Enquanto escrevo, estou a ouvir pela segunda vez e agrada-me. 

E qualquer coisa no ambiente que ali se percebe me fez lembrar uma amiga de longa data. A sua profissão é no domínio da razão e do conhecimento, é médica, mas sempre foi um pouco alternativa. E aqui apetece-me dizer 'alternativa no bom sentido' mas também não sei o que isso seja. Mas, só para se perceber, aos dias de hoje, não tem telemóvel. Passa bem sem isso. Não lhe apetece ser incomodada. Quando precisa de contactar alguém, usa o telefone fixo. Quando alguém a quer contactar e ela não está em casa, é o diabo. Quem tem o número do marido, liga-lhe. Quem não tem, terá que ir ligando até que ela regresse a casa. Mensagens, grupos de whatsapp, coisas dessas, é tudo o que ela não precisa, não gosta, não quer, não sente curiosidade. 

Interessa-se por mil coisas mas sobretudo coisas ligadas à terra, à natureza. Sabe muitas coisas que eu não sei. No outro dia, por exemplo, falava-me da planta de onde vem a alpista. Eu não fazia ideia, claro. Também viaja muito e diz que visita museus, galerias, coisa assim, mas aquilo que prefere é andar na rua, ver as pessoas. Por exemplo, já foi algumas vezes à Índia e tenciona voltar. Gosta de andar pelas aldeias, gosta de ver como as crianças se arranjam para ir à escola, por muito modestas que sejam, gosta das cores, dos cheiros, dos sons. 

Agora que deixou de trabalhar, diz que gosta muito de estar no jardim a ler ou a observar. Conhece todos os pássaros, os seus cantos, os seus hábitos. Eu não conheço nada do que ela sabe.

Mas surpreendo-me sempre com o que ela diz. Só para verem, estava a falar-me dos estorninhos, dos pardais, das rolas. Às tantas, falava creio que do melro. Mas não sei se era do melro ou do tordo. E estava naquilo quando me diz: 'Quando andam de roda das oliveiras, gostam de comer o que sobra das azeitonas. Esses são os mais saborosos.'

Fiquei de boca aberta, claro. 

Quando eu era pequena e o meu pai ia aos pássaros com os amigos, armando armadilhas que deixavam, de noite, regressando a casa após as recolherem de madrugada, nós comíamos passarinhos fritos e eu achava-os uma delícia, era um petisco que eu apreciava imenso. Mas desde há mil anos que não consigo pensar em molestar os inocentes passarinhos, muito menos comê-los. E, no entanto, a minha amiga, toda natureza, toda peace and love, ali estava a falar-me do sabor dos passarinhos quando se alimentam de azeitonas maduras. Ainda pensei que não tinha ouvido bem: 'Mas quê? Comes?!'. E ela, sem perceber o meu espanto, 'Claro'. 

A vida é assim mesmo, surpresas, surpresas, surpresas.

Amanhã, se me lembrar, conto uma outra, de uma outra amiga. Uma 'surpresa' que me deixa a rir de cada vez que me lembro.

Mas agora passo a palavra a Mary Keith, que também parece ser bem cool, bem boa onda -- para além de ter um cv bastante interessante.

Other Lands Other Sounds

A setting of the choral processional song used in "Vias", the final performance of the Curiosa "Other Lands Other Sounds" residency at Casa Branca, Portugal summer 2024. 

Music and words by Mary Keith and Kelsie Moore, with thanks to Kate Smith for arrangement ideas, images by Mary Keith, Beatriz Martinez, Ani Keyahova and Ana Torres, with thanks.


terça-feira, novembro 26, 2024

No 25 de Novembro dou conta do que almoçámos a 24: comida de tacho com as cores de Outono

 

Uma vez que não fui eu que cozinhei, não partilho a  receita uma vez que não sei pormenores. Contudo, como o Chef foi o meu filho, há alguns aspectos que consigo referir:

1 - A comida foi cozinhada em tacho de ferro fundido, no forno, um tacho grande, fundo e muito pesado. 

2 - Primeiro, as carnes com cebola e abóbora, uns minutos com o forno ao máximo. Depois, creio que duas horas ou um pouco mais, a 160º.

3 -  Do que sei, 5 kg de carnes (porco e vaca), cebolas, couve chinesa, abóbora pequena com a casca, batata doce roxa e maçarocas de milho. Os legumes terão entrado mais no fim, quando o forno estava desligado, depois de entalados cá fora.

4 - O tacho sempre tapado. 

O que posso dizer é que estava delicioso. Comida de conforto. Na fotografia não se vê o molho que, no fundo, era constituído pelos sucos que os ingredientes foram deixando enquanto cozinhavam. Saboroso e saudável.

Para a sobremesa, a Chef Doceira (mulher do Chef 'de salgados') fez arroz doce com leite de amêndoa. Lamentavelmente não há fotografia. E, neste caso, também não sei a receita mas creio que será equivalente à que usa o leite de vaca. Bom. Como o que sobrou ficou cá em casa, agora estou a dar cabo da dieta (que, em boa verdade, também nunca existiu...). Estou eu e está o meu compagnon de route que, em tempos, não gostava de doces...

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Sobre as comemorações do dito 25/11 nada posso dizer pois tive mais que fazer mas quem viu disse-me que uma senhora que ia a acompanhar o marido ia vestida como se fosse a um casamento em Espinho. Também fez referência a um outro aspecto, algo cómico, mas prefiro não falar nisso pois parece-me tão improvável que receio não ser justa na descrição e pecar por defeito. E não me perguntem mais nada sobre o 25 do 11 de 2024 pois não faço ideia nem do que disseram, nem do que fizeram: não vi, não ouvi, não cheirei, não inalei.

segunda-feira, novembro 25, 2024

Sempre estou para ver como é que os totós de serviço vão comemorar o 25 de Novembro...
E, já agora, a minha memória desse tal dia dos idos do século passado

 

A esta distância o que me ocorre é que nessa altura a gente ainda nem sonhava que haveria de vir o dia em que a nossa vida, em especial quando atravessamos momentos de alguma atribulação, seria bem mais facilitada por termos outros meios para nos comunicarmos.

Sem telemóveis, nem sei como era possível a gente aguentar-se em cima do arame... Aguentávamo-nos mas, caraças, por vezes com que dificuldade...

Num post lá muito mais para trás, já o contei: namorava um, que era o namorado oficial, um pouco mais velho que eu, que, apesar de ainda estar a estudar, já dava aulas, andava a maior parte do tempo com outro de quem estava cada vez mais inseparável, e, para apimentar a coisa, tinha um amigo, colega, com quem estava sempre que não estava com qualquer dos outros dois e de quem esses dois tinham imensos ciúmes. Qualquer dos dois, a maior parte das vezes, ao chegarem ao pé de mim, encontravam-me em animada conversa ou a almoçar com esse colega, ficando enfurecidos comigo e lançando olhares furibundos ao meu amoroso amigo. Chegavam até a ser desagradáveis com ele, o que me arreliava bastante.

Mas com quem eu tinha que fazer ginástica a sério para não se cruzarem era com o namorado oficial e com o que queria roubar-lhe o lugar. Num dia em que se cruzaram, e foi de longe, o primeiro manifestou vontade de ir à cara ao segundo e só porque o ameacei de acabar o namoro de imediato é que não houve ali tareia a sério. 

O jeito que umas mensagens de aviso teriam dado. Assim, andávamos às cegas, correndo riscos de todo o tamanho.

Um filme.

O dia 25 de Novembro de 75 era um dia que, em termos de agenda, era complicado pois almoçava com o meu colega, grande, grande amigo, depois ia estar com o namorado e, a seguir às aulas de inglês no British Council, ia estar com o segundo.

Ora, com aviões no céu, com aquele ambiente de caldinho, receios de que a coisa ainda fosse dar para o torto, fiquei a achar que o mais certo era que não desse para ser um dia 'normal'. Mas a chatice é que não tinha como avisá-los. O meu amigo sofria com as minhas tangentes e, por ele, eu acabava era com os dois e, embora nunca o tivesse verbalizado, eu intuía que ele achava que eu ficava bem era com ele. 

Resolvi que o melhor que fazia era ir para casa (a casa dos meus pais) pois ir para a residência na Rua de Artilharia Um, com o quartel ali ao lado, era capaz de não ser lugar muito tranquilo.

Agora como combinar isto com eles, avisá-los de que os encontros habituais ficavam sem efeito, e, ao mesmo tempo, garantir que não se cruzavam uns com os outros?

Ainda liguei para o telefone fixo da casa do segundo a pedir para a mãe avisar o filho para não ir ter comigo pois eu ia para casa dos meus pais mas a amável senhora respondeu-me que ele não estava em casa nem devia lá chegar senão às tantas da noite. Ou seja, o mesmo que nada em termos de comunicação. Com o oficial, então, não tinha mesmo como comunicar.

Lembrei-me, então, de deixar um papel no portão da Faculdade (pois o meeting point geralmente era na cantina, local onde, por haver mesas e cadeiras, era também local de estudo, de encontros variados). Nesse papel dirigia-me a qualquer deles pois apenas escrevi a inicial do nome deles que, por sinal, é a mesma letra. Aí disse que ia para casa dos meus pais, pedindo que 'ele' me ligasse para lá. Assinei com a inicial do meu nome. Qualquer deles, perceberia que o recado era para ele.

Quem fez questão de me acompanhar foi o meu colega. Achou que eu não devia andar sozinha. Não sei se ele temia que houvesse bombardeamento ou se, simplesmente, era cavalheiro e fofo. Queria ir acompanhar-me até casa dos meus pais. Mas, com medo que algum dos outros dois malucos lá resolvesse ir e ainda dessem de caras com ele, impedi-o. Aí, sim, haveria guerra a sério.

Depois disso, só me lembro de ter ido ter à escola em que a minha mãe estava a dar aulas como se nada se passasse. Estava na sala de aula com ela e com os alunos quando apareceu uma Contínua (naquela altura chamava-se assim) a dizer que estava um rapaz à minha procura. Lembro-me bem do susto que apanhei, sem saber qual deles era e com medo de que, às tantas, ainda aparecessem os dois e armassem barraca justamente na escola onde a minha mãe trabalhava.

E o estúpido disto é que não consigo lembrar-me de qual deles é que foi. O meu marido também não se lembra. Cá para mim foi ele mas agora já não tenho como saber. 

E a ideia que tenho é que, como afinal não houve guerra e eu já não passava sem a adrenalina daquela liberdade, que era tão boa, e  sem aqueles amores, no dia seguinte de manhã voltei à capital para a vida 'normal' e agitada que, na altura, era a minha. 

Quanto ao resto, para falar verdade, mal dei por isso. Havia liberdade antes e houve liberdade depois, a liberdade do 25 de Abril, e a liberdade é uma coisa maravilhosa. E o amor também. 

E o resto é conversa.

domingo, novembro 24, 2024

Já existe o verbo tar?

 

Há uma questão que ainda não sei como ultrapassar. Ou melhor, duas. Isto é, pensando melhor, três.

1ª - Se alguém aqui escreve comentários com erros ortográficos ou gramaticais, devo publicá-los e fazer de conta que não dei por nada?

Eu acho que sim. Chamar a atenção à pessoa, seria envergonhá-la publicamente. Não o faço. Contudo, uma vez uma pessoa que, em tempos, tinha um blog, por sinal professora com livros publicados, criticou-me, dizendo que eu estava a expor a pessoa ao vexame de ficar patente perante o mundo que a pessoa não sabia escrever. Só que não tenho como chamar a atenção em privado. Portanto, publico e paciência. Mas é um tema que não tenho bem resolvido. O que penso é que se foi um lapso, a pessoa, ela própria, dará por isso e fará um novo comentário com uma errata. 

E, de qualquer forma, há que compreender que, mesmo que a pessoa escreva habitualmente bem, um dia, por escrever à pressa, por distração, por erro de digitação ou porque escrever no telemóvel torna tudo mais complicado, os deslizes acontecem. Sou tolerante quanto a isso. Aliás, quantas vezes, quantas mil vezes, já eu aqui tropecei, troquei as mãos, omiti ou juntei vírgulas onde não devia, acrescentei acentos onde eles não eram requeridos... sei lá...?

2º - Se alguém, conversando comigo, dá pontapés na gramática e usa expressões incorrectas (exemplo: usando quaisqueres em vez de quaisquer, dizendo houveram situações desconhecendo que o verbo haver, neste âmbito, não usa plural e que, portanto, se deveria dizer houve situações, dizendo há-des em vez de hás-de, ou há-dem em vez de hão-de, etc), como devo proceder? Uso as expressões correctas deixando a pessoa a pensar que não sei falar? Ou 'ajeito-me' e dou também pontapés na gramática?

Claro que falo sempre bem. Pelo menos, tento. Seria incapaz de dizer quaisqueres ou há-dem. Incapaz. Aliás, gostaria de ter coragem para dizer à pessoa que está a falar mal e explicar-lhe quais as regras. Mas obviamente não o faço. Receio passar por convencida ou inconveniente. Mas, limitando-me a falar bem, fico sempre com receio que os outros achem que eu é que sou a analfabruta do grupo.

3ª Quando nas mensagens, sejam sms ou whatsapps, se recebem frases que incluem tou, tão, tava, tá bem, etc, o que deverei fazer? Deixar estar, achar que é inevitável, ou chamar a atenção?

Se são os meus netos, claro que mando uma correcção de volta. Invariavelmente dizem-me que, nas mensagens, se escreve sempre assim, à pressa, de forma abreviada. Creio que até receariam escrever 'estar' e não 'tar' não fossem os amigos gozar e achar que, escrevendo o 'es' que incorpora a palavra, estivessem a parecer uns bonequinhos, apertadinhos, esquisitinhos, pondo-se a jeito para serem gozados.

Mas é um tema. Aliás, três temas.

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E, um pouco a propósito, sobre o uso da língua portuguesa, aqui vai uma compilação de momentos da Porta dos Fundos

COMPILADO | EH LINDO O IDIOMA PORTUGUÊS

Ah, as bonitezas do idioma português… mas também tem as incongruências, afinal, passamos anos chamando esquetes de “as esquetes” e pelo visto “esquete” é substantivo masculino e agora temos que falar “os esquetes”. É feio, a sonoridade é estranha, nem prazeroso de falar… mas isso foge da nossa ossada. Ops… alçada! 

sábado, novembro 23, 2024

Mentenegro é um pintas. Lança números enganadores e, quando confrontado com as distorções, faz aquele sorrisinho cínico e, sonsamente, diz que não quer alimentar querelas.
Não percebo é como o Expresso se presta a dar cobertura a tanta trapalhice.

 

Neste governo todos tentam iludir-nos com habilidades acrobáticas. É uma coisa que tem a ver com o pecado original: conseguiram ser governo por terem mentido e iludido o eleitorado durante a campanha para as legislativas e que, logo que tomaram posse, continuaram a fazer malabarismos para tentarem encobriar mentiras e manipulações.

Os mais destituídos, tropeçam nas suas próprias habilidades e estatelam-se ao comprido, por vezes atropelando vítimas inocentes (Ana Paula Martins, Coisinha Blasco, etc). Os mais espertos, como são um bocado mais elaborados, ainda vão conseguindo ser levados a sério pelos mais incautos. 

O caso da notícia agora posta a circular pelo Ministério da Educação e logo papada pelo Expresso (que das duas uma: ou continua a querer ser o órgão oficial de propaganda do PSD/AD ou continua a ter lá a trabalhar totiços que comem tudo o que lhes é posto à frente), é daquelas que, de tão improvável, dá logo para ficarmos de pé atrás. Mas o Expresso, dado ser parangona benéfica para o Governo, logo embandeirou a notícia em arco e dela fez uma gorda. 

Claro que, durante o dia, veio a explicação por parte da equipa do PS e veio contestação generalizada: estavam a ser comparados alhos com bugalhos, o que não é coisa séria de se fazer. 

Agora que a acrobacia se desfez no ar, o Expresso ainda continua a dar voz à contra-argumentação do artista Fernando Alexandre que, no intervalo de fazer stand-ups por aqui e por ali, se entretém a fazer autopropaganda.

Mas, o pior ainda é o Mentenegro que dá voz a todas as trapalhadas da sua equipa e quando confrontado com a pouca seriedade do que fazem, faz de conta que não é nada com ele, sorrisinho sarcástico, e, de caminho, faz-se de Calimero e pede para o deixarem trabalhar. Sonso. Julga que somos parvos.

É um governo ao nível da obra de arte "banana colada na parede". Uma tanga. Ainda, por cima, a gozar com o pagode. Os otários que fiquem com ela (ela, a banana).

Quanto ao Expresso, com coisas como estas descredibiliza-se. Quando me perguntam porque é que não volto a assinar o Expresso, a resposta (a minha e, ainda mais, a do meu marido) é que não gostamos de jornais que parece terem por missão fazer o frete a PSDês e quejandos. Uma tristeza que um jornal dito de referência na prática seja um canal de reverência.

Olhe lá, ó Pedro Nuno! Importa-se de atinar? Acha que o Seguro é coisa que se apresente para Presidente? Esqueça lá isso, ok...?

 

Não sei se é aquela coisa do fácies (coisa tramada, concordo) se é o que a gente já conhece dele, a verdade é que não pode ser. 

Ninguém merece ter uma criatura amorfa como o Tó-Zé Seguro à frente do País. 

Claro que o Assis, outro que tal, já veio dizer que o apoia. Estão bem um para o outro. O despenteado Beleza, que deveria preferir que o tratasse por Clooney Beleza, claro que também veio apoiá-lo. Portanto, os maleáveis do costume começam a perfilar-se em torno do putativo Tó-Zé. Estamos conversados.

E o que eu quero dizer é que, se o PS quer lançar algum nome, olhe, Pedro Nuno, não seja preguiçoso, puxe lá um pouco mais pela cabeça.

Hoje, talvez influenciada por tê-la visto no outro dia na Grande Entrevista, lembrei-me da Elisa Ferreira. Talvez, não é? Mas deve haver muito mais gente com arcaboiço, inteligência, honestidade, ponderação, tino, bom feitio, equilíbrio, amor ao País, boas maneiras, etc., que possa vir a ser apoiada pelo PS e com capacidade para ganhar eleições. 

É pensar. Mas pensar com cabeça, não com os pés. Ok?

sexta-feira, novembro 22, 2024

Deus in machina: Igreja suíça instala Jesus movido a IA (Inteligência Artificial)
-- A Capela de São Pedro em Lucerna troca o seu padre para instalar um computador e cabos no confessionário --


Depois de influencers que não existem -- e que, não obstante, têm seguidores e rendimentos --, depois de vídeos falsos em que pessoas conhecidas, com a sua voz, aparecem a dizer coisas que não disseram, e depois de vermos um avanço progressivo da IA nos mais diversos domínios (tornando-se quase demoniacamente descontrolada quando energizada pelas redes sociais), eis que o impensável acontece: Jesus, ele mesmo, substitui-se aos padres e fala directamente aos crentes... ainda, por cima, em 100 línguas. Isto, claro, através de um algoritmo de inteligência artificial.

An illustration of Jesus, generated by AI. I
llustration: Peter Diem/Lukasgesellschaft
(Guardian)

O assunto é tão extraordinário que tomo a liberdade de aqui transcrever na íntegra o artigo do Guardian da autoria de Ashifa Kassam (tradução directa via Translate da Google): 

Deus in machina: Swiss church installs AI-powered Jesus

A pequena igreja sem adornos é há muito considerada a mais antiga da cidade suíça de Lucerna. Mas a capela de Pedro tornou-se sinónimo de tudo o que há de novo depois de se ter instalado um Jesus com inteligência artificial capaz de dialogar em 100 línguas diferentes.

“Foi realmente uma experiência”, disse Marco Schmid, teólogo da Igreja. “Queríamos ver e perceber como as pessoas reagem a um Jesus AI. Sobre o que falariam com ele? Haveria interesse em falar com ele? Provavelmente somos pioneiros nisso.”

A instalação, conhecida como Deus in Machina, foi lançada em agosto como a mais recente iniciativa de uma colaboração de anos com um laboratório de investigação de uma universidade local sobre a realidade imersiva. 

Depois de projetos que experimentaram a realidade virtual e aumentada, a igreja decidiu que o próximo passo seria instalar um avatar. Schmid disse: “Tivemos uma discussão sobre que tipo de avatar seria – um teólogo, uma pessoa ou um santo? Mas depois percebemos que a melhor figura seria o próprio Jesus.”

Com pouco espaço e procurando um local onde as pessoas pudessem ter conversas privadas com o avatar, a igreja trocou o padre para instalar um computador e cabos no confessionário. Depois de treinar o programa de IA em textos teológicos, os visitantes foram convidados a colocar questões a uma imagem de Jesus com cabelo comprido transmitida através de um ecrã de treliça. Respondeu em tempo real, oferecendo respostas geradas por inteligência artificial.

As pessoas foram aconselhadas a não divulgar qualquer informação pessoal e a confirmar que sabiam que estavam a interagir com o avatar por sua conta e risco. “Não é uma confissão”, disse Schmid. “Não pretendemos imitar uma confissão.”

Durante o período de dois meses da experiência, mais de 1.000 pessoas – incluindo muçulmanos e turistas vindos de lugares tão distantes como a China e o Vietname – aproveitaram a oportunidade para interagir com o avatar.

Embora os dados sobre a instalação sejam apresentados na próxima semana, o feedback de mais de 230 utilizadores sugeriu que dois terços deles consideraram que se tratava de uma “experiência espiritual”, disse Schmid. “Portanto, podemos dizer que tiveram um momento religiosamente positivo com este AI Jesus. Para mim, isso foi surpreendente.”

Outros foram mais negativos, com alguns a dizerem à igreja que achavam impossível falar com uma máquina. Um repórter local que experimentou o dispositivo descreveu as respostas como, por vezes, “banais, repetitivas e exalando uma sabedoria que lembra os clichés do calendário”.

O feedback sugeriu que houve uma grande disparidade nas respostas do avatar, disse Schmid. “Tenho a impressão de que, por vezes, ele era realmente muito bom e as pessoas ficavam incrivelmente felizes, surpreendidas e inspiradas”, disse. “E também houve momentos em que ele, de alguma forma, não foi tão bom, talvez mais superficial.”

A experiência também enfrentou críticas de alguns membros da comunidade eclesial, disse Schmid, com colegas católicos a protestarem contra o uso do confessionário, enquanto colegas protestantes aparentemente se sentiram ofendidos com o uso de imagens desta forma pela instalação.

O que mais impressionou Schmid, no entanto, foi o risco que a Igreja correu ao confiar que a IA não daria respostas ilegais, explícitas ou ofereceria interpretações ou conselhos espirituais que entrassem em conflito com os ensinamentos da Igreja.

Na esperança de mitigar este risco, a igreja realizou testes com 30 pessoas antes da instalação do avatar. Após o lançamento, garantiu que o suporte estava sempre por perto para os utilizadores.

“Nunca tivemos a impressão de que ele estivesse a dizer coisas estranhas”, disse Schmid. “Mas é claro que nunca poderíamos garantir que ele não dissesse nada de estranho.”

Em última análise, foi esta incerteza que o levou a decidir que era melhor deixar o avatar como uma experiência. “Para colocar um Jesus assim permanentemente, eu não faria isso. Porque a responsabilidade seria muito grande.”

Foi rápido, no entanto, a citar o potencial mais amplo da ideia. “É uma ferramenta realmente fácil e acessível, onde se pode falar sobre religião, sobre o cristianismo, sobre a fé cristã”, disse, pensando que poderia ser remodelado numa espécie de guia espiritual multilingue que pudesse responder a questões religiosas.

Para ele, a experiência – e o grande interesse que gerou – mostrou-lhe que as pessoas procuravam ir além da Bíblia, dos sacramentos e dos rituais.

Schmid disse: “Acho que há sede de falar com Jesus. As pessoas querem uma resposta: querem palavras e ouvir o que ele está a dizer. Acho que esse é um elemento disso. Portanto, é claro que há a curiosidade disso. Querem ver o que é isso.”

O admirável mundo novo está aí. É o que é. 

Na CNN (e parte na TVI), o primeiro entre as 19 e as 20 e o segundo entre as 21 e as 22.
José Sócrates continua a ser um animal feroz. António José Seguro continua a ser um apertadinho

 

E é o que tenho a dizer. Enquanto o momento Sócrates é um fantástico momento televisivo, o momento Seguro é a seca de sempre.

Só espero que não passe pela cabeça de ninguém convencer o Seguro a ir a votos nas próximas presidenciais. Está certo que, depois do Marcelo, a malta quererá ter alguém minimamente ponderado mas, caraças, com o Seguro seria monotonia a mais. 

quinta-feira, novembro 21, 2024

O triunfo dos porcos

 

Há aquela cena que rematava os filmes do Hitchcock em que se via uma cabra a comer a 'fita' que estava na bobina e a dizer, com ar entendido: 'prefiro o livro'. Lembro-me desta cena com alguma frequência.

Neste caso, também vos digo que o livro é melhor. Imperdível. Um livro que toda a gente deve ler e a que se deve voltar com alguma frequência pois permite declinações diversas: seja a dos Estados Unidos do alucinado Trump, seja o trauliteiro e incompetente governo Mentenegro (ou as suas diferentes derivadas, como a tóxica equipa que está a dar cabo da nossa saúde), sejam muitas outras situações.

Se aqui partilho este vídeo é apenas porque é uma síntese visual de curta duração, supostamente como é indicado neste espaço. Mas, se não conhecem o livro, se puderem leiam-no, por favor.

Animal Farm trailer

Baseado no livro de George Orwell


Alô, alô Senhores Jornalistas! Quando designam uma pessoa de 66 anos por idosa, estão cientes que a idade oficial da reforma é depois dos 66? Uma pessoa em idade activa é idosa? E porque é que a notícia é dada como 'um idoso morre na sala de espera das Urgências' e não 'um homem morre...'? Faz diferença, em termos da gravidade da situação, a idade da pessoa?

 

Pode parecer picuinhice mas não é. Da forma como se escreve ou se fala, assim se prepara quem recebe a informação para digerir o que se vai dizer.

Se uma pessoa, no dia em que faz anos, come arroz com cogumelos, tem uma intoxicação, se dirige ao Centro de Saúde que o manda para o hospital, a aí acaba por ficar 12 horas até que é encontrada morte na sala de espera das Urgências, essa é a notícia.

Mas quando se diz que "um idoso morre", quase se prepara quem vai ter conhecimento da notícia para o facto de que era alguém que, mais dia menos dia, ia mesmo morrer pelo que o incidente não terá sido assim tão grave.

Bem sei que segundo a OMS, idoso é genericamente quem tem mais de 60 anos. Mas a própria OMS refere as diferenças de condições para avaliar a 'velhice' de uma pessoa -- "esse limite mínimo pode variar segundo as condições de cada país (...) qualquer que seja o limite mínimo adotado, é importante considerar que a idade cronológica não é um marcador preciso para as alterações que acompanham o envelhecimento, podendo haver grandes variações quanto a condições de saúde, nível de participação na sociedade e nível de independência entre as pessoas idosas, em diferentes contextos."

Num país em que há cada vez mais pessoas a viver até depois dos 80, muita gente, felizmente, já acima dos 90, e estando a idade da reforma prestes a passar de novo para os 66 anos e 7 meses, é estúpido referir-se a uma pessoa não como 'pessoa' mas como um 'idosa', lá porque tem 65 ou 66 anos.

Quando tanto se fala do idadismo e do preconceito contra as pessoas com mais idade, e quando se percebe que é das 'fatias de mercado' mais interessantes em termos de consumo, seria bom que os jornalistas abrissem um bocado a cabeça e deixassem de usar expressões esteotipadas que não ajudam à compreensão das notícias.

quarta-feira, novembro 20, 2024

Quando as influencers não existem na realidade e, ainda assim, têm carradas de seguidores e ganham milhares de euros todos os meses

 

Ah, que bom é este admirável mundo novo... Todo ele cheio de absurdos, de desnecessidades, de futilidades, de mil perigos, uns à vista, outros nem tanto...

Se esta nova profissão, ser influencer, já me deixa de pé atrás -- uma actividade sem regulação, sem código de ética, sem qualquer controlo -- (e cheia de dúvidas: cá em Portugal descontam para a Segurança Social? pagam IRS?), imagine-se como fico quando a dita é virtual, toda ela concebida através de Inteligência Artificial...

Imaginaram-na, deram-lhe nome, criaram uma personalidade que lhe assentasse bem... criaram-lhe uma conta de Instagram... e a partir de aí é começar a criar 'conteúdos' e facturar. A jovem de 25 anos, Aitana Lopez de seu nome, apresenta-se geralmente com o cabelo pintado de cor de rosa, viaja, documenta as viagens, dá conselhos... recebe patrocínios... e, afinal, não existe. É, toda ela, uma criação da Inteligência Artificial...

É o admirável e estúpido... e aterrador mundo novo em que já vivemos.

Por mim, fujo de tudo isso a sete pés. Mas é uma fuga aparente pois esta é uma realidade que nos cerca em permanência.

Mas o meu mundo, o meu pequeno mundo real, também tem o seu quê de irreal. 

Hoje de manhã, quando estava a caminhar aqui, por entre as árvores, senti-me observada. Arrepiei-me, senti aquele susto que resulta de não saber o que se passa... e, um pouco a medo, olhei para lá. Ao princípio nem percebi. No meio da folhagem, uns olhos. Fiquei parada a tentar perceber. Depois a 'coisa' mexeu-se, levantou-se. Um gato lindíssimo. Fundo branco, manchas em amarelo torrado e outras em preto. Ficou parado a olhar para mim. Nestas ocasiões, com a atrapalhação, não atino com o telemóvel. Quando consegui pôr na posição de câmara para disparar e fotografar, e me aproximei um pouco, ele virou-me costas e voltou a entrar pelos arbustos.

De tarde, um esquilo aqui mesmo em frente. Sobre o muro, depois a subir por um pinheiro, depois a saltar, no ar, em voo, para um cedro. Uma graça. O rabo peludo ao alto. Alguma vez, em toda a minha vida e até há um par de anos, eu poderia imaginar que aqui, no meu espaço, vivendo nas árvores que nós mesmos plantámos, teríamos esquilos? Nunca, nunca. Uma aparição mágica, fantástica. Uma bênção.

E agora o meu marido foi à rua com o cão. Diz que há um sítio na parte de trás, onde há um conjunto de grandes aloés vera, em que o cão anda em volta, fica a cheirar, a cheirar, como se por ali andasse bicho. Pois hoje foi mesmo aqui, no canteiro que está junto à porta de entrada, que ele ficou parado a cheirar. Eis senão quando salta de lá um grande sapo. Diz que era um sapo mesmo muito grande. 

De onde vem toda esta bicharada é um mistério. Admitindo que não são seres que nasçam de geração espontânea, de algum lado eles vêm. Mas de onde? Alguém me diz?

E, à tardinha, por entre o musgo, várias pequenas redes de orvalho que sobrou das neblinas matinais. Tão bonito. Parecia pequenos recortes de tule branco. Só falta mesmo aparecerem por aqui fadinhas, ninfas, duendes...

Ou seja, e voltando à cold cow, satisfaço-me e encanto-me com coisas assim, não sinto necessidade de ser influencida por influencers reais ou virtuais. Zero. O que tenham para me dizer não me interessa. O meu mundo não é o del@s.

Mas aqui está a Aitana Lopez e como é que isto funciona:

The AI models making huge money on Instagram - BBC World Service

Aitana Lopez is the most popular of the new wave of realistic-looking AI influencers and the agency that created her say they are making thousands a months from her. We visit the Barcelona-based creators of Aitana - the most popular and highest earning AI Instagram model to find out how they curate and create her life which is followed closely by 330,000 followers. 


terça-feira, novembro 19, 2024

Tempos perigosos

 

O inferno está à nossa porta e, muito provavelmente, nenhum de nós, os que aqui estamos, pode fazer o que quer que seja para o evitar.

A Rússia intensifica os ataques à Urânia, uma verdadeira chuva de mísseis e drones a atravessar os céus, causando danos demasiados sérios, provavelmente querendo avançar para uma eventual negociação em posição de grande força. E Biden, provavelmente, na mesma lógica, avança com o ok ao uso, por parte da Ucrânia, a mísseis de longo alcance para atingir território russo. 

Ou sejam, aos 1000 dias desta guerra maldita (mas há alguma guerra que não seja maldita?) parece que nunca os tambores rufaram tão alto.

Como tendo a ser optimista, quero sempre acreditar que algum bom senso acabará por prevalecer. 

Mas quando de um lado está alguém que já provou à saciedade que quer o que quer e avançará para o conseguir por muitas mortes e destruição que a sua vontade implique e, do outro, estará um louco imprevisível sem um pingo de ponderação, receio que o meu optimismo seja infundado.

Este último apregoava que acabaria com esta guerra em três tempos (bastar-lhe-iam 24 horas e um telefonema) e está a ver-se o que está a conseguir.

Não quero ver o mundo de forma sombria mas tenho que reconhecer que os ventos que sopram daqueles lados não nos trazem boas perspectivas.

Mas não quero falar apenas dos perigos da guerra, tão maiores quando os destinos do mundo estão nas mãos de gente de narcisistas, psicopatas ou alucinados. Quero falar de novo nos tremendos riscos da Inteligência Artificial.

Não sou tremendista, pessimista, não sou histérica. Creio que sou racional e realista. Quando aqui falo deste tema, pretendo apenas alertar para que a regulação é indispensável e urgente. Tal como as alterações climáticas, também a inteligência artificial deveria estar no topo das prioridades políticas de todo o mundo civilizado.

Os recursos para se usar a Inteligência Artificial estão cada vez mais ao dispor de qualquer um, a custo zero ou perto disso, e os riscos que isso comporta são infinitos e, alguns, potencialmente destruidores.

Por vezes (muitas vezes) os benefícios do seu uso são extraordinários. Ainda há uns dias um amigo médico me dizia que usava cada vez mais o ChatGPT e que se espantava por ainda haver colegas que não tinham percebido a ferramenta preciosa que aquilo pode providenciar. A inteligência artificial, bem usada, ao serviço da Medicina, é preciosa.

Para os mais diferentes fins, é raro o dia em que não recorro ao ChatGPT. 

Mas o ChatGPT ainda se engana e quem o usa tem que ter os conhecimentos suficientes para perceber quando a resposta do ChatGPT é inquestionável ou quando deve ser verificada. 

Mas esta é apenas uma das imensas ferramentas, ao dispor de toda a gente, que recorrem à Inteligência Artificial. Hoje toda a gente já é utilizador dela mesmo sem dar por isso. Quem usa redes sociais está a ver o que o algoritmo seleccionou para si face aos seus gostos habituais. No Youtube ou mesmo Netflix, o que me é apresentado é aquilo que o algoritmo entende ser o meu gosto. E não sei se todos os utilizadores destas plataformas (ou Facebook ou Instagram) percebem isso.

Mas isto continua a ser uma gota de água pois a IA é usada para tudo e mais alguma coisa, incluindo para falsificar imagens, vozes, para gerar obras de arte, na prática para o que se quiser.

O que aqui mostro, no vídeo abaixo, é uma das muitas coisas que cada vez mais se faz e que foi bastante usada por contas falsas na campanha eleitoral americana. Trata-se do uso da voz de alguém para dizer coisas que outro alguém resolve divulgar, querendo fazer parecer que foi o legítimo dono da voz a dizê-lo. Por exemplo, sendo Sir David Attenborough uma voz absolutamente credível, usar a sua voz para o pôr a passar outras mensagens.

Quem ouve, ouve a voz dele, e tão perfeita está que ninguém desconfia que é uma voz gerada por Inteligência Artificial. E podem pô-lo a dizer coisas completamente diferentes do que ele, ele mesmo, diria.

Quando ouviu a sua voz, uma voz forjada pela AI mas absolutamente igual à sua, a dizer algo que ele próprio nunca tinha dito (no fim do vídeo), ficou perturbadíssimo. 

E é caso para isso pois as ferramentas para o fazer estão disponíveis para que qualquer um as use. Qualquer um de nós pode ser o veículo para passar ideias que nós próprios nunca divulgaríamos.

Virá o dia em que não saberemos quem é quem, quem disse o quê, o que é verdade e o que é mentira. Um mundo distópico, louco, aterrador.

E isto já está a acontecer. E não há regulação, legislação, para o evitar. E cada vez menos o haverá. Um dos grandes propósitos da dupla Trump & Musk é acabar com qualquer regulação, seja a este nível seja a nível ambiental ou a qualquer outro.

Os demónios estão a ficar à solta e não há guardas para os apanhar e voltar a meter dentro das jaulas ou das grutas ou seja lá onde for.

Sir David Attenborough says AI clone of his voice is 'disturbing' | BBC News

"I am profoundly disturbed to find these days my identity is being stolen by others and greatly object to them using is to say whatever they wish." 

That's how broadcaster and biologist Sir David Attenborough has reacted after the BBC played him clips of his voice being mimicked by Artificial Intelligence. 

Dr Jennifer Williams, a researcher of AI audio, explains the issues of voices of prominent figures such as Sir David being cloned.


segunda-feira, novembro 18, 2024

[Em actualização]
Depois das 11 mortes que as notícias relacionam com a falta de socorro atempado, agora temos as mortes nas salas de espera das Urgências dos hospitais?

 

Transcrevo:

Homem de 66 anos encontrado morto nas urgências do Hospital de Coimbra depois de 12 horas de espera

Um homem de 66 anos morreu nas urgências do Hospital de Coimbra no domingo passado, depois de estar mais de 12 horas à espera, segundo a rádio Renascença.

De acordo com a Renascença, José Pais foi ao Centro de Saúde de Tábua, devido a um mal-estar, depois de comer míscaros (uma espécie de cogumelos).  Posteriormente foi transferido para o Hospital de Coimbra onde ficou à espera mais de 12 horas. (...)

Celeste dos cravos de Abril morreu sozinha na urgência de hospital

Na quinta-feira à tarde Celeste sentiu-se “mal em casa”, em Alcobaça: “Estava com falta de ar e foi levada para o Hospital de Alcobaça.” Nessa unidade hospitalar foi submetida a análises e a um eletrocardiograma. Mas como no período noturno não há raio-X no Hospital de Alcobaça, o médico decidiu transferi-la para o Hospital de Leiria, o que fez já a receber oxigénio. Entrou com pulseira amarela e terá ficado, de acordo com o que foi transmitido à família, à espera do raio-X e de um cardiologista. Estaria sozinha na sala da urgência onde aguardam os doentes com pulseira amarela. (...)

Pergunto:

Vamos continuar a ter a saúde e a vida dos Portugueses entregues a uma gente que não tem noção do que está a fazer? A uma gente que inspira desconfiança, seja qual for a perspectiva por que se olhe?

Até quando?

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Notas 

1 - Hoje, no Isto é gozar com quem trabalha, Ricardo Araújo Pereira aplicou a estocada final à equipa da Saúde (bem como à Coisinha Blasco). Depois do que ali vimos e do que ele gozou, não há qualquer possibilidade de aquela equipa se aguentar. Mas, note-se, quem escolheu aquela equipa e quem a está a agarrar é Mentenegro pelo que, em última análise, é ele o primeiro responsável.

2 - Antes, já Marques Mendes, tentando lavar a cara aos ditos e parecer querer branquear a situação, não deixou de dizer, aparentando que o dizia nas entrelinhas mas, de facto, dizendo-o bem às claras, que nada tinha sido feito para evitar a greve e que isso tem que ter consequências. E acrescentou ainda que é preciso algum cuidado na escolha das pessoas. Deu como exemplo, o jovem do INEM, (cujo CV e cujo fácies não enganam ninguém -- e isto do fácies sou eu que o digo), que pode ter uns cursos mas experiência em gerir um organismo como o INEM, zero. Acrescentou que a questão partidária não pode ser o critério de escolha. Ou seja, quando Marques Mendes tira o tapete desta maneira (e, em meu entender, tirou-o em toda a linha: presidente do INEM, Secretária de Estado, Ministra e Mentenegro), a sina daquela gente está lida.

3 - E eu alerto ainda os partidos da oposição e a comunicação social para o seguinte: vão ver os CVs e as filiações partidárias de outras nomeações, umas concretizadas e outras a caminho. Agora refiro-me à área da Saúde mas, provavelmente, é prática generalizada. Vão ver, peço-vos eu, antes que mais desgraças continuem a acontecer.

4 - E, já agora, investiguem um pouco mais a fundo: quem é a pessoa que, ela própria, fala com os ditos a convidá-los? Terão a confirmação de que estas escolhas, disparatadas, absurdas, que só podem dar em desgraça, estão a acontecer com o aval de quem, com isto (com isto e não só) tem mostrado não fazer a mínima ideia do que anda a fazer.

domingo, novembro 17, 2024

A felicidade dos bons momentos

 

Hoje vou ser bem minimalista. Saí de casa cedo e cheguei tarde. Antes de sair, aperaltei-me cuidadosamente pelo que, como é bom de ver, tive que me levantar com tempo para tal. Agora estou um pouco exausta, embora bem feliz.

Tive um dia muito bom, fantástico, cheio de abraços e beijinhos, cheio de sorrisos, ternura e alegria. 

Já comecei a receber fotografias e é engraçado ver como todos estão felizes. Ao longo de horas, o que se vê é gente a conversar e a sorrir. 

Agora, não sei se foi de alguma coisa que comi no belo repasto ou se é de outra coisa qualquer, estou com uma afta, dói-me a língua aqui de lado. Além disso, e vocês desculpem-me a falta de maneiras, não faço outra coisa senão bocejar...

Mas como me custa que aqui tenham vindo e saiam de mãos a abanar, sem nada que se aproveite, partilho o vídeo novo da série Reflections of Life, de que gosto muito. Sou sincera: apenas o fiz salteadamente. Amanhã vejo o resto. Como acredito que deve ser interessante (embora, pelo que leio no texto de apresentação, fale de momentos menos bons), aqui está:

Beauty in the ordinary

Trigger Warning - This film contains reference to suicide, which may be triggering for some viewers.  If you have been affected by a similar issue and you need someone to talk to, please reach out to an organisation or individual near you for help.  Take care.

Even in life’s most challenging moments, beauty quietly waits to offer us comfort. In times of pain or loss, noticing the small things around us — the warmth of sunlight, the comfort of a friend — can remind us of life’s gentle grace. These seemingly ordinary experiences, so easily overlooked, become subtle guides back toward hope and healing.

Resilience doesn’t mean ignoring hardship; it means facing it with courage, allowing ourselves time to process and grow. Gratitude can be a lifeline, a way to hold onto the blessings that remain, no matter how difficult things may seem. Though the journey may be marked by grief, embracing the beauty in each day can help us move forward. In this way, the smallest moments of light can offer strength when darkness surrounds us.

Featuring Doreen Gail Hemp.


Desejo-vos um bom dia de domingo

sábado, novembro 16, 2024

Chegará o dia em que seremos instados a tratá-los como iguais?
E o que acontecerá quando os robots já não precisarem de nós?
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A indiscutível vitória de Trump em toda a linha nas eleições dos Estados Unidos e, agora, as escolhas de Trump para a sua equipa mostram que estamos a entrar num mundo distópico que, até não há muito, parecia a excepção ou fruto de imaginação delirante.

Enquanto uns vão levando para a brincadeira e criando memes e anedotas e outros vão teorizando e debatendo os quês e os porquês do que aconteceu, a distopia vai avançando a passos largos, agora com a agravante de que a decisão vai ficar entregue a doidos varridos e não vai haver regulação que os trave.

Acresce que à frente dos destinos dos States vai ficar o homem mais rico do mundo, um fulano com um QI bem acima da média, que não segue padrões de qualquer espécie. E ao seu lado tem um narcisista que acatará sem pestanejar tudo o que outro decidir, desde que o possa usar para se gabar.

O vídeo abaixo é interessante e pode ser visto com legendas em português. 

What Happens When Robots Don’t Need Us Anymore? | Posthuman With Emily Chang

Emily Chang meets some of the world’s most advanced, and most intelligent, robots. Will the creation of a synthetic species with human-like intelligence improve the human experience, or end it?

Technology that once seemed like science fiction is rapidly becoming reality, transforming the very essence of our existence. In this four-part series, Emily Chang unravels the future of being human in an age of unprecedented innovation.

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De tudo o que o Elon Musk tem em mãos, a Neuralink (por acaso, dirigida pela que é a mais recente mãe dos seus filhos que, ao que parece, já vão em 12) é talvez a que parece mais preocupante. Pode ser extraordinário para suprir défices de vária ordem (défices motores, por exemplo). Mas pode servir para outras coisas, essas, sim, demasiado perigosas. Não tardará que ele pague fortunas para que pobres incautos se submetam a experiências cujos limites, na prática, não existem.

The Science Behind Elon Musk’s Neuralink Brain Chip | WIRED

Neuralink, Elon Musk’s brain chip, recently pushed back on claims that they violated animal welfare laws a few years ago, while testing on monkeys. This year, the company plans to test on human subjects. What does this mean for brain implant science?
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Elon Musk reveals 2nd patient implanted with Neuralink brain-chip

A second patient has been implanted with a chip developed by Elon Musk's company, Neuralink, which he says could give patients “superhuman abilities.”

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Um bom sábado

Saúde. Peace and love.

sexta-feira, novembro 15, 2024

Aleluia, Senhor Presidente Marcelo!
Mas vamos lá a ver uma coisa...

 

Finalmente Marcelo falou sobre o descalabro a que estamos a assistir na Saúde. 

Disse que já antes tinha falado. Bem sei, mas falou en passant, de fininho. E, quando estava à vista de toda a gente a indigência a todos os níveis (a nível de competência, a nível moral, ...) com que o Governo estava a lidar com um problema que estava a traduzir-se em mortes atrás de mortes, Marcelo não deveria ter falado de fininho mas com voz grossa.

E bem pode Marcelo assobiar para o lado e respaldar-se no que é politicamente correcto (inquéritos, aguardar por relatórios, etc) que a população já não vai nisso: a incompetência de toda a equipa de Saúde envolvida é gritante e os resultados estão à vista.

Senão vejamos:

  • O presidente do INEM, coitadinho, (basta ver a ausência de CV dele em áreas de gestão de organismos desta responsabilidade), não deixa que tenhamos ilusões. Até a cara dele não engana.
  • A aérea Secretária de Estado Cristina Vaz Tomé que nem sabe a diferença entre anemia e amnésia nem deve ainda ter percebido bem a quantas anda. Face ao tremendo desacerto face à função que é a sua formação académica e a sua experiência profissional só gostava de saber quem foi o bronco que achou que era pessoa para ficar à frente da Secretaria de Estado da Gestão da Saúde.
  • E, finalmente, a ministra Ana Paula Martins -- que falta à verdade de cada vez que abre a boca, que é uma tangas, que se incompatibiliza com meio mundo e arranja problemas por onde passa -- é daquelas que, por ser tão tóxica, deveria ser mantida bem longe de qualquer Governo
Qualquer pessoa com dois dedos de testa percebe que esta gente não merece nem mais um dia da nossa tolerância.

E bem podem os tretas da AD vir agora desculpar-se com o anterior Governo que não somos parvos: 

1º - O Governo de António Costa foi apeado (e não se acha também responsável por isso, Senhor Presidente?) e a execução do programa de Governo foi interrompida. 

2º - Independentemente disso, não podemos esquecer-nos, e devemos atirar isso à cara do Mentenegro e de todos quantos nos tomam por parvos, que uma das bandeiras da AD foi que o problema da Saúde era de gestão e que a AD, em 60 dias, resolveria todos os problemas da Saúde. 

Ora onde é que já vão os 60 dias...? Mentenegro está em funções desde Março e daí para cá não apenas não resolveu nada como tudo se agravou. Tudo. É agora que estes dramáticos casos estão a acontecer. Agora. Agora, vários meses depois de estar em funções. Os mortos que não conseguiram auxílio quando mais precisaram dele estão e ficarão na nossa memória -- e o risonho Mentenegro não vai podê-los sacudi-los das suas costas.

E Marcelo que disse que é preciso saber se tudo foi feito para evitar a greve, sabe de antemão a resposta: sabe que nada foi feito. E sabe mais: sabe que o risonho Mentenegro veio, todo pimpão, dizer que não se pode andar atrás de avisos de greves. Ninguém fez nada, Senhor Presidente, e Mentenegro acha muito bem que não o tivessem feito. 

Portanto, Senhor Presidente, fale claro. Chame os bois pelos nomes. Não deixe que os chico-espertos e os Lentões desta vida o ouçam e digam que estão alinhados consigo e a fazerem tudo o que deve ser feito.

E perceba-se: quando, os do Governo AD e apoiantes, todos valentões, vêm apregoar que não vai haver demissões e que vão ficar até que tudo se resolva, só podemos ficar aterrorizados. É que o problema são eles, é a sua incompetência, a sua inconsciência. 

E, quando a consequência é a morte de pessoas, podemos ficar contemplativamente à espera que arranjem relatórios em que se desculpabilizem? 

Hoje foi o sistema informático do INEM que esteve em baixo. Não sei o que foi mas qualquer coisa me diz que devem ter feito alguma alteração às três pancadas e, sem a testarem, puseram-na em produtivo. Qualquer pessoa experiente sabe que não pode ser, que há cuidados a ter. Mas qual daqueles três sabe disso? E é que não é preciso ser técnico. Basta ter experiência em gestão de empresas/institutos/organismos/serviços. Mas algum daqueles a tem? Qual daqueles três inspira qualquer confiança?

E eu disse três...? Devia ter dito quatro. 

Tenho ou não tenho razão, Senhor Presidente?

É altura de agir. Mas agir com mão dura. Não chegam palavrinhas mansas.

quinta-feira, novembro 14, 2024

Cada cavadela sua minhoca: afinal os jovens licenciados ficam em Portugal
-- A palavra ao meu marido --

 

Ontem o Mário Centeno, numa intervenção que fez na conferência do Banco de Portugal dedicada à educação e qualificações, proferiu afirmações que, pela sua relevância, espero que sejam devidamente apreendidas e comentadas: afinal, a percentagem de retenção de jovens portugueses licenciados em Portugal é superior à que se verifica em vários outros países europeus

Deu o exemplo de uns quantos países na Europa em que a taxa de retenção é inferior ao que acontece em Portugal e recordo-me que referiu que a taxa de retenção em Portugal era mais do dobro do que na Alemanha, na Dinamarca ou nos Países Baixos. Também a taxa de atração de jovens estrangeiros licenciados é bastante grande. Afirmou ainda Portugal tem conseguido ser um receptor líquido de diplomados com o ensino superior.

Referiu concretamente que o país vive focado numa realidade que é descrita com números enganadores.

Assim sendo, neste contexto, uma das grandes bandeiras eleitorais da AD e agora do Governo prende-se com políticas públicas baseadas em dados incorretos. Logo, são políticas públicas que não se justificam.

Tendo a direita, em conluio com a comunicação social, feito uma lavagem ao cérebro à malta com a, afinal, pseudodesgraça que era a saída de jovens licenciados do País, conclui-se que, mais uma vez, se enganaram.

Assim se esfuma um dos pilares da campanha eleitoral da AD e da politica do governo. Se a primeira formulação do IRS Jovem apresentada pelo Governo AD não tinha ponta por onde se pegasse também a nova versão do mesmo não se justifica. Por isso, não deve ser aprovada no debate na especialidade do orçamento. 

Como não é provável que o Mentenegro & Companhia assumam o logro em que suportam as  medidas do IRS Jovem, espera-se que os deputados da oposição atentem na realidade do País e chumbem a proposta do governo. 

Aliás, as políticas do governo para os jovens, nomeadamente, para  a habitação têm atingido os "objetivos" a que se propunham: o preço das casas aumentou, os empreendedores têm mais lucro e os jovens com mais rendimentos compram casas mais caras, isentos das contribuições, enquanto os que têm mais idade têm que pagá-las. Tudo ao lado. É aquilo que  se chama equidade de direita!

O Leitor Américo Costa escreveu um comentário que agradeço e com o qual estou inteiramente de acordo. As responsabilidades da ministra da saúde centram-se em dar cabo do SNS e ela vai tentar cumprir estas responsabilidades integralmente, custe o que custar. Naturalmente, os meus agradecimentos são extensíveis  a todos os leitores que fazem comentários sobre os textos publicados. Obrigado.

quarta-feira, novembro 13, 2024

Sra. Ministra da Saúde, pire-se! Já basta!
-- A palavra ao meu marido --

 

Hoje a Ministra da Saúde foi à AR afirmar o óbvio, o que todos dizem e o que todos já sabem. Disse  que é responsável pelo que ocorreu no INEM cujas consequências foram trágicas e envergonham o País. Claro que é responsável. Alguém tinha dúvidas? 

Estranhamente, mostrou não dominar a arte de usar de eufemismos pois tentou driblar a nossa atenção referindo-se ao caos, à ausência de auxílio junto de muita gente e alegadamente a várias mortes, como coisas que correram menos bem. Que estupidez.

O que é absolutamente inacreditável é que, responsabilizando-se pelo que aconteceu, não se demita. 

Qualquer governante que tenha o mínimo de ética e cometa os erros que a ministra cometeu no INEM -- e não foi só agora (a questão dos helicópteros só não teve consequências mais  graves, provavelmente, por acaso) -- apresentava a demissão porque obviamente espera-se que um governante zele com competência pela coisa pública e não que cometa erros grosseiros com consequências dramáticas. 

Em vários governos houve ministros que por muitíssimo menos apresentaram a demissão. 

Seguindo o exemplo da ministra, um tipo que dê um tiro noutro assumirá a responsabilidade do acto perante o juiz, acrescentará que vai fazer todos os possíveis para da próxima vez não dar o tiro e esperará que este assumir de responsabilidades permita encerrar o caso. Obviamente as coisas não funcionam nem podem funcionar desta forma. Quem comete erros como os que  a ministra cometeu não pode continuar a governar.

A continuação da ministra no governo também revela muito sobre a ética da direita. A forma como o Mentenegro, sempre tão exigente com governos anteriores, está a tratar do caso revela o despudor que tem. É mais do que óbvio que uma ministra que comete erros com consequências trágicas, aqui e em qualquer País minimamente democrático, se não se demite, tem que ser demitida! 

E Marcelo, também sempre super exigente com governos anteriores e putativo intérprete dos desígnios do povo, não diz nada? 

Acha que os portugueses querem continuar a ter uma ministra da saúde que só tem feito asneiras, Sr. Presidente?

Um aparte: hoje fiquei com dúvidas sobre se a ministra sabe o significado de da palavra "urbanidade". Aqui há dias a secretária de estado demonstrou que não sabe distinguir o significado das palavras "amnésia" e "anemia". Hoje na AR, quando um deputado PS afirmou da forma mais educada possível, cumprindo todas as regras exigíveis num debate entre gente educada, que "a ministra se devia demitir ou ser demitida pelo PM" a ministra ripostou que não "aceitava aquela falta de urbanidade". 

Sugiro-lhe que, após enviar o pedido de demissão, consulte o google ou o dicionário para, da próxima vez, empregar corretamente a palavra "urbanidade". Isto se houver uma próxima vez e se conseguir perceber o que lê.

terça-feira, novembro 12, 2024

A pesada máquina administrativa que tritura qualquer um.
[Hoje, o que me valeu foi mesmo a jardinagem e o corte de cabelo]

 

Continuo a navegar na maionese no que a processos administrativos diz respeito. Não consigo endireitar as coisas apesar de na Conservatória me dizerem que está tudo bem, que as Finanças é que têm que corrigir. Nas Finanças dizem que o sistema é automático e não podem fazer nada, tenho é que ir à Conservatória. Ando em loop.  Em todo o lado reconhecem que está tudo bem e que tenho razão mas há ali um pormenor no qual o sistema empanca. Refiro-me ainda à casa que era dos meus pais. Os próprios dos serviços das Finanças aconselharam-me a fazer, no Portal, uma impugnação administrativa. Recebi depois uma carta registada a dizer que a impugnação administrativa não se aplica naquele caso. Informaram-me, então, que devia era fazer uma coisa que se chama Recurso Hierárquico. Assim fiz. Como nunca mais me diziam nada, fui verificar ao Portal e, se bem percebo, arquivaram o processo por 'desistência'. Não consigo perceber.

Entretanto, nas Finanças aparece como morada uma Estrada e um número que não tem nada a ver com a morada correcta. É a que era nos idos do século passado, quando não havia ainda os nomes das ruas actuais. E quando digo actuais digo desde que eu era pequena. Provavelmente é a morada de quando a casa foi construída. Perguntei se não podiam alterar. Não podem. Tenho que lhes enviar um documento da Câmara.

Fiz uma exposição à Câmara, mandando documentação e pedindo que atestem que a morada não é a de décadas. mandaram-me um mail com uma carrada de documentos que tenho que lhes enviar. E ao mesmo tempo que enviar tenho que pagar uma taxa para o processo dar entrada. E depois terei que pagar outra taxa para levantar a dita declaração de morada. Só que, de entre os documentos que tenho que enviar, incluem-se documentos que tenho que obter na Conservatória. Mas, para os obter, e posso obtê-los online, tenho que pagar antes. Isto sem ter a certeza de que estou a pedir bem ou que é mesmo aquilo. Ou seja, não tenho como ver antes para me certificar. É que não entendo bem aquelas siglas nem tenho a certeza do significado de alguns conceitos. E acredito que ao mandar esse documento vá levantar outra lebre pois a casa ainda está em nome dos meus pais. Portanto, a seguir devem pedir-me a habilitação de herdeiros. E a ver se depois não tenho que ir certificá-la não sei onde.

Desespero. Perco tempo, gasto dinheiro. E não saio do mesmo sítio.

Quando se fala numa máquina administrativa pesada, complicada, que atrapalha a vida dos cidadãos, é isto. 

O que me valeu foi que ao fim da tarde fui cortar o cabelo. Já não ia à cabeleireira há séculos. De tal forma que quando lá apareceu um rapaz com uns dois metros de altura nem reconheci que era o filho dela pois a última vez que o tinha visto era um jovem a entrar na adolescência. Corto sempre o cabelo em casa. Ultimamente tinha uma técnica fantástica: fazia um rabo de cavalo no alto da cabeça e cortava. Quando tirava o elástico, estava escadeado que era um mimo. Só que, na prática, já estava uma acumulação de cortes, cada um seguindo sua técnica. Portanto, resolvi que estava na altura de me pôr nas mãos dela. E foi radical. No fim, tal a tosquia, o chão tinha material que dava para encher uma almofada.

Também fomos comprar um vaso de cerâmica vidrada. E uma planta. E uma taça e umas suculentas. Depois estive nas jardinagens, mãos na terra. E isso é das coisas boas desta vida. Quando ando num viveiro e vejo as pessoas que lá trabalham, invejo-as: deve ser uma profissão muito feliz. 

E por agora fico-me por aqui pois estou um bocado cansada. De manhã, estava a dormir, uma chamada. Depois já não voltei a adormecer. Por isso, em cima de tudo, tenho uma ou duas horas de sono a menos.

Um dia feliz, para vocês.

segunda-feira, novembro 11, 2024

Dia de folga

 

Hoje estou de folga. 

Para começar, pensava que este domingo era dia 11; logo, dia de São Martinho. Só há bocado é que percebi que este ano o dito calha à segunda-feira.

E começo por informar que hoje não vou falar das incompetências do Governo. Ia dizer incompetências assassinas mas, como estou de folga, não vou usar metáforas desagradáveis. Também não vou falar do enjoo que me causam as afirmações politicamente correctas ou insuportavelmente sonsas de que não se resolve nada com a demissão dos incompetentes, apesar de me apetecer dizer que quem assim pensa não está a ver que manter incompetentes (perigosamente incompetentes) em funções é perpetuar o risco (o que é tanto mais grave quando estamos a falar de risco de vida) e, nesse sentido, está a ser cúmplice da situação. Mas não vou dizer, estou de folga. Nem vou dizer que, ao contrário do que muita gente pensa, não deve ser ministro quem quer mas quem tem competência para isso. Ser yes man ou yes woman, ser lambe botas ou lambe cus dos chefes, ser mais aparelhista do que os aparelhistas do partido não é curriculum vitae para coisa nenhuma, muito menos para ser ministro. Mas não vou dizer, hoje estou de folga.

Vou ficar, pois, pelas coisas simples e boas do dia. 

O almoço foi fora, em família. Tenho sempre mais vontade de ser eu a cozinhar mas como foi combinação quase de última hora e como o meu marido diz sempre que complico a ementa e arranjo coisas muito trabalhosas e que, de vez em quando, em vez de ser cá em casa, podíamos ir ao restaurante, assim foi.

Se os pratos pedidos fossem a votos, acho que teria ganho a cachupa e a moamba. Comi a meias com o meu filho, um bocado de cada. Gosto imenso e tenho dificuldade em dizer qual prefiro. 

Mas alguns dos comensais, em especial os mais novos, ficaram-se pelos bifalhões com ovos a cavalo. Como as doses eram generosas e como desde há algum tempo passou a ser comum, no fim o que sobrou foi colocado em caixas e cada família (família com crianças, leia-se) levou a marmita que, no mínimo, terá dado um bom jantar.

Tinha pensado que, com certeza, por graça, no fim, seriam servidas umas castanhitas assadas. Estranhei que não. Afinal, pois claro, não era Dia de S. Martinho. 

Ando assim, muitas vezes sem saber qual o dia do mês. Mesmo dias da semana, por vezes, quando acordo, ainda estremunhada, tenho que fazer algum exercício mental para me situar. Dantes, acordava a pensar que às dez tinha uma reunião com um, às onze com outro, ao meio-dia com outro, que a tarde também estava feita com este, aquele e o outro, e que me veria aflita para me despachar e raspar-me para casa. Como agora a agenda está limpinha de reuniões e maçadas afins, fica aqui um mar calmo em que, muitas vezes, os dias são um doce contínuo (também me apetecia dizer continuum mas temo que pensem que, no meio da cachupa e da moamba, um continuum pode parecer um enfeite daqueles que se usam para armar ao pingarelho).

Adiante.

Depois ainda fomos passear um pouco, um lugar tranquilo, bonito. Mas o passeio foi coisa ligeira. O meu marido não gosta de caminhar de barriga cheia, diz ele. Mas não sei se foi isso ou se lhe dá pena deixar o nosso cãobeludo mais fofo abandonado.

Quando chegámos a casa já quase anoitecia. Estes dias de horas deslassadas são uma tristeza, pequenos, pequenos que irritam. Às seis da tarde já está para lá de lusco-fusco. Mas fomos, então, fazer uma caminhada com o nosso cão.

Quando cheguei, sentei-me no cadeirão relax e adormeci instantaneamente.

Logo, não jantei. Ainda estava sem fome. O meu marido jantou um frango com lentilhas que estava no frigorifico. Mas, para lhe fazer companhia, sentei-me à mesa, claro. E não jantei mas... como sou um bocado lambona, comi uma little quelque chose.... 

Cortei dióspiro às rodelas. Adoro dióspiro, adoro, adoro. Abri uma lima. Em cada fatia de dióspiro pus umas gotinhas de sumo de lima, um pouquinho de canela em pó. Numas fatias pus uma fatia de queijo feta, noutras queijo cottage. Maravilha. No outro dia comprei um compacto de pasta de tâmara. É uma coisa que só tem tâmara moída, compacta. Parece assim uma espécie de broa. Aquilo não é muito doce. É uma coisa mesmo boa. Por isso, para sobremesa, cortei umas tirinhas e, em cima de cada uma também pus queijo. Foi um jantarinho mesmo bom.

E agora estou a ver o Hell's Kitchen mas o meu marido está só a fazer zapping para ver se vê o futebol. Portanto, é isto. 

E ficamos assim.

Uma boa semana a todos.

domingo, novembro 10, 2024

O cúmulo do ridículo

 

A falta de noção do Governo Mentenegro seria de gargalhada se não fosse trágica. E isto verifica-se a todos os níveis. Só não se vê no caso dos ministérios em que não têm sequer capacidade para mexer um dedo (Economia, Cultura, etc). 

Mas, nos casos em que fazem mais alguma coisa do que respirar e receber o ordenado, acumulam-se os disparates, as mentiras, os dislates e, no caso da Saúde, tem sido a desgraça que se sabe, alegadamente já com várias mortes no cadastro.

No caso da Coisinha Fiasco do MAI, o desempenho está abaixo das rábulas do Herman. 

Por exemplo, o que as televisões nos mostraram no outro dia, com um exército armado até aos dentes a entrar ppelas lojinhas do Martim Moniz adentro é de um ridículo que até dói.

Daqui

Leio que a dita mega operação contou com a intervenção simultânea de (pasmem):

  • PSP que incluiu:
    • Divisão de Investigação Criminal, 
    • Divisão de Segurança a Transportes Públicos, 
    • Divisão de Trânsito, 
    • Núcleo Segurança Privada, 
    • Núcleo de Estrangeiros e Controlo Fronteiriço, 
    • Equipas de Intervenção Rápida, 
    • Equipas de Prevenção e Reação Imediata,
    • bem como a Unidade Especial de Polícia.
  • Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), 
  • Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), 
  • Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) 
  • Segurança Social
Admira-me que não tivessem também chamado os Comandos, os Fuzileiros, os Para-Quedistas e a GNR a cavalo.

Daqui


Note-se que todo aquele aparato foi para varrer as lojas do Martim Moniz, na sua grande maioria geridas por pessoas cumpridoras, ordeiras. Um batalhão de Darth Vaders, com coletes anti-bala, capacetes, viseiras, a avançar pelos passeios e a intimidar os passantes. 

Note-se, não havia desacatos, não havia tareia nas ruas, não havia problemas. Tudo para que um dos ministros mais totós deste Governo, aquele a quem Ricardo Araújo Pereira designou por Lentão Amaro, pudesse estar na Assembleia armado em macho-alfa, mostrando o seu alinhamento com os destemperos do Chega e do Trump contra os pobres imigrantes.

No meio disto, segundo o comunicado e a notícia do Expresso: foram fiscalizados perto de uma centena de cidadãos com vista à verificação da sua legalidade em território nacional", sendo que apenas um não tinha os documentos necessários para residir no país.

Transcrevo ainda: foram detidas 38 pessoas, a maioria pela existência de mandados de detenção (14); cinco por condução com excesso de álcool, seis por falta de habilitação legal, duas por tráfico de droga, uma por violência doméstica e uma por situação irregular em território nacional.

Os custos da mobilização de todo aquele aparato devem ter sido imensos. E, enquanto estiveram dentro daquela ramboiada, não estiveram onde certamente faziam mais falta.

Note-se que não digo que não se façam operações regulares para 'apanhar' traficantes de droga, portadores de armas não autorizadas, bêbados ao volante ou agressores em geral. O que digo é que uma coisa é trabalhar normalmente, de forma responsável e eficaz. Outra, muito diferente, é realizar mega-açcões desta natureza, só show off, manobras de intimidação contra cidadãos que na sua maioria são pacíficos, trabalhadores, pessoas que pagam impostos e descontam para a Segurança Social, acções para impressionar os pategos, concentrando recursos que devem estar onde fazem falta e não onde estão as câmaras de televisão a captar o arraial.

Se isto foi engendrado pela Coisinha Fiasco à revelia do Mentenegro ou se foi concertado entre ambos não sei. O que sei é que isto é um desbaratar de recursos, um disparate, uma coisa para além de ridícula.