quarta-feira, agosto 31, 2011

Portugal ("Faz favor de provar que é pobrezinho se quer comprar passe social") a caminho da Alemanha ("Faz favor, sua prostituta, de comprar o ticket no parquímetro se quer 'atacar' aqui na rua")


Pois bem, isto está mesmo a ficar de plástico para ser mais barato (O'Neill, for ever).

Hoje, enquanto conduzia para casa, vinha ouvindo na TSF que as pessoas no Porto estavam desnorteadas sem conseguirem comprar o passe social +, aquele para pobrezinhos.

Uma senhora dizia que tinha 'tirado a tarde' e ainda não tinha conseguido, outro dizia que lhe tinham pedido a certidão de casamento. Outro perguntava porque raio de carga de água é que agora tinha que ir às finanças carimbar o comprovante da internet da declaração de rendimentos. Tudo isto para provarem que são pobrezinhos para ver se conseguem comprar o passe social com desconto.

E, meus amigos, palavra que não estou a inventar. Ouvi mesmo o que acabei de escrever.

Ou seja, o pior que há: humilhante e burocrático. Humilhar as pessoas que têm que andar a arranjar papéis para depois irem para a fila, para chegarem ao guichet de papelinho na mão a provar que ganham menos de 500 euros.


É o risco de termos um Governo constituído por técnicos sem bases humanistas, sem conhecimentos políticos, sem conhecimentos históricos, e que têm o poder para afectar, desta forma, o destino de tanta gente. O Álvaro parece um bom rapaz, ri-se muito, não é? Pois.

Coitados dos pobres deste país. Coidadas das pessoas que se vêem aflitas para sobreviver e que ainda têm que se humilhar publicamente, mostrar a sua magreza, mostrar que não têm dinheiro para poder viver condignamente.


Mas, meus amigos, não é apenas por cá que se fazem coisas indignas.

Pois bem, esta que hoje li parece-me de tal forma ultrajante que chega a ser quase cómica. Em Bona, Alemanha, as prostitutas que querem fazer o trottoir, têm que pagar bilhete no parquímetro e, se não têm o recibo com elas, serão multadas. Com a medida os cofres públicos vão arrecadar 200 mil euros por ano.


Pergunto eu: o que são 200 mil euros no total dos impostos de uma cidade como Bona? Menos que uma gota de água. Pois. Mas os nossos amigos alemães, os que na prática mandam na Europa, acham que é normal haver na rua parquímetros para prostitutas. Dizem, imagine-se, que é para não ficarem beneficiadas face às colegas que atendem no bordel. E isto, meus amigos, uma vez mais, não é brincadeirinha minha, não: é verdade.

Assim sendo, conselho do dia: vamos lá a acender uma velinha, meus amigos, para que acabem humilhações como esta, nesta Europa que se está a desumanizar.

Séculos de civilização não podem resultar em aviltamentos como estes. 



PS: (Recomendação aos do costume que dizem sempre que se queixam de não lhes ocorrer que eu escrevo mais que um post gigante por dia: Enquanto a política regride desta forma, a tecnologia pula e avança como bola colorida nas mãos de uma criança. Para conferirem, queiram por favor deslizar até à nuvem do post abaixo)

A era dos computadores tal como hoje os conhecemos está a chegar ao fim?

Há algum tempo escrevi este post no qual me referia, entre outras coisas, ao previsível fim da era actual a nível informático. Há quem antecipe que, seguindo a tendência desenhada pela lei de Moore, a miniaturização atinja níveis de tal forma ínfimos que deixe de ser industrialmente manuseável.



Este mês soube-se que a HP está vendedora da sua área de negócios dos computadores pessoais. Deixou de ser um negócio interessante.

Nem tem a ver com o tema da cloud computing porque, ainda que a informação seja processada na nuvem, é requerido um dispositivo pessoal para a ela aceder (exemplifico: ao estar a escrever este post, não sei em que computador físico isto que escrevo está a ser processado e onde será armazenado - ficará algures na imensa 'nuvem' que são os imensos centros informáticos espalhados pelo mundo).

A questão não é, pois, só isso. É mais que isso. Avançar-se-á para as nanotecnologias - a Elvira Fortunato já coloca os processadores em folhas de papel - mas também é provável que seja uma qualquer outra coisa.



A índústria de software acompanhará os avanços da tecnologia e, certamente, alguém a esta hora, (matemáticos, cientistas da computação, engenheiros - e, com certeza, poetas, filósofos) estará a esforçar os seus preciosos neurónios para desenvolver potentes compiladores que se alojem algures, acedidos sabe-se lá como e disponíveis sabe-se lá a partir de que dispositivos.

A Microsoft, entretanto, anda numa azáfama, nomeadamente a tentar acelerar o lançamento do Windows 8 antes que todo este mundo desapareça.



É um mundo volátil este. Os avanços tecnológicos são extraordinários e, tal como há pouco tempo não existia internet e agora é indispensável, algo sem o qual não se comunica, não se fazem revoluções, não se vive, imagino que, dentro de menos de 10 anos, nova disrupção terá acontecido e a nossa vida seguirá um qualquer outro paradigma.



Parabéns ao Sr. Cientista que leva um fio daqui até à nuvem cujo blogue esta semana completou uma volta ao sol!

terça-feira, agosto 30, 2011

Conselho às autarcas portuguesas - quando visitarem castelos com ameias, controlai os vossos entusiasmos!

Estamos a acabar Agosto e a rentrée adivinha-se fértil: Alberto João Jardim anuncia alto e bom som que desobedeceu a directrizes nacionais causando com isso um rombo que nos vai pôr a todos a dar-lhe metade do nosso subsídio de férias e diz que, se o chateiam, volta  fazer o mesmo; a Procuradoria Geral da República, como de costume, em vez de investigar bandidos, investiga agentes da justiça e da polícia, agora investigando os espiões que, à sorrelfa, espiaram um jornalista; um americano e 15 franceses queixam-se que pagam poucos impostos (e pagam - porque a política fiscal no país deles é bem diferente da que é no nosso) e a comunicação social,  qual grupo de cãezinhos a quem atiram um osso vai atrás, em matilha, farejando onde estão os ricos... e sem conseguir descobrir nenhum.

Isto promete.

Por isso, enquanto Agosto ainda dura, e antes que eu tenha que deitar mão à artilharia pesada, deixem-me ficar por aqui nas aboborinhas, a dizer mais umas silly coisinhas.

Hoje o meu conselho vai para as mulheres autarcas, a quem daqui presto a minha solidariedade (em tempo quis ser presidente de câmara mas quando percebi que tinha que ter apoio partidário e que teria que andar a inaugurar fontes, becos e paragens de autocarro e a dar beijinhos ao desbarato, arrepiei caminho).

Maria da Luz Rosinha, CM Vila Franca de Xira

Maria Emília de Sousa, sempiterna na CM Almada

Maria das Dores Meira, CM Setúbal

... e demais bravas e enérgicas mulheres autarcas deste país - daqui vos envio o meu conselho: quando forem visitar castelos com ameias, na Turquia ou em Lisboa ou onde for, controlem a vossa libido.

É certo que o ar livre, o ambiente descontraído de férias e a ilusão de que se está só neste mundo, apenas na companhia de quem se ama, pode levar a desvarios, a actos de luxúria desenfreada.

Mas, minhas Caras, recordai-vos do poder de uma potente objectiva. Não acreditam? Não...? Terei mesmo que vos mostrar o que aconteceu a Ilse Uyttersprot, a autarca belga da cidade de Aalst que, ao passear nas ameias de um castelo, na companhia do seu garboso namorado, lhe deu um ataque de licenciosidade e, não cuidando que, cá em baixo, poderia estar um turista de câmara em punho, se vergou ao desejo mais concupiscente...?

Ok, pronto, se tem que ser. Não vos mostro o vídeo porque, já sabeis, aqui respeita-se a moral e os bons costumes mas, para que não duvideis, aqui está em ponto pequenino, a fotografia que o comprova.

Ilse e o namorado: ela olha para baixo, ele para o alto

Uma coisa que me intriga é que o namorado parece que está ali apenas a apreciar a vista, ora olha sorridente para um lado, ora olha sorridente para o outro - mas enfim é o que é. Domingos Paciência diria: 'Não se deve estar em campo com aquela displicência' mas também não sei se devemos seguir o que ele diz. Pelos frutos os conhecemos e os frutos dele, esta época, não estão a ser lá grande coisa. Mas eu não percebo nada de futebol.

Ilse já veio explicar que isto aconteceu há 4 anos, que não fazia a mínima ideia que estava a ser filmada e que é um acto da sua privada. Eu por mim não tenho nada a dizer. Acho graça, mais nada. Além disso se ela o diz, ela que é uma política de centro-direita, grande defensora dos valores cristãos, então está, com certeza, muito bem.

Além disso parece que se controla muito bem, que, no momento, não abre a boca com a dentuça toda à mostra como a nossa peculiar investigadora Clara Pinto Correia. Agora, para ilustrar a frase, apetecia-me colocar aqui uma daquelas fotografias com que ela e o ex encheram a mediática exposição  - mas o meu sentido estético não o permite.

Mas que este caso, da Ilse, sirva de exemplo para as nossas autarcas - que isto agora, com estas câmaras digitais e com objectivas que fazem um zoom do além, nunca se sabe. É que depois é uma maçada também do além, ter que andar a explicar a meio mundo o que se passou. É mais por isso.

Ilse Uyttersprot, uma mulher que aprecia o ar livre


xxxxxxxxxxzzzxxxxxxxxxxxx


PS: Este conselho é extensível às restantes mulheres que ocupam lugares públicos. As restantes não estão abrangidas, excepto de se considerarem ministeriáveis, deputáveis, autarcáveis ou outras coisas do género.

Slow, slow this right down, don't burn it out (... Slow by Rumer... )

Listen. Read my lips. Learn.

Enjoy. Stay cool. Don't shout. Enjoy.

Go slowly even if your heart beats fast. Go fast (only sometimes) then stay cool.

Read my lips: be happy. 




You make me want to sing about love
Every time I raise my head
You make me want to tell the whole world
What I've found is good

Then they say
Slow
Slow this right down
Don't burn it out
Don't let it show
Slow
Oh but my heart is racing
To hold your gaze and
let it go

My love, my love my love
killin' time is easy when you're here
From dreams I've seen you before
You're so familiar
And everywhere I go
Hear me calling for your love
Cause if it's you
I will disarm you
And if it's you
Do you know how to calm me down
Oh let me sleep in your arms
Then I won't hear them singing

Slow
Slow this right down
Don't burn it out
Don't let it show
Slow

Oh but my heart is racing
to hold your gaze then
let it go
You make me want to sing about love
Even though you don't wanna know
You make me want to tell the whole world
But I know
You don't like it
You don't like it
You don't like it


(Letra de Slow, Rumer)

segunda-feira, agosto 29, 2011

Prémio de Best Blog para Um Jeito Manso...? Thank you, Margarida! ... E agora que eu (a Sibila) já o degustei, o prémio vai para...

E não é que ontem fui uma das happy few que recebeu este miminho?



Eu, que não engraço nada com 'correntes', que nunca lhes dou qualquer seguimento, vi há pouco, com surpresa, que me passaram o testemunho numa delas.

Mas esta é uma coisa engraçada e vou abrir uma excepção. No entanto, vou fazê-lo com uma dentadinha a menos. Uma das condições refere que se devem 'nomear' mais seis 'Best Blog' e é aí começam as minhas dificuldades. Muitos dos blogues que acompanho são temáticos e temas pessoais é coisa que não lhes assiste; em relação a outros, se 'nomeio' os seus autores, corro o risco que me mandem dar uma curva a toda a velocidade (como dá para perceber, gosto de ler o que escrevem os rebeldes). Por isso, vou limitar-me a indicar três, um porque conheço bem a autora e sei que vai alinhar e outros dois porque tenho curiosidade em ver como vão reagir as suas misteriosas autoras.

Assim sendo, vamos lá então dar cumprimento:


Regra Nº 1: Revelar quem me atribuíu o prémio


Pois foi a criativa Margarida que, do que julgo saber, anda a dançar um apaixonado tango com o destino.

Muito obrigada, Margarida, pela distinção e pelo epíteto que me cai muito bem (Sibila. Perfeito).


Regra Nº 2: Compartilhar sete factos pessoais


Primeiro facto: Naquilo de que gosto, sou imoderada.

Adoro ler, sou omnívora no que a leituras diz respeito e, por isso, adoro livros e tenho-os aos montes, quase tomam conta da casa. Gosto de fazer fotografia e faço-as aos milhares, gosto de fazer tapetes de Arraiolos e já fiz tapetes e carpetes quer de modelos originais do século XVII quer de desenho livre, para todos os gostos e tamanhos; gosto de pintar e já pintei tantos quadros que já não sei onde os guardar. Felizmente agora estou na fase dos blogues e tenho menos tempo livre para as restantes actividades. Mas já vou em quatro blogues que, salvo o infantil, alimento diariamente ou quase: este, que é generalista, digamos assim, um de fotografia de rua (que, entretanto, retirei do ar), o de poesia, música, fotografia e devaneios (http://ginjalelisboa.blogspot.com/) e o tal bloguinho para meninos que nunca me lembro de actualizar (Historinhas da Tá).

Parte de uma das minhas pinturas, um dos meus galos para onde toda a cor que tenho dentro de mim jorra em abundância


Segundo facto: Gosto de viver em casas with a view. Preciso de sentir o espaço. Felizmente tenho essa sorte. Das minhas janelas eu vejo um infindável horizonte e posso encher o peito de ar puro e, além de tudo o mais, posso ver as coisas em perspectiva.


Parte da vista que tenho da janela, há pouco


Terceiro facto: Sou muito focada no que me interessa e muito despistada em relação a algumas minudências. (Onde deixei o papel que tinha na mão? Em que dia é que A ou B fazem anos? Onde é que pousei o telemóvel? - nunca sei).

Tenho também um péssimo sentido de orientação.

No outro dia, ia distraída e saí da 2ª circular na saída antes da que queria. Quando dei por mim, estava num sítio estranhíssimo, onde nunca tinha estado, e sem perceber como ali tinha ido parar. Depois de um leve sentimento de pânico (Mas o que é que aconteceu? Onde é que estou?), recompus-me e pensei que, não tendo sido raptada por nenhum alien, deveria ter saído na saída errada pelo que o caso não seria grave.

E lá fui andando (porque nesta terra nunca há sítio para se poder parar o carro). Sem saber onde estava nem para onde deveria ir, procurei tabuletas. Qual quê? Isso é coisa que, por aqui, também não há.

Pensei para tentar acalmar-me, 'Nada de atrapalhação' e, no meio de semáforos, ruas com três faixas, cada uma dirigida a seu específico lado,  lá fui andando na esperança de conseguir voltar para trás, tentando descobrir a entrada anterior da 2ª circular - mas não vi nada que se parecesse com isso. Presumo que, com o meu sentido de orientação, tomei sempre as opções erradas e às tantas começaram a aparecer-me tabuletas que me indicavam que estava na Damaia. Prédios, prédios, ninguém a quem perguntar e nada de sítio para parar.

Eis senão quando tive mais um vislumbre da minhas grandes limitações: então não é que o carro tem GPS?

Feliz da vida, aliviada, lá coloquei a morada e lá segui, cumprindo acrítica e religiosamente as instruções (dentro de 200 metros vire à esquerda, vire agora, siga em frente, encoste à direita,....).

Quase uma hora depois cheguei ao emprego. Caladinha. Jamais poderia confessar que me tinha perdido num sítio onde passo todos os dias, jamais poderia confessar que andei perdida sem me lembrar de accionar o GPS.


Quarto facto: Sou míope, uma coisa ligeira e (mais uma das) que tem vindo a melhorar com o tempo. Mas nunca me sujeitei a usar óculos. Apenas os uso, de sol (graduados), para conduzir (claro, não é...?) e, brancos, para ir ao cinema. De resto, tiro umas pelas outras. Se é alguém que conheço, já lhe conheço os contornos pelo que, se o vir ao longe, cumprimento. Mas, se ainda não existe essa familiaridade, posso passar por mal educada. Em contrapartida, posso cumprimentar pessoas que não conheço, uma vergonha. Mas pior que isso seria andar de óculos. (Não uso lentes porque é uma maçada e nunca me passou pela cabeça ser operada por uma coisa destas). De resto, o olhar das míopes passa por ser um olhar de sedução. Todas as sedutoras do cinema são, de facto, míopes.

Mas, por causa disso, já passei por incontáveis cenas bizarras. Conto apenas uma. Uma vez, há us anos (via pior do que vejo agora) estava num encontro de colaboradores que decorria no piso -1 num hotel. No intervalo resolvi ir ao wc. Coisas destas são complicadas, porque uma pessoa não conhece os cantos à casa. Pareceu-me ver o símbolo de WC e avancei.


Quando estou perto, quase a entrar, eis que vejo um cavalheiro lá dentro do que me pareceu uma pequena entrada. Perguntei: 'É também para mulheres...?'. Com um sorriso divertido, respondeu-me: 'É, é, mas acho melhor não fazer aqui dentro...'.

Era o elevador. O senhor estava dentro do elevador que estava com a porta aberta. Upssss....


Quinto facto: Não tenho grande pancada por sapatos mas, apesar disso, tenho muitos. Cá em casa, sou alvo de perseguição para deitar fora os que supostamente estão a mais mas só in extremis é que o faço, até porque nunca acho que tenho sapatos a mais.  Gosto deles altos e tenho-os de várias cores. Azuis claros, azuis escuros, cor de carne, pretos, encarnados, clássicos ou heterodoxos.

A maçada são as calçadas. Não apenas estragam os tacões como nos fazem parecer ridículas quando vamos a avançar, seguras e elegantes e, opsss..., tacão preso na calçada... E quando o próprio sapato fica pregado ao chão e nós de pé descalço no ar...? Uma conspiração silenciosa contra a nossa coquetterie.

Claro que nos defendemos quase andando nos bicos dos pés mas é cá uma mão-de-obra para ir de um lado ao outro da rua...


Sexto facto: Mas aquilo por que sou mesmo aficcionada é por écharpes. Tenho-as de todas as cores, texturas, tamanhos, finalidades. Acho que são um complemento perfeito para todas as ocasiões. Não resisto às macias, longas, de belas cores.

Isso e baton. Tenho também de todas as cores para darem com a cor da écharpe. Estou a brincar. Não propriamente com a cor da écharpe mas com a cor da roupa, a cor da pele, a disposição do dia.

Não será exactamente uma écharpe mas, enfim, é na mesma base


Sétimo facto: Não gosto do Pedro Passos Coelho como primeiro-ministro (como pessoa não me pronuncio, não conheço, embora me faça impressão um primeiro-ministro com aquele arzinho de maridinho, sempre agarrado à esposa Laurinha, a dar entrevista a dizer que é muito bom a fazer queijadas).

Mas de quem ainda gosto menos é do Miguel Relvas. Não dá. E de vários outros que por aí andam como, por exemplo, aquele que tem um sorrisinho enervante e uma voz que arranha a minha sensibilidade, o Carlos Moedas - não dá mesmo.

A nível nacional acho que há problemas conjunturais e estruturais graves; a nível europeu há problemas sérios de indefinição e de falta de condução articulada; a nível mundial caíram os anteriores paradigmas e ficou um vazio - e, num momento desta seriedade, deveríamos ter à frente do País uma equipa de gente culta, preparada, com uma visão humanista e com um grande conhecimento histórico e não um grupo constituído basicamente por newcomers, neoliberais ou nem isso.

Mas enfim, tenhamos esperança. A coisa talvez se vá resolvendo por si.


Não quero acabar com uma coisa negativa e, por isso, para compensar a exiguidade das nomeações, aqui vai, de bónus, um outro facto pessoal em versão compacta:


Oitavo facto: Gosto muito de pessoas. Gosto muito de ouvir e ajudar pessoas. Gosto de literatura em geral e muito de poesia, tal como gosto de matemática. Gosto de arte em geral. Gosto de culinária. Gosto de decoração. Gosto de passear, e muito de passear de carro. Gosto de caminhar especialmente à beira de água. Gosto de ouvir música quando ando de carro. Gosto muito de me rir. Gosto de pessoas que me fazem rir. Gosto de pessoas que são boa onda. Gosto de pessoas que gostam de ler. E se uma pessoa sabe que o plural de qualquer é quaisquer já fico bem impressionada.

Ah, e adoro a minha prole. Sou caranguejo, ascendente caranguejo; por isso, já estão a ver, maternal, maternal, maternal (mãe-galinha, dizem eles)


Regra Nº 3

Atribuir o prémio 'Best Blog' a outros autores

E, então, o prémio vai para:


<> Como incentivo à minha querida M, claro, que está a começar o seu blogue e que tanto gosta de escrever Histórias de nós

<> A multifacetada Leitora, ora florescente, ora fantasma, ora na areia, ora de volta que tão criteriosamente nos divulga os seus requintados gostos n' A Matéria dos Livros


<> A sensível Leonor, uma menina que escreve como se bordasse no meio de tempestades e que foi buscar ao paraíso o seu Sumo de (lua e de) laranja



ºººººººººººººº

E é isto.


sábado, agosto 27, 2011

O leque perfumado de Stela Labourdonnay ('Histórias pedidas')

Como talvez estejam recordados, respondi ao desafio lançado pelo novo blogue Histórias de Nós - que pede que lhe enviem palavras ou frases para que ela escreva um texto sobre isso.

Sugeri-lhe que escrevesse sobre o meu leque de tabuínhas de madeira e a resposta não se fez esperar.

Adorei.

A história da sedutora e ambiciosa Stela Labourdonnay - a sua aventurosa passagem por Grasse, as suas recordações e inadaptações - dá um novo significado ao leque que adquiri, há uns anos, num vendedor de velharias.


Parabéns, M, A história está uma maravilha - até abri a vitrina onde guardo o precioso leque para o rever de novo e para o ... cheirar (podia ter retido o odor de algum dos perfumes de Grasse).

Convido-vos, meus caros leitores, a deslocarem-se até . Vão gostar.

sexta-feira, agosto 26, 2011

Magreza, sensualidade, inquietação e imagens 'avant la lettre' - Egon Schiele in heaven


Sento-me à noite a esta mesa carregada de livros, uma luz apenas iluminando a pequena área livre onde consigo escrever. De vez em quando tento impor alguma ordem neste caos mas os meus livros têm vida própria, chegam-se a mim e eu, fraca, não os contrario.

Perto de mim, à minha direita, uma mulher sentada arranja o cabelo. Os braços que se elevam para ajeitar o cabelo ruivo são muito magros. Os seios não são muito pequenos nem muito grandes, são os seios redondos e ainda perfeitos de uma mulher jovem. Olha noutra direcção, absorta, arranjando o cabelo. Está nua mas dá ideia que isso não a perturba.

Estou habituada à sua presença, tão feminina. É uma companhia silenciosa.

Não sei como se chama. Poderia chamar-se Wally mas acho que não, Egon conheceu Wally apenas um ano depois.

Mulher sentada arranjando o cabelo

Egon Schiele in heaven

Há pouco mais de um século esta jovem sentou-se, magra e nua, em frente de um jovem pintor austríaco de 20 anos. Muitas vezes se terá cruzado com outras meninas, jovens adolescentes. Egon sempre gostou de pintar rapariguinhas, púberes recentes. Ou isso ou a si próprio. Provocador, ou nem isso, talvez sobretudo perturbado, inquieto, emocionalmente instável, muitos problemas arranjou devido à incomodidade que as suas pinturas provocavam.

Dizia-se que tinha um afecto incestuoso pela irmã quatro anos mais nova mas sabe-se lá. O pai, louco, morreu quando ele tinha 15 anos, depois de ter estado muito doente e tudo isso o afectou muito. Afectou-o também muito o facto de, em sua opinião, a mãe não ter feito um prolongado e pesaroso luto. A partir de então passou a odiar a mãe, achava que a mãe era desprovida de afecto e não lho desculpava.

A família era humilde e Egon, órfão de pai, acabou por ficar entregue aos cuidados de um tio que, felizmente, percebeu cedo que o jovem tinha uma queda para desenho e pintura e proporcionou-lhe estudos nesta área.

Aos 17 anos, Schiele conheceu Gustav Klimt que, interessado no seu trabalho, fez dele o seu "protegido", comprando-lhe trabalhos, apresentando-o a pessoas influentes, arranjando-lhe modelos.

Mas Egon era um rapaz complicado, precoce, arrebatado, e, insatisfeito com o conservadorismo académico da altura, abandonou os estudos e, juntamente com outros colegas que partilhavam a mesma insatisfação, criou o grupo Neukunstgruppe ("Grupo nova arte").

Liberto de baias, longe das regras académicas conservadoras, começou a explorar ainda mais a forma humana e, sobretudo, a sexualidade.

Duas raparigas deitadas

Os seus trabalhos tornaram-se demasiado explícitos para a moral da época. Diziam que a sua pintura era grotesca, pornográfica, perturbada e não me admiro: por exemplo, era frequente pintar-se a si próprio num manifesto exagero fálico, em explícitas cenas de onanismo.

Com 21 anos conheceu Valerie Neuzil, Wally, antiga modelo e talvez amante de Klimt, uma rapariga com dezassete anos com quem começou a viver em Viena usando-a como modelo para alguns dos seus melhores trabalhos. Para fugirem à vida na cidade e às perseguições que imaginava (dado que era dado a fobias), mudaram-se para uma pequena cidade, terra natal da mãe. No entanto, o gosto que tinha em pintar modelos adolescentes da zona desagradava e muito à população. Compreende-se, uma terra pequena em que tudo se sabe … e em 1911!

 Aborrecido, sentindo-se incompreendido, resolve mudar-se de novo, para uma localidade a 35km de Viena. Aí as suas práticas continuam e o seu estúdio torna-se num ponto de encontro de crianças delinquentes. Eram jovens maltratados, com fome, vadios. A guerra ainda não tinha deflagrado mas, tirando uma aristocracia abastada e uma recente burguesia boémia, a população vivia em condições depauperadas.

Egon gostava de retratar a decadência, a magreza, os ossos que rompem a pele, a miséria, a morte. As suas pinturas revelam sensualidade mas em corpos descarnados, quase parecendo antever o que iriam ser os corpos cadavéricos que povoariam os campos de concentração, uns anos mais tarde.


Mas a frequência da casa de Egon causa perplexidade e censura. Rapidamente se sabe que por ali passam jovens nus, que encenam poses sensuais, e tudo se comenta - não tarda que seja denunciado por práticas sexuais com uma menor. A polícia desloca-se ao estúdio e encontra muitas pinturas que considera pornográficas. Por causa de ter esses trabalhos num local frequentado por menores é preso durante três semanas. Na prisão, em condições miseráveis, ainda consegue pintar (12 quadros).

Aos 25 anos, Egon conhece então duas irmãs e fica noivo de uma delas, Edith, tencionando, no entanto, manter Wally como amante.

[Para sua surpresa, Wally não esteve para isso e abandonou-o para sempre (viria a ser enfermeira e acaba por morrer, bem mais tarde, na 2ª Grande Guerra)]

Egon casa-se com Edith pouco tempo depois, nesse mesmo ano.

Edith

Em 1918, Schiele foi convidado a participar na 49º Exposição da Secessão em Viena. Teve 50 trabalhos aceites na exibição que foram expostos na sala principal. Fez também o poster para a exibição, o qual era inspirado na Última Ceia, com o seu retrato no lugar de Cristo. Sempre controverso.


Este acontecimento foi, no entanto, um tremendo sucesso tendo resultado na subida do valor económico dos trabalhos deste artista. Nesse ano fez várias outras exposições igualmente com sucesso.

A vida corre bem a Egon e até um bebé vem a caminho. Mas no outono desse mesmo ano a vida sofre uma tremenda reviravolta, a sorte abandona-os e Edith, grávida de seis meses, morre, uma das mais de vinte milhões de vítimas da gripe espanhola.

Uns anos antes, Egon tinha feito umas estranhas pinturas que, mais tarde, se revelariam premonitórias, como esta, assustadora:  

Mulher grávida e a morte

Não se deve desafiar o destino com coisas sérias, não se deve mesmo (parece que atrai, que horror).


Mas essa gripe era devoradora, contagiosa. Durante três dias a seguir à morte de Edith e do filho que transportava, Egon, doente, faz alguns retratos de Edith, os seus últimos trabalhos. Depois morre. Tinha apenas 28 anos.

Deixou-nos cerca de 250 pinturas e 2000 desenhos e actualmente as suas obras mais importantes encontram-se em museus de Viena e da Suíça assim como em importantes colecções particulares.


Fontes: Para escrever este texto sobre Egon Schiele (1890, 1918), pintor austríaco ligado ao movimento expressionista, consultei vários livros que tenho sobre a sua obra (dado o adiantado da hora, tenho preguiça de transcrever títulos, autores e editores mas, enfim, encontram-se à venda nas lojas da especialidade), a wikipedia e um interessante texto que encontrei na net da autoria de Helena Vasconcelos, intitulado 'A fome e o sexo'.

Nota: Dado que o Um Jeito Manso é um blogue de família, não quero correr o mesmo risco de João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira que viram a sua exposição no espaço Arte Tranquilidade cancelada por poder ferir algumas sensibilidades e, assim sendo, as pinturas e gravuras que escolhi para ilustrar este pequeno texto foram previamente submetidas a aturada censura e, por isso mesmo, não demonstram cabalmente a variedade da pintura e dos desenhos de Egon Schiele.

quinta-feira, agosto 25, 2011

Conselhos práticos para mulheres que não foram felizes no amor – com o apoio das mulheres da obra de Paula Rego (NB: Os conselhos são úteis também para homens)

. I .

Nisto do amor, os homens são como os cães (e as mulheres também; mas centremo-nos agora nos homens).

Quando detecta medo, o cão fica com maus instintos, fica desconfiado, olha de lado, rosna, perde a afectividade e, se a ocasião se proporcionar, ao primeiro movimento, é mesmo capaz de pregar a partida.

A mesma coisa se passa com os homens.


Ponham-lhe uma mulher assustada, carente, frágil, insegura, à sua frente e eis que que eles se perfilarão logo para cantar de galo, para fazer das suas. Nem é consciente, é mesmo uma coisa de instinto. No fundo, percebem logo que aquela mulher arrasta, do passado, um lastro grande, que algum ressabiamento acabará por vir ao de cima, que em algum momento quererá cobrar dívidas causadas por terceiros – em suma, perceberão instintivamente que a coisa tem todos os condimentos para não correr bem. Talvez por isso, fiquem eles próprios à defesa, preparados para não se envolverem, para saltarem fora quando a coisa esfriar ou der para o torto.

Por isso, primeiro conselho: uma mulher nunca deve mostrar a um possível novo affair o seu passivo, nunca deve mostrar feridas ainda em aberto, nem sequer cicatrizes, nunca deve mostrar desconfiança, nunca deve mostrar que é uma pobre coitada a quem os malandros anteriores fizeram sofrer – é que ninguém, salve a Madre Teresa de Calcuta e afins ou quem esteja em missões de voluntariado, tem pachorra para perder tempo a resolver problemas causados por outros. A atitude adequada é mostrar (e sentir!) segurança, abertura de espírito, compreensão, empatia, boa disposição, alegria, bom feitio.


. II .

Nisto do amor, não nos podemos esquecer que os homens (e as mulheres) são animais. Ora, há no reino animal mecanismos que funcionam no sentido de seleccionar o parceiro sexual (porque quando se escolhe um parceiro, escolhe-se em primeiro lugar como parceiro sexual, porque na natureza impera o instinto de reprodução mesmo que isso esteja fora de causa. Sentimentos como o amor ou a amizade são os add-ons que transformarão a simples atracção física num envolvimento mais profundo e duradouro).

Por isso, nada deve ser forçado. Se um homem não desperta interesse físico numa mulher, então é para esquecer. Claro que, por vezes, não há um coup de foudre imediato. Muitas vezes a atracção física vem depois, há um despertar que vem progressivamente à medida que a pessoa se vai revelando. No problem, será bom na mesma. O que eu quero dizer é que se a mulher, à partida, percebe que aquele sujeito, está afim, está disponível, mas há ali qualquer coisa que não lhe agrada,


por exemplo, porque é um pintarolas que não é confiável (e quando digo confiável não me refiro apenas à questão da fidelidade – refiro-me à confiança em sentido abrangente, factor que é essencial numa relação)



ou, então, se acha que é um choninhas, um totó que não dá uma para a caixa, que não desenvolve (e aqui outra vez em sentido abrangente), então não vale a pena entrar nessa, não vale a pena gastar tempo numa coisa que não vai nunca ser satisfatória e que, com todas as probabilidades, acabará por ser uma decepção .

Ou seja, segundo conselho: Tem que haver um clique, uma química, uma empatia, um entendimento sem reservas para valer a pena entrar numa relação. Caso contrário, é passar à frente e esperar que a sorte proporcione uma nova oportunidade.


. III .

Suponhamos, então, que as duas primeiras condições estão satisfeitas e que existe um relacionamento amoroso.

Em algum momento, mas isso de certeza absoluta, vai acontecer uma chatice, um desentendimento, um desagrado. É normal. Por isso, quando acontecer, não vale a pena dramatizar, não vale a pena vitimizar-se, não vale a pena abrir o baú das memórias e desfiar lembranças amargas, achar que se está outra vez perante mais um exemplar da espécie proscrita dos homens sacanas, mal formados, egoístas, estúpidos.

Nada disso. Não é caso para dramas. Se há chatice, então ela deve ser enfrentada de frente, de peito feito, de igual para igual, exigência e cedência em doses certas, fúria e lágrimas, gritos e ameaças, sim senhora, nada de guardar mágoas, tudo cá para fora, mas sabendo que, no fundo, não é caso de caixão à cova, sabendo que é assim que as arestas se vão limando e que para que duas peças se encaixem, muita matéria há mutuamente a desbastar.


E, por isso, após a explosão de raivas e desgostos, é tempo de, com generosidade e segurança, voltar aos tempos de bonança, ou seja, crise contornada, é tempo de novo dia, pondo para trás das costas o que já é passado - e seguir em frente.


Ou seja, terceiro conselho: uma relação é um investimento que requer manutenção e em que os stakeholders devem entrar com partes iguais, e com corpo e alma. Tem que haver uma verdadeira parceria a todos os níveis e as atitudes devem tender para a convergência. E para a frente é que é caminho.


. IV .

É natural uma pessoa, mesmo tendo um parceiro permanente, por vezes prestar alguma atenção a outros seres interessantes que apareçam no ‘pedaço’. Isso é válido para homens e para mulheres. Pode acontecer uma atracção, um acelerar de pulsações. Nada de dramático. Geralmente não passará disso - não vale a pena o outro ligar todos os alarmes, partir para a vigilância apertada, soltar os ciúmes desenfreados, tornar-se controlador, impertinente. Isso apenas criará, no outro, naquele que pode estar a atravessar uma fase de maior vulnerabilidade, a necessidade de agir pela calada, estimulará cumplicidades, aguçará o engenho e o desejo.


Por isso, quarto conselho: Relax, be cool. A auto-segurança, a auto-confiança, a auto-estima são os melhores antídotos para situações geralmente maçadoras. São, além disso, atitudes bastante afrodisíacas.


. V .

Bem mais precioso que o amor é a vida. Ou seja, lembremo-nos sempe que a vida vem em primeiro lugar.

O amor é não mais que um condimento para a vida. E, como todos os condimentos, deve ser usado com parcimónia, com sabedoria.

O amor não deve nunca estragar a vida. Relacionamentos que tragam sistematicamente tristeza, desconfiança, agonia para a vida devem ser postos de lado.

A vida é única, é uma passagem, uma efémera passagem e deve ser tratada com o cuidado que se dedica aos bens raros, preciosos.
Querer enriquecê-la com o amor é natural e desejável.

Sacrificá-la ao amor é absurdo, indesculpável. Até porque amor a sério é uma coisa boa. Se não é boa, não é amor, é outra coisa, é karma, é uma coisa que não interessa.


Finalmente (finalmente porque o texto já está enorme - se não fosse por isso, poderia continuar até ao 100º) o quinto conselho: Se vive um relacionamento que a traz infeliz, inquieta, ansiosa, sozinha, incompleta, decepcionada, preocupada, etc, acabe com ele; ou se, ao contrário, tem um relacionamento que faz o outro andar sempre assim, acabe com ele (com o relacionamento, claro). A vida a dois só tem sentido se for melhor que a vida a solo.

. VI .
(brinde)


Se vive sozinha e ansiosa por descobrir a sua cara-metade, pare de se lastimar e vá à luta. Os príncipes perfeitos não costumam cair no colo das suas bem amadas.


Sexto conselho: Vá à luta mas não de forma apressada, impaciente, nervosa. Não, é exactamente o contrário: vá com a tranquilidade de quem sabe que quem que tiver que ser, aparecerá e, se as coisas forem bem feitas, até virá comer à sua mão. Saia de casa, saia de dentro de si, vá passear, vá aprender a ser feliz. Arranje-se, sinta-se bem com a sua imagem, vá para sítios onde costuma andar gente tranquila e feliz. Respire fundo, descontraia-se, vá sem medo. Isso transparecerá no seu rosto e torná-la-á uma companhia desejável.


Boa sorte!


NB 1: Tudo isto se aplica, por igual, aos homens. Apenas por facilidade de escrita me dirigi às mulheres.

NB 2: O que escrevi é a minha sincera opinião. Quem achar que não tenho razão, fale agora ou cale-se para sempre ou seja: diga de sua justiça que eu me encarregarei de divulgar.


NB 3: Todas as pinturas são de Paula Rego, pintora e mulher por quem nutro imensa admiração e de quem já aqui várias vezes falei. Grandes mulheres as da obra de Paula Rego, grande mulher a Paula Rego.



PS: Já agora, se são gente valente que leu este tratado até ao fim, não querem descer um bocadinho mais? A seguir ao Closer, lanço um desafio à autora do Histórias de nós. Não querem fazer o mesmo? Ora deslizem lá, se fazem o favor, para verem de que se trata.

Love is an accident waiting to happen

Penso que já aqui falei deste filme de que tanto gostei. É a história, são os intérpretes (Clive Owen, Jude Law, Natalie Portman, Julia Roberts), é a realização, é a banda sonora, é tudo muito bom.

Querem rever?
Closer.

(Se tiverem oportunidade de ver o filme inteiro, não percam, vão gostar)


Um desafio para a autora de 'Histórias de Nós': saia daí uma história sobre o leque de E. de Labourdonnay Roque

No novo blogue de que, há dias, aqui falei, o Histórias de nós, a autora lança o desafio de lhe sugerirem temas que ela tentará inspirar-se para daí fazer nascer um texto.

Seja.

Há tempos escrevi aqui no Um jeito Manso um texto a que dei o nome de Despojos: a irrelevância do que se tem - e o carinho que sinto por esses objectos que alguém, um dia, amou

Nesse texto refiro um leque de tabuínhas de madeira do qual não me desfaço e onde se podem ver desenhos de grande minúcia e dedicatórias, poemas. Penso que terá pertencido a E.de Labourdonnay Roque.

O leque que em tempos terá pertencido a E. de Labourdonnay

Pois bem, M.: sugiro a leitura desse texto e lanço o desafio de escrever um texto sobre esta mulher que viveu ainda no século XIX e cujo precioso leque chegou, sabe-se lá como, às minhas mãos.

quarta-feira, agosto 24, 2011

A beleza pura da matemática, o ensino da matemática, o Parque Escolar, o prazer e a utilidade do conhecimento - e a sociedade actual

O que é o infinito?


O vasto infinito no qual a nossa mente mergulha quando caminha por um caminho infindável, é o quê?



Imaginemo-nos a subir uma escada interminável. Vamos contando os degraus: um, dois, três, quatro, cinco, ….mil e um, mil e dois, …, um milhão e trezentos, um milhão trezentos e um, …, vinte e dois triliões,…e por aí fora…

Até onde?

Se quisermos visualizar uma imensidão assim, já não o conseguimos porque estamos em vias de mergulhar no insondável infinito, no mais infinito, no que imaginamos ser o tudo, o tudo mais absoluto, rodeados de tudo, perdidos na imensidão, uma luz imensa ou a total ausência de luz, e todos os sons, uma toada infernal ou a ausência de todos os sons.


E se caminharmos em sentido oposto?


Imaginemo-nos a descer às profundidades : piso -1, -2, -3,… , -125.000.569.002, … , -789.703.645.474.188, …e sempre a descer, talvez apenas uma profunda e imperceptível luz azul, talvez sem luz, um silêncio inaudito ou um silvo perfeito ou talvez uma toada irreal.

E já estamos a entrar no infinito, no menos infinito, nas profundezas nem se sabe bem do quê, lá onde se caminha para o nada mais absoluto.


Mais infinito, menos infinito – o domínio do apetecível intangível, onde a intuição antecipa a realidade, onde a poesia se abeira e encontra a limpidez absoluta, o reino em que o tudo e o nada se tocam: dos mais belos e intangíveis conceitos matemáticos, um devir em que a matemática se cruza com a física e com a religião.

Teoria do Caos

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> Números naturais, números negativos, progressões, espaços - tudo conceitos abarcados pela matemática
  • E qual a probabilidade de eu acertar na chave do euromilhões fazendo uma aposta simples?

  • E, na actual conjuntura, qual o risco de o sistema de aposentações entrar em ruptura?

  • E, para um determinado percurso de um determinado autocarro, qual o horário óptimo para que as pessoas à espera em cada paragem caibam dentro do autocarro e esperem no máximo cinco minutos?

  • E qual a altura máxima de um muro para que não faça sombra nas pessoas que passam a uma determinada distância?


  • … e poderia continuar, exemplificando com situações concretas que encontram resposta nas diferentes áreas da matemática.
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O resultado nacional dos exames revelou uma vez mais que os estudantes portugueses não gostam e não percebem de matemática. O resultado foi negativo e isso é tão triste como o facto de os resultados a português serem igualmente negativos.

Ora estamos no domínio dos chamados fundamentals, daquilo que está na base da matriz cultural do indivíduo. Falhando estes dois pilares, o que fica? Espuma.


Claro que não se espera que todas as pessoas consigam colocar em equação todos os problemas ou dominar a trigonometria ou a teoria das probabilidades ou o cálculo actuarial. Claro que não. Mas que se perceba que questões da natureza que coloquei são passíveis de ser resolvidas de forma objectiva, é da máxima relevância. Não se percebendo isso, ficar-se-á à mercê da estupidez, deixando que as coisas aconteçam por si, deixando que gente ignorante tome decisões com base no arbítrio e não na racionalidade.

Além disso, gostar de matemática é uma coisa fácil de induzir pois são tantas as aplicações do dia a dia, tantos os jogos, que só o desleixo continuado tem levado a esta situação de ignorância primária em que os jovens não percebem para que serve a matemática e, como tal, desligam. Declaram que não gostam e não estão nem aí, perante a passividade e a indiferença obtusa dos pais e da sociedade em geral.


Além do mais, a matemática, para além da vertente utilitária, tem uma outra vertente que é essencial para a formação do raciocínio. Em matemática aprende-se a perceber o que é essencial, a eliminar as redundâncias, a colocar em evidência o que é determinante, a detectar os vícios de raciocínio. Há uma componente lógica que conduz no sentido da clareza, da pureza. E isto é um bem para a vida.


Ontem vi na televisão uma entrevista a um grupo de jovens, jovens até com bom aspecto. Dizia uma rapariga com a maior naturalidade: 'Eu deixei de estudar porque estudar não serve para nada, tenho colegas que estudaram e não arranjaram emprego'. Um amigo corroborava: 'Os canudos já não servem para nada.' E riam, satisfeitos com a opção que seguiram, o abandono escolar.


Fiquei perplexa. Rapazes e raparigas na maior ociosidade, ar descansado, atribuindo ao conhecimento um valor futilmente utilitário, e, como tal, no presente, atribuindo-lhe nenhuma utilidade - se estudar serve para ter um canudo e se os canudos hoje de pouco servem, então para quê aprender?


E assim se retrocede na civilização, desprezando o valor intrínseco do conhecimento.

Questões como estas são, para mim, as questões de fundo no desenvolvimento da nossa sociedade.

Enquanto existirem jovens a pensar assim, por maus, irreversivelmente maus caminhos vai o país. A ignorância, a estupidez, o laxismo são cancros que se auto desenvolvem na sociedade.

Combater este estado das coisas deve ser uma das grandes prioridades nacionais.

Quando ouço falar com desdém no dinheiro gasto nos programas de modernização do Parque Escolar no tempo de Sócrates fico incomodada. Todo o dinheiro que se gaste em boas instalações, em boas condições, com boa arquitectura, bons projectos de engenharia, boa construção, para acolher os jovens nas escolas é bem gasto (e não é apenas a economia a funcionar dando emprego a mão de obra na construção civil, na indústria dos materiais de construção, etc, que bem útil é).

Escola Domingos Sequeira, Leiria, um caso exemplar
Projectos de arquitectura e de engenharia portugueses tal como os restantes projectos

As escolas têm que ser os locais onde os jovens se sintam bem, que tenham orgulho de frequentar, devem ter bons laboratórios, boas bibliotecas, bons espaços para trabalharem em conjunto, têm que ser locais de convívio e aprendizagem. E os professores têm também que gostar de lá estar, têm que ter condições para um trabalho digno e nobre.


Não sei bem como é que será possível dar a volta a isto tudo. Com o mundo de gatas, com a Europa entregue a um bando de frouxos que se deixam governar por um par de jarras do mais míope, conservador, burocrático que existe, com o País entregue a uma rapaziada que gere o curto prazo sem conhecimentos para mais, com uma sociedade abúlica e tendencialmente inculta – como pegar no país e colocá-lo em cima dos carris do conhecimento, como dignificar o papel do ensino, como explicar que o conhecimento da língua, o conhecimento da matemática são bens essenciais, como conduzi-lo em direcção a um progresso humanista, de liberdade, de desenvolvimento?

Não sei - mas um dia destes, em conjunto, teremos que pensar nisso.

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[Já aqui falei anteriormente de matemática, fazendo o paralelismo com a poesia, num post em que considerei que a poesia de Pedro Mexia tem a racionalidade e a pureza ascética da matemática, ou aqui em que remeti para o paralelismo com a escultura, a fotografia pura de Robert Mapplethorpe - e não poderia haver melhor dia para voltar ao tema que hoje, data do 112º aniversário de Jorge Luís Borges cujos labirintos têm o enredo dos grandes enigmas da matemática pura] 

terça-feira, agosto 23, 2011

A traição é mais comum nos homens que nas mulheres? E o que querem as mulheres dos homens? E os homens das mulheres?


As eternas questões, tantas vezes respondidas e nunca esgotadas:


O que esperam as mulheres dos homens?

O que esperam os homens das mulheres?


Aqui há dias o Senhor Embaixador Seixas da Costa contou-nos umas historinhas engraçadas no seu Duas ou Três coisas que suscitaram numerosos comentários e, este fim de semana, o Expresso, na Única, abordou alguns dos temas subjacentes aos delitos do Embaixador (salvo seja) - e isso deu-me vontade de aqui tecer alguns comentários.

Com a vossa licença, então.


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Começo por fazer alguns statements:

1. Não consigo, nem a brincar, dizer mal dos homens em geral (o máximo que consigo é dizer mal de um ou outro em particular mas, ainda assim, direi mal enquanto pessoa, não enquanto homem). Conheço razoavelmente bem a ‘raça’ não apenas por razões familiares e sociais mas também porque toda a minha vida profissional tem sido passada num universo maioritariamente masculino.

2. Não consigo ter uma opinião (muito menos moralista) sobre a infidelidade seja ela efectivada ou apenas imaginada. É um assunto pessoal e que envolve outras pessoas que não eu. Cada um sabe de si e das suas circunstâncias. Contudo, numa contenda como a que há tempos foi divulgada pela televisão entre as ‘Mães de Bragança’ e as ‘Brasileiras das casas de alterne’, a ter que me pôr do lado de alguém, eu pôr-me-ia do lado das brasileiras.


As ‘mães de Bragança’ falavam como se fossem mães ou donas dos maridos e invectivavam as ’brasileiras’ como se fossem estas a desencaminhar os maridos, como se fossem uns fracos, à mercê de qualquer descaminho; em todo o arrazoado moralista que se ouvia, nunca admitiam o óbvio, que os maridos iam às casas de alterne porque queriam. Já as brasileiras diziam, com propriedade, que os homens as procuravam voluntariamente e que todo o homem gosta de um carinho, um ‘cafuné’.

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Dito isto, acho que, salvo situações de carência, desespero ou tédio agudo em que, homem ou mulher estarão disponíveis para relacionamentos ad hoc, de tipo one night stand ou coisa do género, o que os homens e as mulheres procuram num parceiro(a) é basicamente a mesma coisa: alguém com quem estabeleçam uma relação de empatia, de apoio mútuo, de complementaridade, de carinho, de satisfação sexual, de parceria para investimentos futuros (investimentos em sentido lato: casa conjunta, família, etc).




Não partilho, mas nem um pouco, a ideia de que os homens são tendencialmente levianos, sempre predispostos para pular a cerca, insensíveis e egoístas – não penso isso nem penso que, neste aspecto, sejam diferentes das mulheres. Claro que há alguns que sim, tal como há mulheres que sim. Ou que às vezes sim, outras vezes não.

[Claro que há os (ou as) que são frequentemente assim mas, nesse caso:

- ou são assim ab initio (e só se engana quem quer); 
- ou não eram e tornaram-se -> e, então, o que aconteceu é que o relacionamento descarrilou.


NB: Também devo adiantar que acho que, numa relação seja de que tipo for, se deve preservar a reserva e a discrição e, sobretudo, a privacidade; ou seja, não me parece que se deva vasculhar a intimidade do parceiro a ver se se descobre alguma coisa desagradável. Isso apenas revela uma desagradável, uma maçadora insegurança que minará, seguramente, a relação.]


De resto, a ideia que tenho é que os homens são às vezes fortes e seguros, outras vezes carentes, frágeis, gostam de mimo, gostam de palavrinhas de apreço, etc. - tal e qual como as mulheres.



Quanto à questão colocada pelo Expresso sobre se as mulheres ‘traem’ mais ou menos que os homens, a minha opinião é que, desde sempre, é idêntico. Tirando os casos em que o homem dá a facadinha no matrimónio com outro homem (casos que, diria eu, não são a maioria), a dita ‘infidelidade’ pressupõe a existência de outra mulher.

Ou seja, é matéria em que não há santas nem pecadores, não há vilões e inocentes: há pessoas.


(Nota Nº 1: Estas fotografias são, como é habitual, da minha autoria e foram feitas no Ginjal. A primeira, lá de cima, foi feita hoje ao fim do dia.

Nota Nº 2: Se me permitem o convite, queiram acompanhar-me, por favor, até ao Ginjal e Lisboa, a love affair onde há pouco, que nem de propósito, transcrevi um excerto do belíssimo 'Agora escrevo' do Alexandre O'Neill e escrevi um texto a propos.

Afinal, meus queridos amigos: It's all about love: boy meets a girl, girl meets a girl - and nothing else matters.


Nota Nº 3:... Claro que também há a versão boy meets a boy, girl meets a girl - mas não é bem o tema deste post que versa a luta de sexos na sua versão mais ancestral)


Moral da história? Abençoado seja o amor. Uma vez encontrado, deve ser tratadinho com muita compreensão, muito desvelo, muito cuidadinho.

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E agora, minhas meninas, sigam para bingo e deslizem até ao post abaixo.

 
(Os meninos também podem ir mas escusam é, depois, de ficar invejosos)