O inferno está à nossa porta e, muito provavelmente, nenhum de nós, os que aqui estamos, pode fazer o que quer que seja para o evitar.
A Rússia intensifica os ataques à Urânia, uma verdadeira chuva de mísseis e drones a atravessar os céus, causando danos demasiados sérios, provavelmente querendo avançar para uma eventual negociação em posição de grande força. E Biden, provavelmente, na mesma lógica, avança com o ok ao uso, por parte da Ucrânia, a mísseis de longo alcance para atingir território russo.
Ou sejam, aos 1000 dias desta guerra maldita (mas há alguma guerra que não seja maldita?) parece que nunca os tambores rufaram tão alto.
Como tendo a ser optimista, quero sempre acreditar que algum bom senso acabará por prevalecer.
Mas quando de um lado está alguém que já provou à saciedade que quer o que quer e avançará para o conseguir por muitas mortes e destruição que a sua vontade implique e, do outro, estará um louco imprevisível sem um pingo de ponderação, receio que o meu optimismo seja infundado.
Este último apregoava que acabaria com esta guerra em três tempos (bastar-lhe-iam 24 horas e um telefonema) e está a ver-se o que está a conseguir.
Não quero ver o mundo de forma sombria mas tenho que reconhecer que os ventos que sopram daqueles lados não nos trazem boas perspectivas.
Mas não quero falar apenas dos perigos da guerra, tão maiores quando os destinos do mundo estão nas mãos de gente de narcisistas, psicopatas ou alucinados. Quero falar de novo nos tremendos riscos da Inteligência Artificial.
Não sou tremendista, pessimista, não sou histérica. Creio que sou racional e realista. Quando aqui falo deste tema, pretendo apenas alertar para que a regulação é indispensável e urgente. Tal como as alterações climáticas, também a inteligência artificial deveria estar no topo das prioridades políticas de todo o mundo civilizado.
Os recursos para se usar a Inteligência Artificial estão cada vez mais ao dispor de qualquer um, a custo zero ou perto disso, e os riscos que isso comporta são infinitos e, alguns, potencialmente destruidores.
Por vezes (muitas vezes) os benefícios do seu uso são extraordinários. Ainda há uns dias um amigo médico me dizia que usava cada vez mais o ChatGPT e que se espantava por ainda haver colegas que não tinham percebido a ferramenta preciosa que aquilo pode providenciar. A inteligência artificial, bem usada, ao serviço da Medicina, é preciosa.
Para os mais diferentes fins, é raro o dia em que não recorro ao ChatGPT.
Mas o ChatGPT ainda se engana e quem o usa tem que ter os conhecimentos suficientes para perceber quando a resposta do ChatGPT é inquestionável ou quando deve ser verificada.
Mas esta é apenas uma das imensas ferramentas, ao dispor de toda a gente, que recorrem à Inteligência Artificial. Hoje toda a gente já é utilizador dela mesmo sem dar por isso. Quem usa redes sociais está a ver o que o algoritmo seleccionou para si face aos seus gostos habituais. No Youtube ou mesmo Netflix, o que me é apresentado é aquilo que o algoritmo entende ser o meu gosto. E não sei se todos os utilizadores destas plataformas (ou Facebook ou Instagram) percebem isso.
Mas isto continua a ser uma gota de água pois a IA é usada para tudo e mais alguma coisa, incluindo para falsificar imagens, vozes, para gerar obras de arte, na prática para o que se quiser.
O que aqui mostro, no vídeo abaixo, é uma das muitas coisas que cada vez mais se faz e que foi bastante usada por contas falsas na campanha eleitoral americana. Trata-se do uso da voz de alguém para dizer coisas que outro alguém resolve divulgar, querendo fazer parecer que foi o legítimo dono da voz a dizê-lo. Por exemplo, sendo Sir David Attenborough uma voz absolutamente credível, usar a sua voz para o pôr a passar outras mensagens.
Quem ouve, ouve a voz dele, e tão perfeita está que ninguém desconfia que é uma voz gerada por Inteligência Artificial. E podem pô-lo a dizer coisas completamente diferentes do que ele, ele mesmo, diria.
Quando ouviu a sua voz, uma voz forjada pela AI mas absolutamente igual à sua, a dizer algo que ele próprio nunca tinha dito (no fim do vídeo), ficou perturbadíssimo.
E é caso para isso pois as ferramentas para o fazer estão disponíveis para que qualquer um as use. Qualquer um de nós pode ser o veículo para passar ideias que nós próprios nunca divulgaríamos.
Virá o dia em que não saberemos quem é quem, quem disse o quê, o que é verdade e o que é mentira. Um mundo distópico, louco, aterrador.
E isto já está a acontecer. E não há regulação, legislação, para o evitar. E cada vez menos o haverá. Um dos grandes propósitos da dupla Trump & Musk é acabar com qualquer regulação, seja a este nível seja a nível ambiental ou a qualquer outro.
Os demónios estão a ficar à solta e não há guardas para os apanhar e voltar a meter dentro das jaulas ou das grutas ou seja lá onde for.
Sir David Attenborough says AI clone of his voice is 'disturbing' | BBC News
"I am profoundly disturbed to find these days my identity is being stolen by others and greatly object to them using is to say whatever they wish."
That's how broadcaster and biologist Sir David Attenborough has reacted after the BBC played him clips of his voice being mimicked by Artificial Intelligence.
Dr Jennifer Williams, a researcher of AI audio, explains the issues of voices of prominent figures such as Sir David being cloned.
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