Uma vez que ontem estava num registo zen e não me apeteceu desenvolver temas que a ambos têm indignado, o meu marido achou que os temas não deviam passar com a ligeireza com que ontem os aflorei. Por isso, hoje, enquanto ainda estávamos apenas os dois em casa, dei por ele a escrever o que, depois, como é hábito, me enviou por mail.
Transcrevo, pois, o texto que escreveu:
Assisti na sexta feira a uma parte do interrogatório a que foi sujeita a mãe das gémeas. Já tinha assistido a uma parte do interrogatório ao Lacerda Sales e a interrogatórios efetuados em outras comissões de inquérito.
Em nenhum dos interrogatórios me senti próximo dos verdadeiros inquisidores que são os deputados que fazem os interrogatórios, nomeadamente, quando são da oposição e estão nas comissões por pura luta politica sem qualquer interesse em saber a 'verdadeira' verdade.
No entanto, na sexta-feira tive vergonha do que se passou. Independentemente da mãe das crianças estar ou não a esconder quem a auxiliou, que sentido tem esta comissão de inquérito? Parece que o objetivo é descobrirem se alguém marcou indevidamente uma consulta? Os deputados não têm nada de útil para fazer? Por uma merda destas -- e a palavra é esta --, humilham as pessoas desta maneira, enquanto gastam o dinheiro dos contribuintes? A inquisição já acabou há alguns séculos e a PIDE há cinquenta anos. As pessoas têm direito à sua dignidade e não podem ser sujeitas a humilhações só porque o André Ventura está interessado em "levar tudo atrás" e a AD precisa do André Ventura.
E da CPI ao MP "vai o passo de um anão". Então, agora mandaram 50 inspetores da Judiciária investigar as faturas de refeições da Câmara de Oeiras? Mas não existe um orçamento na Câmara e um conjunto de eleitos para verificarem a atuação de executivo? Então os restaurantes não têm programas de faturação auditáveis? Ou será que o MP também se acha no direito de definir a dieta dos autarcas? Por exemplo, à segunda-feira podem comer entrecosto mas não entrecôte, à terça que venha a sardinha mas nunca o linguado e, assim, sucessivamente...? E quem paga estes desvarios são sempre os mesmos, os contribuintes. Não têm emenda. Mas numa democracia tem que haver escrutínio e não há nenhum órgão que possa fazer o que quer sem estar sujeito ao escrutínio democrático e às regras da democracia.
A talhe de foice, os diversos pacotes do Governo também não têm emenda. Ou, pasme-se, referem-se a politicas do Costa que tanto criticaram ou apresentam ideias que não conseguem consubstanciar. Aconteceu mais uma vez com pacote anti-corrupção, isto é, com o pacote "vamos dar a mão ao Ventura". Então o Montenegro, quando é interrogado sobre as medidas propostas, diz que ainda têm que pensar sobre como serão elas de facto? Será possível que isto seja verdade ou, quando estavam a definir as medidas do pacote anti-corrupção, foram interrompidos, isto é, requisitados para analisar as faturas do Isaltino? Só pode ter sido.
Uma brincadeira, isto tudo.
Ainda a propósito do pacote anti-corrupção, quero dizer que sou absolutamente contra o confisco dos bens sem que tenha havido condenação. Parece-me um atentado a tudo o que tenho de mais sagrado: a liberdade, os direitos e garantias individuais. Ainda por cima, quando se vê o comportamento anti-democrático, persecutório, leviano e vingativo do MP. Começa-se por este tipo de medidas e qualquer dia ainda se vai estar a falar de medidas que privem os cidadãos da liberdade de expressão e de manifestação... Acho muito perigoso que se vá por aí...