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quinta-feira, outubro 14, 2021

O dia de uma mulher com o seu pequeno urso

 


E já chegámos a quinta-feira. O tempo voa de uma maneira um bocado desconcertante. Parece que o fim de semana ainda agora acabou e, afinal, o que já estamos é quase no próximo. 

Hoje, estive a trocar mails já sobre o ano que vem. Ainda estamos em 2021 e já estou a tratar de coisas relativas a 2022. Uma aceleração do tempo que me incomoda. 

Desde segunda-feira que temos televisão. Também não havia internet mas isso remediava-se com a internet do telemóvel. Um cabo que, na rua, tinha sido cortado. Veio o técnico e resolveu. Mas a verdade é que continuo sem quase ver televisão. Ontem, ao ver um bocado do telejornal, ouvi notícias que já eram velhas de dois ou três dias. Dá a ideia que o que há de minimamente relevante já apareceu nos onlines. O resto é treta, gente apanhada na rua a quem põem um microfone à frente ou o pequeno carnaval que as reportagens desencantam por onde passam. Não me assiste. A única coisa que me interessa são as imagens do vulcão. Por vezes a ferocidade do planeta faz-se lembrar. Mas, ao ver a lava ardente escorrendo até ao mar, fico na dúvida: será feroz uma terra que, na maior parte do tempo, consegue esconder a febre da paixão que a consome por dentro? 

Almoço em casa, podia ver televisão à hora de almoço. Mas almoço tarde. Trabalho até à uma e tal, depois vou até ao jardim enquanto telefono à minha mãe e enquanto o doggy-doggy tenta morder-me os pés, arrancar relva ou comer alguma porcaria que descobre. Depois regresso a casa, arranjo a comida dele, a minha, e como qualquer coisa enquanto converso com ele, geralmente para zaragatear por não me deixar os pés em paz ou por querer arrancar as franjas aos tapetes. Se calha o meu marido estar em casa a essa hora, dou prioridade à conversa com o meu marido. 

A hora da caminhada é variável, função do nosso programa de festas. Vamos sempre juntos (ou seja, eu e o meu marido; sem vacinas o bebé não pode andar na rua). Já fui uma vez andar sozinha mas fui o tempo todo a pensar que deveria ter levado um pau. Receei que alguém tivesse deixado o portão aberto e saltasse de lá um cão e eu sem ter quem me defendesse, ainda por cima eu sempre de perna ao léu, boa para ferrar. Puxa, só de pensar nisso até me encolho toda. Há com cada fera (das de verdade) do lado de dentro dos muros...

A minha ferazinha agora, mal se apanha no jardim, recusa-se a regressar a casa. Tento enganá-lo mas, mal vê que estamos a aproximar-nos do terraço da cozinha, pára e volta para trás a correr. Se vou atrás dele, foge, esgueira-se, anda em volta das árvores, esconde-se debaixo dos arbustos. As figuras que devo fazer a perseguir o animal devem ser um espectáculo. Hoje, numa das vezes, para conseguir que viesse, peguei-o ao colo. Revirou-se, rosnou, tentou morder-me. Tive que me zangar forte e feio. E ele nem aí, continuando a querer saltar para o chão, debaixo de um persistente rosnido.

Numa outra das vezes, desisti. Vim para dentro, vim fazer um telefonema que tinha que ser feito em frente do computador. Mal acabei, fui buscá-lo. Não o vi em lado algum. Corri tudo, chamei, assobiei, bati palmas. Nada. Desaparecido. Então pensei: querem lá ver que, sem dar por isso, não fechei bem a porta da cozinha para o corredor...? Entrei em casa, chamei. Nada. Fui ao lugar do costume. Lá estava aquele novelo preto de lã macia no tapete ao lado da cama, neste caso do lado do meu marido. Chamei, chamei. Nada, a fazer-se de morto. Tive que pegar outra vez ao colo. Fico feliz quando o tenho ao colo: sinto que está mais pesadinho. O meu instinto maternal que gosta de ver as crianças a desenvolver-se manifesta-se também no little baby dog. Caranguejo ascendente de caranguejo é assim: maternal até dizer chega, nem o cão escapa.

Hoje o meu marido resolveu que ao fim da tarde seria uma altura para irmos à vacina (não a nossa, a do doggy). No carro já não quer ir aninhadinho ao meu colo, agora quer ir de pé a olhar a rua e, de preferência a inspirar o ar fresco da rua. Tenho que ir o tempo todo com ele assim, com as patas de trás apoiadas nas minhas pernas e as patas da frente apoiadas no meu braço, no ar. Só visto. E vamos no banco de trás. O meu marido vai à frente, por enquanto ainda não vestido de motorista. Como daqui a nada estamos no Natal, acho que um dia destes lhe vou dizer que me apetece algo -- a ver se ganho um bombom.

Quando chegámos à clínica, ele (o doggy)  -- que, como antes referi, agora não quer estar ao colo nem por mais uma e que, mal apanha um braço ou perna minha, logo mordisca -- ficou no meu colo, dócil, imóvel, um cachorrinho sossegadinho. Nem parece ele.

Estivemos mais de uma hora à espera. Como não está vacinado, não pode ir para o chão. E, no entanto, não se mexe, bem comportadinho de dar gosto.

A médica veterinária pegou-o, aninhou-o nela, chamou-lhe ursinho, disse que queria levá-lo para casa. Sorria, ela, enlevada, e sentia a macieza deste pêlo macio, mais macio que veludo e seda. 'Um ursinho...', não se cansava de dizer.

Quando lhe deu a vacina, o pobrezinho -- que estava deitado em cima da mesa alta --  ganiu de dor e veio aninhar-se em mim, todo encostadinho, todo a procurar protecção. Quentinho, macio, ultrafofo. Ao contrário da nossa boxer mais linda que era de pêlo curto e o largava por todo o lado, este ursinho peludo não larga pelo. 

(Não havia uma anedota de um certo coelhinho que também não largava pêlo...? -- Adiante, mas é)

De volta, já tão tarde, resolvemos que fazíamos melhor era se nos abastecêssemos pelo caminho. Liguei a perguntar pelos pratos do dia. Bons, os dois. Encomendei. Portanto, ainda passámos por lá, a apanhar.

Quando chegámos a casa já o doggy-dogy vinha todo feliz da vida e todo animado. Só quis fazer chichi no jardim, ou seja, não estava numa de cocó. Estava era numa de entrar em casa. Estava com fome. Dei-lhe logo de comer. Como sempre, atirou-se com entusiasmo mas foi sol de pouca dura, nunca come por aí além. Falei à veterinária: come muito menos do que a dose recomendada. A veterinária disse: 'é um pisco, deixe, ele está bem, não se preocupe'.

Entretanto, nós cheios de fome, cheios, cheios de fome. 

Fui tomar banho e, depois, enquanto o meu marido também tomava, vim até à salinha de televisão ligar o computador e espreitar os mails de serviço. O big bear veio atrás de mim e quis comer-me os pés, depois as pernas e, depois, em desespero de causa, o cabo eléctrico do computador. Zanguei-me a sério, mandei-o embora, 'ai ai, ai ai, menino mais feio, assim a dona não gosta, ai ai, ai ai, vá, saia daqui, a dona assim fica zangada'. Ouvi a voz do meu marido: mas alguém leva essa voz a sério? metes-lhe cá um medo...

Mas a verdade é que parece ter produzido efeito. Desta vez não protestou e foi, saiu da salinha.

Quando o meu marido acabou o banho e fui buscar os pratos para irmos jantar, já depois das dez da noite, cheirou-me a cocó. Acendi a luz da zona central da sala. Um cocó em formato duplo, bem no meio da sala. O que vale é que foi no moleano e não em algum dos tapetes. Always look on the bright side of life.

Portanto, àquela linda hora, cansados e varados de fome, vá de apanhar cocó, lavar o chão. E o curioso é que, apesar de tudo, não me zanguei. Pelo contrário, até pensei: coitadinho, doeu-lhe a barriga e não encontrou nenhuma porta aberta, teve que fazer mesmo aqui. O meu marido pensou o mesmo. Ou seja, estômagos vazios e corações moles.

E, pronto, é isto. Nada mais tenho a reportar.

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Mulheres com cão respectivamente da autoria de: 
Gustave Courbet, Peder Severin Krøyer, Thomas Lawrence, Peder Severin Krøyer, Anthony van Dyck, John Singer Sargent e Giuseppe Cesari.

Enquanto isso Eric Idle interpreta "Always Look On The Bright Side Of Life"
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Desejo-vos um dia feliz
Serenidade. Confiança. Saúde. Alegria

sexta-feira, dezembro 14, 2018

A origem do mundo e a origem da guerra
[Post com bolinha encarnada para pessoas muito pudicas]


Não sendo eu dada a metafísicas nem a parábolas do género quem é que apareceu primeiro, o ovo ou a galinha, devo dizer que, apesar disso, gosto da origem do mundo. Não acho que contenha pêlo púbico de escândalo. E acho graça que tenha sido um homem, Jean Désiré Gustave Courbet de seu nome, a olhar para o ventre e o sexo de uma mulher e a lembrar-se de dizer que é ali que o mundo tem origem. Qual big bang, qual obra de um deus hiperactivo: não senhor, é da boca do corpo da mulher que nasce o mundo. 

Quem daqui me conhece, sabe que, do meio de todas as minhas contradições, resulta que não sou daquelas feministas que endeusam as mulheres e demonizam os homens. Valorizar as mulheres à custa da desvalorização dos homens não é a minha praia. Muito menos suporto o machismo. Acho que o machismo puro é prova de insegurança masculina, é coisa de homem a caricaturar-se para disfarçar inseguranças ocultas. Gozar com um machista é a melhor forma de o desarmar. Experimente uma mulher virar-se para um homem que promete muito e, olhando-o de alto a baixo, dizer com ar duvidoso: 'Jura...?'. Baqueia no acto.

Gosto de igualdade. Sei que em relações de domínio, pode acontecer que uma mulher não consiga afirmar-se como igual do homem. Mas o mesmo acontece com uma mulher debaixo de outra mulher ou de um homem debaixo de uma mulher. Quem está por baixo, só às vezes é que pode tanto como quem está por cima. Claro que aqui poderia abrir um parêntesis para dissertar. Mas é daquelas coisas: filosofia numa hora destas...? Ná. Filosofia só quando contemplo o sunset, não quando as estrelas tombam do céu. 

E gosto do corpo das mulheres que é coisa feita para ser amada com sabedoria e arte tal como gosto do corpo dos homens que é coisa feita para ser devidamente apreciada, quando não degustada.


Por isso, comecei por achar que a doida da Mireille Suzanne Francette Porte, aka Orlan, estava a ser um bocadinho tendenciosa ao achar que a guerra tem origem no sexo masculino. Mas depois, pensando um pouco melhor, ocorreu-me que os senhores da guerra são homens (La Palice não diria melhor), que as guerras têm geralmente origem em burrices, coisa de testosterona a embebedar os neurónios. Pensei em várias guerras e percebi que é coisa de pirraças, de basófias, macacadas de gente metida a besta, ou seja, coisa tipicamente masculina. E os homens que me perdoem pois tenho até carinho pela raça. Mas é um facto: é raça dada a burrices inenarráveis. 
Ocorreu-me agora que o PAN ou a PETA não querem que a gente metaforize com animais. Burrice é coisa que, a partir de agora ofende os burros. Portanto, deleto as burrices e, não podendo substituir por cavalices ou macacadas, direi que a raça masculina é dada a palhaçadas. Também sem ofensa para os palhaços.
Mas, pronto, aqui fica a obra: 'A origem da guerra'. Não sei se foi ela que fotografou o guerreiro ou se apenas o pôs entre lençóis para fazer pendant com a senhora lá mais acima. Não interessa, teve a ideia.


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Para quem perceba a língua, aqui fica a explicação da autora.

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E é isto. Queiram agora seguir o conselho contido no post abaixo. 
Não se aplica a carecas --- embora, pensando bem, porque não...?

quinta-feira, julho 12, 2018

Vaginas com estilo




Pronto. Ninguém conseguiu descobrir a adivinha. Eu também não descobriria mas isso sou eu e eu sou eu e sou limitada -- e, ademais, desconhecedora da realidade alheia. Pelo menos, desta realidade alheia. Doutras ainda vá que não vá mas desta matéria, confesso, não sou conhecedora prática. Bronca, bronca. Bronquinha de todo. E da teoria fiquei a conhecer agora. Antes não fazia ideia. Mas, bolas, com tanto Leitor aí desse lado e nenhum foi capaz de descobrir...? E acham-se cultos e informados...? Está bem, está. 

Relembro a adivinha: 


Antes de dizer, contextualizo. Já se sabe que gosto de contextualizar. Ocorreu-me formular a pergunta depois de ter visto as imagens que ilustram os seis estilos possíveis.

E isto quando estava a ler um artigo onde se dizia que, para as mulheres, o sexo com outra mulher é, na maior parte das vezes, mais gratificante do que com homens.


Já agora, no inquérito realizado junto de 7.000 mulheres, em Junho, no Reino Unido, apurou-se que cerca de metade das mulheres entre os 25 e os 34 anos não apreciam a sua vida sexual. Curiosamente a percentagem reduziu-se para 29% entre as mulheres entre os 55 e os 64 anos. Comentava-se, no artigo, que o sexo melhora com a idade. Não é novidade mas é reconfortante vê-lo confirmado em números. Contra números não há conversa fiada.

Contudo, este estudo não segmentou as respondentes segundo a sua orientação sexual.

Em 2017, um estudo mais completo abrangeu 53.000 americanas e aqui concluíu-se que as lésbicas atingiam mais vezes o orgasmo do que as hetero: 86% versus 65%.

E isto verifica-se em todos os inquéritos. Quando se tenta perceber a razão, as justificações parecem óbvias: as mulheres conhecem melhor o seu corpo do que os homens (mas agora ressalvo eu: do que os homens pouco instruídos) e que, portanto, mais depressa sabem onde tocar e o que fazer.


E é no artigo onde li isto [Do lesbians have better sex than straight women? de Hannah Jane Parkinson no The Guardian] que, às tantas, ao recomendar-se que, para melhores resultados, cada mulher se conheça e se dê a conhecer, que o texto remete para um outro site.

O site é o de Betty Dodson, uma sexóloga que, para além do mais, é dada ao desenho e à pintura. O site é feito em conjunto com Carlin Ross e chama-se Betty Dodson with Carlin Ross e tem como 'slogan': Better Orgasms. Better World. Quem tenha problemas ou, simplesmente, tenha vontade de se instruir deverá consultá-lo.

E foi, justamente por estas bandas que fiquei a conhecer os diferentes tipos de que ontem vos falei.

Clássica
Gótica
Art-Déco ou Coração
Moderna

Barroca
Renascentista









Não é por nada mas cada um é como é. Não desfazendo, eu sou mais dada a tangos como estes que acima se dançam e, por isso, é assim que entro no dia de hoje. Como se sabe, é uma dança cá muito das minhas preferências. O meu par não me tira para dançar mas não faz mal. Pode ser que, um dia que a gente tenha tempo, o convença a ir comigo para uma escola de dança. Enquanto isso não acontece, vou ficcionando ou observando. Quem não tem cão, caça com gato. 

E haja saúde, alegria, amor, descaramento e, sempre que possível, algum glamour e charme à mistura.
E uma vida longa e feliz para todos os que por aqui me acompanham.

segunda-feira, agosto 14, 2017

Mark Zuckerberg (o Conquistador puritano), o Facebook e os mamilos e... a fúria da mamã...


Kate Moss, aos 43 anos, para a W Magazine


É sabido por quem por aqui me acompanha. Não tenho conta no Facebook nem tenciono vir a ter. Não há ali nada que me atraia. Pelo contrário, os potentes motores comerciais que movem a máquina do Facebook são de uma perversidade que acho assustadora. Gratuito para o utilizador normal, o Facebook é, na realidade, uma base de dados de interesse galáctico e desregulado e uma plataforma comercial que usa informação colhida nas preferências e comportamentos das pessoas para divulgar produtos e serviços, para induzir tendências, para manipular preferências.

Jean-François de Troy (1679 – 1752) -  Le bain de Diane

Por detrás do que parece um simples mural no qual as pessoas vêm fotografias alheias ou sabem de peripécias dos amigos ou exibem o seu prato de salada bio ou o seu sorriso de boca aberta enquanto dizem cheeese ou ba-ta-ta, há algoritmos a fazerem o seu trabalhinho para que a pessoa veja em primeiro lugar o que o Facebook decidiu ou para que a disposição do que é mostrado induza a reacção desejada.

Para além disso, há o valor incomensurável da infinita base de dados que é alimentada a todo o instante com toda a espécie de dados pessoais. O que pode ser feito a partir da comercialização desta base de dados já começou a ser visto aquando das mais recentes campanhas eleitorais e que conduziram aos efeitos que quem contratou os serviços da empresa de marketing político pretendia: a vitória dos clientes -- num caso a vitória do Brexit, no outro a vitória de Donald Trump.

Lucas Cranach o Velho (1472 - 1553) -- A Justiça

Mark Zuckerberg tem apenas 33 anos e, embora o seu ordenado seja de apenas 1 dólar anual, é já o ilustre detentor de uma fortuna que o torna a 5ª pessoa mais rica do mundo. Comprando as empresas que se mexem à sua volta, destruindo a concorrência e aventurando-se por caminhos que fazem tremer os que já lá estão, o jovem Zuck parece não conhecer limites.


Ao mesmo tempo que as suas empresas acumulam riqueza como se não houvesse amanhã, ele e a mulher resolveram criar uma fundação, a Chan Zuckerberg Initiative, dona de 99% das acções do Facebook, cujo objectivo é  "to advance human potential and promote equality in areas such as health, education, scientific research and energy". Na prática, uma poderosa empresa filantrópica, tão poderosa que assusta.


Jean Auguste Dominique Ingres (1780 - 1867)  - La Source

As movimentações do jovem Mark são seguidas com preocupação por quem sabe detectar sinais de potencial alarme. Leia-se, por exemplo, na Vanity Fair, o artigo Is Mark Zuckerberg Killing Silicon Valley?:

The exact nature of Mark Zuckerberg’s ambitions are a bit hard to pin down. At 33 years old, Zuckerberg has already built the world’s largest and most powerful social-media network; devoured the advertising and media markets; is threatening to put Hollywood out of business; amassed a $73 billion fortune and pledged to give most of it away in what could become the world’s most ambitious philanthropic enterprise. In two years, he’ll be old enough to run for president, a prospect that is being taken somewhat seriously in Silicon Valley, where various sources have told Vanity Fair he wants to be “emperor.”

Only Zuckerberg knows if those two impulses—to dominate the world and to save it—are in conflict. In the meantime, however, the Facebook founder and C.E.O. is not hesitating to ruthlessly expand his business empire in pursuit of whatever master plan he has in mind. (...)

Giorgione (1478 - 1510) -- A Vénus adormecida

No meio disto, parece até ridículo o puritanismo do Facebook. Quem por lá navega já deve ter sido informado das regras mas, ainda assim, transcrevo o seguinte excerto:

Nudez 
(...) Eliminamos fotografias de pessoas que mostram os genitais ou que se foquem em nádegas completamente expostas. Também restringimos algumas imagens de seios femininos se estas incluírem o mamilo. No entanto, permitimos fotos de mulheres a amamentar ou a mostrar seios com cicatrizes pós-mastectomia. Também permitimos fotografias de pinturas, esculturas ou outro tipo de arte que retrate nudez. As restrições na apresentação de nudez e de atividades sexuais também se podem aplicar a conteúdo criado digitalmente, a não ser que o conteúdo publicado se destine a fins educativos, humorísticos ou satíricos. São proibidas imagens explícitas de relações sexuais. Também podem ser eliminadas descrições de atos sexuais detalhados nitidamente.
Tiziano (1490 - 1576)  - Vénus com o Organista e com o Amor


No outro dia, o MCS (de No Vazio da Onda) dava conta que a sua conta no Facebook tinha sido temporariamente bloqueada por lá ter colocado uma fotografia do falecido Serge Gainsbourg (1928-1991) num dia de farra -- e tudo porque a fotografia mostra que, nesse dia, algumas foliãs estavam de mamocas ao léu.


Provavelmente essa fotografia ainda não almejou alcançar a categoria de 'arte'.

Mas o que é arte? Quem decide o que é arte ou não-arte? Não há pinturas de um classicismo irrepreensível e nas quais almas moralistas vêem pura pornografia?

Gustave Courbet (1819 - 1877) -- A Origem do Mundo

As imagens que aqui partilho -- com excepção da primeira que é, ela própria, um clássico entre as fotografias de Kate Moss -- as restantes são pinturas a que nenhum idiota ousaria negar a exibição. Contudo, algumas ou algumas deste tipo não podem ser expostas em galerias ou museus americanos por haver quem considere que ofendem a moral e os bons costumes.

O blogger, ferramenta da Google, que eu saiba, ainda não restringe a partilha de imagens com mamilos, nádegas ou que exprimam actos de amor (tanto mais que as disponibiliza no Google Arts & Culture).


No entanto, tendo recebido por mail um vídeo engraçado ('Embaraçoso...' ou 'Não chateiem a mamã') no qual a protagonista, no fim, aparece em nu frontal, quis inseri-lo aqui via youtube e o que aparece já é a versão coberta. Aqui o deixo na mesma.

Tudo é subjectivo, claro, mas o puritanismo e o moralismos nunca foram bons conselheiros e, em nome deles, grandes patifarias têm sido cometidas ao longo dos tempos. O que seria normal seria que as mentes fossem evoluindo mas, como se vê, a regressão é que parece estar a fazer o seu caminho.


Que mal fazia ver-se o corpo da mamã?

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E, em pós-post, aqui fica como recomendação, a resposta a um comentário meu n'A Matéria do Tempo. Com o Fernando aprendemos sempre.

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Se não fosse por coisas, nomeadamente por ser avessa a selfies, despedia-me com um auto-retrato meu. Assim, despeço-me com o mais parecido que arranjei. Só me falta o gato.

Mulher reclinada e nua com gato -- Pablo Picasso (1881 - 1973)

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E uma boa semana a todos quantos por aqui passam, a começar já por esta segunfa-feira.
Be happy.

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segunda-feira, setembro 12, 2016

As mulheres que lêem são perigosas?





Já o contei aqui. Eu era bebé, tinha seis meses, uma leve penugem loura na cabeça, e estava no meu quarto, na minha caminha branca que tinha na cabeceira uma fita com uma lua de prata. E estava a dormir.

A minha mãe estava noutra divisão. Lá fora um cão ladrou e, a seguir, a minha mãe ouviu uma voz de bebé a dizer 'cão'. Assustada a minha mãe foi a correr ver que coisa estranha era aquela. Eu estava acordada e provavelmente a sorrir já que me dizem que eu estava sempre a rir e as fotografias assim o mostram. Depois o cão ladrou e eu disse outra vez: 'cão'. A minha mãe assustada largou a correr a ir chamar a vizinha da casa do lado: 'a menina falou!'. A vizinha disse que podia lá ser, são sons que os bebés às vezes fazem. Mas a minha mãe que não, que eu tinha dito distintamente 'cão'. Vieram as duas a correr e abeiraram-se da cama, queriam que eu repetisse mas eu não. Até que o cão ladrou e eu disse 'cão'. Quando o meu pai chegou encontrou-as assustadas e também não acreditou. Até que o cão ladrou e eu voltei a dizer 'cão'. Logo depois, ia eu ao colo do meu pai visitar a madrinha dele e, quando acenderam a luz, eu disse 'luz'. E toda a gente ficou assustada, um bebé tão de colo. Depois foi um dos meus tios, mais novo que os meus pais, o Manuel, a quem, na brincadeira o irmão e os amigos chamavam Lela. Quando cheguei ao pé dele, disse Lela. Aos poucos foram acreditando que eu estava mesmo a começar a falar. A minha mãe conta que devia eu ter uns oito meses e já dizia tudo, foi comigo ao mercado e eu não me calava, a dizer o nome das frutas e a perguntar tudo. E que as pessoas ficaram admiradas, um bebé de colo, praticamente ainda só com uma penugem na cabeça, a falar assim: 'Mas que idade tem o bebé...?!' e mal acreditavam no que viam.

E contam que eu falava, falava. Perguntava tudo, queria saber tudo e não me calava. Com um sapateiro que trabalhava ao pé da casa de uma das minhas avós ou com o pai de uma que viria a ser minha tia. Eles tinham paciência e eu, sem querer, abusava. Adorava as explicações que eles me davam, a forma como falavam, as palavras desconhecidas que usavam.

Depois foi a ler e escrever. Aos quatro anos, quando entrei para a infantil, já lia e escrevia. Quando cheguei à primária lia correntemente. Uma vez mostrei à professora umas fotografias e numa estava eu a ler a Crónica Feminina. O meu pai tinha-me apanhado a ler aquela revista e achou graça. A professora disse: 'Sabendo já ler, devias ler coisas melhores, isso não presta'. Fiquei incomodada. Gostava tanto de ler a Crónica Feminina. Tal como gostava de ler tudo o que me vinha parar às mãos.

Ainda gosto. Para onde quer que vá, vou com livros.

Mas, se páro na estação de serviço, ponho-me a ver as capas das revistas e, se tiver tempo, até folheio alguma. Se estou parada à espera que me chamem pela minha vez, seja onde for, estou no smartphone a ler o que calhar. Se apanho uma revista qualquer, mesmo que tenha meses, leio-a de uma ponta a outra. 

Quando era adolescente escrevia cartas a amigas que conhecia em intercâmbios de escolas, em acampamentos, a namorados, a pen friends que não conhecia de lado nenhum. Adorava receber cartas e escrever de volta. Longas cartas.

Aqui é o que se vê, escrevo como se não houvesse amanhã. Mais do que paixão por palavras, é quase um vício. Coisa de nascença, como se viu.

Mas, com os livros, dá-se uma coisa estranha. E não sei se devo dizer com os livros, se com a idade. Estou cada vez mais intolerante. Se a escrita me parece vulgar, se há palavras que me parecem mal escolhidas ou que melodicamente são dissonantes no texto mas o são por desmazelo e não por qualquer motivo justificável, ou se são histórias de uma banalidade rasteira, não consigo sequer fazer um esforço.

Eu, que era omnívora na leitura, agora, tal como na comida, estou cada vez mais exigente. Se já não consigo suportar comida muito puxada, carnes com muita gordura, coisas assim, e cada vez mais gosto de um bom peixe fresco cozinhado muito simplesmente e até pode ser acompanhado só com batatas e feijão verde cozidos,  ou de boas saladas, bem temperadas, e fruta de época - ou seja, a simplicidade, o sabor verdadeiro das coisas - nos livros parece que é a mesma coisa.

Tem a escrita que me parecer fluida, simples, genuína. E soar-me-á bem se contiver uma melodia que me leve nos braços ou se for surpreendente e me sacudir o espírito. No fundo, acho que, por um qualquer motivo, deve conter um fio que me conduza pelo caminho das palavras.

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Poderia agora enunciar alguns dos livros ou autores que, apesar de muito incensados, eu acho um saco ou quais os que, por estes dias, me têm por companhia -- mas, dado o adiantado da hora, por aqui me fico.

Acrescentarei apenas -- e não serei original ao dizê-lo -- que encontro em alguns blogs as características que me prendem tanto ou mais do que muitos livros que por aí vejo recomendados. Alguns estão aqui ao lado, na minha galeria lateral. Outros não.

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Mas o título do post era 'As mulheres que lêem são perigosas?' e acabei por não responder.

Muito sucintamente direi que acho que depende. A maioria será completamente inofensiva. Mas haverá outras que são perigosas. Muito. Cuidado com essas.

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Ao longo do texto, as pinturas são, respectivamente, de Gustave Courbet, Berthe Morisot, Raffaello Sanzio, Renoir, Robert Delaunay.

Leonard Cohen interpreta The letters.

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Queiram, se para aí estiverem virados, é claro, descer até ao post seguinte: Veneza como nunca antes foi vista.

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sexta-feira, agosto 26, 2016

Paris, mon amour



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Digo que não gosto de Paris no verão mas estou aqui e só me dá para me lembrar dos seus lugares. Não dos lugares turísticos mas dos jardins, ruas e pracinhas, das esplanadas, das pessoas diferentes com que nos cruzamos, da vista da belíssima cidade a partir de alguns telhados, dos passeios pelos boulevards, das bancas de livros e estampas na beira do rio, das livrarias.

E agora estou a lembrar-me de uma coisa que não sei se já aqui contei. Éramos dois casais e andávamos quase sempre juntos mas um dia fomos cada casal para seu lado, acho que eles iam visitar algum amigo num arredor qualquer. Encontrámo-nos à noite e ele vinha com um blusão de pele novo, giríssimo. Nós admirados, não eram o género de pessoas que fossem às compras de roupa, muito menos ele. Mas estavam pouco convencidos. Então o que tinha sido? Não me lembro já bem de todos os pormenores, tenho ideia que, no comboio, tinha entrado um fulano com um malão. Então o fulano, que tenho ideia que era italiano, tinha dito que tinha estado a expor artigos de pele numa passagem de modelos ou exposição, não me lembro bem, e que tinham sobrado umas peças e que não lhe dava jeito ter que expedir aquilo por avião e que se conseguisse vender tudo, melhor. E que, então, tinha proposto vender um blusão por tuta e meia, não me lembro se uns 20 ou 25 euros. E que eles acharam aquilo muito suspeito e que o fulano ainda tinha feito um desconto. E, a modos que contrariados e desconfiados, ficaram com o blusão.

Ora o blusão era um espanto, bom mesmo, uma boa pele, um bom forro, um bom design. Chegaram ao hotel, reviraram o blusão, apalparam, sacudiram, pensando que tinha droga escondida, qualquer treta. Nada. Nem sabiam se o ele o havia de vestir, pois mais do que certo era material roubado e ainda eram apanhados

Mas então ele lá se afoitou e lá o vestiu. Um espectáculo de blusão. Ainda me zanguei por ele não ter trazido também para nós. Eu, que acho que desencanto pechinchas por onde passo, nunca consegui coisa assim.

Mas, pronto, isto foi uma derivação.

Estou aqui na sala, a escrever deitada no sofá, e a olhar para a estante baixa, funda e comprida, onde tenho livros e tralha e, por cima, a televisão e mil molduras.

Uma vez, o mais pequeno abriu a estante e começou de lá a tirar as figurinhas do presépio, os anjinhos, as caixinhas de porcelana, a caixinha com a bússula, a caixinha de música e outras coisas do género. E então, apressadamente, o mais crescido puxou-o por um braço e disse: 'Não mexas no museu da Tá!' e eu achei um piadão porque vi que eles olham essas minhas pequenas preciosidades como objectos de museu. Mas uma das peças trouxe-a eu de lá, há muitos anos, eram os meus filhos muito pequenos, ainda me lembro do meu marido andar com o meu filho às cavalitas: é um bule muito bonito, estou a olhar para ele, tem umas cores suavíssimas, e tem forma de elefante (se não estivesse cheia de preguiça, ia fotografá-lo para o mostrar). Nessa vez trouxe também uns copinhos pequeninos de vidro pintado à mão, com flores douradas e cor-de-rosa velho. Tinha muito medo que se partisse aquilo no avião, tive mil cuidados, e o meu marido sem querer saber, achava absurdo que eu trouxesse aquilo, se se partisse acho que ele até acharia que era bem feito para eu não ter ideias daquelas. Mas chegou tudo intacto. E não sei como, com mudança de casa pelo meio, com tanta miudagem sempre cá em casa, ainda resiste tudo. Nunca os usei, sempre os mantive a bom recato, porque são umas peças mesmo bonitas. Olho para elas e lembro-me de Paris.


E nessa vez, em Montmartre, os miúdos posaram para serem retratados a carvão. Mesmo bonitos. Quando lá voltámos, já mais crescidinhos, no mesmo sítio, posaram para uma caricatura. As mesmas feições, engraçados. Mas cansavam-se, muito museu, muita caminhada. No entanto, divertiam-se. 

Também acho que já contei. Uma vez fomos jantar para a zona Des Halles, íamos à procura de um certo restaurante. Mas os miúdos estavam estafados e o meu marido impaciente, quando chega a uma rua com restaurantes, por vontade dele entra no primeiro - e, então, vimos um com uma decoração muito bonita, em tons de violeta e preto, com uns castiçais entre o design e o romântico, com umas flores altas muito bonitas. Pronto, ficamos é já aqui.


Pedimos - sempre aquela festa, os miúdos a quererem experimentar tudo - e nem reparámos em nada. Até que, instalados, os amouse-bouche já a sossegar a impaciência, começámos a ver o que se passava à nossa volta. Só homens, alguns muito in love, de mão dada ou aos beijos na boca, outros a darem palmadas no rabo dos empregados, um a beijar na boca um empregado. Nós ali os quatro completamente deslocados. Os miúdos parvos com aquilo, nunca tinham visto por cá nada assim. Depois chegou um todo maquilhado, grandes pestanas, umas calças completamente justas e todo provocante e os outros todos a meterem-se com ele. Os miúdos faziam sinais um para o outro. O meu marido furioso connosco, a não querer que olhássemos ou ríssemos, a dizer que ainda arranjavamos chatice. 

Quando cheguei ao hotel, ao ver os folhetos turísticos, vi que aquele restaurante era um dos mais carismáticos do roteiro gay. Estava explicado.

E a bailarina enorme, completamente gorda, toda Toulouse-Lautrec? De tutu, tules cor de rosa, em pontas, a circular dançando nos Champs Elysées? Ainda hoje a minha filha fala nela.

E quando fomos os dois, romanticamente, em Wagon-Lit? Que viagem tão linda. Gostei tanto.

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E não vos maço mais com estas recordações, ainda por cima em modo repetex. Isto é falta de férias. Tenho é que lá ir um dia destes.

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E, para quem não conheça, um vídeo divulgado esta quinta-feira, muito bonito, com Paris num pas de deux com Victoria Dauberville, uma bailarina dos Dot Move.

Transcrevo parte da apresentação:

C’est l’histoire d’une danseuse seule face à son destin, en proie au doute mais déterminée à réaliser son rêve coûte que coûte : danser à l’Opéra de Paris. 

Pour illustrer ce conte moderne, DOT MOVE a relevé le pari de rendre Paris complètement désert pour en faire un terrain de jeu idéal d'une danseuse classique.

Le film est illustré par « Rêve d'Opéra », extrait du conte musical les « Souliers Rouges » écrit par Fabrice Aboulker et Marc Lavoine

RÊVE D'OPÉRA




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Lá em cima era Jacques Brel interpretando Les prénoms de Paris

As imagens mostram pinturas no museu de que mais gosto e que visito de cada vez que estou em Paris: o Musée d'Orsay.

Os autores são, respectivamente: Jean-Auguste Dominique Ingres, Paul Gauguin, Claude Monet, Auguste Renoir, Toulouse-Lautrec, Gustave Courbet e, finalmente, os jovens gregos são de Jean-Léon Gérôme, 
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domingo, janeiro 10, 2016

Cada vez mais mulheres americanas declaram a sua bissexualidade (ou sexualidade fluida, como se diz). Só americanas? E isto é tendência recente? --- Olhem que não, olhem que não.



Já aqui há pouco tempo o tema veio à baila, não a propósito do que aqui vou falar, que é de natureza estatística, mas, sim, de natureza psicológica (- ou fisiológica, digamos assim). Na altura, levei quase na brincadeira. Agora, se a coisa mete estatística, mudo de tom e tento aumentar a amostragem.

Um estudo publicado há dias nos Estados Unidos mostra que há três vezes mais mulheres que homens a declararem-se bissexuais. O estudo mostra também que este número cresceu desde a última avaliação, poucos anos antes.

Não é que o número seja elevado (5,5% nas mulheres, 2% nos homens) mas, ainda assim, as proporções e a evolução merecem atenção.

Para além disso, se perguntadas se alguma vez tinham tido um contacto sexual com alguém do mesmo sexo (e isto, de um contacto, pode ser uma coisa esporádica e não uma orientação permanente), também o número de mulheres que responde positivamente é bem maior nas mulheres que nos homens -- 17,4% contra 6,2% -- e é significativo.

Também desde há alguns anos se vem verificando uma tendência crescente na assumpção por parte de figuras públicas da sua condição de bissexuais. Alguns exemplos:

Kristen Stewart e a sua namorada  Alicia Cargile

Depois de viver vários anos com Robert Pattinson,
agora é Alicia que faz vibrar a talentosa Kristen

Angelina Jolie não esconde o caso amoroso que viveu com Jenny Shimizu

Cara Delevingne e St. Vincent
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Mas, pergunto eu, qual a novidade? E porquê tanto destaque à realidade americana?

Respondo - Nenhuma novidade, desde sempre, em todo o lado.
(Mas às escondidas, claro... O manto do pecado pesava, a clandestinidade impunha-se)

Gravure Galante, XII ou XIII?

La Nymphe Callisto, séduite par Jupiter sous les traits de Diane, François Boucher,  (1759).


Le sommeil de Gustave Courbet, 1866 (também chamado: Les deux amies Paresse et Luxure)


Les deux amies, oil, ca. 1894-5; Henri de Toulouse-Lautrec

Egon Schiele - Two Women, 1915
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E estava tentada a fazer avançar as mulheres malditas do Baudelaire mas o poema é longo, longo e, portanto, por hoje não. Avanço para o cinema.

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Violette (Violette Leduc)


Carol



Adele



Ou seja, a bissexualidade, tal como a homossexualidade ou a heterossexualidade -- ou whatever -- existem, não dá para as escamotear. Mas são matérias do foro íntimo, pessoal, orientações com as quais ninguém tem nada a ver a não ser os próprios. E eu, pela parte que me toca, di-lo-ei vezes sem conta: não é pelo facto de eu ser hetero que alguma vez poderei sentir-me no direito que censurar quem quer que seja por ser diferente de mim tal como não aceitaria ser censurada ou ser condenada por eu ser hetero, uma vez que é coisa que não é voluntária ou controlável.

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E estava para vos mostrar como estava belo, belíssimo, o mar nesta tarde bravia de sábado mas, dado o adiantado da hora, limito-me a sugerir-vos que deslizem até ao post seguinte para saberem esta agora do Marcelo a abafar um palmier ao Nóvoa, dando assim início à sua excêntrica Campanha do Coração.
Se ele se apanhasse ao pé de mim neste momento, estava capaz de jurar que me dava razão, haveria de jurar a pés juntos que isto da bissexualidade é que está a dar e que ele próprio, até, enfim... (e sorriria e pigarrearia, todo malicioso, para ver se me ultrapassava, ora não, quiçá até para ver se ultrapassava em fluidez sexual a Angelina Jolie. Menino para isso é ele).
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sexta-feira, janeiro 18, 2013

Sobre a yoni, a peónia desabrochada, o portão celestial, a origem do mundo. E também sobre os yinmao, a erva fragrante, e sobre os tigres brancos que os não têm. E Gustave Courbet e Georgia O'Keeffe que tão bem retrataram a entrada da vida. Ou seja, e deixemo-nos de rodeios: breves apontamentos sobre a vagina, ou melhor, sobre alguns dos cognomes da dita e arredores


Na ausência de temas da actualidade que me despertem interesse, foi uma expressão usada num comentário ao texto de ontem, o terceiro comentário, que me deu ideia do tema de hoje (e, se não viram, aconselho-os a irem lá ver porque é impagável).

Se estivéssemos no verão, poderiam dizer que isto que vão ler é conversa de silly season. Assim, como estamos no inverno, podem é dizer que estou com saudades do verão. Para já, por favor, apertem os cintos para não darem nenhum salto na cadeira. 

我会告诉你,现在的名称是东方人,阴道,因此开始写它在中国。

(Se se derem ao trabalho de pegar nisto que acabei de escrever e traduzirem, obterão a seguinte frase: Vou dizer-lhe o nome agora, orientais, vaginal, e por isso começou a escrever em chinês).

Não perceberam...?! Não...?!

O Google não é uma fantástica ferramenta de tradução...?



A Origem do Mundo, 1866, de Gustave Courbet
(a modelo não era seguramente um tigre branco)


Bem, de facto o que queria dizer era: Vou falar-vos agora dos nomes que os orientais dão à vagina e, portanto, começo por escrever isto em chinês.

E vem isto a propósito de quê? Bem... é que vou transcrever um trecho de um livro em que se usam expressões que resultam de traduzir do chinês e não sei como foram feitas essas traduções. Se foram com o google, a coisa na origem poderia ser bem diferente. 

Adiante.


Ao passo que a história vaginal no Ocidente se caracteriza - geralmente - pela falta de palavras, o mesmo não pode afirmar-se sobre as culturas orientais. Como revelam os antigos manuais sexuais da China, Índia e Japão, quando a imaginação de uma cultura dispara, isenta de noções repressivas da sexualidade, surge uma linguagem vaginal riquíssima.

Por exemplo, as palavras que descrevem os genitais femininos são, regra geral, denominações de beleza e de prazer, reflectindo uma sensação de delícia (...).


As flores de Georgia O'Keeffe


Os termos vaginais chineses e taoístas incluem 'entrada da vida', 'lótus da sua sabedoria', 'gruta do amor', 'peónia desabrochada', 'casa do tesouro', 'coração interno' e 'portão celestial'. 

Yoni, a palavra oriental para vagina, abrange igualmente os significados de útero, origem e fonte.

Além disso, o termo sânscrito bhaga, que significa útero ou yoni, significa riqueza, sorte e felicidade.

(...)


Mulher nua a dormir, 1862, Gustave Courbet
(quase um tigre branco em baixo mas não em cima, nas axilas)


No Ocidente, se não se soubesse, um olhar para séculos de pintura de mulheres nuas indicaria que estas não têm pêlos púbicos. Por algumas razões, os pêlos púbicos eram um problema no Ocidente  - talvez por implicarem uma natureza sexual animal, que não se enquadrava nas noções preconcebidas e moralistas da sexualidade feminina. 

Na China, em nítido contraste, pêlos púbicos abundantes e lascivos são sinal de paixão e sensualidade numa mulher, e os pêlos púbicos em forma de triângulo equilátero com um crescimento ascendente são tidos como sinal de beleza. Yinmao é o nome popular para os pêlos púbicos femininos; contudo, se uma mulher não tiver pêlos púbicos, é conhecida como 'tigre branco'.

Talvez como sinal de sentimentos positivos em relação aos pêlos púbicos, os termos chineses que os designam são particularmente poéticos. Expressões como 'erva fragrante', 'rosa negra', 'pêlos sagrados' e 'musgo' invocam uma sensação de algo macio, germinado e perfumado, e refectem o facto de a área coberta por pêlos púbicos conter glândulas odoríferas.




As flores íntimas e muito femininas de Georgia O'Keeffe


Essas glândulas, espalhadas por toda a pele vulvar da mulher e que se acreditem que perfumem a púbis, em chinês, são designadas como 'terraço do sol', 'pedras mescladas' e 'jovenzinha'.

Na Índia, o termo sânscrito purnacandra, que significa lua cheia, designa igualmente as glândulas vaginais, que se crêem repletas do 'sumo do amor'. Desconhece-se a origem doa expressão vaginal 'pico do cogumelo púrpura'.

*

[Cá para mim aquela da 'jovenzinha e, especialmente, esta do 'pico do cogumelo púrpura' são calinadas do tradutor da google...]

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Este trecho foi extraído do livro A História da V - Abrindo a Caixa de Pandora da autoria de Catherine Blackledge da Editora Lua de Papel e traduzida por Maria Emília Ferros Moura. A autora é Doutorada em Ciências e é presença regular em talk shows e programas de rádio em Inglaterra. Goza de sólida reputação como jornalista científica. Penso que escuso de dizer que é um livro sobre a vagina.

Comprei este livro apenas há dias e, por isso, ainda apenas o folheei mas é capaz de ser interessante. Um dia destes volto a ele mas, nesse dia, para além dos cintos tragam também suspensórios.

*

E, por hoje, nada mais. Gostaria ainda de vos convidar a visitar-me no meu Ginjal e Lisboa. Hoje, por lá, falo de uma certa menina do mar e regresso aos meus tempos de longas tranças e belos dias de verão na Figueirinha. Quem puxou por mim foi a Maria Andresen que hoje se estreou por aquelas bandas. A música é um novo momento feliz e tão feliz ele é que vos peço mesmo para irem ver. Uma alegria contagiante, mesmo. Maria Bethania e Rita Lee num fantástico momento de fruição.

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E só espero que esta sexta feira seja para vós um dia também muito feliz.

*


Mostrou-me a'entrada da vida',
O 'lótus da sua sabedoria'.
Um dia, que já achava perdida,
A chama que no meu corpo ardia.

E pegando-me na mão trémula,
Ardente, quase a suplicar,
Conduziu-a como uma flâmula
Pousando-a sobre o altar.

E ali, em fervorosa prece,
Ajoelhado, a rezar,
Roguei a santa 'peónia'
Que me ajudasse a pecar.

Vejo então, com grande espanto
Abrir-se, o 'portão celestial'.
Cresce-me de pronto o encanto.
Inunda-me o transcendental.

Oh paraíso terreno,
Recanto espiritual.
'gruta do amor' eterno,
Refrescante manancial.

Mato em ti a sede velha
de travessias do deserto
Sorvo esse mel de abelha
Que escorre de pote aberto.

E desabrochas, então
Demonstras o teu fulgor
Em ti, já ruge o vulcão
Que reclama outro pendor.

Feroz luta ali travámos.
Chaves de pernas e braços.
Usando as armas que achámos,
Com elas tomámos os espaços.

Por fim, veio a apoteose
Elegia à 'casa do tesouro'.
Despedi-me em grande pose
Enquanto o seu 'coração interno'
Assegurava, "parecias-me um touro"
Eu pensava: Que quentinho vai, este Inverno...



[Fantástico poema da autoria de Bartolomeu num comentário aqui abaixo]