Ontem à noite ainda peguei no computador para ver se arranjava energia para escrever um pouco mas não arranjei. Ao fim de um minuto, já estava a pô-lo de lado. Quando a minha filha saíu da casa de banho, viu-me já na cama e não conteve o espanto: Já a dormir?!?! Nem escreves nada hoje?!?! Acho que arranjei 'força anímica' para lhe dizer 'não' e, acto contínuo, penso que adormeci. E dormi como uma pedra. Tenho ideia que ouvi o ex-bebé acordar algumas vezes mas continuei a dormir.
(A pobre da mãe, coitada, por causa destas noites atribuladas, é que se vê aflita para pôr o sono em dia. Mas, enfim, já está bem melhor do que quando era mesmo bebé e não descansava enquanto não mamava.)
Foi, pois, um fim de semana de verão in heaven. Quando a temperatura se torna amena e o sol ilumina os dias, as flores campestres enchem os campos, os pássaros cantam de manhã à noite e os meus menininhos enchem a casa e as nossas vidas, gozando em liberdade a alegria de serem muito amados.
À saída, o mais crescidinho disse, da janela do carro, que tinha gostado muito das férias. Já antes tinha dito que gostava de ficar mais um dia. São dias tão bem vividos, tão preenchidos que até parece mesmo que são dias de férias.
Andaram ao sol, brincaram, riram, viram as formigas, apanharam ervinhas e caruma, trabalharam a carregar pinhas, jogaram à bola, espalharam brinquedos por todo o lado, fizeram de tudo um pouco - e divertiram-se à grande.
Os dois manos rapazes aprenderam a aventura que é subir às árvores. O mais crescido já sobe e desce sozinho, por ali anda sentindo-se grande e independente. O ex-bebé, claro, ainda precisa da ajuda da mãe.
Tinha sobrado arroz da refeição e o avô colocou-o num saco para eles espalharem para os passarinhos ou gatinhos. Algum ficou nos ramos da grande figueira que está junto da casa (junto de mais... é que já foram encontradas raízes dela junto aos canos de água do lava-louça, imagine-se. Mas não vou destruir esta árvore enorme que, no verão, dá uma sombra tão fresca e perfumada).
Quando eu imaginei o espaço, imaginava que um dia por aqui andariam crianças pequenas (na altura os meus filhos já eram quase adolescentes) e que haveriam de se deliciar com os muitos motivos de interesse que encontrariam. Assim é, de facto.
À volta de uns pés de pinheiro-carrasco (Quercus coccifera - não resisto a dizer o nome erudito) inventei um canteiro redondo forrado a azulejos nos quais foram pintados à mão excertos de poemas (Eugénio, Natália, Maria Teresa Horta, Manuel Alegre). É o justo centro deste espaço tão agradável e perfumado.
Aí dentro colocamos a caruma que cai dos dois pinheiros mansos que estão ali junto.
Para os meninos é uma azáfama. O mais crescidinho apanha-a com um ancinho. Chama a si essa incumbência, sempre que aqui está.
Os mais pequeninos apanham-na à mão ou com uma pázinha de praia (na fotografia a pá parece um desenho no canteiro, mas não, captei-a no momento em que o ex-bebé a tinha deixado cair).
O bebé já está um big guy e ainda não pode participar nas azáfamas em que a mana e os primos andam mas, com o entusiasmo, quase que nem dorme. Repete os sons e às vezes parece que diz as palavras que ouve mas, enfim, talvez seja apenas a vontade de participar na festa. Por isso, tem que limitar-se a ver os trabalhos e as brincadeiras do colo da sua mãe.
O tronco e os ramos do grande pinheiro que tombou no dia de vendaval são agora banquinhos mesmo à medida deles e, os que têm pinhas, mereceram toda a atenção da bonequinha. Já combinámos que, quando for natal, são eles que as vão pintar, ou de dourado e prateado ou às cores. Vamos ter uns arranjos de natal especiais. Ficaram todos contentes. Disse-lhes que até o bebé já vai pintar uma pinha. Ela ficou toda contente, apressou-se logo a dizer à mãe que o mano também ia pintar uma pinha.
Depois lembrou-se das pinturas e pediu para pintar outro quadro. Vestimos-lhe uma tshirt velha minha por cima da roupa dela para ver se, desta vez, não estragava mais nenhuma camisola como na outra vez.
Tal como em quase tudo o que faz, também quando pinta, aplica-se, e não suja nada, pinta com muita atenção, entrega-se mesmo ao momento. Enche os quadros de cor, olha-os, completa-os. Uma pintora (linda).
É toda feminina, muito cuidadosa, mas muito engraçada, sedutora, e muito mandona. Os primos adoram-na.
Ontem, para dormir a sesta deitaram-se os três na minha cama e foi uma festa. Ela cantava e eles faziam-lhe festas, coisa que ela repelia com um seco 'Pára! está quieto! Pára!' para cada um dos primos mas como se isso não a maçasse muito, pois continuava imperturbavelmente a cantar, uma após outra, todas as canções do seu reportório. Como ainda é muito 'chopinha de macha', e transforma umas letras noutras, a cantar parece uma chinesinha. Eu e a minha filha também estávamos deitadas para ver se eles não caíam da cama abaixo e, também, para ver se impúnhamos alguma ordem mas, com as cantorias dela e com a ternura dos primos, que se divertem imenso com ela, ríamo-nos até mais não.
Acabei por sair da cama juntamente com a jovem cantora, tal a espertina dela e tal a minha vontade de rir. Os dois rapazes acabaram por adormecer bem como a sua mãe, que lá conseguiu tirar um breve cochilo, mas nós as duas não pregámos olho (e se eu estava com sono...).
Hoje de manhã, o ex-bebé foi sentar-se à porta da cozinha e eu, que andava nos meus trabalhos, estava admirada, tão sossegadinho, tão querido, até dá gosto. De vez em quando espreitava-o e ele ali estava a brincar, sentadinho na entrada. Tirei-lhe uma fotografia para registar o momento.
Mas pode alguém ser quem não é? Claro que não. Passado um bocado, percebeu-se o motivo de tanta concentração.
Nós tínhamos comprado, para eles brincarem, uns copos de plasticina. Pois bem, o ex-bebé estava, afinal, com a plasticina verde a encher os buraquinhos do tapete. Parecia que estava a encher forminhas de bombons.
Apesar de termos tentado limpar tudo, impossível... Aliás, esta ideia dos copos de plasticina não foi mesmo nada boa ideia. Há plasticina por tudo o que é sítio. Por onde se ande, há plasticina cor de rosa, cor de laranja, roxo, verde, azul, no chão cá fora, bolinhas ao pé do sofá, rolinhos debaixo da mesa. Quando já estavam no carro, nas suas cadeirinhas, reparei que a sola dos sapatinhos também ia cheia de plasticina.
O único que ainda não prega partidas é o bebé, um querido, sempre, sempre a rir, a brincar, a meter-se connosco. E chilreia mais que os passarinhos.
Também não admira que seja um bebé tão brincalhão e alegre já que recebe mimo que não acaba quer do pai, quer da mãe, mas também da mana (que, com ele, é muito maternal), dos primos (o ex-bebé, então, faz-lhe imensas festinhas, parece achar que ele é uma versão animada de um bonequinho de peluche), dos tios e, claro, dos avós. Pela parte que me toca, não me canso de andar com ele ao colo e enchê-lo de beijinhos. Agarra-se-me à cara e aos cabelos, exuberante nos seus afagos. Aliás, não descansou enquanto não me arrancou um brinco.
E, por falar em bebés: o pinheirinho-bebé ainda não foi transplantado e, com eles por ali a arrancar ervinhas, estava com medo que o arrancassem. Então cerquei-o com umas pedras e disse que tivessem cuidado com ele.
Ao fim do dia, antes da hora do banho, o mais crescidinho - que andava entusiasmado com o conceito de rebentos-ladrão e que a cada rebento ou erva junto a um tronco de árvore, me perguntava: "Tá, este é um rebento ladrão? Tá, este está a impedir que a árvore tenha força?" (Com os seus quatros anos, exprime-se assim, com um vocabulário variado e uma gramática bem colocada) - perguntou se não se podia nem mesmo mexer no pinheirinho. Disse-lhe que mexer, se fosse com cuidado, podia, que, se calhar, o pinheirinho até ia gostar. Então, vi-o a fazer festinhas ao pinheirinho bebé.
E não posso terminar este diário de bordo in heaven, sem dar conta do belo jantar de sábado à noite.
A meu cargo ficou apenas fazer arroz e frango para os meninos e pizzas e, mesmo assim, no caso das pizzas, seguindo indicações do meu filho que é um verdadeiro Chef (: que as bases devem ir previamente ao forno para enrijarem e não absorverem o molho de tomate, que, depois, põe-se o molho de tomate, depois, o queijo ralado, depois os ingredientes principais, depois, em cima, os orégãos e um fio de azeite e que, então, vão de novo a forno muito forte, durante pouco tempo - e ficaram bem saborosas! Quatro pizzas: uma de mozzarela fresca, outra de frango e maçã, outra de atum e outra de cogumelos e chouriço do Fundão).
O molho de tomate para a base das pizzas ficou a cargo do meu marido (não posso aqui deixar de o dizer senão amanhã lá ouviria os protestos).
Mas a pièce de resistence foi sushi. Cá em casa adoramos sushi. Então, o meu filho com o suporte activo da minha nora, fez sushi para todos os gostos. No entanto, é um sushi sem peixe cru para evitar problemas. A minha nora fez o arroz (que é próprio para sushi e tem uma técnica diferente), fez o molho adequado, arranjou os ingredientes e o meu filho preparou-os com as algas e o queijo próprio, o salmão fumado, as ripinhas de pepino, de morango, omeleta, filete de cavala ou atum, enrolando-os na esteira própria para o efeito. Uma delícia. Mas mesmo uma delícia.
(A fotografia ficou um pouco desfocada mas é de propósito (se ficasse muito nítida, apetitosos como os sushis ficaram, ainda se corria o risco de vocês não resistirem e meterem a mão dentro do computador para me tirarem algum do prato... :))
Para a sobremesa, sabendo que toda a gente o aprecia, a minha filha fez leite creme que polvilhou com bolacha ralada, nham, nham. Depois, para aproveitar as claras, nova tentativa de fazer merengues. Mas, mais uma vez, cresceram, cresceram e, a partir de certo ponto, começaram a baixar até ficar como os vêem, saborosos mas nada a ver com os suspiros habituais.
A minha mãe esteve a ver a receita tradicional e acha que o problema reside na falta de açúcar. Para não ficarem muito doces, a minha filha corta sempre no açúcar. Ora, sendo eles só feitos de claras e açúcar, escasseando um dos ingredientes, aquilo não se deve aguentar. De qualquer forma, ficam bons na mesma e não sobrou um para contar a história. Aliás, apesar de eu ter pedido para não mexerem antes de eu fotografar, como se pode constatar, houve logo alguns que não se contiveram...
Tudo muito bom, tudo muito lindo, uma ternurinha gostosa, momentos muito felizes.
(Mas é preciso tomar conta deste, onde está o outro?, um molhou-se, outro tem as mãos sujas, um está com fome, outro quer água, outro espirrou e não tem lenço, outro quer fazer chichi, outro fugiu e é preciso ir atrás dele, outro não acha um gormiti, outro está a mexer na torneira da mangueira, outro trepou para uma cadeira, o outro já está em cima da árvore e mais louça e mais roupa para lavar e mais isto e aquilo e o outro... e eu estou aqui capaz é mesmo de ir de férias...!)
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Se me permitem, muito gostaria de vos ver no meu
Ginjal Por lá hoje temos a poesia de Vasco Graça Moura e eu e o meu amor ocultos, impressos na luz dourada. Na música, mais uma grande interpretação, desta vez com Jacqueline do Pré tocando Saint-Säens. Apareçam, se vos apetecer, está bem...?
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Desejo-vos, meus Caros leitores, uma semana muito, muito feliz.
Saúde, alegria, bom humor, força é o que vos desejo.