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terça-feira, abril 27, 2021

Uma gaiola, alguns carrinhos, umas gordinhas, um livro escondido

 


Isto foi no domingo. 25 cheio de graça.

Sugeri à minha menininha mais linda que ela podia convencer o avô a trazer a gaiola da garagem. Foi logo a correr pedir ao avô. O meu filho disse que isso era manipulação. Aliás, creio que não foi essa a palavra que usou. Também não foi instrumentalização, acho. Mas o sentido foi esse. Reconheci: O avô não é capaz de lhe dizer que não. Humilde, a minha menina mais doce disse: 'Nem a mim nem a qualquer dos outros netos'. Contrariei: 'Olha que não. Acho que é mais contigo'. Ela disse: 'Se calhar é porque sou a única menina'. É muito terra a terra e nunca se acha o máximo e, por isso, ainda a admiro mais. O avô ouviu a conversa como se não fosse nada com ele. Mas lá foi à garagem. E nós com ele. E lá empurrámos a big gaiola rampa acima e lá a puxámos pela relva, quase tendo que a pegar em peso. E o avô nem refilando...

O meu filho perguntou se eu queria aprisionar pássaros. Expliquei que não: quero, apenas, proporcionar-lhes água e alimentação e as portas vão estar todas abertas. 

Afinal, andando de volta da gaiola, não descobri as ditas portas. A minha nora foi ver. Descobriu: apenas uma pequena portinhola. O meu filho diz que, se um pássaro entrar, depois vai ter dificuldade para sair, que a gaiola vai ser uma armadilha. Isso preocupa-me. E confirmou que, se os pássaros lá forem, aquilo vai estar sempre sujo. O meu marido diz que é isso que tem andado a tentar explicar-me. Mas o menino do meio, espertíssimo, logo descobriu que há uma espécie de tabuleiros que se puxam e que podem lavar-se à mangueirada. Aliás, fizeram-no logo. A gaiola nunca deve ter tomado um banho tão a preceito.

Mas, enfim, não quero saber dos problemas, prefiro o lado romântico. A gaiolinha já ali está e está linda. Agora tenho que arranjar alpista e recipientes para a água. Também pensei que, em último caso, caso não consiga atrair passarinhos para os brunches, arranjo rouxinóis. Custa-me a ideia de ter pássaros engaiolados mas, se calhar, alguns não se importam. Cantam bem. Ou periquitos, que são tão lindos. Acho que não cantam tão bem mas são bonitos. Ou um papagaio. Isso seria o máximo, um papagaio malcriadão. Ensinava-o a dizer mal do Cavaco. Eu diria: 'Olha lá, Tobias, o que achas do Cavaco?'. E ele soltaria uma de salão: 'Eu quero é que o Cavaco se f...'

Mas não sei. Vou por partes. Primeiro tenho que arranjar alpista e água. Depois logo vejo como corre.

De manhã, fomos outra vez ao viveiro. O meu marido a antever que as empregadas iam fazer uma festa por me verem ao fim de uma semana sem lá ir. Não ligo. A minha nora enviou-me um artigo sobre suculentas de chão e achei uma grande ideia para pôr nuns canteiros que estão sem nada de jeito, in heaven. Então, lá fomos. Muita gente. Cada vez mais gente a comprar plantas. E, então, imagine-se, não é que o meu marido se lembrou  de levar umas suculentinhas para oferecer à neta? Claro que não disse 'suculentinhas', acho que disse apenas 'dessas plantas'. E eu, em brasileiro: 'Gordinhas?'. Não disse nada. Não me dá muita confiança quando estou numa de gozar com ele. Então escolhemos um vasinho e umas pequeninas que, de tarde, eu e ela, em conjunto, plantámos. Ficou contente, a minha menina mais linda, e eu ainda mais contente por a perceber contente.

O menino do meio, alto e esguio, já sem a tala no braço, foi lá acima buscar os carrinhos que tinham sido do pai. O mais pequeno também gosta de brincar com aqueles carrinhos perfeitos como carros de verdade. A menina, depois, fez figurinhas com bocadinhos de guardanapo de papel para fazer de condutores e penduras. 

Quando estavam a despedir-se, o menino chegou-se ao pé de mim e disse-me: 'Sabes do que eu andei à procura?'. Pressenti. Ele confirmou: 'Do livro...'. Desatei a rir. 'Seu grande malandro'. E ele: 'Vá lá... Diz lá... Onde está...?'. Eu a rir: 'Esquece. Não vou dizer'. E ele: 'Vá lá... É só arte...'. Sacaninha. Não se esqueceu... Mais eu me ria: 'Nem por sombras te vou dizer. Quando tiveres dezoito anos. Ofereço-te a carta de condução e o livro'. E ele: 'Vá lá... Diz só a inicial da divisão onde ele está...'. E eu: 'Desiste. Não vou dizer'. Lá foi, pedindo, refilando.

Há anos que isto dura. Uma vez, há uns anos, teria o quê? uns quatro? cinco? talvez quatro anos, descobriu um livro de fotografia com alguns nus. Mulheres. Ficou doido. Maminhas, maminhas, maminhas. (Sai ao pai. Era pequenino e todo ele vibrava com maminhas). Escondi o livro no sítio mais remoto da sala. No dia seguinte, a irmã contou que, tendo acordado cedíssimo, ainda quase de noite, tinha apanhado o irmão com o livro na cama. Fiquei espantada: 'Mas como? Como o descobriste?'. E ele, pequenino: 'Não sei... apareceu aqui na cama...'.  Insisti: 'Apareceu na cama?!?! Ó seu maroto! Levantaste-te de noite...? Foste à procura...?... Só pode...'. Riu-se. Menino mais inteligente, mais persistente. E nunca mais desistiu de descobrir o bendito do livro. Já empreendeu expedições com os primos, já me reviraram tudo. Só visto.

O que me divirto com eles... 

Há a máscara, é certo, mas paciência, que seja com máscara. Mas, bolas, melhor ainda será quando pudermos estar todos, ao mesmo tempo, todos em cima uns dos outros, eu agarrada a eles, às beijocas gordas, abraçada, feliz da vida por vê-los todos juntos, bem dispostos, sem a porcaria da máscara. 


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Como é bom de ver as fotografias foram feitas aqui em casa. David Gilmour e Romany Gilmour interpretam The Magpie. Ou seja, enquanto escrevi a companhia não podia ter sido melhor

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Desejo-vos um dia feliz.
Lot's of joy, my friends

domingo, junho 30, 2019

Crónica de uma noite e de um dia em grande





Passa bem da uma da manhã e só agora começo a escrever. Cheguei com uma tal camada de sono em cima de mim que nem vos digo nem vos conto.

A semana de trabalho foi o que foi e na sexta ao fim da tarde, por felizes circunstâncias, calhou que parte da família teve que ir a um sítio perto da minha casa. Portanto, naturalmente, perguntei se queriam lá ir jantar. E sim. E, assim sendo, naturalmente, perguntei à outra parte se também. E sim. O meu marido, nestas coisas, assim, em dia de semana, sem nada preparado, acha preferível irmos a um restaurante. Eu não. Um restaurante é impessoal. E depois os miúdos são ruidosos e é aborrecido não os deixarmos mexerem-se à vontade. É uma coisa limitada. Não aprecio. Prefiro em casa, para convivermos como deve ser. Encomendámos daquelas pizas gigantes em forno de lenha que têm salmão, queijo de búfala, alcachofras, nozes e outras coisinhas boas e o meu marido foi buscar frangos assados e arroz e eu fiz salada e lavei fruta e pus a mesa. E logo a seguir a casa encheu-se de conversas e crianças a correr e a rir e logo o bebé foi buscar um banco para ver as pizas e depois já um dos mais crescidinhos me avisava que o bebé estava a comer azeitonas e ele, ouvindo, riu e abriu a boca para me mostrar a boca cheia de azeitonas pretas. Como estavam descaroçadas, não me importei. E todos de prato na mão a servirem-se, um apetite de dar gosto, e todos a repetirem uma e outra vez. E conversa e animação. No fim, já sabem que há gelados mas só para quem comer fruta. E, portanto, ao contrário da sequência certa, na minha casa é primeiro a fruta e depois a sobremesa. Depois, claro, quem quiser pode voltar à fruta.

A seguir foram para a sala e, quando estão juntos, é corrida, luta -- uns andam no judo, outros no jujitzu e o mais maluco de todos, ou seja, o meu filho, em tempos andou no judo e no karaté -- e, portanto, inevitavelmente, aquilo descamba sempre em artes marciais. Apesar da barriga a deitar por fora. E isto com o bebé a circular pelo meio, mexendo em tudo. A menina, sem outras meninas para brincar, arranja outras brincadeiras como, por exemplo, com a mãe ou com a tia, a fazer aqueles jogos com um fio preso entre os dedos, muitas vezes com lenga-lenga associada. E então, para ver se acalmavam e sempre com medo que um dia ainda se magoem, pedi que os quatro se sentassem no chão e eu ia dizendo a cada um que respondesse a uma pergunta minha. Um país começado por P sem ser Portugal, um insecto começado por P, uma flor começada por D, uma capital começada por O, um frto começado por N, um rio começado por S, uma serra começada por A. Cada um vibrava a tentar recordar-se o mais depressa possível. Se não soubesse passava a outro mas, lutadores como são, não passavam e desatavam a inventar palavras. Uma risota. Mas adoraram. Não tarda, o quinto pimentinha já ali estará também a fazer o jogo das palavras.

Até que um deles, o mano do meio, resolveu vestir um blusão escuro do primo mais velho, com o capuz todo enfiado na cabeça, e depois foi buscar umas canadianas que estão lá de outros tempos e começou a circular naqueles preparos, os braços enfiados nas canadianas, por vezes empunhando-as como espadas ou lá o que era aquilo. E eu disse: 'Não gosto nada de te ver assim, credo'. Ficava com um aspecto sinistro. E ele disse 'Sou o Darth Vader'. E, de facto, dava ares. Pensei que o pai já o deve ter contagiado: gostava imenso de ver a Guerra das Estrelas e, na volta, ainda gosta.

E depois lá se foram mas já era tarde e ainda houve que dar uma arrumadela ao que ficou. E o meu marido disse: 'Isto tudo é muito bonito mas um gajo não descansa' e eu disse que dizer aquilo é até heresia face à alegria que é estarmos todos juntos. E ele não comentou o que eu disse mas, depois, começou a contar coisas deles. Por exemplo que deu com a menina a comer o gelado, na sala, sozinha. E que lhe perguntou se ela gostava de estar sozinha e que ela respondeu com aquela segurança muito dela, 'Gosto'. E eu pensei que a percebo pois, quando a barafunda é muita, às vezes também me dá vontade de ir durante dois minutos para um lugar mais sossegado. 

Este sábado de manhã resolvemos ir passear para a praia. Estava-se bem. Caminhámos à beirinha da água.

E depois fui ao supermercado e mandei escalar uns robalos e etc. E o meu marido, quando cheguei, disse: 'Fica a casa a cheirar a peixe' e eu disse que se era peixe assado não poderia cheirar a flores. Mas abri as janelas e não ficou a cheirar a nada e estava bem bom. Mas, moída e não sei se com o alentejano branco e fresquinho a cair-me na fraqueza, resolvi deitar-me no sofá a seguir.

Mas é escusado. Logo a seguir chegou uma sms a pedir para anteciparmos o encontro para as quatro. Portanto, deu para fechar os olhos e, logo a seguir, já estava o meu marido chamar-me, que estava na hora. 

E lá fui. E lá voltámos a encontrar-nos com parte do bando.

Fomos para a Decathlon para o menino mais crescido, como teve boas notas, provar bicicletas para ver qual o tamanho e eu aproveitei para lhes escolher uns calções e uns polos e depois foram escolher uma bola para, a seguir, irem jogar à bola no parque e andaram pelos corredores a jogar à bola e é impossível tentar mantê-los sossegados porque não conseguem. Depois foram escolher caneleiras e um escolheu o tamanho M e o outro o L e eu queria que experimentassem e eles que não, que estavam boas, e eu ainda assim, perguntei a uma empregada e ela disse que, para eles seria o S ou, no máximo, o M. E o mais velho veio ter comigo e disse-me: 'Levo o L porque aquilo é tudo negócio'. E eu sem perceber: 'Negócio..?' e ele 'Sim, quer que eu leve o M para daqui por algum tempo já não me estarem boas e ter que vir comprar outras.' A vontade de rir que me deu, quase da minha altura e já a dar-me conselhos destes. Mas lá o fiz mudar de tamanho, também para M, apesar de o ter deixado contrariado por achar que eu tinha ido na conversa da empregada.

Quem conhece as grandes Decathlons sabe que tem sítio para se experimentarem bolas, com balizas e tudo, para se experimentarem bicicletas e triciclos, aparelhos de ginástica e luvas de box, etc. Passado um bocado vi-os virem perdidos de riso, sem conseguirem falar de tanto rirem, dobrados de riso. Só no carro é que consegui, e a muito custo, que explicassem. Riam e eu ouvi 'capacete' e logo os dois se partiam a rir e depois 'menina' e logo se partiam a rir. E depois 'bolada' e riam. E eu: 'Não estou a perceber. Deram uma bolada numa menina? Ou num capacete?'. Nova risota. Olhavam um para o outro e desatavam a rir à gargalhada. Finalmente, quase sem se perceber o que diziam: 'As duas coisas'. Risota. Por fim: 'Uma menina com um capacete' e risota, risota, risota redobrada. Mais: 'A menina nem percebeu o que aconteceu' e quase choravam a rir. E o meu marido 'Ah, então deve ter sido por isso que vi um gajo todo furioso. Devia ser o pai.'. Acabei também eu a rir. Fazer o quê: zangar-me a posteriori...? Já não surtiria qualquer efeito. O meu marido abana a cabeça, encolhe os ombros.

Enfim.

De lá fomos para o parque e foi mais uma futebolada. Jogam bem. 

Depois fomos comer caracóis e eles também pregos. Às oito fomos levá-los a casa. O meu marido disse: 'Os gajos não se cansam'. Depois ele ainda foi à empresa e só depois é que viemos para cá. Noite avançada. O que sei é que, depois de me instalar, adormeci. Ainda tentei que não mas não resisti.

Fiz várias fotografias, algumas delas na praia, e até estou curiosa para ver como ficaram aqueles caranguejos que estavam na areia mas, muito sinceramente, agora não tenho pingo de energia para ir buscar a máquina. Nem energia, outra vez, para responder a comentários. Pingo.

A ver se este domingo recarrego baterias. E se consigo escrever sem ser como nestes últimos dias, às milhentas da noite. 


E agora, com vossa licença, vou pregar para outra freguesia, esperando ter sonhos espirituosos, virtuosos e jubilosos. Mas, para que o vosso tempo por aqui não seja dado por completamente perdido, deixo-vos um vídeo que não tem pitada a ver com nada.

E as imagens com que tentei alindar o texto mostram pinturas de Antônio Henrique Amaral e o que é as bananas ou o que seja têm a ver com o que estive a descrever também é coisa que não estou preparada para explicar. E a música (as bem dispostas Salut Salon com "Wettstreit zu viert") também é muito bem capaz de estar aqui deslocada. Mas tudo bem alinhadinho também é coisa que, neste contexto, me pareceria abusivo. Portanto adiante e passemos ao vídeo: numa escala de 1 a 10, quão sexy você é?

[Antes de ver o vídeo responda por si. Se não souber bem, ponha-se o espelho, olhe-se de través e avalie o seu nível de quentura]

100 People Tell Us How Hot They Are



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E a todos um bom dia de domingo

sexta-feira, maio 16, 2014

O meu pimentinha mais crescido escreveu-me hoje um postal: 'TA DEVIAS IRE O PORTO. A LA COSAS FATASTICAS'


No post a seguir já falei de Manuela Ferreira Leite, Paulo Portas, Daniel Carriço e Ivan Rakitic sendo que, de dois deles, mostrei um apaixonado beijo na boca. Terá sido entre Manuela Ferreira Leite e Paulo Portas...? Não desvendo para que, os que ainda não viram, desçam para espreitar. 

Aqui, agora, a conversa é outra.






Há pouco a minha filha enviou-me um sms com uma fotografia. Dizia-me ela que o mais crescido, 5 anos, tinha aparecido com um postal para mim (que ela tinha fotografado), que o tinha escrito por sua iniciativa, sozinho, e que tinha demorado para aí uns 40 segundos a fazê-lo. 

Em ponto pequeno mal se via, pelo que tive que ampliar e, quando ampliei, achei o máximo. Meu rico menino. Ninguém o ensinou a ler e a escrever. Com a sua curiosidade natural, foi aprendendo as letras, foi percebendo como se formam as palavras e, para nossa surpresa, apareceu ao pé de nós a escrever e a ler. E todos os dias nos surpreende. Não se atrapalha com nada. Escreve conforme lhe soa ou conforme pronuncia. Pela parte que me toca, quando ele aparece com coisas assim como a que podem ver nem me passa pela cabeça corrigi-lo não vá ele, para a próxima, sentir-se inibido e deixar de ousar. 

Já quando é para ler, é que vejo a dificuldade de uma pessoa se pôr a ler sem ter aprendido antes as regras. Aparece-se-lhe um que e tem que se saltar o som do u mas se for quatro já se lê o u. Aproveito nessa altura, quando ele vacila sem perceber a palavra que está a ler mal, para lhe explicar. A língua portuguesa está cheia de rasteiras.

Mas então, o que era o postal?

Mostro-vos.

Viu lá em casa um postal de um hotel onde estiveram recentemente e lembrou-se de escreveu para mim o que podem ver abaixo.

Traduzo: Tá, devias ir ao Porto. Há lá coisas fantásticas.

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No outro dia foi buscar um livro que eu cá tenho e que é sobre o funcionamento das coisas, cheio de abas que se levantam e desvendam o interior das ditas coisas. Na altura, quando o comprei (à pressa, como sempre ando) pareceu-me que ele ia adorar aquilo e nem reparei que não era para a idade dele. Agora pago caro essa minha distracção. Vai buscar o livro e quer que eu leia, coisa a coisa. Eu, pensando que ele não está a perceber nada, tento traduzir para linguagem simples mas ele caça-me logo: Tá, não estás a ler. Lê mesmo o que lá se diz. Um pincel. Interminável. Eu digo, Passamos à frente para ver se descobrimos outra coisa. Mas ele não vai em conversas. Não, Tá, lê que eu estou a gostar. E eu, Mas isto é complicado, vamos ver se descobrimos outras coisas mais simples. E ele, muito atento, Não, Tá, lê que eu estou a perceber. Mentalmente dou uma rosnadela, farta daquilo, Ghrrrrr.... mas esforço-me por continuar de boa cara.

E então é o quê, por exemplo? O funcionamento de roldanas e de rodas dentadas e das gruas, das escavadoras, e há lanças, longarinas, pistões, êmbolos, e às tantas, depois de muita conversa, diz qualquer coisa do género, É a isto que se chama hidráulica - coisas assim, não sei se estão a ver, mas com todo o pormenor. Eu já bocejo, já desespero, e ele a levantar aba por aba e a obrigar-me a ler aquelas coisas horríveis... (e eu que nunca achei graça nenhuma a essas coisas).

Mas o curioso é que ele assimila tudo isto, tudo, e, quando menos esperamos, sai-se com coisas destas que aplica acertadamente.

O mais crescido, o guru que os outros seguem

Enquanto, estamos de volta daquele livro, o mais pequeno, que fez há mês e meio 3 anos, também está com atenção mas prende-se em pormenores que o outro tenta logo ultrapassar. Por exemplo, o ex-bebé aponta e diz Este carro tem rodas, e depois, Este não tem (e aponta para aquelas máquinas que têm lagartas). O irmão diz, Pois, é, mas já vimos isso, deixa agora ouvir a Tá.

E se o outro, coitado, tem exclamações do género, A grua... uau...! e abre os braços muito (porque estamos a ver uma grua enorme para construções em altura), o irmão interrompe-o, mas com ar didáctico, Olha, faz de conta que estamos na escola e que a Tá é a professora. Temos que estar em silêncio. Percebes? E outro, coitado, lá se conforma, Sim...


O bebé, um espertalhão despachado,
super-falador, aqui com os sapatos da tia
e o 'pimo', o ex-bebé, um peso-pesado,
 a trepar pelas costas do sofá
A lady do grupo, meiguinha e feminina,
e que se farta de rir com as tropelias dos rapazes 


As fotografias foram feitas na quarta feira à noite, já todos de pijama mas, com os calores de tanto exercício, já todos sem as calças. Como podem reparar, tento conter os danos colocando cobertas sobre os sofás. Gera-se uma tal dinâmica entre eles que só param quando se cansam - e isso raramente acontece. O meu marido acha que não lhes impomos suficiente disciplina mas como ele próprio não consegue que parem os quatro ao mesmo tempo para o ouvir, sai do recinto da bagunça e vai para outro lado. Nesta quarta feira, enquanto eles estavam aqui nesta sala, ele foi pôr-se às escuras a ver televisão noutro lado (acho que para ninguém o descobrir). 


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Hoje, uma vez mais, voltei ao texto que ontem tinha começado a escrever sobre o Partido Socialista e sobre os outros partidos mas chegou a mensagem da minha filha e, de novo, inflecti. Pode ser que amanhã consiga chegar a bom porto.

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Relembro: sobre um certo beijo na boca que anda a correr mundo e sobre as infantilidades de Portas que contrastam com a maturidade de Ferreira Leite, desçam, por favor, até ao post já a seguir. Sobre o beijo na boca (terá metido língua e tudo?), enfim, vejam e interpretem à vossa maneira.

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E vou-me já. Estou cansada, com sono e amanhã tenho um dia bem preenchido.

Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa sexta-feira!

segunda-feira, abril 22, 2013

Fim de semana in heaven com muito sol e muita ternura, com os meus meninos e os meus menininhos... (estou aqui de coração cheio - mas, aqui só para nós, capaz de dormir uma semana de seguida...)


Ontem à noite ainda peguei no computador para ver se arranjava energia para escrever um pouco mas não arranjei. Ao fim de um minuto, já estava a pô-lo de lado. Quando a minha filha saíu da casa de banho, viu-me já na cama e não conteve o espanto: Já a dormir?!?! Nem escreves nada hoje?!?! Acho que arranjei 'força anímica' para lhe dizer 'não' e, acto contínuo, penso que adormeci. E dormi como uma pedra. Tenho ideia que ouvi o ex-bebé acordar algumas vezes mas continuei a dormir. 

(A pobre da mãe, coitada, por causa destas noites atribuladas, é que se vê aflita para pôr o sono em dia. Mas, enfim, já está bem melhor do que quando era mesmo bebé e não descansava enquanto não mamava.)

Foi, pois, um fim de semana de verão in heaven. Quando a temperatura se torna amena e o sol ilumina os dias, as flores campestres enchem os campos, os pássaros cantam de manhã à noite e os meus menininhos enchem a casa e as nossas vidas, gozando em liberdade a alegria de serem muito amados.

À saída, o mais crescidinho disse, da janela do carro, que tinha gostado muito das férias. Já antes tinha dito que gostava de ficar mais um dia. São dias tão bem vividos, tão preenchidos que até parece mesmo que são dias de férias.

Andaram ao sol, brincaram, riram, viram as formigas, apanharam ervinhas e caruma, trabalharam a carregar pinhas, jogaram à bola, espalharam brinquedos por todo o lado, fizeram de tudo um pouco - e divertiram-se à grande.




Os dois manos rapazes aprenderam a aventura que é subir às árvores. O mais crescido já sobe e desce sozinho, por ali anda sentindo-se grande e independente. O ex-bebé, claro, ainda precisa da ajuda da mãe. 

Tinha sobrado arroz da refeição e o avô colocou-o num saco para eles espalharem para os passarinhos ou gatinhos. Algum ficou nos ramos da grande figueira que está junto da casa (junto de mais... é que já foram encontradas raízes dela junto aos canos de água do lava-louça, imagine-se. Mas não vou destruir esta árvore enorme que, no verão, dá uma sombra tão fresca e perfumada).




Quando eu imaginei o espaço, imaginava que um dia por aqui andariam crianças pequenas (na altura os meus filhos já eram quase adolescentes) e que haveriam de se deliciar com os muitos motivos de interesse que encontrariam. Assim é, de facto.

À volta de uns pés de pinheiro-carrasco (Quercus coccifera - não resisto a dizer o nome erudito) inventei um canteiro redondo forrado a azulejos nos quais foram pintados à mão excertos de poemas (Eugénio, Natália, Maria Teresa Horta, Manuel Alegre). É o justo centro deste espaço tão agradável e perfumado. 

Aí dentro colocamos a caruma que cai dos dois pinheiros mansos que estão ali junto.

Para os meninos é uma azáfama. O mais crescidinho apanha-a com um ancinho. Chama a si essa incumbência, sempre que aqui está. 

Os mais pequeninos apanham-na à mão ou com uma pázinha de praia (na fotografia a pá parece um desenho no canteiro, mas não, captei-a no momento em que o ex-bebé a tinha deixado cair).




O bebé já está um big guy e ainda não pode participar nas azáfamas em que a mana e os primos andam mas, com o entusiasmo, quase que nem dorme. Repete os sons e às vezes parece que diz as palavras que ouve mas, enfim, talvez seja apenas a vontade de participar na festa. Por isso, tem que limitar-se a ver os trabalhos e as brincadeiras do colo da sua mãe.




O tronco e os ramos do grande pinheiro que tombou no dia de vendaval são agora banquinhos mesmo à medida deles e, os que têm pinhas, mereceram toda a atenção da bonequinha. Já combinámos que, quando for natal, são eles que as vão pintar, ou de dourado e prateado ou às cores. Vamos ter uns arranjos de natal especiais. Ficaram todos contentes. Disse-lhes que até o bebé já vai pintar uma pinha. Ela ficou toda contente, apressou-se logo a dizer à mãe que o mano também ia pintar uma pinha.

Depois lembrou-se das pinturas e pediu para pintar outro quadro. Vestimos-lhe uma tshirt velha minha por cima da roupa dela para ver se, desta vez, não estragava mais nenhuma camisola como na outra vez. 

Tal como em quase tudo o que faz, também quando pinta, aplica-se, e não suja nada, pinta com muita atenção, entrega-se mesmo ao momento. Enche os quadros de cor, olha-os, completa-os. Uma pintora (linda).




É toda feminina, muito cuidadosa, mas muito engraçada, sedutora, e muito mandona. Os primos adoram-na. 

Ontem, para dormir a sesta deitaram-se os três na minha cama e foi uma festa. Ela cantava e eles faziam-lhe festas, coisa que ela repelia com um seco 'Pára! está quieto! Pára!' para cada um dos primos mas como se isso não a maçasse muito, pois continuava imperturbavelmente a cantar, uma após outra, todas as canções do seu reportório. Como ainda é muito 'chopinha de macha', e transforma umas letras noutras, a cantar parece uma chinesinha. Eu e a minha filha também estávamos deitadas para ver se eles não caíam da cama abaixo e, também, para ver se impúnhamos alguma ordem mas, com as cantorias dela e com a ternura dos primos, que se divertem imenso com ela, ríamo-nos até mais não. 

Acabei por sair da cama juntamente com a jovem cantora, tal a espertina dela e tal a minha vontade de rir. Os dois rapazes acabaram por adormecer bem como a sua mãe, que lá conseguiu tirar um breve cochilo, mas nós as duas não pregámos olho (e se eu estava com sono...).

Hoje de manhã, o ex-bebé foi sentar-se à porta da cozinha e eu, que andava nos meus trabalhos, estava admirada, tão sossegadinho, tão querido, até dá gosto. De vez em quando espreitava-o e ele ali estava a brincar, sentadinho na entrada. Tirei-lhe uma fotografia para registar o momento.




Mas pode alguém ser quem não é? Claro que não. Passado um bocado, percebeu-se o motivo de tanta concentração.

Nós tínhamos comprado, para eles brincarem, uns copos de plasticina. Pois bem, o ex-bebé estava, afinal, com a plasticina verde a encher os buraquinhos do tapete. Parecia que estava a encher forminhas de bombons.

Apesar de termos tentado limpar tudo, impossível... Aliás, esta ideia dos copos de plasticina não foi mesmo nada boa ideia. Há plasticina por tudo o que é sítio. Por onde se ande, há plasticina cor de rosa, cor de laranja, roxo, verde, azul, no chão cá fora, bolinhas ao pé do sofá, rolinhos debaixo da mesa. Quando já estavam no carro, nas suas cadeirinhas, reparei que a sola dos sapatinhos também ia cheia de plasticina. 

O único que ainda não prega partidas é o bebé, um querido, sempre, sempre a rir, a brincar, a meter-se connosco. E chilreia mais que os passarinhos. 




Também não admira que seja um bebé tão brincalhão e alegre já que recebe mimo que não acaba quer do pai, quer da mãe, mas também da mana (que, com ele, é muito maternal), dos primos (o ex-bebé, então, faz-lhe imensas festinhas, parece achar que ele é uma versão animada de um bonequinho de peluche), dos tios e, claro, dos avós. Pela parte que me toca, não me canso de andar com ele ao colo e enchê-lo de beijinhos. Agarra-se-me à cara e aos cabelos, exuberante nos seus afagos. Aliás, não descansou enquanto não me arrancou um brinco.

E, por falar em bebés: o pinheirinho-bebé ainda não foi transplantado e, com eles por ali a arrancar ervinhas, estava com medo que o arrancassem. Então cerquei-o com umas pedras e disse que tivessem cuidado com ele.

Ao fim do dia, antes da hora do banho, o mais crescidinho - que andava entusiasmado com o conceito de rebentos-ladrão e que a cada rebento ou erva junto a um tronco de árvore, me perguntava: "Tá, este é um rebento ladrão? Tá, este está a impedir que a árvore tenha força?" (Com os seus quatros anos, exprime-se assim, com um vocabulário variado e uma gramática bem colocada) - perguntou se não se podia nem mesmo mexer no pinheirinho. Disse-lhe que mexer, se fosse com cuidado, podia, que, se calhar, o pinheirinho até ia gostar. Então, vi-o a fazer festinhas ao pinheirinho bebé.




E não posso terminar este diário de bordo in heaven, sem dar conta do belo jantar de sábado à noite.

A meu cargo ficou apenas fazer arroz e frango para os meninos e pizzas e, mesmo assim, no caso das pizzas, seguindo indicações do meu filho que é um verdadeiro Chef (: que as bases devem ir previamente ao forno para enrijarem e não absorverem o molho de tomate, que, depois, põe-se o molho de tomate, depois, o queijo ralado, depois os ingredientes principais, depois, em cima, os orégãos e um fio de azeite e que, então, vão de novo a forno muito forte, durante pouco tempo - e ficaram bem saborosas! Quatro pizzas: uma de mozzarela fresca, outra de frango e maçã, outra de atum e outra de cogumelos e chouriço do Fundão). 

O molho de tomate para a base das pizzas ficou a cargo do meu marido (não posso aqui deixar de o dizer senão amanhã lá ouviria os protestos).

Mas a pièce de resistence foi sushi. Cá em casa adoramos sushi. Então, o meu filho com o suporte activo da  minha nora, fez sushi para todos os gostos. No entanto, é um sushi sem peixe cru para evitar problemas. A minha nora fez o arroz (que é próprio para sushi e tem uma técnica diferente), fez o molho adequado, arranjou os ingredientes e o meu filho preparou-os com as algas e o queijo próprio, o salmão fumado, as ripinhas de pepino, de morango, omeleta, filete de cavala ou atum, enrolando-os na esteira própria para o efeito. Uma delícia. Mas mesmo uma delícia.

(A fotografia ficou um pouco desfocada mas é de propósito (se ficasse muito nítida, apetitosos como os sushis ficaram, ainda se corria o risco de vocês não resistirem e meterem a mão dentro do computador para me tirarem algum do prato... :))




Para a sobremesa, sabendo que toda a gente o aprecia, a minha filha fez leite creme que polvilhou com bolacha ralada, nham, nham. Depois, para aproveitar as claras, nova tentativa de fazer merengues. Mas, mais uma vez, cresceram, cresceram e, a partir de certo ponto, começaram a baixar até ficar como os vêem, saborosos mas nada a ver com os suspiros habituais. 




A minha mãe esteve a ver a receita tradicional e acha que o problema reside na falta de açúcar. Para não ficarem muito doces, a minha filha corta sempre no açúcar. Ora, sendo eles só feitos de claras e açúcar, escasseando um dos ingredientes, aquilo não se deve aguentar. De qualquer forma, ficam bons na mesma e não sobrou um para contar a história. Aliás, apesar de eu ter pedido para não mexerem antes de eu fotografar, como se pode constatar, houve logo alguns que não se contiveram...

Tudo muito bom, tudo muito lindo, uma ternurinha gostosa, momentos muito felizes. 

(Mas é preciso tomar conta deste, onde está o outro?, um molhou-se, outro tem as mãos sujas, um está com fome, outro quer água, outro espirrou e não tem lenço, outro quer fazer chichi, outro fugiu e é preciso ir atrás dele, outro não acha um gormiti, outro está a mexer na torneira da mangueira, outro trepou para uma cadeira, o outro já está em cima da árvore e mais louça e mais roupa para lavar e mais isto e aquilo e o outro... e eu estou aqui capaz é mesmo de ir de férias...!)

*

Se me permitem, muito gostaria de vos ver no meu  Ginjal Por lá hoje temos a poesia de Vasco Graça Moura e eu e o meu amor ocultos, impressos na luz dourada. Na música, mais uma grande interpretação, desta vez com Jacqueline do Pré tocando Saint-Säens. Apareçam, se vos apetecer, está bem...?


*

Desejo-vos, meus Caros leitores, uma semana muito, muito feliz. 
Saúde, alegria, bom humor, força é o que vos desejo.

segunda-feira, fevereiro 04, 2013

Dias perfeitos


Fim de semana muito preenchido. Sábado in heaven e as árvores ainda à espera que o vizinho consiga lá ir com o cunhado, e com cordas e serras eléctricas para os casos mais complicados. 

Mas, como vos tenho dito, sou emocionalmente muito primária. Tenho reacções fortes, indisfarçáveis e, logo depois de exteriorizar as emoções, aceito o que aconteceu e parto para outra. 

Salvar-se-ão as árvores que forem salváveis, remediar-se-á o que tiver remédio, plantar-se-ão novas. E aproveitar-se-á da melhor forma tudo o que aconteceu. Talvez os banquinhos para os meninos sejam mesmo uma forma muito digna do meu cipreste estar junto deles, talvez eu consiga reconverter de alguma outra forma o que vier a sofrer uma solução mais triste. Logo vejo.

E, no calor do carinho familiar - que é o mais importante - tudo o que de menos bom acontece, consegue aceitar-se melhor. Ou melhor, nem há tempo para pensar.

Os minutos deslizam sem que se dê por eles, a ocupação é permanente, não há um instante vazio.

A minha pintainha querida esteve a pintar. Ajeitei o cavalete, coloquei o material à sua disposição e depois foi com ela. Pintar é mesmo um exercício que requer liberdade absoluta.




Vesti-lhe uma tshirt minha por cima para não se sujar, mas, afinal, sujou-se na mesma. Mas estava tão contente que dava gosto ver a liberdade e alegria dela. E que jeito ela tem, concentra-se, pega muito bem nos pincéis, e toda contente, pintou à frente e 'atás', nos 'cu-cus', que é como ela também chama à parte de trás das coisas.




Não se admirem por ver a pá ali mas varrer é das brincadeiras preferidas (dela e minha). 

O bebé já brinca, já o sentamos no chão a brincar, ainda rodeado de almofadas, claro, mas já gosta de estar enturmado. Continua a ser um bacano, sempre a rir, muito expressivo, muito rosado. Palra permanentemente, umas vezes faz voz grossa, armado em homem, outras chilreia como um passarinho.




A maior parte do tempo estivemos dentro de casa, junto à salamandra da qual vem um calor muito bom. Estava um frio na rua que custava a suportar. Mas nada que não se resolva com casacos e gorros. E qualquer ervinha, qualquer pedrinha, qualquer chapelinho de bolota é motivo de atracção. A tshirt, entretanto, toda pintalgada, foi adoptada como toilette e já não se conseguiu tirar, quis levá-la para casa.




O jantar foi feito com a ajuda da pequena cozinheira: 'qués o xal?' e eu que sim, e ela punha o sal, 'qués um tomate?' e eu que sim e ela dava-me um tomate, 'qués o jeite?' e eu que sim, e ela, com algum esforço, lá virava a garrafa do azeite e deitava. E, como ao almoço não estavam todos, foi ao jantar que se comeram bolinhos de chocolate com parabéns a você, pois claro.

Este domingo, a festa continuou. Almoçarada (cozido à portuguesa, o que permitiu que o ex-bebé e o seu irmão, entre outros pedaços de carne, se deliciassem também a roer os ossos do entrecosto), bolos e apagar de velas, cantorias e palmas. O tempo passa, não há nada a fazer contra isso - mas que, ao menos, passe bem, com festança. 

Como de costume, o tio e o sobrinho mais velho andaram nas suas lutas greco-romanas, pelo meio do chão, e a pregarem partidas um ao outro ou a mim (parte das quais passa por fazerem fotografias malucas e mandarem-mas através do WhatsApps para ver se eu descubro o que é).




Depois de almoço, (quase) toda a gente vem para esta zona da casa onde o sol entra em abundância e, embora haja cadeiras e puffs, todos parecem preferir sentar-se no chão. 

Aqui abaixo, o ex-bebé enfiou-se no ovinho do bebé enquanto a mãe conversa com a cunhada e segura no sobrinho. O mais crescido entretém-se com outra coisa qualquer e a prima deve andar atarefada a brincar com a boneca a quem deu o nome da mãe. 




A seguir, é a vez do legítimo ocupante do ovinho aí se sentar, prestes a ir-se embora. E, claro, nessa altura, o ex-bebé não perde a oportunidade de o abanar. Por sorte, o ovinho pesa que se farta senão temer-se-ia pela integridade física do bebé. Assim, a coisa fica-se pelo abanar coisa de que o bebé gosta e agradece.

Por essa altura, a boneca de pano que era da mãe e que agora anda nos braços da prima, já estava por terra. Mas se já resistiu estes vinte e muitos anos, certamente resistirá muitos mais.




Estive agora a ver as fotografias e, a seguir, estavam os três mais crescidos de roda do bebé no ovinho, o bebé muito rosado e sorridente e os outros todos, divertidos, a mexerem-lhe. Estavam tão queridos que fiz várias fotografias mas, como de costume, não há uma única em que se veja a cara dos quatro ao mesmo tempo: está sempre um com a cara no meio dos pés do bebé, outro agachado, outro a puxar a manga do casaco com o braço à frente da cara, ela dar beijinhos ao mano.

O bebé, no meio de tanta algazarra, chilreava mais alto do que todos os outros, gritinhos de alegria, mas muito alto, um passarinho ruidoso. Parece-me bem que daqui por uns meses vai rivalizar em traquinice com os primos. 

Depois foi a vez de irmos nós visitar os mais bisavós dos meninos. Mas, de caminho, ainda consegui passar pela beira do rio, cinco minutos, não mais que isso, e um frio, um frio...., mas tão bom, tão bonito. O sol a pôr-se, as gaivotas a planarem vagarosas, gostam destes fins de tarde, elas (tal como eu).

E, então, eis que, recortados no horizonte, um homem e uma gaivota se fitavam mutuamente, uma cena fantástica, quase parecia encenada. 




Foi daqueles momentos em que pensei que a felicidade é uma coisa difícil de definir de tão simples e acessível ela é. Ou então, pensei isso porque já estava a sentir-me tão feliz que um momento como este já  me parecia um imprevisto bónus.

E agora que aqui estou, numa casa já sossegada, quase silenciosa, revendo as fotografias, escrevendo estes pequenos apontamentos, também me sinto muito feliz, muito agradecida. 

Em fins de semana como este não há conversas profundas, não há nada de transcendente, não há sossego nenhum, nem há nada que eu consiga dizer para além do que vos disse. Mas isto chega e é muito.

*

Convido-vos agora a ver este filme até ao fim
(não que tenha alguma surpresa no fim mas porque os sorrisos das crianças não devem, nunca, ser ignorados - e a sua alegria é contagiante)

What a wonderful world




*

Se me permitem, gostaria ainda de vos convidar a visitarem-me no meu Ginjal e Lisboa. Hoje, em volta de um belo poema de Soledade Santos, as minhas palavras confessam o que se passa entre as paredes de um certo quarto azul (que antes era amarelo). Continuando o ciclo dos Grandes Intérpretes, hoje chega o pianista Sviatoslav Richter que vem interpretar Schubert.

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E, meus Caros Leitores, desejo-vos uma bela semana a começar já por esta segunda feira. 

Saúde, generosidade e alegria!

sábado, setembro 15, 2012

Que se lixe a troika? Pois... acho que, por agora, ainda não pode ser. Temos é que negociar outras condições, isso sim. Por isso, por mim, é mais que se lixe este regime político que permite que se governe contra as pessoas, e, agora, em particular, contra o governo deste Passos Coelho, deste Relvas, deste Gaspar e de todos os outros que andam a destruir o País. O que quero é que se construa um futuro condigno e que Portugal seja um bom lugar para os meus meninos, para os meninos dos meus meninos, para os meus pais, para mim, e para todos os meninos e todos os pais e todos os cidadão do meu País. Eu vou para a rua neste 15 de Setembro, claro! Basta!


Se não lutarmos pelo futuro das crianças, se não lutarmos pelos indefesos, se não lutarmos por nós, quem lutará?

Em casa a protestar contra as imagens que passam na televisão é que não vale a pena. Eu vou para a rua.

Sempre vou poder dizer aos meus amorzinhos pequeninos que fiz tudo o que estava ao meu alcance para tentar que tenham um futuro digno, para que o País que os acolheu deixe de ser um lugar perigoso e passe a ser um sítio bom para se viver.



Para que, para além de obstáculos, encontrem sempre uma saída, uma saída feliz.



Para que descubram sempre o caminho para uma vida feliz e que, se assim o entenderem,
tenham lugar em Portugal



Para que saibam que é preciso estar sempre atento, ter espírito e, se necessário, ir à luta
para se construir um futuro feliz


*

Sem saudosismos, sem querer nada do que ficou para trás, querendo apenas construir um furo de qualidade: Traz outro Amigo.


José Afonso

*

Desejo a todos um sábado inesquecível pelos melhores motivos. 
Desejo que se divirtam-se e que sintam felizes.

sexta-feira, agosto 31, 2012

'Estive a pensar que afinal acho que não são três histórias, são quatro...!'. Histórias infantis para adormecer (quem as conta). E continuo, portanto, com os meus amorzinhos pequeninos em nova noite de lua cheia


This light holds so many colours


Rodrigo Leão

*

Já aqui hoje o referi na resposta a comentários. Começo a contar histórias para adormecer, sussurrando, e, passados uns minutos, já estou a bocejar, perdida de sono, eu. Ou, então, é-me pedido que dê continuação a uma história anterior e sei lá já eu que história inventei antes...!

Ou, então, as histórias dão vontade de rir e em vez de ficar com sono, ele fica é perdido de riso.

Hoje queria a do comboio. Não fui lá de maneira nenhuma. Ou não é essa...! ou mas essa não é continuação da outra...! E, então, inventei uma história de outro comboio, a do comboio maluco que não obedecia ao senhor condutor e mal este se distraía, saía dos carris e ia para onde lhe apetecia, causando a maior confusão em todo o lado. O senhor lá ia conseguindo mantê-lo obediente mas, quando chegava aos túneis e às serras, o comboio maluco, todo ele se ria e começava a trepar a serra, andava pelos caminhos de terra, no meio das árvores, ou então começava a andar às voltas, feito doido, e andava tão depressa, tão depressa e sempre à volta, que se elevava no ar como se fosse um helicóptero. As pessoas que iam lá dentro ficavam todas atordoadas, todos com os cabelos no ar e os olhos em bico. O senhor condutor teve que o pôr de castigo para ver se ele ganhava juízo.

E depois havia um cão também muito maroto que não obedecia ao dono. O dono dizia sempre para ele não se meter nas poças de água da rua mas ele não ligava e metia-se mesmo. Um dia, numa grande poça de água ao pé de uma escola, resolveu ir tomar um banho e rebolou-se naquela poça de água. Quando chegou ao jardim e foi para o pé dos amigos cães, estes, em vez de ladrarem, desataram a rir e a rebolar à gargalhada, relva abaixo. O cãozinho não percebia o que se passava mas eles nem conseguiam ladrar para lhe explicar, só riam.  No dia seguinte o cão maroto fez a mesma coisa, foi tomar banho na água da poça ao pé da escola e depois foi para o jardim. Os amigos cãezinhos tiveram a mesma reacção, até choravam a rir, com as patas agarradas à barriga de tanto rir. Até que apareceu um gato sisudo e lhe explicou. Tu vais tomar banho ao pé do sítio onde os meninos da escola lavam os pincéis sujos de tinta e, por isso, ontem apareceste aqui todo amarelo com riscas azuis e hoje estás cor de rosa às bolinhas verdes...

Quando cheguei à terceira já estava com tanto sono que só disse, Era uma vez um gato chinês que tocava piano e falava francês. Era uma vez uma galinha chinesa que tocava guitarra e julgava que era francesa. 

Ele riu-se mas quando viu que eu, perdida de sono, já estava a bater em retirada, protestou, mas isso não é uma história... 

Lá lhe expliquei que já sabia que a terceira história tinha que ser pequenina para ele ficar a pensar em como haveria de lhe dar continuação.

Passado um bocado, eu a pensar que ele já dormia e, afinal, a chamar-de de novo, voz já um pouco ensonada: Estive a pensar que afinal acho que não são três histórias, são quatro... Por isso ainda falta uma!

Achei que mais valia ser eu a capitular e lá saíu a do coelho branco com uma orelha preta.

Depois, já perto das onze e meia, chamou-me de novo, Eu estou um bocadinho triste porque hoje o dia não correu lá muito bem... Eu há bocado queria falar mais com a mãe e tu tiraste-me o telemóvel... Lá lhe expliquei que só foi para dar um recado à mãe e que depois devolvi logo. E ele disse Então está bem. Gosto muito de ti. Boa noite e dei-lhe mais um beijinho e lá caíu, finalmente, a dormir o sono dos justos. Tinha dormido, à tarde, uma longa sesta pelo que agora à noite ainda estava sem sono.

Foi outra vez um dia e tanto que meteu cinquenta mil coisas, uma alegria, e de tarde, a seguir à sesta, de novo com os primos. 

A prima está cada vez mais orgulhosa, mais temperamental e, pior, toda dramática. Quando contrariada, fica ofendida, toda ela numas poses de grande desgosto, tragédia grega. Hoje queria comer sozinha um iogurte mas estava de pé, com o iogurte numa mão e a colher noutra e, ao segurar nele, inclinava-o e quase o entornava. Na melhor das boas intenções, tirei-lho da mão para a convencer a sentar-se para ter mais estabilidade. Ficou ofendida, tapou a cara como se nem suportasse a coisa, toda ela lavada em lágrimas, grande drama, e depois recusou-se a voltar a pegar no iogurte, deixou de me falar, ignorava-me, eu falava com ela e ela ficava como se nem me ouvisse. Até que, mais tarde, às escondidas e com a promessa da mãe que ninguém ia saber que estava a comer o iogurte, lá o comeu. 

É ultra feminina, faz umas poses muito femininas, gosta de roupas, de malas, de sapatos (e gosta de livros! e gosta de histórias! e gosta de números! - ou seja, e explico para os que ainda não perceberam: pode ser-se muito feminina e, ainda assim, não se ser desprovida de neurónios).

E tem uns olhos lindos, lindos, lindos.



.                                                                                                                                                                                                                   .



O mais crescido e a sua prima simpatizam muito um com o outro. Há bocado ela queria sair da cadeirinha onde estava a comer. E dizia 'meu pé, meu pé' porque estava com o pé preso. Mas o primo percebeu que ela queria era ver o bebé. E então, mal ela saíu da cadeirinha, foram os dois para onde o bebé estava no berço. Passado um instante tempo o meu filho foi ver o que estavam a fazer e já estava o primo a pegar nela para a pôr em cima duma cadeira para ela poder espreitar o bebé. Tudo se passa sempre no espaço de instantes.

O bebé (faz esta sexta-feira 4 semanas), felizmente, por enquanto, ainda é muito bem comportado (excepto se lhe dá a fome ou alguma dor de barriga). 

Hoje o ex-bebé, e que é o pior de todos, não esteve cá. Esse, ontem à noite, quando viu frango assado, marimbou-se para a sua comida, mas completamente, e até dava saltos para pedir frango. Pus-lhe arroz, tomate e frango assado e comeu como se não houvesse amanhã, até fazia barulhos de prazer, parecia arrulhar, tamanha era a alegria. No fim até levava o prato à boca para lamber os últimos bagos de arroz. Não tem maneiras. Mas como é completamente independente e só quer comer sozinho e ainda nem ano e meio tem, é difícil ensiná-lo já a ter bons modos à mesa. 

Mas que não fiquem vocês a pensar que são sempre uns pimentinhas terroristas. Nada disso: também têm os seus momentos de curtição musical e recolhimento literário.




Estivemos juntos até à noite, e, aí, estiveram na varanda a ver o rio, os navios iluminados, e o que são as luzinhas brilhantes? referindo-se às luzes do lado de lá e depois, com binóculos, ele a ver se descobria onde estava o Saturno e ela, numa excitação, e a lua, a lua, a lua!

E à noite o rio fica negro mas, onde se reflecte a lua, fica um rasto de luz branca. 




E o céu estava também negro e a lua, a lua!, a lua!, era um círculo branco, prateado, com pequenos pontos de luz e eu, maravilhada, fotografei-a uma vez mais e tudo, nestas alturas, é mágico, tudo parece um cenário feliz de conto infantil.

*

Tenham, meus Caros Leitores, uma sexta feira muito feliz. 
Agosto está a chegar ao fim. Aproxima-se um mês que costuma ser doce - e tomara que este Governo, feito de gente que cada vez mais se revela incapaz e desqualificada, não o torne amargo.