quarta-feira, novembro 20, 2024

Alô, alô Senhores Jornalistas! Quando designam uma pessoa de 66 anos por idosa, estão cientes que a idade oficial da reforma é depois dos 66? Uma pessoa em idade activa é idosa? E porque é que a notícia é dada como 'um idoso morre na sala de espera das Urgências' e não 'um homem morre...'? Faz diferença, em termos da gravidade da situação, a idade da pessoa?

 

Pode parecer picuinhice mas não é. Da forma como se escreve ou se fala, assim se prepara quem recebe a informação para digerir o que se vai dizer.

Se uma pessoa, no dia em que faz anos, come arroz com cogumelos, tem uma intoxicação, se dirige ao Centro de Saúde que o manda para o hospital, a aí acaba por ficar 12 horas até que é encontrada morte na sala de espera das Urgências, essa é a notícia.

Mas quando se diz que "um idoso morre", quase se prepara quem vai ter conhecimento da notícia para o facto de que era alguém que, mais dia menos dia, ia mesmo morrer pelo que o incidente não terá sido assim tão grave.

Bem sei que segundo a OMS, idoso é genericamente quem tem mais de 60 anos. Mas a própria OMS refere as diferenças de condições para avaliar a 'velhice' de uma pessoa -- "esse limite mínimo pode variar segundo as condições de cada país (...) qualquer que seja o limite mínimo adotado, é importante considerar que a idade cronológica não é um marcador preciso para as alterações que acompanham o envelhecimento, podendo haver grandes variações quanto a condições de saúde, nível de participação na sociedade e nível de independência entre as pessoas idosas, em diferentes contextos."

Num país em que há cada vez mais pessoas a viver até depois dos 80, muita gente, felizmente, já acima dos 90, e estando a idade da reforma prestes a passar de novo para os 66 anos e 7 meses, é estúpido referir-se a uma pessoa não como 'pessoa' mas como um 'idosa', lá porque tem 65 ou 66 anos.

Quando tanto se fala do idadismo e do preconceito contra as pessoas com mais idade, e quando se percebe que é das 'fatias de mercado' mais interessantes em termos de consumo, seria bom que os jornalistas abrissem um bocado a cabeça e deixassem de usar expressões esteotipadas que não ajudam à compreensão das notícias.

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