Estive a passar fotografias para o computador e revi, com este meu encantamento que, racionalmente, chego a pensar que é quase pueril, aquelas múltiplas camadas de muitos verdes, aquelas súbitas flores encarnadas, a luz irrompendo por entre a folhagem, as cores que me trazem a memória dos perfumes quentes do campo ao meio dia.
Penso muitas vezes: será que podia mesmo passar in heaven o resto da minha vida, todos os dias, no meio das árvores, como um bicho, progressivamente melhor adaptada às estações, capaz de andar à chuva, ao sol, ao vento, capaz de distinguir os sinais da natureza, de identificar os sons e os calores, de subir descalça as barreiras de pedra, de comer os frutos e as folhas, de ser aceite pelos outros animais?
Não sei. Penso que teria sempre que intercalar com uma ida até ao mar ou até às margens dos rios, até às livrarias, até às ruas cheias de gente. Depois mergulharia de novo nos acolhedores e perfumados verdes, passando as minhas mãos agradecidas pelas flores, pelos troncos das árvores, pela terra.
Penso muitas vezes: será que podia mesmo passar in heaven o resto da minha vida, todos os dias, no meio das árvores, como um bicho, progressivamente melhor adaptada às estações, capaz de andar à chuva, ao sol, ao vento, capaz de distinguir os sinais da natureza, de identificar os sons e os calores, de subir descalça as barreiras de pedra, de comer os frutos e as folhas, de ser aceite pelos outros animais?
Não sei. Penso que teria sempre que intercalar com uma ida até ao mar ou até às margens dos rios, até às livrarias, até às ruas cheias de gente. Depois mergulharia de novo nos acolhedores e perfumados verdes, passando as minhas mãos agradecidas pelas flores, pelos troncos das árvores, pela terra.
Tinha pensado escolher algumas para aqui as ter, imagens capturadas momentos antes do céu enegrecer e soltar rasgadas chispas pelos céus. Talvez a das flores que nascem, rosadas, solares e elegantes, por entre as folhas secas. Ou as que, mais à frente, à sombra, nascem subtis e azuladas entre folhas verdes. Ou outras.
Mas a indolência tomou conta de mim. Apeteceu-me sentir uma ventoinha fazendo fresco na minha direcção. Liguei-a. Estou bem assim. Entre o meio sono, a meia consciência e a meia preguiça -- que, bem sei, juntas ultrapassam a unidade e está certo pois é como se um véu de macieza me envolvesse e, de certa forma, me moldasse, já fazendo parte de mim -- pus-me a ler um dos livros que agora aqui me acompanha. O acaso guia as minhas mãos que abrem o livro ao acaso e que, a cada vez, me traz uma mensagem que vejo como dirigida a mim.
Transcrevo um pouco:
Transcrevo um pouco:
Lavorare Stanca é o título de um livro. Significa trabalhar cansa.
Mestre José de Almada Negreiros costumava colocar-se nessa convicção de um modo um pouco mais agressivo. Dizia ele que "quem trabalha como uma besta não passa, evidentemente, de uma besta". (...)
O povo meteu num provérbio esta paz de consciência e de corpo: "Não é por muito madrugar que amanhece mais cedo."
O que a população deveria arrojar, em vez de tantos gestos, de tantas obras (que depois se obriga a desarrojar) seria ficar quieta, olhando à volta, ou em frente, que ainda cansa menos. Veria inumeráveis espectáculos que, com tanto entusiasmo trabalhador, lhe passam fora e longe. Veria as estações do ano, por exemplo.(...)
Pois. Tenho pela frente uma semana durante a qual não vou ver as estações do ano e durante a qual trabalharei como uma besta. Chegarei ao fim dos dias exausta, com a sensação de me ter gasto toda em urgências à toa e de nada restar dentro de mim. Talvez, com sorte, sobrem algumas exangues palavras que jogarei ao vento e que, com sorte, se enlaçarão noutras palavras.
Mas isso é durante a semana. Agora, apesar de já ser segunda-feira, ainda me sinto em fim-de-semana. Por isso, vou, uma vez mais, laurear por aí, procurar pequenos nadas que façam prolongar um pouco mais a sensação de descanso e despreocupação.
De novo, o Youtube tem um teste de personalidade para me entreter. Desta vez vai descobrir se sou mais masculina que feminina, se mais feminina que masclina ou se estou in between.
Penso, antes de o fazer: sou mulher da cabeça aos pés. Mas a verdade é que me sinto muito bem entre homens. Quase prefiro estar entre homens do que entre mulheres. No outro dia fui visitar uma empresa. Só homens na reunião e na visita às instalações. Depois fomos almoçar: só homens e eu. Não me senti nem um pouco deslocada. Outro dia, uma reunião, uma larga maioria de homens. No fim, diz o meu congénere alemão: uma surpresa ter do outro lado uma mulher, nestas empresas e nestas funções é muito raro encontrar-se uma mulher. Bem o sei. Mas, nestas situações, o género não é coisa que me ocorra. Sinto-me em casa. Dirigir reuniões, mesmo que complicadas, mesmo que só com homens, não me deixa desconfortável. Por isso, será que tenho um lado masculino que se traveste de mulher?
Depois de terem feito o vosso teste, já vos digo o que me deu.
Atenção: é preciso tomar notas e fazer uma continha no fim. Eu usei o excel mas, para quem não esteja à vontade, um papelinho e um lápis, serve bem.
Pronto. Espero que não tenham tido uma revelação que vos convide a sairem do armário.
Pois bem. No meu caso deu uma coisa que, na volta, se calhar até era expectável. Meio, meio. O que, segundo a explicação, vivo no melhor dos mundos, significando isso que, no trabalho, sou focada e racional como os homens costumam ser e, no resto, apaixono-me e faço coisas espontâneas a toda a hora o que, segundo quem o diz, deve ser coisa de mulher.
E eu o que concluo é que quem elaborou o teste e escreveu as conclusões está mas é cheio de preconceitos e de teias de aranha no sótão. Coisa mais parva e machista, credo.
Ora vejam bem:
If your masculine and feminine halves take turns driving you, you’ve got the best of both worlds. You can keep your head straight and follow strict logic at work, then fall in love and do something spontaneous the next day.
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O excerto lá em cima é do livro 'em minúsculas' de Herberto Helder.
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E queiram continuar a descer caso queiram saber as vantagens e desvantagens de se dormir nu