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sábado, outubro 19, 2024

As duas razões pelas quais uma pila se abstém: ou não tem vontade ou não consegue -- Pedro Mexia dixit
[E, já agora, uma questão que envolve a ejaculação precoce das pilas impulsivas]

 

Estava a ouvir o Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer quando João Miguel Tavares, a propósito da atitude dos partidos sobre a decisão que iriam tomar aquando da votação relativa ao Orçamento, usou a metáfora da comparação de pilas. Diz ele que até parece que quem vote contra com mais veemência será quem melhor faz oposição. Nesse contexto, naturalmente os principais intervenientes seriam Ventura com o seu rotundo não e Pedro Nuno Santos que, depois de enunciar todos os motivos para votar contra, aplicou-lhe um 'não obstante' e comunicou que a sua decisão será abster-se.

Nesse momento, Pedro Mexia, sempre com aquele seu ar de quem não está nem aí, se sai com a observação que acima citei. Claro que desatei a rir. Nem mais. E bate muito certo com o que ontem escrevi.

É que Pedro Nuno Santos sabe (ou intui) que lhe falta a energia, a pedalada, o punch, para se impor numa campanha (em que a imprensa e a teia de comentadores está feita com a AD, em que a maltosa da AD e do Chega não se ensaia nada para falsidades e manipulações, em que Marcelo continuará a ser Marcelo). Por isso, porque lhe falta a vontade ou porque sabe que não conseguiria, absteve-se.

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Mas, seguindo no carril das pilas e, na senda do que em tempos escrevi sobre alguma malta que, na nossa política, por aí anda a padecer de ejaculação precoce, uma pergunta faço eu: se é apenas na 2ª feira que Pedro Nuno Santos vai propor à Comissão Política o voto abstencionista do PS, porque é que já fez o anúncio ao País com pompa e circunstância como se já houvesse uma decisão oficial e escriturada? 

Não está a desvalorizar completamente a independência e relevância da Comissão Política do PS? O que lá vão fazer? Missa de corpo presente? São meros verbos de encher? 

E, se por um qualquer desalinhamento cósmico, a Direcção Política do PS decidir num outro sentido, com que cara vai ficar o não-impulsivo Pedro Nuno Santos? Ou tem um certo lado masoquista e gosta de fazer anúncios que mais não são do que passos em falso como naquela opereta bufa do aeroporto? Aparecer-nos-ia, outra vez, com o rabo entre as pernas, a confessar que se tinha precipitado? 

Note-se: estou a perguntar. E não são perguntas retóricas. Pergunto pois gostava mesmo de saber qual a resposta.

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E, se só agora aqui chegou e lhe apetece uma peixeirada, é descer. O Rangel está aí em baixo para a servir.

sábado, setembro 14, 2024

Celebridades, poemas reunidos, um diário incontínuo, mulheres e homens corredores

 

Estava na farmácia, deambulando por entre os expositores, tentada por mil promoções -- protectores solares, cremes para prolongar o bronzeado, sprays para hidratar o cabelo, colagénio sob todas as formas -- quando entrou um homem jovem, bonito, de óculos escuros. Olhou para mim, sorriu e cumprimentou-me muito bem.

Disse-lhe boa tarde, disfarcei mas fiquei ali parada, a fazer de conta que estava a ver os produtos e a puxar pela cabeça. De onde é que ele me conhecia para me cumprimentar assim? Conhecê-lo-ia eu também?

Depois chegou a minha vez. Fiquei num balcão. Depois chegou a vez dele e ficou num outro balcão, um pouco afastado. A funcionária foi lá para dentro à procura do que eu tinha pedido e aproveitei para olhar de soslaio para o jovem. Estava a ser atendido por uma técnica que se derretia em sorrisos. Ouvi então a voz dele. E, de súbito, fez-se-me luz: um conhecido, super-super-conhecido cantor! Na volta, cumprimentou-me por achar que eu o tinha reconhecido. 

E, como quase sempre, quando a gente os conhece da televisão, ao vivo constata que têm uns palmos a menos. Não que seja baixo, não é, nem isso interessa para nada, só que não é tão alto como o imaginava. Mas não foi por isso que não o reconheci. Não reconheci simplesmente porque sou despistada. E provavelmente estas pessoas muito conhecidas pensam que toda a gente os reconhece.

Também acontece cruzar-me com uma outra pessoa muito conhecida que passa por aqui a correr. Ao contrário de muitos e muitas corredoras que por aqui passam, cumprimenta sempre com um sorriso. Acho simpático. Mas na primeira vez também só o reconheci já ele devia ir a uns bons quilómetros. Tinha-me parecido que o conhecia e não me lembrava de onde.

Quando para aqui vim morar, estranhava muito que toda a gente se cumprimentasse. Agora também eu já faço o mesmo. 

Claro que isto é exequível quando nos cruzamos com poucas pessoas. 

Por exemplo, hoje almoçámos no centro de Lisboa. Deixámos o carro no parque subterrâneo ali perto e andámos um pouco numa das mais movimentadas avenidas da cidade. E obviamente ninguém cumprimenta ninguém. Aliás, ninguém olha para ninguém. Uma pessoa daria em maluca se cumprimentasse toda a gente com que se cruza num lugar assim.

Depois de uma vida inteira a viver e a trabalhar em lugares hiper movimentados e a ter que andar todos os dias no meio do trânsito, agora isso já nos incomoda. Aliás, temos sempre vontade de fugir a sete pés da confusão urbana quando nos vemos metidos nela...

Por fim, a seguir ao almoço, e já eram três e tal da tarde, como estava um calorão dos diabos, em vez de passearmos por ali, acabei por procurar o fresquinho de uma livraria. 

Comprei os 'Poemas Reunidos' de Pedro Mexia e o 'Diário Incontínuo' do Mário Cláudio. 

De tarde, já estive a ler o poemário do Mexia e agradou-me sobremaneira. É uma poesia muito honesta e, de certa forma, intensa. Hesito na palavra 'intensa'. É que, por vezes, a poesia dele pode até parecer leve. Mas eu leio-a como muito sentida, muito despojada, reduzida ao essencial, por vezes bastante pesada. Muito íntima.

Lembro-me sempre de um meu amigo, grande leitor, que não pegava em poesia e que, para me provar que a poesia é coisa fútil, fazia o exercício de ler um poema como se fosse prosa. E, lida assim, palavras corridas, o melhor poema parecia não mais que um farrapinho de prosa, uma textozinho triste. Ao ler, não fazia as pausas, não deixava que as palavras respirassem, não dava espaço ao silêncio que é essencial para que se sinta a emoção que o poema encerra.

Também já folheei, embora apenas muito pela rama, o diário de Mário Cláudio. Se calhar, também vou gostar de ler. Gosto cada vez mais de ler coisas que a gente sente como muito autênticas. O desfiar dos dias geralmente é assim. Talvez se pareça mesmo com as páginas de um blog (como a Susana o referiu).

E fico-me por aqui. Vou ver se consigo deitar-me mais cedo. Devia mudar o meu ritmo que desafia as ortodoxias circadianas. 

No outro dia, nestas minhas irregularidades do sono, acordei a meio da noite e era de madrugada e continuava sem dormir. E, para meu espanto, por diversas vezes, ouvi passar várias pessoas a correr. Não era várias ao mesmo tempo. Não. Passava um. Passado um bocado eram dois pois ouvia a passada da corrida e percebia que falavam um com o outro. Passado um bocado, outro. Senti-me estupefacta. Ainda nem deviam ser seis da manhã, eu ainda à espera de adormecer, e ali andavam, frescos e enérgicos. 

No outro dia também me surpreendi com outra coisa: fomos passear o cão já a noite estava a cair (o que não é difícil pois os dias estão a mergulhar na noite a um ritmo cada vez mais acelerado) e, às tantas, passou por nós a correr, com calção curtinho, blusinha de alças, um daqueles aparelhos de medições de sinais vitais no antebraço, uma mulher numa velocidade que nos deixou de boca aberta. Às tantas até seria atleta. Eu teria algum receio de andar a passear ao cair da noite sozinha mas aquela mulher não estava nem aí, parecia um carro de corrida.

E, pronto, nada mais tenho a acrescentar. E desculpem se é só isto.

Desejo-vos um bom fim de semana.

sexta-feira, agosto 21, 2020

Estantes, maminhas, marteladas e etc.




Acordei com uma dor numa perna. Tantos esforços tenho feito, tantos pesos tenho carregado, tão abaixo e acima tenho andado, debruçando-me nas caixas, esticando-me para arrumar os livros, alguns em prateleiras bem altas, livros e o demais,  que algum músculo se esticou para além da conta. Em simultâneo o trabalho, as reuniões, os telefonemas, e sempre a correr, sempre a pensar no que falta fazer. E, portanto, o corpo deu de si. Em mim, volta e meia, o muito esforço manifesta-se assim. Posso carregar caixas como um estivador que até eu fico espantada com a minha força, posso trabalhar dias a fio, horas a fio, e toda a gente acha de mais e me pede que abrande e eu só percebo que estou cansada quando aqui, à noite, caio instantaneamente a dormir. A energia e a resistência física não me faltam. Mas a ligação dos músculos aos ossos não deve ser das mais famosas. Acho que é aí, em cima, na zona de uma das virilhas, que me dói. Já tomei um ben-u-ron pois fomos ver se comprávamos candeeiros (e uma broca e buchas e extensões) e fiz mais uma máquina e tive uma reunião complicada e fomos ao supermercado. E, como estava com aquela dor e toda coxa, não tive outro remédio senão tomar um comprimido. Mas não arrumei livros nem deu para me esforçar muito, seria impossível.

De manhã, o meu filho veio com os meninos buscar as bicicletas para irem pedalar. Depois vieram largá-las e foram à vida deles. Mas estava em reunião nem consegui estar com eles. Ao fim da tarde vieram para fazer o favor de colocar as portas nas sacanas das estantes cor de rato quando foge. Desisti de me meter em trabalhos. Não era isto que eu queria mas a verdade é que, vendo bem as coisas, sendo benevolente e ceguinha, a coisa até é capaz de ficar com uma certa pinta. Uma parede toda em clarinho e outra, em perpendicular, toda em platinado foncé. Quando lá tiver os livros dentro logo faço a minha avaliação final. Como não gosto de me martirizar, quando acho que não vale a pena o desgosto, marimbo-me para as reticências e faço por descobrir vantagens. Na volta é a isto que se chama optimismo. 

A minha menininha mais linda queria ir trabalhar, ajudar-me, queria arrumar livros. Como eu estava impossibilitada, tal a dor, fomos sentar-nos na chaise longue que fica entalada entre a dita estante e a janela. Os parapeitos aqui são baixos e, por isso, ficamos a ver a rua, o jardim. Ela encostada à parede, entre a estante e a janela, eu reclinada no encosto. Ali estivemos a conversar. Adora estar cá. Disse-me que já escolheu a cama. Diz que o irmão a seguir fica na outra. A mãe perguntou onde fica o bebé. Ela disse que fica ou com ela e com o mano. Depois acrescentou: tu e o pai dormem no outro quarto. A mãe riu: ah, nós também dormimos cá? Ela sorriu, fez que sim. A mãe respondeu-lhe: 'Não... eu e o pai vamos mas é passar a noite a um hotel...'. Ela disse: 'Está bem'. E sorriu, toda contente. 

O mais pequeno queria ir à viva força para a cave, queria que eu fosse abrir-lhe a porta. Não fui. Expliquei que não havia ninguém para ir com ele. Disse que não fazia mal. Depois disse que podia ir o avô. Expliquei que o avô estava a acabar uma coisa, que tinha mesmo que acabar, não podia falhar. Depois perguntei-lhe: Mas queres ir lá para baixo fazer o quê? Respondeu: Para ir descobrir coisas. De facto, esta casa é uma verdadeira arcazinha do tesouro. Entre os recantos (e o que eu gosto de recantos...) e o que os anteriores donos cá deixaram, há sempre, de facto, coisas para descobrir. De vez em quando, a senhora, quando andava nas suas mudanças, perguntava-me se podia deixar algumas coisas. Eram coisas difíceis de retirar ou transportar, que não lhe serviam na casa nova. Tenho ideia que disse que sim a tudo. Vasos muito grandes, alguns candeeiros, prateleiras, arcas de madeira, uma mesa metálica que pesa toneladas e que, aproveitando os possantes homens das mudanças, veio para debaixo do telheiro. Portanto, de vez em quando, em especial na cave e garagem, vejo coisas que não sei bem para que servem. Por exemplo, uns módulos de gavetinhas. O meu marido perguntava no outro dia: 'Para que é que os gajos quereriam isto?'. Não faço ideia. 'Para guardar facturas, coisas assi...'. O meu marido achou que não: 'Só tu é que ias pensar numa coisa dessas'. Pois bem. Ontem, para minha surpresa, vi que já ocupou um módulo. Buchas, pregos, parafusos. Só o vi usar uma gaveta mas, na volta, vai organizar as suas ferramentas e afins por gavetinhas.

Mas o bebé não sabe disso. Se soubesse, então, ficaria curiosíssimo. Gosta de montar coisas. O pai até lhe ofereceu um martelo a sério. Quando o vejo de martelo em punho fico em pânico, a temer que me destrua a casa. Mas, até ver, ainda não.

O mano do meio é de outro calibre. Estava a ver televisão e, de repente, deixei de vê-lo. Chamei, chamei. Nada. Fui em busca, de divisão em divisão, e nada. Depois vi a luz da casa de banho acesa e pensei, ora, coitado, já não pode ir à casa de banho em paz. Passado um bocado a irmã veio dizer-me: o mano não está na casa de banho: ele é muito esperto, acendeu a luz e fechou a porta para nos enganar. Chamei por ele e ouvi a voz a vir da sala. Perguntei-lhe: 'Onde estavas?' Respondeu-me, com ar lampeiro: 'Estava aqui...'. e eu: 'Não estavas nada. Diz lá.' Detectei-lhe um arzinho de quem queria disfarçar a matreirice. E aí tive um lampejo: 'Não me digas que foste outra vez a procura daquele livro...'. Desmanchou-se: 'Descobri outro também com mulheres nuas...' e fez um ar malandro. Só me ocorreu dizer: 'Não posso crer. És maluco'. Não disse mas pensei: sai ao pai que, era quase bebé e já todo ele se entusiasmava com maminhas. Tudo o entusiasmava: fotografias, estátuas, manequins em montras. Pois quem sai aos seus não degenera e cá está o mano do meio, oito anos acabados de fazer, sempre empolgado com seios femininos.

E depois, uma vez montadas as portas das estantes, lá foi o casal fazer uma corrida e, uma vez regressados, lá se foram os cinco.

E eu fui trabalhar e o meu marido lá continuou. Depois fiz os meus telefonemas. Depois fui fazer o jantar. Jantámos às dez e meia da noite. 

Uma vez aqui chegada ao sofá, ainda circulei pelos jornais a ver se alguma coisa puxava por mim. Pode andar por aí meio mundo às turras, os médicos e o Costa, o Rio e o Albuquerque armados em não sei o quê ou pode o Marcelo andar feito nadador-salvador, pode a imprensa e as redes sociais andarem com o André Populista ao colo ou pode o Chiquinho-bebé andar a brincar aos partidos... que eu, Caro Anónimo, não sei se é das canseiras, se é da falta de pachorra para coisas assim, a verdade é que nada disto me dá pica para escrever sobre.

O que me interessa é seguir o conselho do Amofinado sobre o reencaminhamento do correio, o da Gata Aurélio sobre a forma de fixar quadros sem furar paredes (já cá cantam, já os trouxe do Leroy), a solidariedade do Francisco quanto à corzinha arratada da estante, a empatia da querida Sol Nascente e a todos que, em comentário ou mail, me deixam palavras sempre tão simpáticas e a quem aqui deixo os meus agradecimentos.

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E usei aqui pinturas de Wassily Kandinsky ao som de Max Richter: Never Goodbye.

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Entretanto, adivinhando que ando à volta das minhas estantes, o meu amigo algoritmo tinha estes vídeos aqui abaixo para me sugerir. Não é a primeira vez mas é o género de vídeo que posso ver várias vezes pois descubro sempre alguma palavra nova.

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A estante do Pedro Mexia


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A estante de Clara Ferreira Alves

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A estante de Rui Cardoso Martins


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A estante de Teolinda Gersão


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E uma bela e feliz sexta-feira

sábado, fevereiro 22, 2020

O Governo Sombra, o Pedro Mexia e Rothko, o Vasco Pulido Valente.
E o tempo que passa.




Uma vez mais, estive a ver o Governo Sombra. No outro dia fiquei surpreendida e hoje confirmo que  parece que mudaram ligeiramente de registo. Parece que estão um pouco mais atilados. Se calhar é porque estão todos mais velhos, já terão ganho mais noção de quão efémero é o poder que têm. Talvez seja o tempo a fazer o seu trabalho também sobre eles. Até o João Miguel Tavares parece ligeiramente mais ponderado. Ainda não aprendeu a pensar mas, enfim, parece que já consegue elaborar melhor as tentativas de raciocínio. Acresce que se apresenta mais composto, quase civilizado, cabeça rapada e todo em noir. O Ricardo Araújo Pereira também parece não querer fazer, a toda a hora, o papel de palhaço de serviço. Só às vezes. Quando fala a sério, percebe-se que é capaz de ter qualquer coisa interessante lá dentro. E Pedro Mexia continua equilibrado e com ideias estruturadas pelo que se ouve sempre com interesse até porque se aprende sempre com ele. E estou a dizer isto sem estar a prender-me, particularmente, ao sentido do que defendem mas à qualidade da argumentação ou, pelo menos, à forma como falam sobre os assuntos da semana. Não concordo com muito do que dizem mas para se gostar de ouvir outros a conversarem ou, inclusivamente, para participar na conversa, não é forçoso que todos alinhem pela mesma cartilha.
Sei que o facto de dizer estas coisas pode parecer confuso aos olhos dos fundamentalistas que acham que se digo que simpatizo com o Pedro Mexia, assumido simpatizante do CDS, ou se me mostro mais tolerante com o João Miguel Tavares, conhecido descerebrado que pensa com o nariz (Mexia dixit), é porque tenho motivações secretas. E digo isto pois hoje recebi um mail dando-me conta de uma coisa feia. Para que eu visse com os meus próprios olhos, um Leitor a quem agradeço enviava-me um link para um comentário num outro blog no qual um comentador relativamente habitual do Um Jeito Manso escreve aparentemente sobre mim, mas escreve com a maledicência a escorrer-lhe das mãos, deturpando o sentido do que escrevi e acrescentando que 'o teor de alguns posts já antes era estranho e as respostas a certos comentários eram por vezes provocatórias e nem sempre correctas' e concluía, 'Passarei ao largo desse local daqui em diante'. Não refiro o nome dessa pessoa, ou melhor as duas letras com que se assina, nem coloco o link para o dito comentário pois não me agrada dar palco a gente cobarde e estúpida que não apenas treslê em vez de ler como, em vez de ter a frontalidade de me dizer aqui o que pensa, vai, qual vizinha, fazer fofoquice nas minhas costas. Mas adiante que com gente que age assim não faz sentido que se perca mais tempo do que já perdi. E acho bem que não volte a pôr aqui os pés -- que gente que pensa e escreve com os pés não faz cá falta nenhuma.
Mas, volto ao Governo Sombra só para dizer que, quanto ao moderador, o que tenho a dizer é que estava mais arranjadinho do que o vi ali pela hora de almoço, desfraldado e com ar meio despassarado. Mas nada contra os desfraldados e despassarados.
E, por falar no Pedro Mexia, estive agorinha mesmo a ler o que ele escreve sobre Rothko (na crónica 'O vermelho e o negro' integrada no Livro 'Imagens Imaginadas') e revi-me totalmente nas suas palavras. Fiquei foi muito admirada pois tinha para mim que ele ficaria indiferente a uma pintura a que aparentemente apenas os intutivos e os que sentem com as vísceras seriam sensíveis. Não os exclusivamente racionais. Mas, pelos vistos, ou não é bem assim ou ele não é cem por cento racional. A pintura de Rothko é, de facto, luminosa e ambígua. O que ali está tem a ver, também para mim, com a ideia de acesso a um mundo vedado ou com a ideia de um memorial perpétuo.
O programa de hoje acabou, justamente, com o Pedro Mexia. O livro de hoje foi escolha sua e era um livro de crónicas de Vasco Pulido Valente. Hoje, ao ouvir as notícias, fiquei triste com a saída de cena de mais um. Ninguém cá fica, é bem certo. Mas faz impressão. É tudo tão passageiro, tão sem nexo se visto nesta perspectiva. Mas, enfim, é o que é. No entanto, quando se vai alguém ligado à cultura, parece que a perda é bem maior. Era tão corrosivo, ele. Tinha graça nesse seu excesso de ironia, nessa sua transbordante verrina. Inteligente, capaz de imagens destruidoras mas de uma eficácia brutal. Ia-se para uma crónica dele com a curiosidade de quem quer saber em cima de quem é que ele ia deitar o copo de veneno, sendo certo que o copo de veneno podia ir disfarçado de muitas e engenhosas maneiras. Não há nada como uma pessoa inteligente, culta, bem humorada e de verbo fácil. E, quando mais uma pessoa assim desaparece, inevitavelmente olha-se à volta e percebe-se que não há muitos mais com aquela verve e aquele frutuoso mau feitio e que isso é uma pena. Parece que o nosso mundo se vai extinguindo, tornando-se mais cinzento e triste. Mas claro, isto que digo é um lugar comum, apenas aceitável se me esquecer que essa não é a equação certa pois também nós, um dia, nos iremos e os que vêm a seguir a nós já não estão nem aí. Apenas lerão os sucedâneos do Instagram ou do TikTok que, fiquei a saber ontem, é o que está a dar junto dos mais novos. Portanto, coração ao largo e siga o baile.

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E, por falar em equilíbrios instáveis e em coisas que, se pensarmos bem, não fazem grande sentido -- como andar a gente uma vida inteira a querer aperfeiçoar-se para depois ir desta para melhor -- não vem nada a propósito mas deixem que partilhe este vídeo. É uma construção efémera e inútil. Mas o trabalho que lhe deve dar e a beleza que tem... Coisas que são para a gente ver e apreciar sem pensar muito nelas. Digo eu.


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As pinturas são de Bela Silva e não faço ideia de porque é que me apeteceu trazê-las para um post em que se fala de Rothko tal como não faço a mínima de porque é que me apeteceu ter o Mr. Bojangles a fazer-me companhia. São cenas.

E queiram aceitar o meu convite e descer até onde se festeja a alegria de viver e a sabedoria dos acasos.

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domingo, fevereiro 02, 2020

Mulherzinhas, ambientes literários, homens interessantes, Pedro Mexia, chás e infusões perfumadas, etc.





Hoje o dia foi, outra vez, muito preenchido. Tive que pôr o despertador para pôr logo a comida a cozinhar. Depois tive um compromisso e ficou o meu marido em casa, adiantando uma componente do cozinhado. Depois regressei cheia de pressa, atarefada, com algumas compras, e, logo a seguir, teve ele que sair. Home alone, atirei-me aos tachos. Quando ele chegou assustou-se com a quantidade de vasilhame mas eu só quis que ele pusesse a mesa pois, ainda por cima, eram muitos, dia de mesa comprida toda aberta com a mesa nova encostada e a última coisa é chegarem, esfaimados, muitos, e não estar tudo a postos.

E lá ele pôs a mesa e ainda ajudou a arrumar a cozinha e, numa corrida, fui telefonar à minha mãe e etc, e, logo de seguida, chegou todo o maralhal.

Depois, toda a gente se deslocou até à sala da televisão pois hoje trouxeram playstation e, portanto, puseram cadeiras em frente da televisão e ali estiveram na jogatina. Crianças hoje eram seis, dos quais cinco rapazes. Pelo menos, estiveram sossegados. Entretanto, a minha filha quis que o irmão a ajudasse numa matéria profissional e a minha menina cada vez mais linda veio sentar-se ao meu colo para eu lhe fazer penteados enquanto ela jogava no telemóvel da mãe ou da tia ou de não sei quem. Enquanto isso o bebé, já não tão bebé quanto isso, saltava de uma cadeira, em mergulho, para cima da mãe que, numa senhorinha baixinha tentava ler. 

Lá mais para mais do meio da tarde saíram e nós dois fomos a casa dos meus pais. Como seria de esperar, mal o carro arrancou, deu-me o sono. Como sabia que o meu marido também estava cansado, esforcei-me por me manter acordada com medo que ele, sem dar por isso, fechasse os olhos. Contudo, não fui bem sucedida. A meio caminho adormeci e, entre querer acordar e não resistir, fui a dormitar até mesmo à rua dos meus pais.

A minha mãe estava a acabar umas meias de lã para a bisneta, a pôr umas lantejoulas no cós, que fez aos biquinhos, tudo em tons claros, muito bonitos. Tinha também já feitas umas meias para o neto, mas essas em tons mais escuros, em bordeaux e cinzento. Já antes tinha feito para o outro bisneto. Vai agora começar umas para a mãe dos meninos. Gostam de dormir com aquelas meias quentinhas que ela faz. Eu não, não consigo dormir com calor nos pés. Por vezes, quando entro na cama, deixo estar as meiinhas que estou a usar em casa mas, passado um minuto, quando sinto que estou a adormecer, tiro-as.

De casa dos meus pais passámos pelo meu filho que não estava, tinha ido correr, para deixar as meias. Entretanto, tivémos cá alguns dos meninos a jantar e, depois de os entregarmos, fomos nós dois ao cinema.

Estávamos um pouco na dúvida. Tínhamos vontade mas, também, alguma vontade de descansar. Mas resolvemos que o descanso esperasse. Estávamos hesitantes: eu pendia para o Mulherzinhas, ele para o 1917 embora não se importasse de ir às Mulherzinhas (refiro-me ao filme, claro). Pelas horas a que chegámos, o que calhava era mesmo este.

Desde pequena que sou como sou, avessa a êxitos e a must do, must read, must see, must listen. Portanto, nunca li 'Mulherzinhas'. Todas tinham lido menos eu que adorava ler e lia tudo. Mas, quando elas andavam encantadas com as Mulherzinhas, andava eu a ler Liza, a Pecadora e outros livros que consumia desvairadamente, abastecendo-me na biblioteca do liceu, na biblioteca de uma amiga da minha mãe ou, claro, em casa. 

Mas no outro dia tinha visto a apresentação deste e gostei. Uma vez, em resposta a um comentário, referi que não me importava de ter vivido na Inglaterra de Virginia Woolf, de ter frequentado aqueles ambientes. O Leitor estranhou, referiu o suicídio dela e, porque às vezes não consigo tempo para responder, não expliquei que o que me atraíria seria o convívio com mentes brilhantes, livres, amantes de literatura, pintores. Frequentar aquelas tertúlias teria sido fascinante para mim. 

Gosto muito de conversar sobre arte. Embora seja amante de música não sei falar sobre música. Mas gosto de ouvir falar. Mesmo que não fixe o que dizem. Não tenho a preocupação de registar, apenas o prazer de ouvir. Mas gosto de falar sobre pintura ou sobre literatura. Mas também não sei falar sobre personagens ou enredos. Esqueço-me ou, pelo menos, quando chega a altura de falar, não me ocorre. É que o que registo mesmo são emoções, o que me encanta é o prazer da escrita, o meu ao ler e o de escrever, que pressinto, no escritor. Ou no pintor. Mas também gosto de conversar sobre arquitectura. Ou escultura. Ou dança. O prazer de falar, de ouvir falar, o prazer de ver, de ouvir, de ser levada para aquele limbo que está no limiar do desconhecido.

Um amigo, que é um ser diferente e especial, ao ouvir-me, evoca o que o Jorge Luis Borges escreveu:
La música, los estados de felicidad, la mitología, las caras trabajadas por el tiempo, ciertos crepúsculos y ciertos lugares, quieren decirnos algo, o algo dijeron que no hubiéramos debido perder, o están por decir algo; esta inminencia de una revelación, que no se produce, es, quizá, el hecho estético.
E eu no outro dia falei-lhe que tinha ouvido na rádio uma brasileira, de que agora não me lembro do nome, a dizer que a arte substitui a vontade de acreditar em deus. E é isso. Ele concordou.

O prazer da beleza, da beleza que pode estar numa cadeia de palavras elegantemente cerzidas, num fio de música, numa flor a despontar no campo, na força do mar, num gesto que nos chega de longe, na forma como a luz ilumina ou esconde, em coisas assim -- tudo isso me inunda de um estado de felicidade que não sei explicar. Talvez seja o tal hecho estético.

Mas regresso às Mulherzinhas.

O filme é muito agradável de ver, apaziguador, terno, bonito, envolvente. Preferia que fosse mais linear e não com tantos recuos temporais mas, enfim, é o que é e, apesar disso, senti-me bem a vê-lo. Perguntei ao meu marido se tinha gostado. Nunca é efusivo pelo que pelo tom de voz que parecia conter um encolher de ombros ao dizer que sim deduzi que o viu sem incómodo e, diria mesmo, com a tranquilidade de que provavelmente estava necessitado.

Os actores são bons mas a Saoirse Ronan (cujo primeiro nome não sei como se pronuncia) e o Timothée Chalamet destacam-se. Não sei se já o disse antes mas, do que tenho visto, este jovem é talentoso, tem graça e carisma, e antevejo-lhe um brilhante futuro. É muito bonito, tem um corpo desengonçado que o torna ainda mais atraente e só pode tender para melhor. Alguém a acompanhar.

Há homens que perdem quando o viço se lhes escapa. Há outros que nunca perdem o viço. E há outros para quem o viço é pormenor e que só ganham com o evoluir do tempo.



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Quando comecei a escrever este post liguei a televisão. Estava no fim do Governo Sombra. Não consigo ver este programa porque não suporto a vacuidade do João Miguel Tavares nem a superficialidade, por vezes associada a uma desagradável distorção mental, do Ricardo Araújo Pereira e custa-me ver, ali no meio, o Pedro Mexia.

Gosto imenso de ler o que o Pedro Mexia escreve, é intelectualmente honesto e dá para perceber que é uma boa pessoa. Gostava muito de ler os seus blogs tal como gostava de ler as suas crónicas no Expresso e, se calha ter alguma recaída e comprar o jornal, é logo a crónica dele que vou procurar. Os seus livros de compilações de crónicas são um prazer. Mas se o imaginaria a participar numa tertúlia como as de Virginia Woolf  & Friends, tenho muita dificuldade em vê-lo ali, naquela mesa, rodeado por duas criaturas que parece que pensam que o público gosta é de vê-los a exibirem a sua veia de alarves e onde o debate não é debate, é um conjunto de graçolas sem ponta por onde se lhes pegue. Mas não o censuro. Toda a gente precisa de ganhar a vida e a gente que nos calha na rifa para trabalhar ao nosso lado nem sempre é a que escolheríamos. Só não percebo é porque não propõe ele às televisões um programa em que recrie tertúlias onde se fale de arte, onde ele fale de escritores, de livros, de filmes, de personagens e outros falem também disso de outras coisas. Estou convencida que aceitariam essa sua proposta e que seria um programa mesmo bom de se ver. E certamente que lhe daria a ele um maior prazer do que estar ali a aguentar aquelas parvoíces do Governo Sombra.

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Enquanto escrevo, estou a beber uma infusão que se chama Seasonal Siesta e que é uma delícia. Faz parte de um conjunto que a minha filha me ofereceu pelo Natal. Ela sabe que eu sou chá addicted e desencanta estas coisas que sabe que são sempre a meu gosto. Mostrei lá em cima a fotografia da caixa e a composição daquele que escolhi e agora, mesmo aqui acima, a da caneca que está aqui ao meu lado, neste momento já vazia. Se isto da internet estivesse mais evoluído, agora punha aqui um botão e, se vocês quisessem experimentar, carregavam nele e eu enviava daqui uma caneca fumegante, com um líquido perfumado e bem saboroso. Teria é que avisar que não ponho açúcar. Chás e cafés sempre sem açúcar.

De todas as canecas que tenho, a que prefiro é esta. O rebordo é afilado e macio, tem um toque agradável, tem um formato e uma dimensão que me agradam. Tem o pai natal mas não quero saber disso até porque ainda acredito nele. A toda a hora recebo presentes que me deixam contente como uma criança -- e o mais engraçado é que não conheço quem mos oferece. Cá para mim é tudo coisa do pai natal e honi soit qui mal y pense.

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E vou parar porque, agora que reparo, isto já vai para lá de longo.

A si que aí está desse lado desejo um belo dia de domingo.

segunda-feira, dezembro 09, 2019

Breve crónica de um fim de semana
-- com a culinária respectiva e com fotografias em casa e na rua






Dois manos estão doentes, um com gripe e outro meio engripado -- espero bem que já na recta final mas, ainda assim, doentinhos, meus adorados meninos. Por isso, não deu para se juntarem aos primos, senão, às tantas, ainda ficavam todos 'agarrados'.

Assim sendo, o fim de semana foi vivido em separado. Fomos, pois, no sábado, jantar a casa da minha filha e, como sempre faço, resolvi levar o jantar. Faz parte da minha natureza, gosto de alimentar os outros. 

Por outro lado, o meu filho gostava de ir passar o domingo ao campo. Como só poderíamos ir no domingo, chegando quase ao mesmo tempo que eles, resolvi que havia de levar o almoço já adiantado.

No sábado de manhã fomos aos meus pais, de tarde ao supermercado.

Para me facilitar a vida, resolvi preparar uma base comum. Para casa da minha filha levaria um tabuleiro de arroz de carnes. Para o almoço de domingo faria rancho.


Preparação da mesma base para duas refeições distintas

Então, no sábado à tarde:
Num panelão com água e um pouco de sal coloquei duas cebolas grandes, cenouras, salsa e frango(s) do campo, carnes de porco (entrecosto, chispe, uma peça de costeletas).
Quase no fim das carnes estarem cozidas, juntei meio pacote de sopa juliana. Não apenas dá bom sabor como a componente dos legumes fica logo assegurada.
Ao fim de um bocadinho, desliguei. 
Arroz de carnes 
Entretanto, num tacho coloquei um fio de azeite, uma cebola grande picada e um bocadinho de salsa, umas cenouras cortadas aos quadradinhos pequenos, uns feijões verdes cortados às lasquinhas e um bocadinho de chouriço do Fundão cortado aos bocadinhos, para dar um toque de graça suplementar. Deixei frigir ao de leve até se perceber que estavam levemente cozinhados. Nessa altura juntei arroz basmati e o dobro da quantidade em caldo da cozedura das carnes.
Entretanto, retirei parte das carnes do panelão, desossei e juntei ao arroz. 
Enquanto isso, o forno estava a aquecer no máximo. Despejei, então, o conteúdo do tacho para um tabuleiro e, por cima, espalhei bacon aos bocadinhos. Foi ao forno, cuja temperatura baixei, até o bacon estar douradinho e a água do arroz toda evaporada.
E foi assim mesmo que o transportei. Coloquei uma folha de papel-alumínio por cima e enrolei num toalhão de banho. Quando o meu marido entrou na cozinha e viu aquilo ia-se passando. Mas o que é isto? Voltámos ao século passado? Dei-lhe razão e pedi que fosse buscar a manta térmica. Como não temos manta térmica, ficámos assim. Colocámos o embrulho atoalhado num sacalhão e, portanto, chegou lá bem quentinho.


Fomos recebidos com uma surpreendente pianada. A minha filha, que andava há tempos a dizer que estava com saudades do piano, voltou. Os meninos é que foram à porta e eu ouvi o som que vinha da sala. Pensei que estivessem a ouvir Chopin. Afinal era ela. Fiquei mesmo contente. Sempre gostei muito de a ouvir mesmo quando ela não estava certa de tocar bem. 

E o mais novo parece que também leva jeito. Senta-se ao lado da mãe e põe-se a tocar, a improvisar, e sai-lhe muito bem. Uma emoção.

Ao jantar, comemos o arroz de carnes com saladinha de alface. Disseram que estava bem bom. No final, sobrou outro tanto que, obviamente, ficou lá.
Quando regressámos a nossa casa -- ia a noite avançada --, ainda fui desossar o resto das carnes. Coloquei tudo, as carnes e o caldo numa big caixa, hermeticamente fechada. Entornar caldo no carro seria o fim da picada.

Rancho
Já no campo:
Lavei um repolho e cortei-o bem ripado, mais cenouras às rodelinhas, mais uma cebola aos bocadinhos -- tudo para dentro de um panelão. Juntei o caldo que chegou intacto, mais um bocado de água e mais um pouco de sal. Por cima, coloquei o resto do chouriço de carne, uma farinheira e uma morcela. Depois das couves estarem macias, juntei um pacote de cotovelinhos riscadinhos. Quando a massa estava cozinhada, juntei uma lata grande de grão cozido e as carnes. Coloquei ainda um bom bocado de hortelã fresca. Misturei. 
Gostaram, estava saboroso e bem cheiroso. Uma vez mais, sobrou outro tanto. Para a casa do meu filho seguiu uma caixa e para nós uma outra.


Tirando isso, estava nevoeiro, orvalho por todo o lado, tudo lindo. As neblinas ali in heaven são mágicas.

Os meninos andaram de bicicleta, correram, brincaram, o meu filho ateou uma bela lareira e ao longo do dia manteve-a sempre acesa, a sala quentinha e boa, e jogámos ao jogo das letras, os meninos puseram os meus chapéus, fizeram colares e pulseiras, o mano do meio jogou subbuteo, o bebé fez das dele. Perguntaram, claro, se os primos não iam. Dias assim pedem o grupo completo mas desta vez não deu. Com febre e uma gripe valente como um está e todo cheio de tosse como o outro está, era impossível um programa como o de hoje, na rua, no meio do nevoeiro.

À tarde, lanchámos (o meu filho trespassou uns pãezinhos com um espeto e colocou-o ao alto, de lado, na lareira para ficarem quentinhos) e depois foi tudo outra vez para a rua, a humidade caindo sobre nós, as pedras escorrendo, o campo todo imerso em névoa, lindo, lindo.


Fotografei muito, como sempre, mas as as fotografias que fiz e que aqui vos mostro não deixam perceber a paz, o canto dos pássaros, as cores difusas, o calor da lareira, o riso das crianças, a alegria de estarmos juntos.

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E foi isto. No carro para lá e, à tarde, durante uns momentos em que estavam entretidos, ainda li umas crónicas do Pedro Mexia no seu último livro, Imagens imaginadas, conversa sempre agradável de seguir.

Quando cheguei a casa ainda fui fazer sopa e algumas arrumações. E ainda devia fazer muito mais. Os dias passam a correr e ainda o fim de semana parece que nem começou e já está a acabar. No outro dia, no jantar de natal, uma colega que não via desde o do ano passado, me dizia: 'Nem parece verdade, não é? Dantes um ano levava um ano a passar, agora nem se dá por ele e já ele passou'. É mesmo.

Enfim. É o que é.

O meu marido já dorme e eu bocejo por tudo o que é canto e esquina. Está prestes a começar uma nova semana e eu começo-a com o coração quentinho, apenas desejando que os meninos que estão apanhados se ponham bons rapidamente.

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E a todos, aí desse lado, desejo uma boa semana a começar já esta segunda-feira.

sábado, novembro 30, 2019

Só se for um hipopótamo...


Não sou dada a black fridays. Esta sexta-feira fugi do comércio e até, para almoçar, fui a um sítio em que não há lojas ou, se as há, são tão discretas que nem por elas dou. Não que não goste de pechinchas. Gosto. Mas incomoda-me muito a confusão. Se pudesse ter as lojas à minha disposição sem ter que me desviar para não levar encontrões, sem ter que esperar para entrar para provar alguma coisa, sem ter que estar na fila para pagar, ainda vá que não vá. Mas isso não existe.

Por isso, vade retro black friday, fui mas foi almoçar tranquilamente e, a seguir, fui à livraria onde há que tempos tinha encomendado o livro que a JV me recomendou: da Herta Müller, O rei faz vénia e mata. Tanto tempo já tinha decorrido que já daí tinha tirado o sentido. Afinal, a semana passada recebi uma sms a informar que estava disponível mas que, se não o levantasse até meio da semana, o poriam à venda. Ora como desde a semana passada os meus dias têm estado indisponíveis para mim, hoje ia preparada para que a ameaça se tivesse concretizado. Mas não. Por isso gosto tanto desta pequena livraria: a livreira é civilizada e simpática e tudo tem dimensão humana, ainda não excessivamente mercantilizada. O livro lá estava. Quando o paguei, percebi que o desconto era de 20% e que, portanto, a friday estava a passar por ali mas em versão soft.


Quando estava a sair, reparei num livrinho pequeno, de capa discreta e cujo título me fez parar para o descortinar. Depois reparei que era do Mexia, Pedro Mexia. O último. Achava graça aos blogs do Mexia, gosto das suas crónicas no Expresso e felizmente nunca vejo o Governo Sombra pelo que as suas intervenções certamente contaminadas pela parvoíce sempre ali reinante não anulam a boa ideia que tenho da sua escrita. Voltei atrás e fui pagar. Reparei, então, nuns pequenos caleidoscópios. Espreitei e recordei o que eles sempre me intrigaram e encantaram. Trouxe dois, um para cada grupo de pimentinhas. Habituados a toda a espécie de tudo, na volta não acham piada nenhuma a uma coisa tão simples. Mas trouxe. E quando fui pagar surpreendi-me outra vez pois também tiveram os 20% de desconto. Portanto, em consciência não posso dizer que não tenha ido aos saldos. 

Ah, e, com a velocidade a que isto corre, já estamos outra vez, como dizia certo caleidoscópico Leitor, na feliz quadra consumícia.

Nem consigo pensar em ter que entrar outra vez na maluquice das compras de natal. Que suplício. Mesmo aos miúdos já me custa encher de coisas. Têm coisas a mais. Parece que acabam por não se ligar a nada. Gostam de brincar uns com os outros, gostam de jogar à bola, gostam de ler. Tralha a mais é contraproducente. Mesmo que os pais peçam para não os encherem de brinquedos, como as famílias são grandes, acaba sempre por se encher a casa de tralha nova. Tem que se arranjar uma alternativa a este consumismo.

Eu, então, quando me perguntam o que quero, digo que nada. Nada. Só se for também um daqueles pequenos caleidoscópios. Hoje ia a pensar nisto. Quando eu era pequena, numa era em que não havia excessos, era bom receber aquelas bonecas lindas ou aqueles livros que me encantavam. Depois, na era adulta, quando ainda queria qualquer coisa pelo Natal, tive que aprender a lidar com a decepção que quase sempre sentia. Se falava num anel de ouro com dois pequenos corações em marfim, o que recebia era um anel em ouro branco e com um rubi. Se pedia uma moldura de vidro, clássica, o que recebia era uma prateada, moderna. Sempre tudo ao lado. Até que me habituei a não querer nada e a ficar contente com tudo. 

De resto, Natal à parte, estou numa fase em que só me apetece é desfazer do que tenho a mais. Roupa que não me serve e relativamente à qual já perdi a esperança de lá conseguir voltar a enfiar-me, tenho dado à minha filha. E não vejo a hora de ter tempo para uma reformulação profunda de tudo. Nunca serei uma minimalista pois isso não está na minha natureza. Mas incomoda-me o que me parece um excesso. Tal como também não vejo a hora de ter a gaveta das echarpes arrumadinha à maneira da Kondo. Ou o armário onde há dossiers cheios nem sei de quê ou gavetas cheias de papéis que não faço ideia o que sejam, tudo isso está mesmo a pedir reciclagem. Mas como não vou deitar fora à toa, terei que arranjar tempo para ver tudo com cuidado e esse tempo não sei quando será. Mas há-de ser.

Mas, voltando ao tema dos presentes: como presente de Natal, só mesmo se for um hipopótamo. Ou isso ou qualquer outra coisa de inesperado. 



E um bom sábado.

quarta-feira, maio 15, 2019

O Expresso de sábado passado: belos textos
de Pedro Mexia [As bruxas de Allen],
de Tolentino de Mendonça [A mais antiga flor do mundo],
de Ricardo Costa [Um dia a casa vem abaixo]
e até, imagine-se, um bom editorial de João Vieira Pereira [E sobre a educação nada?]


Já no outro dia abordei o tema; agora vou falar dele.

Desde que me conheço, sempre que ia de férias e parávamos na estação de serviço para atestar o depósito, eu comprava uma revista. Comprava a Vogue ou a Art et Décoration, cheguei até a comprar a Hola. Era o que, no escaparate, mais chamasse a minha atenção. Apesar de ir sempre carregada de livros, as férias tinham sempre que começar com uma coisa atípica e ligeira.

Agora, para quatro dias em Lagos, foi a mesma coisa -- só que desta vez a coisa atípica e ligeira foi o Expresso.

Depois de ter sido fiel leitora durante mais anos do que aqui seria decente confessar, fartei-me: o Expresso tornou-se pasquim, coisa sectária e nada rigorosa, instrumento ao serviço de uma agenda que a mim me desagradava demais.

O meu marido desistiu antes de mim. Passei a ser eu, sozinha, a dar a volta àquilo, e cada vez mais contrariada; por fim um exercicio que já mais parecia puro masoquismo. Até ao dia em que decidi: nunca mais. E mandei o Expresso catar-se. Depois disso abri umas duas ou três excepções. E este sábado foi uma delas. Não só, como sempre, me apetecia algo como fiquei curiosa com a capa da Revista: aquilo do Bannon interessou-me. Esta sinistra criatura intriga-me (e assusta-me).

O meu marido é mais firme e radical que eu, recusa-se a tocar no Expresso. Eu sou mais moderada nas minhas antipatias.

Ainda não li tudo e creio que não lerei pois, ao espreitar algumas colunas, vi que continua a ser mais do mesmo, conversa vazia, conversa mascarada de coisa de jeito, treta, manipulação, ainda a mesma desagradável manipulação. Encolhi os ombros e passei à frente.

Mas, verdade seja dita, eu que sou céptica, e ponham céptica nisso, sobre o João Vieira Pereira -- jornalista que se especializou em avisar que vem aí o lobo e cujos ódios de estimação frequentemente toldam a sua capacidade de isenção -- até gostei de ler o seu editorial sobre a crise dos professores ('E sobre a educação nada?'). Fui até ao fim a ver quando é que apareciam aqueles seus velhos tiques de sectarismo mas cheguei ao fim a pensar que alguma coisa nele mudou. Na volta, está mais homenzinho, já vê as coisas de uma maneira mais esclarecida, aprendeu a sobrevoar a espuma e a olhar melhor para a raiz das coisas. Não sei. Não é por um editorial que posso tirar conclusões mas lá que me espantei, espantei. 

De qualquer maneira, concentrei-me na Revista que é aí que habitam aqueles de que mais gosto, e, tenho que confessar, gostei do que li. Sobretudo o Mexia, o Tolentino, e, surpresa das surpresas, o Ricardo Costa. É que, se não me admirei de gostar do Mexia ou do Tolentino, a verdade é que pasmei com a qualidade do artigo do Ricardo Costa.  

E, embora ainda mantendo severas reservas mentais, tenho a dizer que gostei de matar saudades dos bons velhos tempos.

Se um dia me der para isso ainda aqui hei-de transcrever um pouco do texto do Pedro Mexia sobre a perseguição a Woody Allen, 'As bruxas de Allen', texto no qual me revi, e também sobre o belo texto escrito pelo Pde. Tolentino de Mendonça e dedicado a Maria Teresa Horta, 'A mais antiga flor do mundo'

E gostava de ter coragem e tempo para aqui fazer um resumo do bom artigo de Ricardo Costa , 'Um dia a casa vem abaixo' mas temo que isso nunca aconteça pois é um texto longo e todo ele suculento. 

E para atestar a sua qualidade conto-vos que no outro dia à tarde, à beira da piscina, estive a ler o artigo em voz alta e o meu marido, interessado do princípio ao fim, a ouvir. E, volta e meia, interrompíamos para comentar. No fim, ele disse: 'Ora aqui está uma boa coisa: tu lês em voz alta e eu ouço'. E eu disse: 'Ser a tua diseuse, querias...'Mas a verdade é que gostei da experiência. 

Não sei qual a prática do Expresso, se ao fim de algum tempo, os conteúdos exclusivos a quem tem assinatura ou compra em papel ficam abertos. Se ficarem, sugiro a sua leitura. 

Os riscos do populismo, as manobras dessa criatura tenebrosa que dá pelo nome de Steve Bannon, agora apostada em destruir o edifício europeu, as emergentes figuras de ultra-direita em ascensão no panorama político e que ameaçam dinamitar o frágil equilíbrio existente entre os partidos com assento parlamentar, tudo ali aparece fundamentadamente descrito. 

Tinha-me esquecido que Ricardo Costa era jornalista. Afinal é e, se se mantiver como se mostrou neste artigo, arriscarei dizer que é dos bons.

domingo, abril 08, 2018

In heaven em dia de chuva, casamento, Pedro Mexia e culinária





Quando vínhamos para cá, vim a ler o tal livro que, para o fazer durar, ando a ler a conta-gotas, O Leopardo, e, no telemóvel, a entrevista de Pedo Mexia. Gosto de ler o que o Pedro Mexia escreve. Os blogs dele eram dos poucos que eu lia quando ainda pouco contacto tinha com o mundo da blogosfera. 

Quando comprava o Expresso, as crónicas dele eram também das primeiras coisas que lia. Fraco Consolo de boa memória.


No entanto, detesto vê-lo metido naquela pangalhada do Governo Sombra (ou melhor, detesto aquele culto da palermice que é o Governo Sombra) e, por causa disso, parece que acabei por me desengraçar um bocado dele.

Mas gostei de ler a entrevista no DN. É a propósito do seu novo livro e aí, do que percebo, fala de vivências em lugares. 

Imagino-o sentado num café, numa esplanada, num quarto de hotel. Parece que anda sempre carregado de canetas com medo que se lhe acabem. Imagino-o escrevendo, vendo as pessoas, observando o ambiente, anotando as suas impressões sempre condimentadas com lembranças de literatura de várias geografias e épocas.


Mal chegámos aqui, in heaven, fomo-nos ao do costume. Agora andamos a desbastar as aroeiras. Crescem muito, deitam ramos a toda a volta. Acabam por formar arbustos gigantes, enormes esferas verdes e perfumadas. O meu marido serra os ramos baixos, desbasta-as fartamente, eu fico-me pelos mais fininhos, e, enquanto ele se atarefa com os ramos grosso, eu vou levando os ramos para o so called campo de futebol, para depois fazermos uma fogueira.

O cheiro da madeira cortada, o perfume do alecrim, dos pinheiros, tudo me encanta de uma forma absoluta. Penso que talvez me sinta tão bem ali quanto os pássaros que cantam com bem sonora alegria.


Começou a chover ao de leve e continuámos. Sabe ainda melhor sentir a chuva quando se está no campo. E eu pensei que, se calhar, o Pedro Mexia -- que conhece tantos lugares e que já leu tantos livros e sabe tanta coisa -- ainda não experimentou estas sensações, estes perfumes, esta imersão nos verdes, os pés sentindo a terra macia e húmida.
Não se é melhor pessoa por podar árvores, por fazer fogueiras que deixam no ar o cheiro ancestral da queima do mato cortado de fresco e do fumo, por andar com a pele molhada como os bichos que por aqui andam. Mas é tão bom que todas as pessoas deveriam poder experimentá-lo para gravarem no corpo e na alma sensações de tempos ainda não tocados pelo progresso.

Depois começou a chover muito. Abriguei-me debaixo de uma árvore. Mas a chuva era torrencial. Corri para me abrigar no telheiro onde tinha deixado a máquina fotográfica. Fotografei. Devia ter filmado para se ouvir o som da chuva, o som do canto dos pássaros, eufóricos, a minha respiração silenciosa para não perturbar o meu encantamento.


Pouco depois, quando a chuva se foi, começámos a ouvir carros a apitar ao longe, aproximando-se, chegando à estrada lá em cima. O meu marido disse: 'Deve haver para aí um casamento'. E eu pensei: casamento molhado, casamento abençoado. O meu marido disse: 'Será o puto? O neto do vizinho? Já têm filhos mas, se calhar, agora é que resolveram casar'. Não sei. O vizinho já morreu e na casa grande vive uma das filhas e tem-nos parecido que no que era, em tempos, um grande armazém no meio da propriedade, vive agora um dos netos com a mulher e os filhos pequenos. Deve ter feito obras, adaptado o edifício. Mas não sabemos.


Entretanto, começou a ouvir-se música. Surpreendentemente, música dita clássica. Diria que Schubert. Os carros foram parando ao longo da nossa vedação -- e, sem que suspeitassem que lá em baixo estavam dois indígenas de serrote e podão em punho a observá-los, pessoas bem vestidas iam andando na direcção da casa lá de trás, do outro lado da rua, ao fundo.

Parecia que estávamos a ver um inesperado filme. Não ouvíamos o que diziam mas víamos que sorriam, que se cumprimentavam, que iam para o que devia ser mesmo um casamento.

Depois a música silenciou-se. Pensei que deveria estar a decorrer a cerimónia.


Algum tempo depois ouviu-se o Hallelujah interpretado por Leonard Cohen. E as pessoas começaram a vir para os carros e os carros começaram a ir lá para baixo. Presumo que iriam para o copo-de-água. Que eu saiba, não há nada lá em baixo. Há um vale, há o rio, há encostas verdejantes, há casas antigas. Não sei para onde terão ido. Talvez tenham arranjado alguma daquelas casas de pedra cobertas pelos enormes salgueiros que parece mergulharem no rio. Talvez lá tivessem uma lareira à espera dos convidados e talvez tenham festejado ao som de outras músicas igualmente bonitas.


O céu foi ficando limpo, bonito, as nuvens escuras aquietadas. E nós continuámos até anoitecer.

Depois voltámos para casa.

Amanhã há mais.

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Vim fazer o jantar. Tinha trazido uma embalagem com dois lombos de salmão que, entretanto, já tinham descongelado.

Não sabia como fazer porque, na prática, pouco mais tinha. Talvez no forno. Mas depois tive uma ideia. Perguntei ao meu marido: 'O salmão com arroz? O que dizes?'. Disse que podia ser.

Tinha uma única cebola roxa. Num tacho coloquei azeite e piquei grosseiramente a cebola roxa, que era de bom tamanho. Estrugi. Descobri um resto de cabeça de alho, pelo que juntei um dentão do dito devidamente picado. Alourou. Juntei uma folha de louro. À vinda para cá tinha parado para comprar fruta e a senhora deu-me um pouco de salsa. Juntei. Coloquei lá, então, os dois lombos de salmão. Juntei também arroz basmati e o dobro da quantidade de água.

Lembrei-me, então: 'Couves'. Fui lá abaixo, a correr, à horta, já quase completamente às escuras. Estava frio. Trouxe duas couvinhas chinesas.

Estas que aqui se vêem em primeiro plano não são as chinesas, são as portugueses.
As chinesas são as mais claras que mal se vêem, atrás 

Lavei as folhinhas e cortei-as para dentro do tacho. Juntei ainda um pouco de alecrim e de sal. Ferveu. Depois de ferver, baixei o lume. Misturei bem. Quando ficou sem água, desliguei. Os lombos tinham-se desmanchado. Com um grafo misturei melhor para o arroz envolver bem os pedaços de peixe e as tirinhas de couve.

Sem falsas modéstias: ficou mesmo bom.

Lavei uns moranguinhos que trouxe da senhora, daqueles pequenos, não adubados. Comemos como sobremesa. Docinhos e saborosos, a saberem a morango.

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Aleluia.


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Voltou a chover. A madeira dos troncos cortados das minhas árvores arde na salamandra, a sala está quentinha e ouço a chuva no telhado, no chão à volta da casa. A noite vai alta e está-se bem.

A minha filha, que é noctívaga como a mãe, acabou de me enviar um filme sobre Inteligência Artificial e escreveu que eu tinha mesmo que ver. Diz que nada que não se soubesse mas, ainda assim, assustador. Mas a rede aqui é muito má, não se conseguem ver filmes. Vejo amanhã ou depois.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo

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