Mostrar mensagens com a etiqueta Cultura. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Cultura. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, outubro 08, 2024

A Paula Moura Pinheiro já ganhou algum Globo de Ouro?

 

Pergunto porque não sei mesmo. O que sei é que gosto sempre das suas visitas guiadas. Os Globos de Ouro distinguem pessoas escolhidas não sei por quem nem com que critério. E não sei se há outros acontecimentos do género em que se reconheça o mérito artístico ou cultural dos intervenientes no espaço público. Mas, independentemente do meu desconhecimento, penso que Paula Moura Pinheiro pela consistência das suas escolhas, pela forma informada, educada e simpática como fala com convidados que desenvolvem os temas que ela aborda é bem merecedora do nosso reconhecimento. Falo por mim: apesar de, por vezes, achar que os seus trejeitos são excessivamente expressionistas (digamos assim), a verdade é que isso é pormenor, e não apenas nos traz temas diversos, interessantes, sempre bem documentados, como é sempre uma boa companhia.

Talvez por ser uma pessoa tão focada na qualidade do seu trabalho e talvez porque os critérios de alinhamento das televisões privilegiam a parvoíce, o escândalo e a espuma dos dias, mantém-se pela RTP 2 (que é um canal que tem sabido manter-se coerente e interessante) a, por isso, diria eu, até acho que está ali muito bem. Mas merecia maior destaque, maior acompanhamento, maior elogio e agradecimento público.

O programa de hoje agradou-me sobremaneira. Acompanhada por uma pessoa simpatiquíssima, um comunicador tranquilo que adorei escutar, Nuno Soares, um arqueólogo de Arcos de Valdevez, levou-nos a ver as maravilhosas paisagens do Sistelo, do Soajo, os socalcos, os espigueiros, os garranos, as vacas-cabreiras. A cultura é também isto. 

O que aprendi ou relembrei... Que bom. Locais são lindos. Já lá estive mas é daqueles lugares do mundo em que a nossa alma se expande se conseguirmos vê-los como se fossem a primeira vez.

Quantos maravilhosos documentários, talvez para a Netflix ou outras plataformas afins, se poderiam fazer pelo nosso país com a Paula Moura Pinheiro, com o Nuno Soares e com outros comunicadores que, amando o nosso património, sabem como mostrá-lo?

Estou encantada com o que vi.

A quem não viu, sugiro que pesquise na programação de segunda-feira, dia 7 de Outubro, talvez por volta das 22:30, não sei bem, e veja.

E, apesar de presumir que a Paula Moura Pinheiro não seja frequentadora deste meu humilde pasquim, daqui lhe envio os meus parabéns pela longevidade e boa qualidade da sua presença em programas culturais na nossa televisão bem como o meu agradecimento pelo que aprendo e pelo que me delicio a ver o que nos oferece.

domingo, agosto 04, 2024

De onde vêm as fibras mais caras do mundo?

 

Em tempos visitei fábricas em que se produziam fibras sintéticas. Perceber o processo produtivo desde a entrada das matérias primas (derivadas do petróleo) até à saída de fibras macias e coloridas pode ser surpreendente.

Acompanhar o controlo de qualidade e ver o que acontece ao que é rejeitado bem como ver o que acontece aos resíduos líquidos, carregados de químicos, é outra surpresa. Lembro-me de uma grande fábrica fora de Portugal, uma que era considerada um modelo de eficiência e sustentabilidade, e de vir de lá com os cabelos em pé o que me valeu alguns dissabores digamos que diplomáticos.

Outros tempos.

Muitas vezes ignoramos completamente como é feito aquilo que usamos. E, pensando bem, se calhar é melhor assim. Há situações em que a ignorância não nos faz perder nada. Seja como for, é bom que, pelo menos, se saiba que, antes do produto acabado chegar às nossas mãos, muitas vezes há um longo processo produtivo que dá trabalho, e sustento, a muitas famílias.

Mas hoje, aqui, não trago processos industrializados, ou, pelo menos, fortemente automatizados. Trago as origens e o processo seguido desde a origem, seja no mundo animal seja no vegetal, até que algumas das fibras mais caras do mundo cheguem até nós. E se as fibras sintéticas, em que há feroz concorrência, tendem a ter preços baixos, já as fibras naturais podem chegar a preços verdadeiramente exorbitantes apenas ao alcance dos poucos que podem pagar produtos de luxo.

How The World's Most Expensive Fibers Are Made | Insider Art

Communities around the world rely on harvesting some of the rarest known fibers to make a living. But for most, it's not an easy task. Fragile fibers like lotus silk and vicuña wool are so rare that they can cost more than gold. Here's how some of the world's most expensive fabrics — like French Leavers lace, Icelandic eiderdown, and cashmere from Himalayan goats — are made.


Desejo-vos um feliz dia de domingo

sábado, janeiro 13, 2024

A falta que nos faz uma Philomena Cunk...

 

Nos dias em que estou mais cinzenta ou, pior ainda, mais bege, procuro salvação no YouTube. E geralmente encontro-a. 

Uma bacana que gosto sempre de ver é a Philomena Cunk. Imaginem a Paula Moura Pinheiro a fazer programas culturais, geralmente sobre história (mas pode ser também sobre literatura), mas a fazer perguntas completamente desconcertantes. Não que a Paula Moura Pinheiro não seja óptima e não faça programas que são um balão de oxigénio nas nossas experiências televisivas. Poderia era haver uma Paula Moura Pinheiro II, clone da I, que fizesse uma série paralela em que desse cabo dos entrevistados, mas um dar cabo bem disposto, saudavelmente estarola.

Adoro ver o ar sério com que a Philomena faz as perguntas e o ar educadamente desconcertado dos entrevistados que, geralmente, tentam responder não dando parte de fracos e tentando encontrar uma forma inteligente e polida de continuar num registo profissional.

Sinto falta disso na comunicação social. Ou há humoristas escancaradamente humoristas, muitas vezes fazendo tangentes à vulgaridade, ou há aquel@ nov@s humoristas que gostam de se desconstruir e de revelar as suas carências ou taras, tudo condimentado com muito palavrão, uma cena tardo-adolescente para a qual não tenho grande pachorra. 

Mas assim como a Philomena Cunk, que aborda temas culturais mas com uma abordagem geralmente descontextualizada e hilariante mas sem que a sua expressão o demonstre acho que não temos cá ninguém.

Poderia arranjar inúmeros exemplos mas uso o primeiro vídeo que agora me apareceu.

"Moments of Wonder." Philomena Cunk on the Second World War


E um bom fim de semana, ok?


sexta-feira, novembro 17, 2023

E já vão 3 (três!) erros grosseiros e crassos do Ministério Público... Um total fiasco. No entanto, com isto, deitaram abaixo um governo de maioria absoluta.
E... agora Marcelo?
Não manda arrancar os ramos mortos? Vai deixar que toda a Justiça gangrene? Vai deixar que os populistas tenham terreno fértil para medrar?

[E, para desanuviar o ambiente, Fran Lebowitz]

 

Tive mais um dia muito cansativo. Cheguei tarde a casa e sem vontade de ligar o computador ou ver televisão. No telemóvel, espreitei as notícias. 

E, para minha estupefacção, vi que houve mais um erro do Ministério Público: a tão propalada, censurada e debatida/comentada reunião entre Lacerda Machado e Escária com Afonso Salema, então CEO da Start Campus, na sede do PS, no Largo do Rato, em Lisboa... afinal não existiu. O erro denunciado pelos envolvidos já foi assumido pelo Ministério Público. Mais um erro. 

Depois de terem trocado o Ministro da Economia com o Primeiro Ministro, depois de lançarem atoardas e infâmias sobre o envolvimento dos suspeitos através de advogados a redigir uma certa portaria, que afinal nada tinha a ver com o caso -- duas barracadas, amadorismos, incompetências, leviandades (ou má fé) --, eis que aparece mais um impensável erro.

Já parece demais, não é? É assim que o Ministério Público -- destrambelhadamente, irresponsavelmente -- trabalha? É?!

E é com base nestes despautérios sem pés nem cabeça que alguém decide mandar avançar dezenas de polícias para invadir a casa das pessoas, revistar-lhes as gavetas, prendê-los, pespegar tudo nos jornais -- com base em suspeições/acusações que afinal eram infundadas, erradas?

É com base nisto que se deita abaixo um governo (de maioria absoluta)?

E, de cada vez que o Ministério Público manda estas notícias, afinal fake news, para a comunicação social, logo saltam os comentadeiros e as galinhas sem cabeça da oposição, capitaneadas pelo omnipresente Ventura, tudo a saltar em cima a pés juntos, todos dizendo que não se espantam, que era expectável, que é tudo uma cambada -- e... afinal... era mentira. Aquilo que estes descerebrados zés-ninguéns já sabiam, afinal, não existiu.

E, nessas alturas, depois de se saber que foi cometido mais um erro pelos procuradores, onde estão todos os que cuspiram em cima dos que foram visados pelo Ministério Público? Não os vejo. Calados que nem ratos. Cobardes.

E, mais uma vez, pergunto: onde está o murro na mesa que se impõe a Marcelo? Onde está Marcelo a dizer que os ramos mortos da Justiça, nomeadamente a cadeia hierárquica e as maçãs podres do Ministério Público, têm que saltar fora?

______________________________________________

E quando pessoas lúcidas, informadas e inteligentes como Augusto Santos Silva (ASS) vêm pedir explicações aos que fizeram porcaria (porcaria e porcaria a valer), e celeridade a quem tem que desembaraçar o emaranhado que os fora-de-lei teceram, logo aparecem, uma vez mais, as galinhas acéfalas e aos papagaios descerebrados a pedir a demissão de ASS e a lançar confusão. 

E eu, de novo, pergunto: porque não vem Marcelo dizer o mesmo que ASS ou Vital Moreira, porque não vem dar cobertura aos democratas que se insurgem e batem o pé e levantam a voz para defender a democracia, a liberdade e a justiça (a sério)?

_________________________________________________

Mas hoje estou cansada, não me apetece continuar a escrever.

Deixo-vos em boa companhia

Fran Lebowitz's 5 Points of Culture with CpULTURED Magazine


quinta-feira, agosto 25, 2016

"Italianos com 18 anos recebem 500 euros para cultura"
- Isto, sim, é uma medida estruturante que eleva o nível intelectual de um país para um outro patamar







Se há medidas que eu acho que moldam o desenvolvimento de um país, que o tornam mais competitivo, mais rico, mais forte e coeso são as que se relacionam com o ensino, o fomento da capacidade de estudar, de investigar e de ousar inovar, e a defesa intransigente da cultura e de uma visão abrangente e inteligente de tudo o que são valores ou recursos culturais.

Não vejo estas medidas como um custo mas como um investimento. E um investimento de alto e rápido retorno.

Agora -- já aqui aboletada no meu sofá mágico, fresquinho como uma suave barca, apanhando de feição a aragem da noite -- ao folhear os onlines, deparei como uma notícia no DN que instantaneamente me fez ficar rodeada de estrelas. Estrelas virtuais, claro, mas igualmente luminosas e felizes.

Transcrevo, fazendo votos para que Portugal adopte esta ou outra medida semelhante:




Era uma promessa eleitoral de Renzi que, soube-se hoje, começa a tomar forma. 


Foi aprovado o "abono da cultura", isto é, 500 euros que podem ser usados pelos jovens italianos (ou com visto de residência) em atividades e produtos culturais.


Não se trata de um cheque passado em mão a todos os jovens nascidos em 1998, mas de uma aplicação que se descarrega nos telefones móveis, chamada 18app. Uma vez registados, os jovens começa a ter acesso a este plafond. 


O sistema entra em funcionamento no próximo dia 15 de setembro, coincidindo com o regresso às aulas, e é válido até 31 de dezembro de 2017.


Com este fundo de maneio, os jovens poderão aceder a museus, parques arqueológicos, teatros, cinemas, concertos, exposições, mas também livros, segundo o ministério dos Bens Culturais italiano, promotor da iniciativa e, ao mesmo tempo, responsável pela escolha das propostas culturais que farão parte deste pacote.

Dados divulgados pelo ministério da Cultura italiano, a iniciativa deverá abranger 574 593 jovens e corresponde a um investimento de 290 milhões de euros que sairão dos cofres do governo.

O investimento "envia uma mensagem clara: o de uma comunidade que dá as boas-vindas à idade adulta recordando o importante que é o consumo da cultura para o enriquecimento pessoal e para fortalecer o tecido social do país", disse o subsecretário do Conselho de Ministros, Tommaso Nannicini.

No próximo ano, o governo de Matteo Renzi pretende alargar a proposta a todos os professores.


_____

Ao som do Va pensiero da ópera Nabucco de Verdi (1842), aqui interpretado por Pavarotti e Zucchero, para exemplificar de forma rápida a forma como a cultura abre as mentes para a diversidade e para a aceitação de diferentes visões sobre a mesma realidade, apeteceu-me mostrar o mesmo S. João Baptista respectivamente por:
  • Leonardo da Vinci 1513
  • Caravaggio, 1602
  • Giovanni Francesco Guercino (Barbieri), ~1645
E porque a defesa da cultura nacional não deve ser encarada de forma chauvinista, o mesmo S. João Baptista mas agora segundo um francês
  • Rodin, 1878–1880
______


Por isso, alô, alô Tim Tim no Tibete!
Siga o bom exemplo de Renzi e ponha os nossos jovens a apaixonarem-se pela nossa cultura, va bene?

_________

Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma saudável, sortuda e alegre quinta-feira.

___

segunda-feira, abril 18, 2016

Solar dos Zagalos
- ou a prova de que somos um povo que não se dá ao respeito, uma gente que não sabe valorizar o que tem de bom, um País que, na maior passividade, despreza o que deveria abraçar, um País sem visão estratégica.
Parece que nascemos para sermos pobrezinhos e parvinhos. Que raiva.


Pronto. Antes dos gregos já tinha feito uma máquina de roupa, já tinha feito sopa e arroz de frango e já tinha jantado. Ainda antes disso, tinha andado na passeota (e já conto por onde) depois de ter ido ver o mar e, imaginem, ter ido almoçar ao sol, refastelada numa esplanada perto da praia, onde se comem belos pitéus gregos. Justamente: gregos. Agora, depois dos gregos e das gregas, já arrumei roupas e papéis, já arrumei tralha que parece que muda de sítio sozinha, já escolhi a farpela para amanhã, já pintei as unhas (cor transparente) e, portanto, já estou de volta ao batente.

De qualquer forma, quem não seja dado a acompanhar os meus passeios, pode saltar já daqui para a palavra de dois ilustres Leitores cujas palavras relativas ao tema 'as mulheres de Atenas' abrilhantam o Um Jeito Manso.

Agora vou, então, dar conta do que visitei hoje de tarde. Volta e meia, do nada, ocorre-me ir ver qualquer coisa. Desta vez nem sabia se estava aberto ao público e, a bem dizer, nem sabia bem onde era. Mas a internet no telemóvel e o gps no carro levam-nos a todo o lado.

Lá fomos. Solar dos Zagalos. A única vez que, já lá vão uns bons anos, quisemos visitá-lo estava fechado, não me lembro se encerrado para obras ou se naquele dia não era dia de estar aberto. Hoje tivemos sorte.



Um guarda à porta, e um senhor simpático a tomar conta. Quando chegámos, estava uma jovem com duas crianças. Depois não a vi mais. Penso que nem terá ido ao primeiro andar. Mais ninguém. Um espaço imenso apenas para nós. Um desperdício.

O solar é enorme, muito bonito, e está inserido num espaço amplo e ajardinado, com múltiplos recantos, com desníveis, muros, bancos, um lago, ampla vegetação.


Por dentro, praticamente vazio. Em algumas salas umas cadeiras absurdas, cadeiras baratas com estofo verde, despropositadas naquele contexto. Tenho ideia que em algumas salas até cadeiras de plástico havia. 

Em várias salas há necessidade de manutenção, humidades, salitres. Dá muita pena ver um edifício destes neste estado de quase abandono.

Tem uma exposição de cerâmica e, numa das salas de entrada, uma exposição temporária com uma meia dúzia de peças bonitas. E penso que essas salas são as únicas que estão arranjadas de uma forma coerente e com dignidade. 




Contudo, o resto é quase confrangedor. Dói ver salas com aquela beleza, tectos pintados, azulejos, belos soalhos, uma arquitectura digna, e tudo vazio, com ar decadente, alvo da indiferença do mundo.

Diria eu, que tanta coisa banal tenho visto promovida a coisa valiosa, que um país ou um município que tenha a sorte de ter no seu património um edifício como este, se deveria desdobrar em criatividade para poder ter um espaço destes sempre vivo, pujante de actividades.


Aqui deveriam fervilhar artistas, actividades culturais de toda a espécie -- sessões e workshops de dança, sessões e workshops de música de todos os géneros (jazz, rock, clássica, etc), de teatro, grupos de leitura, exposições de pintura, escultura, fotografia, cerâmica, aqui deveria haver um bar com produtos de qualidade, aqui dever-se-iam fomentar encontros, palestras. 

Não haverá alguém que se proponha explorar aquele espaço numa perspectiva cultural? Não haverá fundos para a reabilitação deste edifício? 


O próprio senhor que lá estava me disse que as verbas são curtas e que as prioridades serão outras. Percebo. Entre intervenções prementes a nível de saneamento básico ou intervenção social, entre apoio escolar ou reparação de vias públicas, talvez que a recuperação e a activação cultural do Solar dos Zagalos seja prioridade quase nula. Contudo, esta é sempre a lógica perversa da mula do inglês a quem se foi cortando a ração, cortando a ração, até que morreu, ficando o seu dono pior do que estava antes.


O investimento na cultura, acredito eu e já o disse aqui tantas vezes que temo ser maçadora, é um investimento virtuoso. Este é o tipo de investimento que, sendo bem planeado e toda a sua exploração bem acompanhada, vai pagar-se e ainda gerar receitas suplementares. O turismo será sempre, e creio que cada vez, mais uma actividade económica fundamental para o país. E refiro-me não apenas a turismo nacional que tenderá a crescer mas, sobretudo, ao turismo internacional que vai encarando Portugal como um destino de qualidade, seguro, civilizado.


O tecto da sala de cima : Leda e o Cisne

O turismo de qualidade centrar-se-á cada vez mais em torno de actividades culturais ou na procura de lugares com história, onde exista oferta de 'produtos' de qualidade e serviços abrangentes (lugares para dormir, lugares para comer, lugares para fazer compras, lugares para passear, transportes).


No caso concreto do Solar dos Zagalos, há todas as condições para ser um pólo de atracção cultural. Está perto de Lisboa, perto das praias, perto de um grande centro comercial, perto de hotéis, junto a uma via rápida que dá acesso a auto-estrada, a comboios, a metro de superfície, a barcos, está perto do Convento dos Capuchos que pode ser encarado como outro importante pólo cultural.

E é tão amplo o espaço que, provavelmente, poderia albergar uma residência para artistas ou até um turismo de habitação.



Parte do tecto da capela acima

Bem mais de metade do que ganho vai para impostos e não me ouvem aqui queixar-me disso. Acho que esta coisa pública tem andado a ser gerida com os pés (ou melhor: com as patas) e os obscuros interesses financeiros têm posto e disposto, e feito de nós --  e de todos quantos se apresentam como uns mansarrões --  autênticos gatos-sapatos. Mas os mais desfavorecidos, os desempregados ou os que, por circunstâncias da vida, mais vulneráveis estão não têm culpa disso e têm direito a uma vida digna e a ter as mesmas oportunidades que os que têm tido mais sorte. Por isso, se tenho que trabalhar mais de metade do ano para nem cheirar o que ganho, pois que seja.

Parte do imenso jardim: tirando nós, apenas um homem sentado num banco.
Uma desolação ver um espaço desde sem vivalma.

Agora uma coisa tenho que confessar: custa-me ver como são míopes e pouco espertos aqueles que, de uma forma geral, estão à frente dos destinos do País, aos mais variados níveis, custa-me ver a forma pouco inteligente como usam o dinheiro dos meus impostos, dos meus e de toda a gente.

Ainda não há muito tempo estive em Óbidos. Contei-vos. As ruas cheias de gente, as lojas abertas e cheias, os hotéis cheios, os restaurantes cheios. Óbidos soube apostar na cultura, nos seus monumentos, nas livrarias, nas feiras. E ganhou a aposta.

Mas casos destes não são frequentes. De forma geral, o poder de decisão está entregue a burocratas, a funcionários, a gente acagaçada ou a yes men -- não a gente com mundo, com motivação, com uma visão de futuro ou, simplesmente, com os ditos no sítio (e aqui, não me refiro apenas a cidadãos mas obviamente também as cidadãs que, de forma geral, até os têm em melhores condições que os seus congéneres masculinos).
____


Apesar de tudo, recomendo vivamente uma visita ao Solar dos Zagalos, nem que seja para verem como tenho razão, que é uma pena que aquele espaço não seja revitalizado. Ou para verem se descobrem maneira de pressionar a Câmara de Almada nesse sentido. Ou se têm qualquer outra ideia. E, de qualquer forma, verão que é um lugar muito bonito e com uns jardinas onde se pode estar no maior sossego a descansar, a ler um livro -- ou a não fazer nenhum que também é bom.


_____

Lá em cima, a música era Elegie for Viola and Piano Op. 30 de Henri Vieuxtemps, numa interpretação de Robert Diaz (viola) e Robert Koenig (piano)
_____

Aconselho-vos, ainda, a descer até ao post seguinte e a lerem as palavras de quem sabe do assunto. Dou a palavra a dois Leitores que sabem das Mulheres de Atenas mais do que os que estiveram lá para contar. E se, depois de terem lido o que se segue, ainda pensarem que, a partir do que lá se viveu, se poderão fazer comparações para a realidade actual só vos digo que darei carta branca ao Leitor José Neves para vos dizer que não!!!! até ao fim dos vossos dias. Combinado?

___

domingo, abril 17, 2016

E, no fim, comi um fradinho


Há pouco contei-vos da inteligência que se percebe no olhar dos animais e mostrei-vos o porte majestoso das aves de rapina de Mafra. Vi-as, altivas, nos claustros do Convento que, este sábado, estive a visitar.



Agora estou em casa do meu filho a tomar conta dos meus fofinhos lindos que já estão a dormir já que os pais foram jantar com amigos. 

Antes estive em casa dos meus pais, o meu pai sempre impaciente, com pressa, pressa de jantar, pressa de se despachar, pressa de ir dormir, pressa que eu me vá embora, pressa de tudo, não se percebe porquê mas, enfim, sempre foi apressado e agora, apesar de não ter motivo para ter pressa, continua na mesma. Uma vez, não sei se aqui já o contei, disse à senhora que o lava, levanta e dá de comer: 'Vá despache-se, depressa, vá que eu hoje vou morrer'. Ela desatou a rir 'Oh senhor, então e está com pressa para ir morrer...? Duma destas é que nunca tinha ouvido falar...'. De vez em quando tem destas maluquices. Mas depois, outras vezes, aliás, a maior parte das vezes, tem boa memória e bom raciocínio. Hoje a senhora estava a conversar com a minha mãe e a dizer que a máquina de lavar roupa tinha dado o berro, que, mal a ligava, desatava a fazer barulho e não trabalhava. Pensavam que ele não estava a prestar atenção. Pois saíu-se com esta 'Isso deve ser a correia, ou soltou-se ou partiu-se'. É aleatório, tanto pode dizer coisas normais e estar bem como, sem motivo aparente, estar impaciente, enervado e a dizer palermices. 

A minha mãe estava com dores nas costas mas sempre com os seus projectos, a ensaiar alternativas para fazer um poncho de crochet em linha crua para a neta, às voltas com o seu smartphone (ainda não lhe falei nisto aqui...) e sempre com ideias. Se lá apareço com o cabelo apanhado, não gosta, prefere ver-me com o cabelo solto. Ora eu, ao fim de semana, não me apetece ter nada a moer-me a paciência, nem sequer o cabelo a ir-me para a cara, especialmente se estiver vento. Mas hoje fiz-lhe a vontade, soltei o cabelo. Diz que rejuvenesço dez anos. No fundo, acho que ela se esquece da idade que tenho, gosta de me ver de uma maneira que a faz esquecer-se disso.

Antes de lá ir visitá-los e levar algumas compras mais pesadas, tínhamos estado a passear entre a Ericeira, a zona mais campestre de Sintra e Mafra. Ontem tinha-me lembrado de ir visitar a biblioteca do Convento de Mafra e aproveitámos para andar a passear pela região.


E ainda andei à procura dos antiquários que tinha ideia de serem em Odrinhas e que, afinal, parece que são em Sta Susana mas o meu marido, sabendo o programa de festas que tínhamos pela frente, não quis andar a perder tempo à procura -- fica para uma próxima. 

A Foz do Lisandro

[Entretanto, já estou em minha casa, já estive a cear (quatro morangos com kefir) e, como é costume, já estou cheia de sono. Por isso, terei que abreviar. Ou seja, vou poupar-vos.]

A primeira vez que visitei o Palácio Nacional de Mafra era pequena. Foi uma tortura, salas e salões, enormes, quase vazios, tectos lá muito em cima, uma coisa interminável. Os meus pais queriam ver a biblioteca e a biblioteca ficava lá no fim de tudo. Ao fim de tantos anos, essa primeira imagem ainda está nítida dentro de mim.
É este e é o de Vila Viçosa. Aliás, na minha cabeça, é frequente misturá-los. 
Por isso, hoje tentei ver se já era possível fazer um atalho, ou seja, comprar bilhete só para a biblioteca; mas a senhora disse-me o óbvio: a biblioteca é no fim, para lá chegar tem que se passar por todo o convento. Ou seja, mantinha-se o que, para mim, seria um suplício.


Contudo a nossa percepção das coisas vai-se alterando e desta vez o Convento, sendo mesmo muito grande, já me pareceu de uma escala mais comportável do que aquela que, até aqui, persistia em manter-se gravada na minha memória.


No entanto, tenho que confessar que há aqui, para mim, uma dimensão excessiva, uma certa aridez decorativa (se é que assim me posso expressar), parece que há uma desmesura naquelas dimensões que faz com que se torne um pouco inóspito. Falta-lhe aquela imagem de conforto dos espaços verdadeiramente habitados. Nunca o terá sido a ponto de haver cunho pessoal de forma vivida.

Gostei de ver, e já não me lembrava, a parte das enfermarias e a parte das celas. O edifício é extenso e uma pessoa retém aquilo a que, na altura é mais sensível. Não tinha ideia nenhuma de já ter visto estas partes.

O dinheiro do Brasil era muito e e a obra quis-se imponente, que ninguém se poupasse a esforços. Tivesse eu a cabeça mais fresca e escolheria para aqui uns excertos do Memorial do Convento que o ilustram mas já não dá, estou a precisar de acabar isto e ir dormir.

Por isso, mostro apenas algumas fotografias. Claro que escolhi algumas das partes de que mais gostei. Há tectos fantásticos, há salas bonitas, há corredores lindíssimos no belo lioz rosa e cinza, há quadros de grandes dimensões, há impressionantes candelabros, espelhos, e cortinados que tornam alguns espaços deveras acolhedores, em especial as zonas mais íntimas.







Sala de Música


Candeeiro da Sala de Caça





E a igreja imponente, bela, de uma dimensão impressionante.
Devia ir haver um casamento porque vi estarem a chegar umas pessoas ultra aperaltadas e, não fora o não me poder dar a esses desfrutes dado ter os afazeres inadiáveis de que acima já falei, e teria lá ficado a fazer a reportagem.

Finalmente, então, a Biblioteca. Decepção: só podemos chegar um pouco para além da entrada. Eu queria circular, cirandar, espreitar as lombadas dos livros. Nada. Perguntei à senhora que lá estava a que se devia isso. Respondeu-me que têm falta de pessoal, que não podem deixar circular. Paciência.


As fotografias foram feitas, pois, a partir do exíguo espaço onde me pude movimentar. Mas a Biblioteca é linda, ampla, luminosa, aquelas cores suaves que resultam da pedra, dos livros, do pavimento, das entradas de luz.






É pena que não haja visitas guiadas ao longo dos corredores, varandins e estantes e que não haja leituras de excertos do Memorial do Convento ou música de câmara na sala de música. Mas, enfim, se há área em que está tudo, ou quase tudo, por fazer é na área da Cultura. Tomara que o País acorde para essa imperiosa necessidade.

Seja como for, obviamente gostei muito de revisitar este espaço.

Depois, deu-me a fome e fomos até a uma pastelaria logo ali em frente -- e, sem pestanejar, atirei-me a um fradinho. Retirei-lhe a envoltura e quando o tive despidinho nas minhas mãos, chamei-lhe um figo. Doces mas não muito, húmidos e bem apaladados, os fradinhos comem-se que é uma maravilha. Claro que, com o meu bom apetite e gulosa como sou, estava capaz de despachar meia dúzia de seguida. Mas, enfim, algum comedimento é necessário e, portanto, fiquei-me só por um. O meu marido, que gosta de me ver feliz, ainda sugeriu que os trouxesse eu para casa. Mas não, resisti. Tentações, sim, mas das que não causam grandes estragos. É que com seis fradinhos não sei não, capaz de passar para o tamanho XXL.

No fim ainda olhei para o alto, esperançada que os sinos tocassem. Mas não. Silenciosos. Pena.

______

Lá em cima, cantando, segundo leio no youtube é Myriam Madzalik num Concerto de música de Mozart na Basílica do Convento de Mafra.
___

Mas este post não ficaria completo sem qualquer coisa sobre o Memorial do Convento. Aqui está.

José Saramago - Memorial do Convento


___

E queiram, por favor, descer até às aves de rapina (e a uma recordação minha, sempre tão sentida,  da minha cadela mais querida).

___

sexta-feira, abril 08, 2016

João Soares e as prometidas salutares bofetadas nos dois senhores do Público,
os castiços Augusto M. Seabra e Vasco Pulido Valente
- para mim isso vale tanto como se lhes tivesse prometido umas saudáveis beijocas.
Que Bruno Nogueira nos traga, pois, o Sr. Henrique porque estamos a precisar de uma diversão à séria.


Se os últimos tempos não me têm sido fáceis, este dia, hoje, foi uma coisa do além. E se isto não fosse um diário público, era certo e sabido que me poria para aqui, em privado, a carpir sobre o meu ombro. Como, por pouca sorte, isto dos blogues é uma coisa qualquer que de privado não tem nada, nada mais me resta que não engolir os queixumes e tentar distrair-me com o que gira por aí, pelos ares. 

João Soares - a temível fera que ameaça tratar da saúde
de dois monumentos do Público 
E, por onde ando, de facto qual girândola, o que vejo são bofetadas. Bofetadas para aqui, bofetadas para acolá, e obviamente demita-se, e é o próximo a sair ou não é caso para isso, ou é caso mas não é por isso, e os vapores etílicos -- e, de certeza, as redes sociais a bombar.

À falta de cãozinho abandonado ou de mochilas simbólicas ou de alguém por quem R.I.P. em barda, as bofetadas com certeza que servem muito bem.
Ora não, a malta precisa é de adrenalina para bombar na maior animação.
Augusto M. Seabra, a verrinosa figura que,
na maior das facilidades,
consegue tirar do sério John Macho Só Ares
Fui, pois, tentar perceber o que se passava -- e o que vejo é daquelas polémicas à antiga, um provoca, o outro reage, teimas e zangas antigas, quiçá do tempo dos duelos ou de amigos bem bebidos que se desafiam para uma cena de pancada à porta da taberna, contendedores que se desafiam com adjectivos, impropérios, interjeições e muito riso à mistura, sopapo e canelada, cartas ao director e direito de resposta, os amigos a tomarem partido, as mãos a salivarem para a próxima disputa, a caneta já a pingar de inspirada inquietação enquanto o dono se baba, venham eles, venham eles, quantos são, quantos são?

Vasco Pulido Valente, o tal meliante
que anda
há séculos a pedi-las
(so, John Só Ares say)
E, enquanto isso, nos passeios, as vizinhas, as comadres, as beatas a correrem, na maior afobação, a chamar o polícia e o vigário. Ai que horror, até palavrão já rola na calçada, benza-se prima, benza-se.

Aqui chegada, acrescento: se me perguntarem se João Soares é, para mim, um modelo de virtudes e se dele mandaria erigir uma estátua apolínea para deificar a cultura do meu país, pois vos diria que talvez não.

Mas se me perguntarem se exijo dos ministros que se portem como uma menina acabada de ser ungida pelos sagrados óleos da castidade dir-vos-ei também que não. 

Posto isto, espero que, na Cultura, João Soares cumpra o que é esperado, que dignifique a actuação do governo nos domínios culturais e que o faça com competência e denodo. Tirando isso, se pisca o olho a alguém quando escreve no facebook, se envia beijinhos e abraços a alguns, beijocas fofas às admiradoras ou bofetadas virtuais ao Augusto M. Seabra ou ao Vasco Pulido Valente é coisa para cujo lado melhor durmo.


Só tenho uma sugestão a dar ao nosso ministro: que, quando voltar a desafiar os seus adversários na polémica, faça uso do seu estilo erótico (onde francamente tem mais graça). Insinue práticas dangereuses, proponha desaforos, junte personagens perigosas, e uma ou outra faca na liga -- apimente a prosa, vá. Mostre que é homem (de letras).

___

E, entretanto, acabo de ter uma má notícia. É que acabo de ver António Costa a pedir desculpas aos dois ofendidos e informando a comunidade que já recomendou aos ministros que nem no facebook nem à mesa do café deverão soltar a franga ou a fera que têm dentro deles. 


Podemos, pois, descansar. Já não teremos bengaladas, bofetadas, traulitadas, besteiradas. Afinal vivemos na era dos smiles e dos gatinhos fofos. As tiradas queiroseanas já não moram aqui.

____

E, assim sendo, nada mais tendo eu a declarar e pouco mais havendo a dizer sobre tão exígua farrinha, coisa de funfuns, gaitinhas e nada mais, chamo o Bruno Nogueira e peço que traga o Sr. Henrique. Esses, sim, são uns verdadeiros pândegos.

Arraial Gay Pride


Lado B
...

Já agora, ponhamos os olhos na idades dos cultos senhores que tão saudável beligerância mostram:

João Soares - 66 anos
Vasco Pulido Valente - 74 anos
Augusto M. Seabra - 60 ou 61 anos bem aviados
....

terça-feira, março 15, 2016

Arouca, a vila, tão bonita, tão bem cuidada. E o bem que lá se come (e tanto!).


Nos posts lá mais para baixo falei da Serra da Freita e dos prodígios que alberga e antes já tinha mostrado vistas deslumbrantes e animais em plena liberdade e, depois, falei de igrejas, santos e irmãzinhas em Arouca. Mas ainda não mostrei a vila em si. Não quero ser maçadora mas, às tantas, com tanta fotografia e tanta conversa, estou mesmo a ser.

E, aliás, estou com vontade de ir já ver as fotografias da minha expedição aos Passadiços do Paiva para escolher algumas para aqui. Mas parece que cometo uma injustiça se omitir referência à elegância e à tranquilidade desta bela vila. Por isso, mesmo correndo o risco de molestar a vossa paciência, vou mostrar algumas das fotografias que lá fiz.

Numa moradia, na avenida principal, vi várias esculturas junto à entrada. Penso que seja uma moradia particular. Mostro apenas estas mas há lá mais umas quantas e todas bonitas.



Há vários edifícios do género deste aqui abaixo, muito elegante, coberto de azulejos. Olho e imagino que tenham chão de soalho e que o sol encha de sol a sala e os quartos e que seja muito bom lá estar a ouvir os pássaros.
Esta segunda-feira acordei com um pássaro a cantar, trinados exuberantes, coloridos.

Para quem, como eu, já só compra carne (e pouca, cada vez menos) nos talhos do supermercado, é com curiosidade que vejo o destaque dado a um talho como este aqui abaixo, situado no rés-do-chão de um edifício tão bonito na avenida principal. Penso que os talhos aqui devem ser lojas importantes.


A propósito de talho: as pessoas aqui comem uma tal quantidade de carne...! Ou então é cá em casa que se come pouca.

No domingo à noite, vi que havia arroz de miúdos e este é o género de comida que me dá logo vontade de provar. Custava 5 euros a dose e eu pensei que viria uma travessita com um arrozinho com fígados, moelas e um ou outro coração e que era o indicado já que à noite gosto de comer pouco,. Pois bem. Quando vi nem queria acreditar: veio um tachão de barro, cheio! Um belo arroz malandro, escuro, com miúdos que não acabavam e, imagine-se, até com várias patas de galinha! Claro que sobrou metade, no mínimo. Mas que bom que estava, que bom, cheiroso, saboroso. Deu-me pena lá deixar aquela comida toda mas já não consegui - mas, senhores, haverá alguma alma que consiga bater-se, sozinha, com uma tachada daquelas...?

Esta segunda feira, depois da expedição aos passadiços, voltámos a Arouca e fomos a outro restaurante. Desta vez, optámos os dois pelo mesmo: vitela no forno, com batatinhas também assadas e feijão verde. Havia meias-doses e uma dose; pedimos uma dose para os dois.

Pois, já se sabe: uma quantidade brutal! Um tabuleiro de barro, cheio! Muito boa, aquele saborzinho bom da comida de forno, mas, senhores, tanta carne, tanta, e tantas batatas. E, à parte, uma tigela cheia de arroz. E, para nosso espanto, a meio da refeição, o dono veio perguntar se estava tudo bem, se queríamos que ele trouxesse mais um naco ou que mandasse grelhar uma posta. Que não, que estava muito bem assim, dissemos espantados. E ele, que víssemos, que estivéssemos à vontade, que ele trazia. No fim, ainda vários bocados de carne no tabuleiro, eu incapaz de comer mais e com vergonha que, depois daquela conversa, ainda deixássemos comida no tabuleiro. O meu marido lá se esforçou mas, mesmo assim, ainda lá ficaram bocados de carne e não sei quantas batatas. E o arroz quase todo. Não dá para acreditar o que aquelas pessoas devem comer...!

Mas uma outra coisa chamou a minha atenção. À entrada do restaurante havia uma cesta com livros e uma espécie de jarra com folhinhas de papel com poemas. Fiquei intrigada -- mas por pouco tempo pois na parede de entrada estava este cartaz:


Achei a ideia muito interessante e aqui a divulgo. O País seria outro se a população tivesse outros hábitos de leitura. A escrita é uma porta de entrada para outros mundos.


Aliás, Arouca é uma terra que, por apostar na cultura e na divulgação do património natural, religioso e cultural irá certamente atrair muita gente para a conhecer, e isso, se for feito de forma inteligente, é bom para as terras, desenvolve-as sob todos os pontos de vista.


No domingo encontrámos muita gente na rua. Esta segunda-feira já nem tanto mas é uma terra viva, com muitos jovens (a escola que se encontra nessa avenida é enorme, vista de fora, muito bonita, tem uma escadaria larga e os edifícios são um espanto; terão sido arranjados ao abrigo do Parque Escolar?), com fábricas em redor, com as terras muito cuidadas.


E as casas estão bem preservadas, vê-se que há gosto e cuidado e que há valorização da sua história. E os jardins estão muito bem tratados, as árvores estão floridas e há muitos amores-perfeitos nos canteiros, e eu não pude deixar de me lembrar que o meu pai, até não há muito tempo, plantava sempre amores perfeitos no canteiro do jardim da frente da casa e havia assim como estes, amarelos descarados mas, também, em cor de vinho, um vermelho profundo, quase negro e outros roxos, lindos. Eu preferia os roxos, de veludo.

Tinha uma professora de português de quem gostava muito, já falei dela aqui, a Profª Joana Meira, e, eu que nunca fui de gestos desses pois temia que parecessem bajulação, mais que uma vez lhe levei pequenos bouquets de amores-perfeitos. Acho que ela merecia isso e muito mais. Foi a melhor professora que tive.


E, só para terminar, repito-me: toda a vila vive como que num berço ao sol pois está rodeada de montes onde as casas estão dispostas em socalcos, pelas elevações acima, entre árvores, com igrejinhas pelo meio, tudo tão bonito que quase parece uma paisagem a fingir, perdida no tempo. Mas não, são casas vivas, numa paisagem cheia de luz.


E agora vou ver se escolho algumas fotografias dos passadiços. Mas não deve ser tarefa fácil porque as fotografias são mais que as mães e, of course, antes de escolher, tenho que vê-las o, e só de pensar nisso, a esta hora, já me parece missão quase impossível. Ou seja, a ver se consigo fazer um post ainda hoje ou se fica mesmo para amanhã. 

Agora já estou em casa. Tirámos apenas um dia de férias o que, junto com o domingo (porque no sábado tínhamos afazeres, obrigações e devoções), nos pareceu uma temporada à maneira. Mas a verdade é que, com isto tudo e com o dia que me espera esta terça-feira, não sei se vou conseguir ainda fazer agora um daqueles estirões. Mas, vá, vou deixar-me de conversas e vou à luta.
____

E, continuem, por favor que, por aí abaixo, há agora as igrejas e os santinhos.

E, para quem queira depois, como eu fiz, visitar os passadiços, faça favor: é aqui.

..

sexta-feira, novembro 28, 2014

O palco aos grandes do meu País e ao que é grande no meu pobre País. Fado e Cante Alentejano são ambos Património Imaterial da Humanidade. Carlos do Carmo e os Cantadores Alentejanos.


Quando ouvi que a UNESCO tinha reconhecido o Cante Alentejano como Património Imaterial da Humanidade fiquei feliz e, como ando em maré de emocionar, deixei que as lágrimas me chegassem aos olhos assim que ouvi aquela boa gente a cantar.


É um canto que tem raízes na terra e que brota da alma das pessoas.

Gosto muito de ver e ouvir aquela gente, em comunhão, unida no canto tal como se une perante as adversidades da vida ou se une para festejar os momentos felizes.

O Alentejo é especial e belo em todos os meses do ano e as suas gentes, pelo menos as que conheço, são genuínas, francas, gente com quem se está sempre muito bem - e o seu canto é o espelho do Alentejo, da sua cultura despojada e das suas gentes.




Festas das Cruzes - Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento



Pudesse eu fazer uma grande, grande festa, juntando todos os meus Leitores (... bem, todos não, só os que não me insultam e gostam de por aqui passar), e teria como convidados Cantadores Alentejanos para nos irmanar a todos, não apenas entre nós mas também entre nós e a terra.


Mas convidaria também um Senhor que engrandece Portugal: Carlos do Carmo.

Há dias Carlos do Carmo subiu ao palco grande do mundo do espectáculo e, dedicando-o aos portugueses, recebeu um Grammy. Não é coisa pouca e é uma honra que alguém que se tem mantido fiel à sua arte, à tradição do seu País, leal às suas convicções, veja reconhecido o seu talento desta forma tão brilhante.


Já antes tinha dado a cara aquando da bem sucedida candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade de que foi grande impulsionador. Portugal deve-lhe muito. Faz mais pelo prestígio de Portugal do que mil Cavacos Silvas* ou Paulos Portas - mas, enfim, não quero agora falar desses vendilhões da Pátria que por aí andam a vender o meu País dizendo que tem sol, mulheres bonitas e uma companhia aérea em cima da mesa.


Adiante.

O vídeo que convosco partilho aqui abaixo é muito bonito, muito íntimo, Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti a nu, vivendo em sintonia e total entrega a beleza da música.



Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti na gravação da música "Cantigas do Maio" 


......


Já agora, os azulejos são outra das maravilhas do património artístico de Portugal. 

Estes que usei neste post encontram-se no Palácio dos Marqueses da Fronteira - de que aqui já falei a propósito de um maravilhoso dia de fim de verão em que festejámos o lançamento de um novo painel de azulejos da Paula Rego e de um livro conjunto, dela e de Antonio Tabucchi - , palácio habitado até há pouco por outra figura ímpar da cultura portuguesa, Fernando Mascarenhas.


____


Caso vos apeteça um pouco de humor negro envolvendo Passos Coelho, alentejanos, porcos e motoristas, e os Cavacos vendendo Vistos Gold desçam, por favor, até ao post seguinte.


----