sábado, abril 30, 2022

O sentido da vida e outras questões profundas

 


Uma das amigas da minha mãe está hospitalizada. Estávamos a falar dela, da sua permanente calma perante todas as situações da vida, da sua incrível resistência perante as doenças que tem tido ou perante as perdas que sofreu. Dizia-me a minha mãe que nunca a viu enervada ou preocupada e que deve ser por ser assim que tem a idade que tem e ainda vive sozinha e na boa. Fisicamente faz-me lembrar a Helena das Avós da Razão que é um ano mais nova que ela. Eu estava a aconselhar acompanhamento, a minha mãe que a convencesse a ter alguém em casa que a ajudasse, e a minha mãe dizia-me que ela é muito independente, não quer ninguém em casa. E acrescentou: deve pensar que se cair em casa e morrer, qual é o problema?

E eu disse que, vendo as coisas sob essa perspectiva, cair e morrer, até que não é coisa má de todo. Pior é quando se anda a sofrer. A minha mãe concordou mas disse que, quando pensa nisso, pensa que tem pena de morrer. Eu disse que temos que ter presente que ninguém fica cá para sempre, isto é uma passagem, chegamos, estamos e depois vamos. Ela disse que eu digo isto porque ainda sou nova. Ri-me. Nova? Está bem, está. Mas, nova ou velha, é isto mesmo: é bom enquanto dura. E um dia acaba e está acabado -- e é mesmo assim. 

Por acaso estava a falar enquanto estava a andar lá em baixo, no meio das árvores, sozinha. Se o meu marido estivesse por perto passava-se. Este tipo de conversas tira-o do sério. Conversas da treta. 

Mas, por acaso, acho mesmo que não devemos apegar-nos à vida como se acreditássemos que ela fosse eterna. Acho justamente o contrário: devemos apreciar e agradecer cada momento por sabê-lo efémero. E, tirando isso, gosto de me sentir desapegada, sempre pronta a partir. E não gosto de me despedir. Gosto de pensar que nada é definitivo, mesmo que o seja. Saio de alguns lugares sabendo que provavelmente lá não voltarei e, ainda assim, não me despeço, penso que sabe-se lá. E, mesmo que pense que não voltarei a ver aquelas pessoas, também não me importo. Saem uns da minha vida, entram outras. É um contínuo. E se já deixei para trás pessoas importantes na minha vida a verdade é que guardo em mim memórias boas, que não se degradam.

E estou com estas conversas quando temas assim devem é estar reservados a almas que se movem bem nas profundezas, sei lá, filósofos, segismundos, literatos, almas torturadas. (E, calma, o que atrás enunciei não são sinónimos)

Eu, como é sabido, sou uma dondoca que gosta é de dizer coisas e que tem uma certa queda por maluquices. Por exemplo, vi estas imagens que aqui estou a colocar de uma pessoa que dá pelo nome de Varkey e achei um piadão. Não têm nada de nada a ver com o que para aqui estou a escrever mas assim é que está bom, nada a ver com nada e tudo a ver com tudo.

Enfim. Nada mais tendo a acrescentar, cedo o passo a quem sabe. Que entrem as Avós da Razão


SENTIDO DA VIDA E A MORTE | Avós 181


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Olena Gnes, uma das muitas mães-coragem que resistem na Ucrânia

 

Não tenho palavras para expressar a minha admiração pela coragem e pela determinação de todos os que, debaixo de um céu que lhes traz bombas e mísseis, muitas vezes sem água, sem luz, muitas vezes vivendo dias a fio em abrigos, amontoados, sem ar fresco ou qualquer conforto, continuam a dizer que aguentarão até que a Rússia seja expulsa, até que a Ucrânia vença a guerra, até que volte a paz ao seu país.

Durante muito tempo Anderson Cooper conversou remotamente com uma jovem mãe. Agora foi, finalmente, visitá-la. Com os seus três filhos, um dos quais bebé, com o marido a lutar pelo país, Olena faz das tripas coração e continua a sorrir enquanto tenta que os filhos tenham uma vida tão normal quanto possível. Mas diz com determinação: não nos esqueceremos e não perdoaremos.

Tenho pena que o vídeo, tal como outros que aqui tenho partilhado, não esteja legendado mas, ainda assim, aqui fica.

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Anderson, depois de andar a falar com Olena Gnes há meses, finalmente encontra-se com esta mãe ucraniana que tem vivido em abrigos em Kyiv 


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Desejo-vos um bom sábado
Alegria. Esperança. Paz.

sexta-feira, abril 29, 2022

Por muito que os Segismundos e os Pachecos desta vida desvalorizem o que está a passar-se...

 


Não há para mim qualquer dúvida de que, na Europa, estamos a viver um período dramático, sangrento, impensável e muito perigoso. Bem podem os Segismundos e os Pachecos desta vida invocar todas as guerras desde que o homem começou a equilibrar-se em duas patas para desvalorizar o que está a acontecer que continuo a colocar-me ao lado dos que se sentem revoltados, nauseados e assustados com o que está a passar-se.

A Ucrânia está a ser desfeita e não se vê como vai isto acabar. Desde bombardeamentos sistemáticos, cercos para matar à fome e à sede os sitiados, pessoas a serem deportadas à força para a Rússia, a outros que, na Ucrânia, estão a receber passaporte russo, todas as formas de intimidação, desrespeito e esmagamento estão a ser levados a cabo. A bandeira da Rússia está já a ser hasteada em alguns locais da Ucrânia e, nas escolas ucranianas, a língua ucraniana está a ser substituída pela russa. Acho tudo isto miserável, canalha. Para além de ser um psicopata mitómano, brutal e assassino, Putin é também um canalha, um bandido que nem parece gente.

Alertam-me: e é só Putin?

Não. Não é só Putin que é assim. É ele e todos os que o apoiam.

E, por muito que queira alhear-me da posição comunista portuguesa, não consigo. Condenam que os ucranianos não se tenham rendido aquando da primeiras investidas russas, condenam os ucranianos por terem querido continuar a ser ucranianos, livres. Condenam os americanos por ajudarem os ucranianos a defenderem-se. Invocam mil argumentos para justificarem que não aceitam que a Ucrânia precisa e merece ajuda, respeito, admiração. 

Acho esta posição do PCP uma posição hipócrita, miserável. 

Note-se que acredito que nem todos os comunistas pensem assim. Acredito que, devido a esta posição do partido, muitos comunistas se afastem.

Penso sempre no que fariam as pessoas que seguem a linha ortodoxa e incompreensível do PCP se a Rússia um dia resolver invadir e destruir Portugal. Condenarão os que quiserem defender o país? A pretexto da paz, defenderão a rendição? Se estivermos a ser reduzidos a pó, as nossas casas desfeitas, se as suas próprias mães, mulheres e filhas estiverem a ser violadas por soldados russos, se as suas famílias estiverem a ser dizimadas pelos russos (russos esses que, depois de espalharem o mal, serão condecorados por Putin), essas pessoas, em vez de condenarem Putin, condenarão os que resistem e sofrem e imploram por ajuda? E condenarão os americanos por estarem disponíveis para nos ajudarem?

Essas pessoas condenam os Estados Unidos por terem ajudado a Europa nos tempos de Hitler?

Se calhar, sim. 

Não percebo. 

Nada do que dizem me faz sentido e tudo o que dizem me deixa incomodada. E parece que todos os dias há mais qualquer coisa que me deixa perplexa, revoltada.

A forma provocadora como Putin actua, de puro banditismo, coisa de gente desaustinada como se fosse um bando de marginais, fora-de-lei, alucinados, é de loucos. Penso que será certamente incontornável que o assunto acabará por ser resolvido internamente, pela própria Rússia. O pior é o tempo que isso ainda demora e o que o assassino fará entretanto.

Faz-me mal ler ou ver o que vejo na televisão ou nos vídeos. Não há notícias boas, não se antevê uma luz de esperança. Pelo contrário, parece que as coisas ainda poderão piorar antes de, um dia, começarem a melhorar. Quero acreditar que o animal desvairado não atacará outros países mas, sentindo-se perdedor (como certamente se sente), há-de querer vingar-se ou fazer alguma porcaria da grossa para, internamente, fazer de conta que está por cima.

E ainda estamos sobretudo a falar das perdas imensas directamente resultantes da guerra. Mas advirão, não haja dúvidas, perdas igualmente dolorosas a nível económico e, portanto, sociais.

Uma desgraça muito grande que nos está a atirar para as portas do inferno.

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Ex-Russian bank executive explains what he thinks will stop Putin

Former bank executive Igor Volobuev left Russia to fight for his native Ukraine. He explains what he believes will stop Russian President Vladimir Putin


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Desejo-vos um dia tão bom quanto possível
Esperança. Força. Saúde. Paz

quinta-feira, abril 28, 2022

Varrer, podar, fotografar



Acabei de fazer zapping por todos os canais portugueses. Nas telenovelas portuguesas nem paro, não tenho pachorra. Em quase todos os demais vi gente com um certo ar de maluquice. Cada um fala de sua coisa, desde cantigas, a economia ou política, mas alguns estão com olhos demasiado abertos, outros falam como se quisessem convencer-nos que são inteligentes e há um que tem um cabelão de impor respeito, um ceo de uma coisa com nome curioso. Não sei porquê mas tenho para mim que saíram de algum ninho de cucos. 

Não sei se por isso, não consigo estabilizar em nenhum. Não estou com cabeça para tanto. 

Estou é a pensar se a mangueira que trouxemos encaixará bem na torneira que está ali do outro lado. É daquelas que parece uma serpentina e não sei se estica até onde quero. Em vez de regar os vasos com regador, seria bom regar com mangueira. Como me fio sempre na virgem, encho o regador até acima a fim de minimizar o número de idas e vindas. Mas o regador cheio leva dez litros. Ora andar cá e lá com dez quilos nas mãos, às vezes deriva para uma tendinite no ombro sacrificado. O meu marido hoje, a propósito de ser difícil darmos cabo de tanto mato, disse: 'Sabes o que é? Se calhar já não temos idade para tratarmos de tudo sem ajuda'. Fiquei a olhar. Temos tanta como antes. Não é uma questão de idade ou não idade. 

Não quero é que me arranquem os orégãos ou o rosmaninho ou o alecrim e já sei que se contratamos alguém para arrancar o mato tenho que pôr o coração ao alto pois já sei que vai tudo à frente. Conversa mais recorrente... Todos os anos por esta altura temos esta divergência.

Enfim.

Também tenho que arranjar adubo para citrinos porque as laranjeiras aqui, in heaven, também estão bem precisadas. O limoeiro já se foi e as laranjeiras estão desvitaminadas, fraquinhas.

As nêsperas ´que já estão razoáveis. Apanhei umas poucas, ainda não demasiadamente douradinhas mas já comestíveis. Perguntei ao meu marido se queria e respondeu: 'Devem estar boas... Pela cor... Come-as tu se achas que já estão boas'. É um céptico.

Certo, certo é que varri bastantes folhas, caruma, bolotas. É das coisas que gosto francamente de fazer: varrer. 

O balde grande com rodas agora está com lenha e, por isso, tive que pôr o que apanhava num balde simples, dos das esfregonas. Não rende nada. Tive que fazer não sei quantos trajectos para o despejar. Agora estou aqui a escrever e sinto as mãos um pouco doridas. Alma de camponesa, maozinhas de princesa (vá, Segismundo, ria-se, ria-se...)

Por vezes o acto de varrer é, sobretudo, uma animada coreografia entre a vassoura e o urso peludo que acha que a vassoura é um ser de outro planeta que está ali só para o desafiar. Ladra, salta, quer apanhá-la, finca-lhe. Uma luta.

Para ele isto é o seu elemento. Anda à solta, à larga, à chuva. Claro que depois chega a casa, molha o chão, molha os tapetes e, pior, molha os sofás. Aliás, o pior não é isso, o pior é outra coisa: o pior é que não consigo zangar-me com ele. 

Tenho um coração de manteiga, é o que é.

Supostamente estamos de férias. Mas as férias são bem tão raro que as aproveitamos para fazer tudo o que nos outros dias não conseguimos fazer. Portanto, não descansamos. 

Hoje, a seguir ao almoço, repimpados naquele sofá em que não chego com os pés ao chão mas que se reclina e se transforma numa coisa que me deixa a dormir, pimbas, deixei-me mesmo dormir. 

Mas logo, logo, logo a seguir, tocou o telefone e, ao meu lado, uma conversa sobre os grandes problemas existenciais (estou a gozar... eram problemas bem materiais) despertou-me. Ainda tentei voltar a pegar no sono mas outro tema da máxima relevância assomou à minha mente: onde estaria o podão pequeno, aquele jeitosinho, para ir desbastar os rebentos ladrões das azinheiras? 

E não descansei enquanto não me levantei para ir à procura. Não encontrei. 

O pior é que, ao estar na despensa à procura, rocei com o cabo de um podão gigante numa caixa de ferramentas que caiu ao chão e se entornou. Ora é sabido que entornar-se uma caixa de ferramentas é pior que entornar azeite: não se dá apanhado. Apanhei de arrastão parafusos, pregos, roscas, buchas e toda a espécie de pequenos objectos... e tudo lá para dentro. Nem quero pensar quando o meu marido vir aquilo. É que acho que, de manhã, quando estava a chover e não podia estar a dar cabo do tojo e das sílvias (que é o que ele chama às silvas), tinha estado a arrumar a dita caixa. Mas deve tê-la deixado meio de fora da prateleira, em desequilíbrio. Digo eu (para me desculpar por tê-la atirado ao chão).

Resumindo: andei a podar azinheiras com um daqueles podões que têm umas pegas telescópicas. Não dá jeito nenhum. Mas, enfim, como gosto de podar, andei de gosto. 

Já contei -- não contei? -- que, para mim, podar árvores é como aparar cabelo, coisa que, com a minha veia de cabeleireira frustrada, estou sempre pronta para passar à prática.

E é isto. Nada mais a declarar. Pouca televisão, poucas notícias, tentando não falar do que me atormenta, tentando não ir espreitar os mails, tentando preparar-me para ir dormir. Férias. In heaven.

Antes de me ir, partilho apenas o que tenho estado a ouvir. A voz da Bethânia pega bem nas palavras do Nandinho.

"Meu coração não aprendeu nada" 

| Fernando Pessoa | Maria Bethânia


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Um dia feliz (na medida do possível, claro)
Esperança. Força. Saúde. Paz.

quarta-feira, abril 27, 2022

Será que Putin pode mesmo vir a carregar no botão nuclear?
-- Fiona Hills responde e eu, que opino mesmo sem pedirem a minha opinião, digo de minha justiça

 


Há muito de louco neste nosso mundo. Dá ideia que surgem ameaças de onde e quando menos se espera e não são ameaças que se possam levar a brincar.

Quando apareceu o corona, virando o mundo de pernas para o ar, ao princípio ninguém o levava muito a sério. E, no entanto, tantas são as alterações na evolução natural e no habitat equilibrado das coisas (vírus, animais, pessoas) que a probabilidade de alguma coisa correr mal não é despicienda. Isso e a globalidade, isso e a dependência alheia em sectores vitais, isso e toda a vida maluca que fomos construindo, isso e toda a nossa vulnerabilidade.

Agora temos a guerra a ameaçar a tranquilidade e a vida tal como a desejamos na Europa. E, no entanto, os sinais também estavam à vista. Um regime que se foi progressivamente tornando mais e mais totalitário, refém de um mitómano, narcisista, psicopata. Não é só ele. Há, em sua volta, os saudosistas do grande império, aqueles em cujas veias ainda corre o sangue medieval, a barbárie, o gosto por esmagar os mais pequenos e indefesos. A Europa acreditou que o tempos da guerra fria  estavam acabados. Quisemos acreditar no pacifismo (eu quis, eu quero) e esquecemos que somos alvos fracos quando indefesos à mercê de malucos.

Assistimos impotentes à destruição de um país por outro que o quer dominar. Há ainda quem ponha o invadido e agredido no mesmo patamar de culpa que o invasor e agressor. Gente cega ou hipócrita. Putin e os tresloucados que o rodeiam querem restaurar a União Soviética e voltar a ter nas mãos um império de gente esmagada pelo medo, pela pobreza. Começou por tomar uma parte da Ucrânia e, perante a justa resistência dos que não aceitaram ceder parte do território e ficar subjugados pela tirania, resolveram avançar para tomar o resto. Matam, destroem, esmagam, reduzem a pó, afugentam e matam a população. Agora já almejam avançar para a Moldova. 

E nós assistimos, assutados. Não podemos fazer muito pois a Ucrânia não pertence à Nato e se a Nato intervém declaradamente a Rússia pode carregar no botão nuclear. 

Na verdade somos nós, europeus, que estamos a ser ameaçados pois seremos o primeiro alvo se Putin resolver mostrar a sua força. E aí poderá ser o fim do mundo ou, pelo menos, fim de parte do mundo e há quem diga que, nessas circunstâncias, melhor será que seja todo o mundo.

Tanto pensamento, tanta sociologia, história e filosofia, tanto conhecimento, tanta biologia, física e química, e, no entanto, perante, a ameaça de um doido, estamos todos impotentes.

Tenho esperança que uma frente unida de países consiga conter o assassino mas já me enganei tantas vezes. Não acreditava que estivéssemos reféns de um corona durante dois anos. Acreditava que a ciência encontraria antídoto a sério mais rapidamente. E, no entanto, estivemos. Não acreditava que Putin voltasse a invadir a Ucrânia. E, no entanto, isso aconteceu.

Por isso, é com preocupação que vejo o tempo passar sem que a China se demarque claramente da loucura da Rússia, sem que a Índia dê claros sinais de não apoiar os actos criminosos de Putin.

Dentro de mim, os meus genes optimistas teimam em dizer que não tarda o Putin é apeado, a entourage putinista é afastada e novos tempos se aproximarão, tempos de democracia e liberdade para a Rússia e tempos de aproximação entre os povos. Não sei se é uma intuição se um sonho mas quero crer que seremos capazes de travar a destruição do planeta e, em conjunto, trabalharmos no sentido de um mundo melhor, um mundo que invista as suas forças e a sua criatividade nas artes, na ciência, na paz.

Mas não tenho a certeza que os meus genes não sejam optimistas --- pode ser que sejam, isso sim, malucos, alienados, fora de prazo.

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Mas mais vale dar a palavra a quem sabe do que fala. 

Could Putin go nuclear? | Fiona Hill

"Of course he would!," says US national security council former adviser Fiona Hill, adding that he "is making the world unsafe for everyone."

Fiona Hill speaks to Times Radio about meeting Putin, why the Russian president would not hesitate to use nuclear weapons and how she sees the evolution of the war.


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As imagens mostram as respostas obtidas ao desafio de imaginar como se poderiam reconstruir alguns dos edifícios ucranianos destruídos pelas tropas russas -- RecreateUA

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Um dia tão bom quanto possível
Saúde. Melhores dias. Esperança. Força. Paz

terça-feira, abril 26, 2022

Fotografias enigmáticas, uma voz de veludo, duas casas extraordinárias e acho que pouco mais

 



Estou a modos que de ressaca e, a bem dizer, nem sei bem porquê porque o sábado e o domingo foram descansados. Às vezes penso que me seria benéfico fazer uma cura de sono. Não precisava de ser nada de muito elaborado. Bastava poder ter uma semana sem ter que pôr o despertador, sem ter que ir aqui, ali ou acolá, sem ter que fazer isto, aquilo e aqueloutro. Esta segunda-feira, dia bom por todos os motivos, inclusivamente por ser dia de descanso (dia de descanso é sempre bom mas coincidir com uma segunda-feira é bom demais), poderia ser um desses dias. Mas não -- e o estúpido é que por nenhuma razão em especial. 

Não pus despertador para ver se punha o sono em dia. 

Mas fiz mal pois fiquei com a preocupação de acordar tarde demais. Não que tivesse muita coisa que fazer mas, apesar de ser dia de descanso, se começasse tarde demais, tudo se atrasaria. E, por isso, acordei cedo demais.

Para além da caminhada, tinha que pôr adubo nas laranjeiras, no limoeiro e na limeira. Depois de aplicado, regar. Depois fazer uns pagamentos. Depois arrumar umas coisas para levar para o campo. Depois almoçar. Depois ir ao supermercado. Depois ir visitar a minha mãe (que continua a levar a sério a sua reciclagem em inglês e faz páginas e páginas de exercícios gramaticais e vocabulares). Depois ir para o campo. Depois... 

Até que, à noite, cheguei ao sofá e, claro, logo me deu o sono.

Inclinei a cabeça para trás, que é o que faço quando o sono me dá com força, e, de imediato, senti que estava a adormecer. Eis senão quando o meu marido me perguntou: 'O que é que aconteceu?'. Abri os olhos, admirada. 'Que aconteceu onde?' E ele: 'Contigo. Sentaste-te, puseste a cabeça para trás e fechaste os olhos'. E eu: 'O que é que tem?'. E ele: 'Está bem, nada'. Não sei qual o espanto. Só se foi por ser instantâneo. Mas, com isto, passou o momento. Não adormeci como deve ser e agora estou a ver se, assim como assim, me mantenho acordada.

Na RTP 1 um programa com músicas do Zeca. Está uma jovem a cantar o Bairro Negro. Canta muito bem. Tem ar de ser fadista. Não conheço mas tem uma voz fantástica e canta com a emoção das almas que sabem interpretar o fado. Tenho que ver se descubro como se chama. 

Ah, já vi. Sara Correia. Não conhecia. Muito boa. 

O Zeca, de facto, é intemporal. Qualquer pessoa que pegue nas suas canções e as interprete com sentido e sentimento torna-as momentos inesquecíveis. 

[Sempre que me lembro dele, lembro-me dele a espreitar e, ao ver que o Abílio estava ocupado, fazer um gesto de desculpa e voltar a fechar a porta. Era, para todos nós, um símbolo, uma pessoa maior.]

Enfim.

Estive a ver as notícias em vários onlines; mas hoje não quero falar da guerra (embora seja o que maioritariamente ocupa o meu pensamento). Tanto que sempre penso que gostaria de deixar aos meus descendentes um mundo melhor que aquele em que fui recebida... e agora acontece isto. E sabe-se lá como e quando é que isto vai acabar. Acredito que os serviços secretos de muitos países andem a trabalhar activamente numa qualquer forma de solução para esta loucura mas compreendo que as condicionantes são mais que muitas. Gostaria também de pensar que, quando isto acabar, estaremos mais esclarecidos quando ao que verdadeiramente importa nesta vida, mais exigentes quanto à paz e à liberdade. Mas já não ouso ser tão optimista.

Entretanto, ando com vontade de iniciar um diário. Escrevo aqui todos os dias e escrevo o que penso e sobre o que quero mas há temas sobre os quais não escrevo, não quero; ou melhor: não aqui em que escrevo a céu aberto para ser lida à vista desarmada. Por isso ocorre-me que poderia ter um diário privado. Ou isso ou um livro de memórias. Há muitas memórias que aqui, no blog, não têm lugar e que, num registo pessoal, privado, estariam bem. Vamos ver. 

E, pronto, isto hoje não dá muito mais que isto. Estou desconcentrada. Recebi na última hora dois mails de trabalho que só não me deixam possuída porque estou a tentar preservar o espírito de dia feriado, keep calm and carry on. Se fosse há algum tempo, a esta hora já tinha soltado os cachorros. Mas agora estou a querer aprender a portar-me como gente grande e, portanto, perante cenas destas, respiro fundo, deixo assentar a poeira, de preferência durmo sobre o assunto. 

Mas, antes de me ir, partilho dois vídeos que estive a ver de gosto. Confesso que, antes, estive vai não vai para reincidir e partilhar um vídeo que me pareceu bastante interessante sobre os meandros da guerra mas não, hoje não, hoje intercalo. 

Enquanto leio e ouço que há reais ameaças no ar de que esta desgraça descambe para uma guerra mundial, forço-me a abrir espaço a duas das minhas benquerenças, a arquitectura e a decoração. 

O primeiro vídeo mostra uma casa que foi reconstruída sobre uma outra, tradicional. É daquelas obras de arquitectura que me encantam: espaço, luz, a paisagem dentro de casa e, ao mesmo tempo, carinhosamente concebida para cada membro da família. Aqui o dono e o arquitecto são a mesma pessoa e todo ele é cool e toda a casa cool é e, tal como ele conta, é uma casa que evoluiu natural e intuitivamente. Uma maravilha.

A fantástica casa de Nick Tobias

A seguir temos o oposto: aqui se mostra como num apartamento pequeno também se podem fazer maravilhas. Haja imaginação, bom gosto, gosto pela vida.

Apartamento parisiense, pequeno mas parecendo espaçoso, no Boulevard Haussmann

Aqui vive Virginie, jornalista de televisão, mãe de 3 filhos. Foram algumas paredes abaixo para criar alguma amplitude. Há objectos antigos, objectos modernos, há bom gosto e graça.


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As fotografias são da autoria de Maïmouna Guerresi e acompanham MARO que interpreta we've been loving in silence

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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Vida nova. Força. Paz.

segunda-feira, abril 25, 2022

25 de Abril.
Nome do meio: Liberdade

 


Estes meus dias, o sábado e o domingo, foram dias muito bons. Estive com a família, com os meus meninos. O meu coração abre-se num abraço quando estou com eles. 

Sinto-me feliz e agradecida e gosto de ver que eles também se sentem bem. 

Os primeiros que chegam perguntam sempre pelos outros. Neste domingo não estiveram ao mesmo tempo. Os que vieram na parte da manhã tinham, logo a seguir ao almoço, um programa de festas apertado e que começava cedo. Por isso, quando os segundos chegaram já os primeiros tinham saído. Ficaram com pena. Mas, apesar disso, quer os da manhã quer os da tarde estiveram felizes da vida. Gostam de cá estar. 

Agora, para além dos primos e tios e avós há também este ser felpudo, amalucado e meigo, que fica doido de alegria quando os vê.

Brinca, brinca, deita-se para receber mimo, anda no meio de nós recebendo carinho de uns e de outros. 

Este domingo, o menino mais crescido -- que vai ter teste de português esta semana --, para treinar a composição, escreveu um texto (por sinal muito bem escrito e imaginativo). Eu li o texto, elogiei embora tivesse ressalvado um erro ortográfico e umas vírgulas fora do sítio, e a mãe leu-o também e também fez os seus comentários. Às tantas, vimos a pequena fera de composição na boca. Com tantos comentários, deve ter querido saber se também aprovava. Então, o menino dizia: 'Senta' e ele parava de correr e sentava-se. O menino dizia: 'Fica' e a fera ficava. Então o menino aproximava-se e dizia: 'Larga'. E a fera desatava a correr como se não houvesse amanhã, a composição na boca.

O mano dizia que o seu amigo felpudo era terrível, se calhar saía ao padrasto. 'Ao padrasto...?!'. A mãe perguntou: 'Ao padrinho?'. Sim, era isso, confirmou ele, o padrinho da fera.

De manhã, ao abraçar e beijar o mais novo, disse-lhe: 'Meu menino mais lindo'. E ele disse: 'Os meus pais nem sempre estão de acordo'. Assim, de repente, não percebi. 'Não estão de acordo com quê?'. Ele encolheu os ombros e disse: 'Que eu seja um menino lindo. Eu às vezes sou maroto...'. Abracei-o ainda mais, 'Meu marotinho mais lindo'.

Enquanto isso, a menininha ajudava-me na cozinha e confessava que adora cozinhar mas coisas complicadas, dizia. O irmão do meio, também a ajudar, refutava: 'Mas, mana, se tivermos que fazer o jantar, temos que saber fazer o básico, arroz, mexer um ovo'. E ela, na base do dahhhh...: Ó mano, claro que sei fazer isso tudo...

Todos eles me surpreendem, encantam e divertem, cada um à sua maneira. 

Apontamentos de momentos de maravilhamento e boa disposição. Tomara que sempre os retenha na minha memória e eles na deles.

Mas não me sinto apenas feliz por vivê-los: sinto-me também agradecida. 

Vivo num país lindíssimo, acolhedor. O clima é aprazível. O ambiente é luminoso e descontraído, as pessoas são afáveis e bem dispostas.

Antes espantava-me quando, nos outros países, via as pessoas deitadas ao sol, na relva, em jardins públicos, algumas em fato de banho. Ou pessoas cantando na rua, outras fazendo acrobacias. Pessoas andando de barquinho a pedais em lagos, as esplanadas cheias, gente cantando ou rindo em voz alta. Em contrapartida, por cá, as praças estavam vazias, ninguém se deitava na relva em parques públicos, quase não havia esplanadas e, nos restaurantes, falava-se sempre à boca pequena. Talvez fosse ainda o lastro do regime anterior, soturno, ensimesmado. As pessoas viviam viradas para dentro de casa e para dentro de si próprias. Havia ainda a psicose do que os outros pensavam ou deixavam de pensar. As pessoas tinham medo de se expor pois temiam a censura alheia.

Felizmente a nossa democracia foi amadurecendo. Desinibimo-nos, aprendemos a divertir-nos. E ninguém leva a mal.

Agora somos um país aberto aos outros e à diferença, as ruas estão cheias de vida e de diversidade, há alegria e vontade de partilhar e de conviver com a natureza e com os outros.

Vivermos num lugar assim -- um lugar tranquilo, luminoso, pacífico, cheio de sol e de mar e de jardins e serras e em que se vêem pessoas de todas as cores falando todas as línguas, vestidas das maneiras mais inesperadas, fazendo as coisas mais bizarras -- é uma felicidade.

E, se me sinto feliz por poder viver e testemunhar esta sorte, a verdade é que sei bem o quanto tudo isto é frágil.

Desejo que seja perene e que deixe boas memórias em quem vive estes momentos bons mas não me iludo: de um momento para o outro tudo pode mudar, tudo se pode perder.

Há cerca de dois anos fomos todos mandados para casa porque um vírus ameaçava a nossa vida normal, obrigando-nos a uma adaptação repentina a outros hábitos, longe uns dos outros, sem contacto físico, receando contagiar-nos uns aos outros.

Pelo meio o meu pai morreu e não apenas não pudemos velar o seu corpo (o que não me custou muito pois penso que me teria custado mais estar numa capela rodeada de gente sabendo que o seu corpo frio estava ali, ausente, destituído daquilo que ele tinha sido) como foi muito triste ver chegar a carrinha com o caixão envolto em película aderente e estarmos cá fora, poucos, todos meio abandonados. Pensar que o meu pai estava ali e nós a despedirmo-nos dele tão pouco condignamente causou-me muita tristeza. Mas tudo é relativo. Na morte e nas despedidas há sempre tristeza, de uma forma ou de outra.

Ao fim de dois anos, agora que a pandemia está a dar mostras de acalmia, acontece a invasão de um país por outro que o quer anexar e que, para o conseguir, o bombardeia, assassina pessoas, destrói cidades e obriga a expatriar milhões de pessoas. Famílias inteiras destroçadas. Uma tragédia infinita e imperdoável.

Estou feliz, a minha casa íntegra, a minha família unida. E a primavera aí está, florida, renascida, cheia de flores e canto de passarinhos. 

E eu ando deleitada, fotografando tudo e todos, olhando cada coisa como se fosse a primeira ou a última vez.

Mas sei que tenho sorte e que nada é garantido. 

Mas é bom enquanto dura e sempre farei o que está ao meu alcance para que sejamos felizes, livres, donos do nosso destino. 

E Macron venceu em França e a Ucrânia há-de manter-se um país livre e independente e tenho esperança que conseguiremos voltar a acreditar num mundo sem muros, sem guerras, sem mal.

(E não quero saber se isto soa a ilusão sem sentido. Quero acreditar que será possível sonhar com isso e isso chega-me)

Não tenho cravos para aqui festejar Abril. Mas Abril é um mês que não apenas acolhe todas as vozes como todas as flores e, por isso, termino o texto com uma flor de que gosto muito. Para todos os que por aqui passam.


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25 de Abril sempre

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Um dia bom
Generosidade e afecto. Liberdade. Paz. 

domingo, abril 24, 2022

Entretanto, desde a invasão da Ucrânia, alguns oligarcas russos desataram a cair como tordos

 

A ver se daqui a nada mudo um bocado de agulha pois, apesar da minha mente continuar ocupada com a tragédia ucraniana e com a impensável selvajaria de Putin, sinto alguma necessidade de falar de outras coisas.

Mas, ao preparar-me para mostrar qual a última moda, ao ir procurar um vídeo que o ilustrasse, apareceu-me este que aqui abaixo partilho. 

Na verdade, um caso é um caso isolado, nada a dizer, coisas destas acontecem. Dois casos são dois casos, violência e crimes acontecem, nada a dizer. Mas quando aparecem mais, na verdade, já se começa a achar estranho. Além do mais, o historial da Rússia nestas matérias não é coisa pouca. Qualquer série que meta serviços secretos, kgb ou kremlins, inclui também crimes que não deixam rasto.

Seja como for, não me pronuncio. A realidade anda alucinada, supera a mais tresloucada ficção. Limito-me a partilhar o vídeo.

Curious Number Of Russian Oligarchs Have Died Since Invasion Of Ukraine

Ali Velshi reports on four separate instances of Kremlin-connected, extremely wealthy Russians with ties to the oil industry who have died by suicide since Russia's war in Ukraine began. 


E até já

sábado, abril 23, 2022

A história de João que amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém explicada ao PCP e a todos os que acham que a culpa disto é da Nato

 

A seguir à adivinha da velhinha que não quer atravessar a rua (a propósito da Ucrânia que luta até às últimas consequências porque não quer ser anexada à Rússia) hoje trago a quadrilha de Carlos Drummond de Andrade.
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Da mesma maneira, a Rússia de Putin tem anseios imperialistas, quer reconstruir a União Soviética e quer começar por anexar a Ucrânia. É confesso e assumido. Putin o dia: a Ucrânia não deve ser um país independente. E a ideia é, a seguir, continuarem. Aliás, hoje já vieram publicamente confessar o que já se antevia, ou seja, que, a seguir, tencionam avançar para a Transnístria, certamente preparando-se para, acto contínuo, tentarem abocanhar outro estado soberano, a Moldova. Nem mais. E a seguir continuarão (se os deixarem) pois têm como objectivo não apenas reconquistar todos os países que antes eram países soviéticos como vir por aí adiante até toda a Europa lhes estar no papo, formando a sua tão almejada Eurásia. 

Esta é a história.

Nesta história não entra a Nato. 

A Nato não invadiu a Rússia, a Nato não atirou nenhum míssil para o jardim do bunker em que o cobardolas se esconde, a Nato não reagiu aos múltiplos desvarios da Rússia. 

A Nato -- até Putin ter invadido a Ucrânia e, uma vez mais, ter posto em prática a sua habitual forma de actuar, destruindo infraestruturas e despovoando as terras, matando ou obrigando a população a fugir -- não tinha entrado na história.

Mas entrou agora. 

Perante a ameaça real e brutal que é ter um bandido mitómano com um botão nuclear à sua disposição, a Finlândia e a Suécia já estão a ponderar e já pensam que o melhor é terem a protecção da Nato. Todos os países da Europa, gente na base da peace and love acordou para o perigo real que é haver um assassino armado até aos dentes com ogivas nucleares e mísseis intercontinentais e já decidiram reforçar o orçamento de defesa e cerrarem fileiras em torno da Nato.

Portanto, tal como J. Pinto Fernandes não tinha entrado na história e acabou a casar-se com a Lili que, na altura, nem amava ninguém, também a Nato, que não tinha entrado na história, acabará por sair reforçada.

A Rússia (se não acabar com o mundo antes) acabará humilhada, empobrecida e isolada. Pode até ser que Putin venha a ser o Joaquim da Quadrilha.

A Ucrânia será reconstruída e será um país próspero e feliz, mais unido e mais livre que nunca.

E, por cá, o PCP acabará (soterrado sob o desprezo dos portugueses) porque, no meio da confusão, não percebeu nada da história.

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NB: Quero com isto dizer que a Nato é uma santa instituição, onde ninguém peca, pecou ou pecará? Não, nem pensar. Não sei de nenhuma instituição assim. Nem a Santa Madre Igreja é impoluta (como sabemos, bem longe disso). O que digo é que, na história em questão, a da invasão da Ucrânia pela Rússia e a dos hediondos e irrefutáveis crimes por esta cometidos, a Nato não fez parte da história... até a Rússia forçar o mundo a reconhecer que é perigosa demais para ser deixada à solta.

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[Atenção às palavras de Fiona Hill, do minuto 8:57 até ao 9:09]

Ukraine: What life is like under Russian occupation

As Russian forces pound towns and cities in the eastern Donbass region of Ukraine with artillery, today a commander said Russia intended not only to take the east but also the entire south - potentially giving a route out to Transnistria, a pro-Russian enclave in Moldova.

Russia has already taken a large swathe of land in the south of Ukraine, including Manhush, Tokmak and Dniprorudne which have been living under occupation for most of the war.

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Um bom sábado
Saúde. Paz.

sexta-feira, abril 22, 2022

A história da velhinha e dos escuteiros explicada ao PZP

 

Tenho-me lembrado desta adivinha a propósito do negacionismo e da inacreditável posição do PZP a propósito da invasão e da destruição da Ucrânia por parte da Rússia.

Pergunta: Porque é que são precisos pelo menos seis escuteiros para ajudar uma velhinha a atravessar uma rua?

Resposta: Porque a velhinha não quer atravessar a rua.

Os comunistas têm engendrado a mais inqualificável narrativa para defender os actos criminosos de Putin: que os ucranianos também foram uns filhos da mãe com os russos na Crimeia, que os ucranianos é que provocaram a guerra querendo aderir à UE e à Nato. Sei lá.

Ou seja, os comunistaz portugueses parece que ainda não perceberam uma coisa: os ucranianos não querem deixar de ser ucranianos, não querem ficar sob o jugo russo. N-ã-o   q-u-e-r-e-m!

Os ucranianos são cidadãos de um país que se quer independente e livre e, como tal, querem ter o direito a decidir como entenderem e a fazer o que querem dentro das suas fronteiras.

Se os russos, a mando de um criminoso, pensam o contrário e, contra todas as normas do direito internacional, invadem a Ucrânia, os ucranianos têm todo o direito a defenderem-se como podem. Poderiam defenestrar os vendidos, os miguéis de vasconcelos e os pachecos desta vida, poderiam correr com os invasores à espadeirada, poderiam ser como a nossa padeira de Aljubarrota ou como a valorosa Joana D'Arc -- e, se calhar, têm feito um pouco de tudo isso. Perante as mais tenebrosas ameaças, há quem tenha a coragem de fazer o que pode para defender o país e a liberdade. E felizmente há heróis que, perante os golias, continuam a lutar, a dar a vida até à última pinga de sangue pelo seu país.

O nosso PZP não percebe isto? Não percebe que os ucranianos querem ser ucranianos e querem ser livres?

O que advoga o PZP? 

Defendem que os ucranianos deveriam ter-se deitado no chão para as tropas de Putin passarem por cima? Que servissem cafezinhos aos russos? Que se pusessem todos à janela a acenar com lencinhos brancos para receber os invasores? Ou o PZP acha que quem fale russo deve ser russo? É isso?

Felizmente não falo russo senão ainda seria condenada pelo PZP se me defendesse (apedrejando os bandidos ou fazendo o que estivesse ao meu alcance), caso os russos resolvessem destruir-me a casa ou dar-me tiros à queima-roupa por eu não querer ser russa.

Pasmo com isto. Estou muito desiludida com os nossos comunistas. Nunca pensei assistir a isto. Tinha-os, globalmente, em relativamente boa conta. Um bocado (ou bastante) politicamente autistas mas, ainda assim, gente de boa cepa.

Agora, com as cobardes e hipócritas posições que os vejo a tomarem, já ponho toda a minha ideia sobre eles em perspectiva. Acho até que quem assim pensa é gente perigosa. Aparentemente serão os primeiros a render-se e a vergar caso o país seja invadido e agredido, serão os primeiros a trair os mais sagrados valores da democracia. E, pelo que tenho observado -- vendo-os a usar os argumentos mais insanos e vendo a agressividade que usam na sua argumentação -- até admito que seriam capazes de denunciar aos russos todos os que não se vendessem ou não fossem alistar-se nas milícias pró-russas.

Caraças. 

Como é que não percebi antes que era gente capaz de tanto ódio à liberdade e tanta submissão perante a tirania?

Desonram o seu passado. Desonram os que deram a vida pela liberdade. 

Não serão todos, acredito. Acredito que muitos se desliguem do partido. Acredito que muitos, por honrarem o seu passado, se demarcarão do que o PCP hoje representa.

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Os desgraçados que se vêem nestas fotografias são os belicistas desta história? São!? 

Vejam bem, demorem o tempo de que precisarem, e depois respondam. Mas respondam ao espelho, a olharem-se nos olhos.









Fotografias da Reuters: A city destroyed: Scenes of devastation in besieged Mariupol

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No vídeo abaixo, Putin dá ordem ao seu Ministro da Defesa de não deixar passar nem uma mosca num local onde estão, isoladas, milhares de pessoas (militares e civis), decretando assim que morram à sede e à fome, sem água, sem luz, sem comunicações.

Mas Putin não está a dar ordens para o seu Ministro actuar dentro das fronteiras do seu próprio país: não, está a esmagar, a pulverizar um outro país, condenando ao êxodo os que conseguem sair e condenando à morte os que não conseguem. 

É isto que o PZP defende?

São belicistas os ucranianos que ficam sem casa, sem familiares, que se refugiam seja onde for e que, em alguns casos, são deportados para campos (de concentração?) na Rússia? São belicistas os que lutam até à morte?

Que vergonha, senhores comunistas, que vergonha, que vergonha tão grande. 

Russian troops to blockade Mariupol 'so that a fly can’t get through' says Putin


É isto que defendem, senhores e senhoras que não são capazes de condenar Putin?

Pela parte que me toca, quando agora vejo alguém do PCP na televisão a pôr-se ao lado de ditadores, criminosos e facínoras, mudo de canal. É mais forte que eu: sinto-me nauseada com as suas palavras, não aguento.

quinta-feira, abril 21, 2022

Se, por uma desgraçada malapata, o Putin viesse discursar na nossa Assembleia da República lá teríamos o PZP a aplaudir. Todas as outras bancadas vazias, claro.

 

E isto porquê? Porque Putin é declaradamente não comunista, absolutamente populista (Alexander Dugin dixit)? Porque é o grande protector dos oligarcas? Porque é um conhecido tirano, cabecilha de um regime totalitário que prende e envenena quem se lhe opõe? Porque não tardará a ser julgado como criminoso de guerra? Porque tem uma perigosa psicose imperialista de reconstruir a União Soviética e expandir até à ponta da Europa (leia-se: nós)?

É disto que o PZP gosta? É este o modelo que o PZP defende?

Ou porque acredita que... o regime putinista é anti-belicista

... Será...?

Veja-se o gráfico que mostra qual o país que tem o maior arsenal nuclear:


E é de notar que não apenas Rússia é o país com maior arsenal nuclear como tem sido público e notório que esse arsenal não está em boas mãos pois Putin, não apenas é um país invasor e agressor, violando todas as alíneas do direito internacional como, ameaçadoramente, usa e abusa de ameaças nucleares

Se há regime que na actualidade mais em risco põe os países vizinhos -- e todo o mundo -- é o regime russo, um regime belicista, criminoso e muito perigoso. Os historiadores o classificarão pelo que não me arrisco a antecipar se será fascista, nazi ou simplesmente demencial.

É este o regime que o moribundo PZP defende?

Tenho pena de assistir a esta morte sem dignidade. 

quarta-feira, abril 20, 2022

A sensualidade delas

 

Devo dizer que na outra noite dormi muito mal. Acordei a meio da noite e só voltei a adormecer quando amanhecia. E logo a seguir tocou-me o telemóvel. A inclemência começou cedo. E o dia foi em contínuo, sempre a bombar. Só comecei a fazer o jantar depois das nove da noite. Acabámos de jantar por volta das dez e meia. 

Como é bom de ver, mal aqui me apanhei sentada, logo me deu o sono. Estava com o computador nas pernas, tentando informar-me sobre os sucedidos do dia. Ouvi o meu marido a avisar-me que o computador ainda ia parar ao chão. Mas não consegui mexer-me. Segundos depois, um barulho. Tinha mesmo ido parar ao chão. Apanhei-o, pousei-o na mesinha aqui ao meu lado e adormeci a sério.

Acordei agora, e passa da meia-noite, enquanto na SIC N o Nuno Rogeiro e o José Milhazes comentam os irreparáveis e imperdoáveis crimes de guerra na Ucrânia. Tudo demasiado tenebroso. O que ali se passa é acima de criminoso. 

Mas, a esta hora, sinto necessidade de desligar. Melhor: de deixar o oxigénio e a música entrarem na minha mente. Tenho sorte: sinto necessidade disso e posso satisfazê-la. Não vivo numa cave, num abrigo, sob escombros. Vivo com conforto e posso fazer o que me apetece. Não passam mísseis sobre mim, não tocam as sirenes, não ouço estrondos. 

Apetece-me música. Mas, em situações assim, gosto de fazer ondas. Música, sim, mas em versão hot. Ao passar os olhos pelos jornais, vi um artigo sobre as vestimentas de algumas pianistas clássicas. E fiquei com vontade de ir buscar essas mulheres que ousam e que transportam a sua exuberante carnalidade para as interpretações.

Khatia Buniatishvili, nascida em 1988, é talvez uma das mais conhecidas neste capítulo. Curvilínea e de carnadura generosa, é intensa, sorridente, extremamente sensual. Os seus vestidos são toda uma festa.

Yuja Wang, 35 anos, compete de perto com Khatia. É irreverente, jovial, desfila como uma gata e, por vezes, ao fazê-lo, tão curtas são as saias que a aparição das cuecas (se é que as usa) é daqueles milagres que todos esperam.

Alice Sara Ott, 33 anos, é de um outro género. Nela não é o decote ou a escassez dos vestidos que ajudam a deixar as audiências ao rubro. Nela são sobretudo as expressões. Há nela qualquer coisa de Teresa de Ávila. Parece estar em estado de êxtase e se não foi Nosso Senhor que passou por ali só pode ser que esteja à beira do orgasmo.

Claro que têm mais qualquer coisa em comum: o talento. E a alegria e o prazer de sentir a música a percorrer cada centímetro da sua pele.


Sobre Yuja, uma brincadeira


Mas, para que não se pense que não há em mim gota de recato, permitam, então, que partilhe a Élégie de Massenet. Aqui Alice Sara Ott está contida e não é a única a captar a atenção. As suas companheiras Camille Thomas e Fatma Said dividem com ela o palco e muito bem.


Saúde. Alegria. Paz.