Bem sei que a Jacinda Arden teve um gesto insólito e louvável e que merece todos os louvores. E também sei que felizmente a dessalinização em Portugal começa a ser encarada a sério, como um investimento essencial e crítico. E também sei que o Pedro Nunes Santos afinal deu o ok ao meio milhão da Alex Louboutin, outras das ex-tapianas de boca aberta, e que o deu, en passant por whatsapp, tão em passant que a coisa até já se lhe tinha varrido, isto apesar da badalação.
E tantas mais coisas.
Só que tenho que me rebalancear, aprender novos ritmos, costurar novos hábitos. E adquirir doses de paciência para conseguir decantar os excessos, filtrar, esperar que assente, não gastar prosa com o que acabará por se dissipar.
Por isso, lamento, estou outra vez numa lateral.
Estando a aproximar-se essa data extraordinária que tem tudo a ver com a nossa história e a nossa cultura, por via das dúvidas, não vá algum de vós esquecer-se de que é altura de pensar nos preparativos, aqui estão umas fotografias e um vídeo que contém sugestões interessantes. Para todas as idades, para todas as silhuetas. Basta gostar de brincadeira.
Para quem ainda tenha presentes por resolver, caso se trate de presentes para homens, aqui vão algumas dicas: que sejam coisas úteis, bonitas, de preferência com qualquer coisa de não banal. Desejavelmente que não sejam muito dispendiosas, que não sejam pretensiosas, desejavelmente que façam sorrir quem as recebe.
Em tempos, quando se fumava, poderia oferecer-se um belo isqueiro ou uma cigarreira. Uma vez ofereci ao meu marido uma cigarreira em prata na qual mandei gravar duas das iniciais do seu nome. Também se poderia oferecer uma bela caneta. Gostava de oferecer canetas. Numa escrivaninha há uma pequena gavetinha com canetas lindas (creio que por estrear). Agora já só se escreve no computador, canetas só para uma emergência e, de preferência, que sejam bic.
Claro, há os livros. Para quem gosta de ler, é sempre presente seguro. E, de resto, se não gosta de ler, não merece presente. Aliás, não merece é nada. Homem que não goste de ler é homem sem h, é omem sem qualquer préstimo. Portanto, nos presentes para homem (homem com h, como é evidente) livro é âncora, é um must.
Mas também pode ser uma guloseima, doce ou salgada. Requer alguma criatividade ou pesquisa atenta mas, em havendo, é garantido. Claro que comporta algum risco. Imagine se a gente vai dar ovo de perdiz a quem tem horror a bicho e a qualquer seu subproduto...? Mas, em conhecendo bem a criatura, é de arriscar. Acho que não há quem não goste de uns comes. Só se for um biquinho de rosa, uma mariazinha. Mas dessas também não reza a história, esta história.
E há as camisas, claro. Há as que são feitas à medida, com monograma. Para mim isso é muito betinho mas conheço muito bom menino que é do que papa e que diz que não é betinho. Mas está bem, abelha.
Contudo, reconheço, camisas é coisa muito pessoal. Dantes oferecia ao meu marido. Agora está como eu: diz que não precisa de mais. O meu filho, sim. Mas o meu filho é bem mais exigente que o pai. Sabe qual o porte, sabe qual o corte. Não é fácil agradar-lhe. Tem que se ter cuidado ao oferecer uma camisa a um homem. Quando escolhia camisas para o meu marido também sentia alguma dificuldade pois eram sempre brancas ou, excepcionalmente, em azul muito claro. Para conseguir que não fossem exactamente iguais, tinha que me esforçar. Mas eu é que queria que não fossem sempre exactamente iguais pois, por ele, não havia qualquer problema nisso.
Ou alguma coisa que a gente ache que faz falta. Dou um exemplo. O meu marido recusa-se a usar calças que pareçam mesmo que remotamente de fato de treino. Usa jeans. Em casa é o que usa, verão ou inverno. Mas agora, de chuva e com o urso felpudo a pôr-lha as patas nas calças, andam sempre sujas. E custam a secar. Passo a vida a dizer-lhe que, para estar em casa, seria mais prático umas calças mais confortáveis. Nem queria ver os modelos que eu lhe escolhia online. Mas eis que um dia o apanhei de feição e lhe mostrei umas que pareciam macias, elegantes, quentinhas por dentro (quentinhas mas não muito, claro). Não disse redondamente que não. Aproveitei o esboço de receptividade e encomendei dois pares para o Natal. Já as viu e experimentou umas pois ainda estava naquela de que, se não gostasse, se mandava de volta. Gostou, sentiu-se bem com elas. E começou a usar um par. Até o cão, quando ele as vestiu pela primeira vez, ficou parado, admirado. Cheirou-lhe as pernas e ficou pensativo, intrigado com o volte face.
Uma outra hipótese para pessoas do sexo masculino que tenham algum sentido de humor são cuecas ou boxers. Não sei se os homens, quando escolhem a sua roupa interior, privilegiam o seu gosto e conforto ou se também têm em conta o gosto das mulheres que o veem. Do meu marido eu sei: acho que nem faz ideia do que eu prefiro, apenas pensa no seu próprio conforto. Claro que o conforto é essencial mas não sei se tem que ser o único critério. Mas, enfim, já se sabe que os homens são mesmo algo limitados no que à empatia diz respeito.
Podia aqui dizer qual a marca de cuecas ou boxers de melhor qualidade, que se ajustam melhor ao corpo, que não alargam nem desfalecem e que, por sinal, até têm um preço muito acessível. Mas não digo não vá as janitas e as antonietas desta vida ainda me aparecerem por aí a sugerirem que sou accionista da marca. Quem me dera. Não sou. Mas não digo. Quem quiser que adivinhe.
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Já agora. Quem queira saber como evoluiu a moda no que ao underwear masculino diz respeito, pode ver o vídeo abaixo. Tem graça.
Eu o que tenho a dizer em relação a ele (ele = vídeo) é que tenho pena de não ter sido eu a estar ali, a filmar. Tirando disso, por mim está tudo bem.
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Como não sou tendenciosa, aqui vai o vídeo fêmea do outro.
Já aqui aflorei: o confinamento alterou alguns dos meus hábitos. Hoje de manhã, quando estava a tomar o pequeno almoço, já vestida e pronta para sair a seguir, dei-me conta de que me tinha esquecido do soutien. Foi coisa que me caiu em desuso durante o confinamento. E, no entanto, os que uso são confortáveis.
Agora são confortáveis.
Contudo, durante anos usei soutiens que não me eram confortáveis. Usava o número que achava que era o meu, recusando-me à racionalidade. Como sempre, privilegiava a estética e nem me ocorria que deveria dar atenção ao conforto. Já o contei: ia a Madrid uma meia dúzia de vezes por ano e, sempre que ia, não passava sem ir à Calle Serrano, nomeadamente a um belíssima loja de lingerie. Perdia-me com belos balconies, soutien.gorges e por aí vai. Rendas elegantíssimas, cores suavíssimas ou estonteantíssimas. Escolhia tendo por único critério a beleza.
Quando chegava ao fim do dia, ao despir-me, frequentemente tinha um vinco à volta. O meu marido dizia que não sabia como é que eu aguentava e eu dizia que nem sentia. E era verdade. Mas um dia, estando a passear à noite no Algarve, uma vez mais deixei-me tentar pela lingerie. O meu marido disse: porque não experimentas um número maior? Achei que não ia ficar bem mas resolvi pedir à simpática empregada se me podia ajudar a encontrar o tamanho ideal. Ela mediu-me em várias dimensões e em várias frentes de batalha. No fim, disse qual o tamanho em número e letra para se ajustar à largura de costas e à dimensão do seio, ou seja, à copa ideal. Tudo diferente do que eu costumava usar. Aliás, nem nunca me teria ocorrido aquela combinação. Foi buscar-me um modelo com aquelas características e, ao provar, foi uma epifania. Vi-me ao espelho e estava ajustado na perfeição. E um conforto total. Foi como se mil anjos me rodeassem, tal o bem estar. Saí do provador como se me tivessem libertado de cilícios que, de tão habituada, já nem me dava conta de que poderia viver sem eles.
Desde aí, são desse tamanho de costas e copa que uso. Olho para os anteriores modelos, belíssimos, como peças de museu. Os que agora uso são também bonitos mas, como não voltei à loja da Serrano, daquelas obras de arte nunca mais voltei a encontrar. Mas isto para dizer que os que agora uso já não me causam incómodo.
Mas, durante o confinamento, desabituei-me. Parece que são peças inúteis. A vantagem dos soutiens parece-me hoje, sobretudo, a de poderem ser uma protecção contra episódios não controlados como a gente ter frio e estar a usar uma blusa fina. Tirando isso, só se for também a questão da blusa ter alguma transparência.
Mas, portanto, lá tive que ir ao quarto despir-me para colocar o soutien,
Outra são os ténis. Cada vez me apetece mais andar de ténis. Ao ver que, mesmo em cerimónias de tapete encarnado já há quem os use, ainda mais vontade tenho de um dia destes aparecer a preceito e com ténis. Ponho-me a pensar nos inconvenientes e, para dizer a verdade, parecem-me suportáveis. Qual o pior que me pode acontecer? Olharem com espanto? Cortarem nas costas? Bah, quero lá saber. Não sei é se os que tenho fazem toilette. Tenho uns em verde-seco-azeitona que farão pendant com os verde-seco que tantas vezes uso. Mas os azuis são práticos demais. Os azuis escuros estão velhos demais. Os turquesas, demasiado informais. A minha mãe diz que gosta de ver os vídeos de uma brasileira que faz aconselhamento de looks e que ela diz que ténis em sociedade só se forem brancos. Por acaso, gosto de ténis brancos mas tenho ideia que só num look mais casual. Tenho que experimentar. Agora nem tenho nenhuns brancos. Tinha uns com um vivo cor-de-rosa mas eram mesmo de verão e já estavam tão gastos que os deitei fora.
E, nesta de mudança de hábitos por via do confinamento, há outra coisa em que já comecei a ousar mas, por enquanto apenas em videoconferências: estar de rabo-de-cavalo. Gosto imenso de estar com o cabelo apanhado mas, para o trabalho ou em situações menos informais, sempre usei o cabelo caído. Quanto muito, parcialmente apanhado. Agora mesmo rabo de cavalo, não. Pois bem. Agora, volta e meia, quero lá saber. Usei e senti-me bem.
Resta saber é se, levantando-se isto do teletrabalho obrigatório e voltando-se à rotina diária de casa-trabalho-casa, vou voltar não apenas a conseguir estar o dia inteiro num gabinete numa torre de vidro como a estar de soutien, saltos altos e cabelo caído.
Com tanto abaixo-assinado completamente estúpido e fútil, porque será que ainda ninguém se lembrou de lançar uma petição a proibir a existência de qualquer femme fatale ou outras personagens da era pré-covid?
Eu assinava já por baixo.
#Free the lusitano nipple.
#Free the feet.
#Free the ponytail
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A Kate Moss está aqui apenas porque há imagens dela para ilustrar qualquer situação e a Femme Fatale da Carla Bruni está porque a sua voz de veludo condiz com algum pensamento subjacente por parte de quem, aí desse lado, está a ler esta conversa.
O quarto ali do fundo está a servir de armazém de presentes de Natal. Fraco armazém. Este ano não há frescuras nem excessos. Apenas utilidades. Utilidades por contraponto a futilidades.
Dito assim parece bem. Até a mim, que sou suspeita, me parece bem.
Contudo, note-se que a utilidade e a futilidade são conceitos fluidos. O que utilidade para um é futilidade para outro. Um livro é útil ou fútil? Depende do livro, depende da pessoa que o vai receber. Ou umas meias. Se forem do tipo meias da tia pode ser que sejam utilidade. Se forem meias malucas pode ser futilidade. Ou o contrário.
Portanto, resumindo: nada a acrescentar.
Para mim só há uma coisa que eu gostava de ter. Já o anunciei. Há anos que alimento um secreto desejo de tal. Mas nunca me atrevi. Há coisas que requerem circunstâncias. E não que eu esteja certa de que as circunstâncias já existem mas, naquela minha nova onda de fazer (quase) tudo o que quero, achei que idos são os tempos de procrastinação. Se alguma vez os houve. Perguntei ao meu marido: 'Sabes o que é que eu gostava de ter pelo Natal, não sabes?'. Olhou para mim, espantado: 'Não. O que é?'. Há coisas que não dá para acreditar: 'A sério?! Não sabes? Já disse mil vezes'. Espantado: 'Não sei. Não faço ideia'. Voltei a dizer-lhe. Não disse nada, nem sequer quis detalhes. Isso preocupa-me. Se fosse eu, perguntaria logo mil coisas: cor, tamanho, tipo, etc. Ele nada. Fico sempre meio arrependida pois pode acabar por me aparecer o oposto. Uma vez, no início dos inícios, eu tinha-lhe dito que tinha visto um anel de ouro muito fininho com dois corações juntinhos, de marfim, debruados a ouro. Na altura ainda não havia consciência em relação ao marfim. Ou não seria marfim? Seria madrepérola? Não me lembro. Só sei que, quando o recebi, ao abrir a caixinha, vi um anel de ouro branco com um rubi. Fiquei parva. Nem queria acreditar. 'Mas o que é que isto tem a ver com o que eu gostava?'. Não se torceu nem amolgou: 'Gostei deste'. Pronto. Como se o que eu tinha dito fosse irrelevante. Outra vez vi uma moldura linda, em ouro velho, uma coisa em talha mas não excessiva, até com um toque de elegância. Íamos a passar e eu disse: 'Olha, se não souberes o que me oferecer, acho esta moldura muito bonita'. No Natal recebi uma moldura. O oposto, do mais linear e moderno que se possa imaginar, em aço escovado. Fiquei furiosa. Naquela altura ainda não tinha percebido que o mindset dele é o oposto do meu.
Portanto.
Ou seja, já não digo nada.
Mais:
Ontem, estava eu ao sol, tocou-me o telemóvel. Um número não identificado. Atendi. Uma voz de homem perguntou se era eu. Confirmei. Disse que estava ao portão com uma coisa para mim. Quando me viu, disse que deixava ali. Deixou e pirou-se. Abri o portão e apanhei. Hoje, ainda mal estava eu a acabar de saborear a minha saborosa papa matinal (kefir, abacate, cajus, arandos, mel, canela) tocaram à campainha. Espreitei. Um rapaz ao portão perguntava se eu era eu. Confirmei. Disse-me que deixava ali. Deixou e pirou-se.
Este é, pois, o 'novo normal' no meu Natal. Não é mau de todo. Excepto que, ao abrir as caixas, fico na dúvida com o que vejo. Ao vivo, teria ponderado. Mas penso que neste 'novo normal' do Natal, as ponderações devem ser guardadas para coisas mais úteis. Por exemplo, para decidir o tipo de pão que trago do supermercado. Aliás, devo aqui confessar, o pão é que anda a dar cabo da minha elegância. Há pão de toda a espécie e feitio e eu, que sempre gostei de pão e que, ainda por cima, gosto de experimentar coisas diferentes, não resisto. Ou isso, ou variedades de kefir. Ou frutos secos. Misturas de.
Bem.
Dilemas à parte.
Voltando aos presentes, tenho aqui três sugestões para presentes úteis.
Umas luvas de tricot, quiçá até fáceis de fazer em casa, quentinhas e muito práticas, em especial para quem conduz:
Nestes tempos de confinamento, uns capacetezinhos das obras para os dedões dos pés para que, quando andamos descalços em casa, se dermos alguma topada, não os magoarmos. Muito, muito útil. Incontornável, mesmo:
Um prático porta fatias de pizza para quando queremos ir a algum lado, por exemplo, para a sala ver televisão, e nos apetece ter pizza para comer.
Tenho ainda a sugerir uns biscoitinhos adequados à época fria. Devem ser tão bons que estou capaz de dar uma trinca no ecrã. E isto não é para rir, é mesmo para levar a sério. Claro que comer ursos polares pode parecer a bit anti-ecológico (já para não dizer que nada vegan) mas, lá está, é o 'novo normal', ninguém leva a mal.
E grandes momentos requerem grandes toilettes. Portanto, aqui vai a minha sugestão para um outfit no masculino para homens de verdade. Os homenzinhos, ou seja, as amostras de homem, podem ficar-se pelo tradicional. Cuecas largas, meias da tia, carinha a descoberto. Mas os homens de verdade devem arranjar-se para o novo normal. Ficarão lindos. Podem até não ter mais nada em cima que esta sugestão é todo um programa. Jingle bells, jingle bells.
Quanto a mim e aos meus gostos, não foi este menino aqui abaixo que pedi, nada que se pareça, mas, se me aparecer no sapatinho, também não vou protestar. Acabei por me habituar a receber coisas que nada têm a ver com o que peço. Portanto, se vier, terei que me resignar e dizer: 'anda cá que és meu'.
Finalmente, posso ainda sugerir aos maridos que têm esposas pudicas e conservadoras um conjunto de lingerie à moda antiga, coisa toda coberta, com uma camisolinha interior e tudo, verdadeiramente do tempo em que as mulheres ainda eram como deviam ser.
Ah não, agora é que é para terminar.
Aqui deixo uma sugestão de árvore de Natal à moda do 'novo normal', eco-sustentável, um grito de revolta contra o consumismo e coiso e tal. Obtive-a aqui e acho que tem muita pinta. Fica bem em qualquer cantinho.
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Ficha técnica
Os três presentes são uma pequena amostra das criações de Matty Benedetto. O ursinho e outras iguarias podem ser vistas na Vogue francesa. O belo adereço de moda pode ser visto na Vogue italiana e a fantástica gargantilha Bulgari também. tal como a lingerie que é La Perla
Tanto ele me recomendou que não deixasse para a última que acabei por dar ouvidos também à minha filha que, como se vê, sai ao pai em muitas coisas e não apenas fisicamente. E, assim, nos pequenos tempos livres, tenho ido escolhendo alguns presentes e já ali tenho uma bela teca deles.
A minha mãe tinha-me dito que nada, nada, nada, nada mesmo... só um livro. Já comprei dois. Gosto de oferecer livros. Mas a minha alegria foi maior por outro motivo: é que entrei na livraria com autorização. Concedi-me autorização para entrar e consumir. Consumir com uma condição: só para oferecer, não para mim. Mas sem problema. Estar numa livraria e saber que posso trazer alguns já é bom. Aliás, que bom... Eu, de novo, à solta no meio dos livros. Andar por ali a rondar, a ver, a passar a mão pelas capas, a espreitar as palavras que se escondem dentro de cada um...
E depois, à última hora, achei que um dos que trazia para a minha mãe, caraças, era tão bom... tinha mesmo que o ter também. E trouxe.
E depois fui ver aquele sítio onde há sempre coisas especiais. E lá estava um. 'A grande arte tem a dimensão do mistério'. Senti logo aquele imperceptível tremor interior, aquela fina emoção, aquela vontade louca de o ter. Mas contive-me. Cinicamente pus-me a descobrir motivos de desinteresse. Procurei o índice.
A arte também nos torna felizes
O jeito torna-se talento, e o talento, obra
...
Um mundo gémeo do da poesia
....
E li excertos. E, então, decidi que tinha mesmo que o trazer. Não se pode negar um amor -- e o amor dos livros e das palavras e do conhecimento e da arte é daqueles que não admite subterfúgios nem adiamentos nem desculpas. Tenho-o aqui comigo, olho-o enquanto escrevo, de vez em quando abro ao acaso e leio. Graça Morais dialoga com José Jorge Letria.
Quebrei os meus votos de austeridade mas não me fustigo. Não estou arrependida. Não é como fumar. Desde que decidi deixar de fumar nunca mais fumei. Nem uma passa. Zero. Sei que não vou voltar a fumar. Antes, quando fumava, detestava sentir-me tão estupidamente burra embora não o admitisse. No dia em que tomei a decisão, foi como se tivesse decidido aprender a ler, uma decisão irreversível, um triunfo, um orgulho em ter deixado de ser tão estupidamente burra. Com os livros não é isso. Quero deixar de comprar porque depois fico sem ter onde guardá-los, porque não consigo ter tempo para ler nem uma parte, quanto mais todos. Mas não são votos eternos. Digamos que é mais um travão, uma tentativa de moderação.
E, portanto, trouxe dois livros para a minha mãe e dois livros para mim. E estou feliz. E, de bónus, já sei onde gostava que fosse o meu próximo passeio.
Tirando isso.
Tinha visto uns pijamas giríssimos de um tecido que é um misto de veludo e polar, mas muito macio, térmico, levíssimo, um design mesmo bonito. Sondei a minha mãe: e um pijama muito quentinho? Não reagiu mal, não esteve meia hora a dizer que não, não, não. Perguntou foi porque não comprava eu um para mim. Expliquei-lhe que morreria assada. Ela sabe isso mas tem sempre aquela coisa de se preocupar não vá eu precisar e não ter nenhum pijama decente que vista. Já uma vez me aconteceu, há mais de mil anos. Era casada de fresco e apanhei uma amigdalite que me deixou cheia de febre, umas anginas que me puseram de cama. Chamou-se um médico a casa. E, quando o homem estava quase a chegar, lembrei-me que tinha que vestir qualquer coisa decente. E pijamas? Zero. Lembrei-me que deveria ter ainda, algures, camisa de dormir da lua de mel, uma espécie de vestidinho justo, curto, branco, todo em bordado inglês, com uma fitinha cor de rosa. Mas onde estaria? Eu de cama, afogada em febre, ele sem fazer ideia onde estaria tal peça destinada ao museu. Um horror. Não me lembro como resolvemos o problema mas ficou-me essa sensação terrível de não ter o que vestir numa emergência.
Então hoje, numa corrida, comprei-lhe um pijama tão diferente do expectável e tão, tão macio e bonito que, espero eu, a vai deixar muito agradada. Veste-se agora de uma forma mais moderna e jovem do que quando era, de facto, jovem. Parece agora, toda ela, mais jovem do que quando tinha trinta anos a menos. Claro que a oferta a nível de vestuário e adereços agora é outra. Mas as mentalidades também. Tinha muito aquilo de ser próprio para a idade, receio de dar nas vistas, receio do que pensassem. Agora, felizmente, está mais desempoeirada. Eu, que nunca quis saber de nada disso, detestava que ela se preocupasse tanto com a opinião alheia.
Bem.
Vou interromper a conversa porque amanhã tenho que madrugar e ainda quero fazer umas carreirinhas de tapete. Estou mesmo furiosa com o tapete. Parecia que já estava na fase de encher o fundo e afinal ainda há imenso que fazer na barra. Aquele amarelo induziu-me em erro, confunde-se com a juta e sem ver bem nem reparei. Agora estou nessa, na barra, desejando de passar para o fundo. Quando estou no fundo é um desatino de urgência, não descanso enquanto não acabo. Oh, motivação mais boa.
Costumo escolher a minha roupa de véspera porque, de manhã, com pouco tempo, se desatino é um ver se te avias a escolher e a rejeitar toilettes. Preciso de tempo pois tudo tem que fazer pendant. Se penso que vou de claro, a lingerie tem que ser clara. Se a blusa é em tons de encarnado ou bordeaux, o soutien tem que ser no tom. Portanto, se penso que aquela blusa não, o mais provável é que tenha que mudar tudo e, às tantas, tenho que vestir-me e despir-me de alto a baixo até a coisa ficar a gosto. E ver o tempo a escoar-se e eu naquilo é enervante. Não dá.
Assim, de véspera, sem stress, escolho a blusinha, o top para vestir por baixo caso o decote seja excessivamente pronunciado ou se a blusa for fininha demais, as calças ou a saia a condizer ou a contrastar, o conjunto de lingerie a preceito, o colar, os brincos, o anel.
Coisa de coquette, bem sei. Sou.
Quando era miúda, os meus pais contrariavam-me, diziam que eu ainda não tinha idade para. Mas a coisa era forte, coisa de ADN, e eu reincidia. Mas era uma luta. Portanto, mal me vi com idade para, nunca mais dei descanso. Feminina até à raiz dos cabelos e em todas as manifestações da feminilidade, até nestes sinais exteriores.
E assim aconteceu hoje.
Acresce que.
Para não ver e ouvir comentários sobre a suspensão dos jogadores do Sporting e os absurdos posts no Facebook, a patética dor nas costas e a ridícula conferência de imprensa do troglodita Bruno de Carvalho, estive no meu boudoir, nas calminhas, fazendo tempo, desfrutando o gosto de estar neste meu mundinho bom, quase vitoriano, cheio de frou-frous, sedas e rendas, a arrumar a minha roupinha, a escolher o modelito de amanhã e etc.
Agora aqui regressada, convencida eu que o tema burlesco já se tinha esgotado, constato com desagrado que não senhor. Não se esgotou. A criatura ainda aqui está, baboseirando em directo, provocando, trumpizando o futebol português. E o meu marido, em vez de fazer zapping, está a dizer, com asco na voz, que 'este gajo á muita estúpido' -- mas mantém-se a ver. Um sportinguista é isto: gente nascida para sofrer. Ao princípio dizia que estava com esperança que o troglodita se fosse demitir. Agora acho que está apenas perplexo, quase paralisado a ver esta anormalidade.
Recebi a informação contida no título por mail e vendo-a tal como a comprei. E é complementada com o seguinte:
O Pinóquio e eu desejamos a todos uma boa noite ou um bom dia, consoante a hora
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No entanto, devo dizer que o vi há pouco na televisão e pareceu-me mais magro e cansado. Aquela coisa da hérnia a esguichar-lhe pelo embigo dá ideia que deixou que parte do gás se lhe evaporasse. Na volta, se lá tivesse estado e mesmo que alguma operária se tivesse apoderado de um conjunto de lingerie e o cumprimentasse com ar galanteador, ele limitar-se-ia a fazer um sorriso forçado com aquele facies branco e meio seco com que há pouco o vi.
Nos cerca de treze anos em que tivemos uma cadela, não era a mim que cabia a responsabilidade de a levar à rua. O meu marido gosta de madrugar e aproveitava para uma caminhada matinal. À noite também era ele que ia. Quando os meus filhos ainda viviam connosco, durante o dia iam eles. Depois passou a ficar, de dia, em casa dos meus pais. Para mim sobrava o mimo doméstico. Ela ficava delirante quando eu chegava, gania de alegria, saltava, andava à minha volta, dava-me beijinhos. Era frequente eu abraçar-me a ela e ela gostava, ficava imóvel, dengosa e feliz. Umas saudades que não passam. Aquela bichinha tinha amor de gente por nós e nós por ela. Era uma boxer muito doce e muito inteligente.
Mas, portanto, não posso gabar-me de alguma vez ter ido passear a minha amiga cãzinha com um outfit semelhante ao que Emily Ratajkowski usa no vídeo abaixo, ao que parece para publicitar a marca DKNY (lingerie, certamente; ou serão as botinhas?).
O meu restabelecimento da gripe fez-se nas urgências de um hospital a rebentar pelas costuras. Não era eu a doente mas a acompanhante. Tentámos arranjar uma ambulância para transportar o doente a um hospital privado já que, felizmente, dispõe de seguro de saúde e sabíamos o estado de sobrelotação do público. Zero ambulâncias. Todas ocupadas nas horas seguintes. Inem, portanto. Como já não há Serviços de Atendimento Permanente, cai tudo nos hospitais.
Uma vez que a triagem decretou pulseira laranja (ou encarnada? - nem sei), entrou logo e foi para a chamada 'sala aberta'. E eu cá fora, sabendo o desenrolar dos acontecimentos através do 'balcão do utente'. Uma hora depois: já foi visto, vai fazer exames. Uma hora depois: ainda não se sabem os resultados. Etc, etc.
Podia agora escrever dez posts diferentes sobre o que se passa nas urgências de um hospital em dias assim. Mas não dá. Estou sem grande cabeça para isso.
Até que me chamaram: alta. Medicação, vigilância, tudo explicado, os riscos, os cuidados.
Lá dentro, de um lado e do outro dos corredores, em camas ou macas, coladas umas às outras, gente gemendo, gritando, chamando. Uma coisa tétrica. Ou pungente. A vulnerabilidade humana ali exposta, sem pudor.
Depois a saga de arranjar ambulância para o levar de volta. Todas ocupadas, ligando para uma e outra empresa e nada, todas em serviço. Até que numa me atende um homem abrutalhado. Repito a conversa 'teria uma ambulância disponível para vir buscar ao hospital um doente que teve alta e levá-lo para casa, em maca?' e acto contínuo: 'o nome do doente?', digo e logo o homem 'já aí vou' e pumba, desliga-me o telefone.
Avisei o meu marido, 'olha que há-de aparecer aí uma ambulância (e disse-lhe o nome da empresa) e eu não sei como é que os homens dão comigo, diz que estou na 'sala aberta'.
Passado um bocado aparece um homem muito pequenino, ultra-barrigudo, boné no alto da cabeça, aos gritos pelo nome do doente. Gesticulo cá de longe. Ele vem e dá-me uma desanda 'isto não é a sala aberta!'. Explico 'Pois não, mas não vê que isto está cheio, que as pessoas estão nos corredores...?.
Mas pronto. Lá fez o que tinha a fazer, lá transportou o doente para a ambulância.
Quando enfia a maca na âmbulância e se prepara, ele próprio, para entrar também, pergunto: 'Mas então não quer saber a morada!?'. Responde ele: 'Mas você não vem tamém?'. Lá fui.
Quando chegámos a casa, diz uma das pessoas que estava à nossa espera: 'mas ele conseguiu conduzir a ambulância...? é conhecido por andar sempre com os copos...'. Pronto. Estava explicado. No fim, o ajudante voltou lá. Fui abrir a porta. Diz ele 'esquecemos uma coisa. tome lá um cartanito para outra vez que precise'. Enterneci-me com o cartanito, agradeci de gosto.
Cheguei a casa há pouco, passava da meia-noite. Tomei um banho quente que me soube mesmo bem e que espero que tenha tirado de cima de mim os micróbios que por ali andam à solta e em altas concentrações. Já comi um lanchinho. E parece que me curei da gripe. Aquela bicheza lá do hospital deve ter derrotado os meus viruzecos.
Portanto, não faço ideia de notícias, não sei o que se passou, não sei se o Trump fez mais alguma das suas ou se o Marcelo foi visitar algum gatil. Não tenho ideias, não consigo pôr-me com grandes palavreados.
Só sei que a coisa é boa enquanto dura e que mais vale a gente aproveitá-la enquanto pode.
Encontrei um colega no hospital. Ficou a olhar para mim, admirado. Perguntou-me o que se passava. Contei-lhe. Ele disse-me que todos os dias, desde há quinze dias, quando o pai entrou em falência respiratória (parece que foi o que ele disse) o ia ver, despedir-se. Emocionou-se ao dizê-lo.
Quando nos despedimos, tive um bloqueio, não soube o que lhe desejar: 'as melhoras' não, pois se o pai estava a morrer, boas entradas também não pois o que é uma boa entrada com um pai moribundo? Não disse nada, só 'olhe...' e encolhi os ombros e ele é que me disse 'boas entradas' e eu agradeci.
Por isso, Caros Leitores, talvez compreendam que agora, depois da uma e meia da manhã e depois de um dia destes, não consiga mais do que isto.
Pode ser que mais logo, à meia-noite, se tudo se aguentar menos mal, eu consiga festejar o fim deste ano, comer passas, beber champanhe, formular votos, bater tampas para afugentar o ano velho, E se no dia 1 tudo se mantiver na mesma, menos mal, talvez eu consiga fazer o meu almoço de ano novo e ter a casa cheia e transbordante de animação.
Lingerie nova em azul cueca, para entrar no ano novo, não tenho. Velha também não. Não ligo a nada disso. Vou pelo que me agrada. Li que o que está a dar para festejar o réveillon é a lingerie encarnada. Ora bem. Parece-me uma boa maneira de sair de um ano e entrar no outro.
Tirando isso, batatas.
E viva a vida!
Não tenho boas intenções nem grandes objectivos. Tenho uma única vontade: aproveitar cada dia com a consciência plena de que tudo isto é desoladoramente efémero e que mais vale que tentemos estar bem e fazer bem a cada momento.
Devia talvez aqui colocar um poema, um bailado, qualquer coisa do género. Mas não. O que vou pôr é outra coisa porque é uma forma de eu ter bem presente um princípio cá muito meu: a subversão é importante, o politicamente incorrecto também e a alegria de viver deve vestir-se com todas as cores e sabores de que formos capazes.
Portanto, meus queridos Leitores, se acharem que a música da Melody Gardot está aqui deslocada saibam que concordo. Mas é o que está a apetecer-me ouvir. E se também acharem que as fotografias que escolhi não têm nada a ver com o que estive para aqui a escrever, saibam que vos dou toda a razão. Mas não ia aqui colocar fotografias de doentes, de ambulâncias ou de lingerie beata.
Tenho cá para mim que se eu puder quebrar regras e daí não vier mal ao mundo e, pelo contrário, se for coisa que se traduza em doces festejos... pois porque não?
Até porque, a bem da verdade, estas são as regras da casa
(Por acaso são as Regras do Agent Provocateur mas poderiam ser as do Um Jeito Manso)
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E, não vá dar-se o caso de, por algum motivo, eu não conseguir vir aqui antes da meia noite, deixo-vos já os meus votos.
Para todos vós, meus Queridos Leitores, um feliz 2017. Saúde, sorte, afecto, boa disposição. Tudo, tudo de bom.
Depois de ter ilustrado a minha questão com os felinos da beira rio, se me mantivesse fiel ao que lá vos disse, deveria agora dar conta de como, pela tarde, me fui entregar à luz da beira mar e à companhia das gaivotas.
Mas, face à minha necessidade de a estas horas andar a desdireito, apetece-me fazer um intervalo.
Com vossa licença, portanto.
Esta minha necessidade de intervalar prende-se com o querer perguntar-vos se conseguem perceber como é que o catraio-conselheiro-de-estado consegue ser tão chegado a tantas e tão variadas fontes. Sabe tudo. Vai ali ao balcão da SIC e serve novidades a copo. Umas vezes revela que tem amigos no inner circle do Banco de Portugal (ainda as decisões não estão tomadas e já ele as anuncia de peito feito), outras no Governo, outras no mundo dos negócios e hoje, superando-se, até no Tribunal Constitucional. Divulgou em primeira mão, e depois ainda lhe aplicou segunda demão, que a maioria dos juízes é favorável a que a diva Domingues da CGD divulgue as suas intimidades e o pé de meia que amealhou. Ouvi e pasmei. Até ali? No Constitucional? Com o caneco...!
Ou põe escutas ou, Pin Y Pon como é, consegue infiltrar-se e enfiar-se debaixo de uma mesa sem que ninguém o veja ou, então, já arranjou um garganta funda, um juiz que, como quem não quer coisa, anda a espetar o palito no bolo dos outros para depois vir a correr, desbocar-se todo junto dele.
De cada vez que constato este dom do catraio até se me corre pela espinha abaixo um arrepio de dúvida: será que o que eu digo aqui na intimidade dos meus lençóis também transpira para os longos ouvidos do conselheiro-comentadeiro?
Corro o risco de um dia o ouvir a verter para a opinião pública confidências minhas, sussurradas na intimidade do meu ninho? Se calhar corro. Eu e todos nós. O pequeno conselheiro sabe tudo. Cuidado com ele. Ele é o verdadeiro Little Brother.
No meio da célebre imparcialidade do fofo, das bicadas com biquinho atapetado a veludo para passarem por beijinhos, da espertalhicezinha simpática que tão bem se lhe conhece e que tem sido o seu salvo conduto neste pacato burgo, a uma coisa achei eu graça na charla deste domingo: a ele ter dito, com todas as letras, que o PSD anda a arrastar um morto, que Costa vai a passeio pelo Parlamento tal a ausência de oposição, que o Costa faz o que quer e soma pontos já que o PSD desapareceu.
Sabendo-se que, ladininho como é, o sorridente catraio não dá ponto sem nó, uma coisa podemos nós concluir: se disse aquilo com tanta boca aberta, é porque já deve andar, às claras, a fervilhar de contactos, toda o aparelho laranja numa inquietação, os lugarinhos nas autarquias a irem pelo cano, as hipóteses de apear a geringonça cada vez mais longínquas, e todos a conspirar, furiosos com a burrice do láparo e a sem vergonhice da pinókia dos swaps. Dentro em breve vê-lo-emos, como quem não quer a coisa, a distribuir rebuçados, cromos e berlindes (metaforicamente falando, claro) para, subrepticiamente, começar a construir um candidato ao lugar do láparo morto (politicamente morto, claro). É começar a estar atento aos subliminares das suas conversetas. O láparo já era.
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E eu, face a tantas dúvidas, perplexidades e desconfianças, acho que está na altura de espiar as actividades do ganapo, ver como consegue ele sacar tanta informação, saber quem são os seus milhares de informadores. Ou montou células? Uma organização hierárquica de informantes, de gargantas-fundas?
Hora, pois, de entrar em cena o Agent Provocateur. E só vos pergunto: preferem naughty ou nice?
Tudo muito bonito, roupinhas muito lindas, todas muito frescas e fofas, rosadinhas e saudáveis, nem um quilinho a mais, nem um, pernocas que nunca mais acabam, cavalinhos brancos insufláveis que dá gosto, um mimo. Tudo um mimo.
Até a nossa Sarita, cada vez mais jeitosa, por ali anda, olho verde e lábio carnudo, cabelo forte e brilhante, uma malícia em forma de mulher.
Mas não sei. Não me convence. Parece que falta ali qualquer coisa, não é...?
Que graça é que aquilo tem, todas dengosas e sorridentes, meladas e malandras e, afinal, não há homens. Quer dizer, homens com papel activo. Há por ali uns quandos a fazerem de mobília mas isso não conta. Olha. Só por causa disso já não quero nenhum daqueles modelitos. Pronto.
A coisa passa-se no Château de Vaux-le-Vicomte e, dizem eles, é um very private affair.
Victoria’s Secret Holiday 2016
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Ainda se ao menos houvesse alguma distração... um tigre, sei lá, qualquer coisa.
Um tigre que goste de usar Prada, por exemplo.
O fotógrafo da National Geographic, Joel Sartore, consegue pôr um tigre (do Cheyenne Mountain Zoo) a posar. Não foi com bifes nem com a visão de anjinhos. Apenas com Prada.
Podia aqui falar de Sócrates, sempre escorreito no físico e na verve, imbativelmente igual a si próprio, ou da big mouth Ana Gomes que, no histrionismo, se parece cada vez mais com a sua gémea, a igualmente estridente Júlia Pinheiro. Podia. Mas não me apetece porque ela às vezes diz algumas coisas acertadas.
Podia também falar naquele desinfeliz do Subir do FMI que anda há anos a dar tiros ao lado. Ou podia até trazer à colação o desavergonhado e invertebrado Durão que agora, imitando a galinha rangélica, inventa conspirações de mosquitos na outra banda a ver se a gente se distrai e se esquece que os europeus o tomaram de ponta não por ele ser português mas por ser parvo, por ser uma nódoa, um resíduo tóxico. Podia, claro que sim. Mas já entrámos no fim de semana e imagino que vocês, Caros Leitores, queiram tanto ler sobre essas más rezes como eu quero sarna para me coçar.
[E refiro-me, neste caso, aos três da vida airada, cócó, ranheta e facada. E decidam vocês quem, de entre o Sr. LOL e borra-botas Cherne, é o facada e quem é o cocó. O ranheta, claro, é a rangélica galinha-macaquinha].
Por isso, não apenas porque cheguei a casa tarde e más horas (friday night é para sentir o fresco da maresia nocturna) mas também porque a qualidade da minha tez pede que me afaste do ar viciado do dia-a-dia, vou dedicar-me ao que se sugere, ao que fica implícito, ao que fica no ar (para os perspicazes). Por acaso é uma campanha, por acaso fala-se de Calvins mas não é por isso que aqui lhes dou palco. Gosto de irreverências, gosto de imagens como aqui se vêem, gosto do que não encaixa no politicamente certinho - e estes curtos vídeos são assim.
Espero que sejam como eu, sempre a espreitar a ver onde é que a coisa descarrila com inteligência e com graça -- e que gostem.
Calo-me já -- e que entrem os malucos. E as malucas, bem entendido. Para começar, pensem em quais os vossos verbos preferidos para não ficarem confundidos depois do que a senhora baixo vai dizer.
E agora play it
(again, sam).
Kate Moss, Miss Calvin Klein
Quebra as regras
Cobre-te
(ou não)
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E, caso se sintam românticos como eu, desçam, por favor, até ao post já aqui a seguir.
E não se esqueçam: portem-se mal, break the rules.
Tal como referi no post abaixo (no qual falei na insuportável Teresa Leal ao Coelho, no suposto fim da impunidade piropal e no bye bye do ex-irrevogável-Portas), agora vou mostrar duas mulheres num número de striptease. Como é sabido, o striptease é a forma decente de uma mulher se despir quando tem espetadores (ou, neste caso, por prudência, deveria manter o c, que, apesar de mudo, talvez imponha algum respeito?).
Adiante.
Ora, bem. Assim sendo, e dado que o Um Jeito Manso é, não apenas um blog de família mas, também, um blog que preza as boas maneiras, vou aqui partilhar convosco dois vídeos instrutivos.
Assim, consoante o seu tipo corporal e os seus dotes vocais, as minhas Leitoras poderão avaliar qual o striptease que conseguirão fazer com maior competência. Despir, sim, claro; tirar a roupinha, com certeza -- mas não de qualquer maneira.
E aos meus Leitores (homens) digo: também deverão despir-se com arte e boas maneiras mas, a menos que sejam do género da rapariga dinamarquesa, não deverão reproduzir os números que aqui irão ver. Poderão fazê-lo mais na base daquele GNR que foi apanhado a fazer strip. Não encontro o vídeo com o dito artista mas é capaz de ser qualquer coisa como isto.
Bem. Introdução feita, vamos lá, então, a isto.
1º caso de estudo
Em primeiro lugar temos uma moçoila com corpinho bem feito.
(Quando eu fizer uma dieta valente, a ver se não volto a ser assim. É só passarem as festas que a minha boquinha vai passar mais tempo fechada do que a manducar, ai não que não. Dieta rápida só mesmo com fomeca.)
Esta que aqui se mostra é capaz de saber tocar piano, ou pelo menos, parece ter vontade de aprender. Mas não canta. Eu, pelo menos, não a ouço. Só dança. E parece que a especialidade é dançar deitada. Não é difícil fazer isto e não arranja problemas a quem a vê. É brincalhona, mas as brincadeirinhas parecem inocentes. Portanto, esta modalidade é para quem não sabe fazer melhor e para espetadores pouco exigentes.
Mas isto, claro, sou eu a dizer. Na volta, sem dar por isso, estou mas é a ser invejosa, a padecer daquilo a que se chama invejinha branca (não sou santa - pode parecer que sou, mas não sou, ai Deus, e u é.
Chama-se, ela, Abbey Clancy e aqui é filmada por Sam Faulkner para a revista Lover.
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2º caso de estudo
Em segundo lugar tenho uma outra, um género bem diferente. Esta não tem aquele ar tenrinho da Abbey. Tem generosa carnadura e elevados dotes canoros. Saem-lhe as carnes por tudo o que é decote e espartilho -- e a voz vem atrás (atrás e à frente que o vozeirão se projecta para bem longe).
Como é lógico, não se arma em menininha preguiçosa, não se espreguiça dengosamente: não, esta vai à luta e canta que dá gosto. É fogosa, toda ela é Carmen, toda ela transpira paixão. Uma mulher assim é para quem pode: deve inspirar respeito pelo que não será qualquer homem que conseguirá tê-la por perto.
Chama-se Anna Caterina Antonacci e no vídeo abaixo interpreta Verdi: Grave a core innamorato... - "Un giorno di Regno"
O striptease não é total mas acho que a sua não-nudez será perdoada.
Resta-vos escolher.
Às minhas Leitoras digo que se apliquem nos treinos.
E aos meus Leitores homens digo: faites vos jeux - ou seja, que género de mulher preferem?
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E, agora, se descerem, poderão ver gente mais vestida mas, cá para mim, piores companhias do que estas duas mulheres que aqui estiveram a partilhar connosco os seus generosos dotes.
Estive a ver as listas 'mais' do motor de busca da Google em Portugal, ao longo de 2015, e fiquei como boi para palácio. Na maior parte das vezes não sabia do que se tratava (Desafio Final, Agario, etc), de quem se tratava (Maria Zamora, Sofia Ribeiro, por exemplo) e, no caso das questões que as pessoas escrevem, embora perceba o significado, fiquei admiradíssima.
A mim não me passaria ir ao Google e escrever 'O que é o amor?' ou 'Como ser feliz?' ou, ainda, 'Como ser bonita?'- e, no entanto, foram estas algumas das questões mais colocadas.
Mas, porque se constata que, de facto, é isto que mais desperta a curiosidade dos portugueses, vou ousar responder e faço-o na convicção de que sei o que é o amor e de que, pelo menos com frequência, me sinto feliz. Quanto a ser bonita, aí já não sei bem o que dizer pois, cá para mim, ou se é ou não se é; ou melhor, ou uma pessoa nem pensa nisso e se sente bem como está... ou chapéu. Mas, enfim, vamos lá.
O que é ao amor?
Em minha opinião, amor é aquilo que a gente sente quando se sente bem ao pé de uma pessoa, quando sente saudades se não estiver junto dela, quando dava tudo para poder estar todos os dias com ela, quando, estando, sente vontade de lhe contar coisas, de saber coisas, de a olhar nos olhos, sente vontade de se aproximar, sente vontade de a tocar, sente vontade de a abraçar. E, quando está longe, pensa mil vezes que dava tudo para poder abraçá-la. E quase que vive como se, em silêncio, lhe estivesse sempre a contar coisas, e tivesse vontade de partilhar com ela tudo o que de bom vive e vê e ouve e lê. E, quando está perto, tem vontade de se rir, tem vontade de a beijar, tem vontade de se sentir amada, tem vontade de se sentir desejada. E tem vontade de lhe oferecer coisas e de também receber atenções, afagos, gestos, beijos, carícias, e tem vontade de fazer projectos ou de acreditar que se hão-de, um dia, concretizar. E tem vontade de a levar para junto dos amigos e da família e quer sentir que a outra pessoa também a quer saber apreciada pelos amigos e tem vontade de falar dela a toda a hora.
O amor é bom. O amor só faz sentido se for bom, se nos fizer sentir bem, se nos fizer sentir um fremitozinho bom na barriga, um apertozinho gostoso no coração. O amor é tudo isso. E mais. Muito mais. Tanto que não cabe em palavras.
Claro que há também o amor maternal (que é absoluto e incondicional), e o amor filial, e o fraternal, e o amor por animais, etc. Tantos amores.
Sem-abrigo dorme encostado ao seu cão:
uma ternura, um amor muito grande, sem dúvida.
Mas penso que, quem vai ao google e escreve aquela pergunta, anda mais à procura do amor romântico, apaixonado, do que dos outros tipos de amor - e, por isso, fico-me por aqui.
Como ser feliz?
Já aqui o escrevi e ainda há pouco tempo falei dessa forma de vida dinamarquesa que os torna o povo mais feliz do mundo: o hygge, o prazer das pequenas coisas na companhia daqueles junto de quem nos sentimos bem.
Para mim a felicidade alcança-se quando nos sentimos livres (e isto, para mim, talvez seja a primeira condição), quando nos sentimos agradecidos, quando sentimos que estamos em paz connosco e com os outros, quando nos sentimos disponíveis para aceitar sem condições e apreciar o que nos é dado presenciar ou viver - e pode ser um céu azul, uma flor escandalosa de tão bela, uma árvore de onde saem chilreios e que dá uma sombra acolhedora, um rio largo, um pássaro que brinca na relva, uma gaivota que dança no ar, uma criança que descobre o mundo ou um casal que se abraça, tomar um chá quente e saboroso, ler um bom livro, ver um filme que nos envolve, estarmos deitados na relva de um jardim ou numa rocha junto ao mar, apanhar sol na pele nua, ouvir a chuva, estarmos sentados numa esplanada a ver quem passa, sorrir para alguém, receber o afecto de uma pessoa, de um cão (ou de outro animal de estimação), merecer a confiança de outra pessoa, escrever, sentir o retorno de quem nos lê, recordar bons momentos, imaginar alegrias futuras, caminhar num bosque, num jardim, numa praia, estar nos braços de quem se ama, respirar um ar fresco com cheiro a maresia, contemplar uma cidade bela demais. E, quem tem filhos e netos, saber que estão bem, estar com eles, vê-los felizes. E tantas, e tantas outras coisas que nos fazem sentir felizes.
Como ser bonita?
Nisto, eu acho que o que torna uma mulher mais atraente é o sentir-se segura. Ou nem isso, talvez sentir que, querendo, conseguirá agradar. Ou talvez não se preocupar muito com isso. Não sei o que dizer aqui. Talvez que, como no amor ou na felicidade, o principal seja tirar o peso de cima, não racionalizar demais, deixar que a leveza nos leve, não nos preocuparmos com insignificâncias, acreditar que o que for soará e que há sempre alguém, algures, para nos amar, para nos fazer felizes, para nos fazer sentir bonitas.
E, portanto, não sabendo o que dissertar sobre o tema (porque acho que não é a maquilhagem, o corte de cabelo, as marcas ou tipos de roupa ou os sapatos que farão milagres - embora um mix acertado de tudo isto possa produzir impressionantes efeitos) passo aos exemplos.
As meninas do vídeo abaixo, os Anjos da Victoria Secret são das mulheres mais belas do mundo mas têm, também, graça, descontração, charme, alegria - e isso ajuda muito nesta coisa da beleza feminina.
O vídeo foi divulgado há poucos dias e é relativo à época festiva - Victoria’s Secret Holiday 2015.
Porque se trata de publicidade a roupa interior feminina, a sua apresentação reza assim:
The greatest gift of all is love, but some stunning lingerie never hurts.
(Confirmo)
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O pior é quando as anjinhas se põem elas a cantar... Ui, até dói...
Mas, vá lá, acho que a gente lhes perdoa (mas é só porque nos fazem rir).
E a nossa Sarita não vai nada mal.
Victoria’s Secret Angels cantam 12 Days of Christmas
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E há a felicidade suprema de uma mulher livre que se sente bela, que muito ama e se sente amada -- e que faz o que quer, como quer, onde quer, com quem quer, porque quer.
Trouble in Paradise
Com a surreal e por aqui muito apreciada Dame Vivienne Westwood (74 anos) e o seu marido Andreas Kronthaler (49 anos) fazendo de Eva e Adão -- com muito amor e muito humor, a favor de uma grande causa: a sustentabilidade do planeta.
Ganda maluca! Esta é cá das minhas.
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Quanto às outras questões, como por exemplo, 'o que é papel comercial?', ' o que é o Paypal' ou 'o que é o Uber?' agora não me está a apetecer responder. São temas chatos: outra pessoa que se chegue à frente que eu sou mais dada a frescuras.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira.
Sintam-se belos, amados e felizes -- está bem?
(Nisto da felicidade, se acharem que não têm muitas razões para se sentirem felizes, pensem que acabou a coligação dos PàFs, que o Láparo já correu com o Portas e que não tarda o Rio corre com o Passos e, não tarda, também, alguém há-de correr com o Portas e, de limpeza em limpeza, talvez o ar em Portugal se torne mais respirável --- e isto são boas notícias. É caso, até, meus Caros, para fazermos uma party)