Andava sem saber que nome dar à minha história. E chamo-lhe história sabendo que história não será bem o termo. Folhetim. Talvez folhetim como nas vezes anteriores em que me deu para ficcionar. Não sabia que nome dar a este folhetim. Ao escrever cada episódio nunca sei onde vai dar e, por isso, não sabia se ia contar a história do Manel, a da Clara, a do roubo de informação sensível, ou a de viver uma vida de segredos ou o quê.
Mas hoje acordei com um nome. Como tantas vezes, é no escurinho de uma noite de sono que se me faz luz. E foi, de novo, o caso: acordei a pensar que lhe ia dar o nome de 'A agente secreta'. Simples. Sem rodeios. Claro que o título, em si, encerra uma subtileza mas isso é coisa que, cá para mim, é muito bem capaz de ficar só para mim. Neste momento ainda não sei se conte mais uma ou outra coisa ou se já chega. A bem dizer nem sei se, de facto, até já não disse demais. Mas já disse, está dito.
E conto-vos mais: já me chamaram a atenção para que me estava a esticar, que tivesse cuidado, que há coisas que não são para ser reveladas. Não acho. E sou assim: se sinto que tentam constranger-me, esperneio. Esperneio às claras, dou um chega para lá. Preciso de espaço e sei o que faço. Podendo parecer que digo demais, na realidade só digo o que considero que faz sentido ser dito. E o que contei no meu humilde folhetinzinho é coisa pouca, nada, só efabulações. Nada daquilo aconteceu. Pelo menos não a pessoas com aqueles nomes.
Enfim. Agruras cá minhas.
É como eu saber, quase antes de se saber, que o Pardal não é flor que se cheire e que é bom que quem tem o caso em mãos se despache para que quem ainda não percebeu o que ali está fique rapidamente a saber quem é o 'artista' que está a armar toda esta baderna. E não é que tenha pena do Bloco de Esquerda ou do PSD ou de todos quantos ingénua ou oportunisticamente apoiam o Pardal e as suas 'habilidades': tenho, isso sim, pena dos motoristas, dos trabalhadores honestos que não sabem com quem se meteram e a quem esta brincadeira vai sair cara.
Mas o tema deste post é outro. Tem a ver com a forma como nos movemos, como agimos. Tem a ver com a forma como nos colocamos a jeito. Como nos tornamos vulneráveis. E aqui uso o nós -- que não é majestático mas, apenas, humilde -- apenas para que não pareça que me sinto acima das armadilhas que aí estão a cada passo.
Vejam, por favor, este vídeo. Vejam com atenção. E aceitem, por favor, a minha sugestão: pensem.
Facebook, Instagram, até o WhatsApp: a vida toda exposta, tudo registado, partilhado -- conversas, fotos. Mesmo o LinkedIn. Tudo. O que se faz, por onde se anda, por onde se andou, aquilo de que se gosta, as pessoas com que se dá. Dir-se-á: há coisas que são privadas, apenas para quem faz parte do grupo. Pois, pois. Poderia explicar como um amigo passa a outro que passa a outro... até que vai parar onde não se faz ideia. Mas acho que não são precisas muitas explicações.
Poderia ainda referir a vida facilitada que agora têm todos os que, por um motivo ou por outro, pretendem obter informação sobre alguém. Mas também acho que não são precisas grandes explicações. Dá para perceber.
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E agora vou pensar se acrescento mais algum bocadinho de prosa à 'Agente Secreta'. Mas não é fácil: como dizer o que não pode ser dito sem que me desnude?
E espero que gostem das pinturas de Jason Anderson tal como espero que gostem de ouvir Leonard Cohen com Hey, That's No Way To Say Goodbye. É que, por vezes, não há maneira de dizer adeus. E eu detesto dizer adeus. Por isso, não vou dizer. Nem agora nem amanhã, ao acordar. Se calhar, nem nunca.
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