[Ao fazer o link para a wikipédia e, logicamente, ao ler o que lá se diz, fiquei de boca aberta (literalmente aberta) ao saber de quem é pai. Não fazia ideia. Espantoso -- até por nunca tal me ter ocorrido.]
Eugénio Lisboa no De Rerum Natura
Hoje transcrevo aqui uns bocadinhos apenas para que se possa apreciar a suculência:
Se alguma coisa Fernando Pessoa viu bem, nos portugueses com que veio encontrar-se, no seu regresso de Durban, foi o seu profundo e não radicável provincianismo. Somos provincianos a admirar e somo-lo a não sermos capazes de o fazer, quando disso seja caso. Um prémio dado lá fora, um elogio vindo de fora, criam um verdadeiro histerismo nacional, como se fôssemos, de repente, o povo eleito.
Já muitas vezes comparei a sobriedade com que o galardão Nobel é anunciado, recebido e comentado, na grande imprensa inglesa. Entre nós, com Saramago, foi aquilo que se viu.
Para quem seja minimamente adulto, do ponto de vista intelectual, e esteja razoavelmente informado dos bastidores e da durabilidade das reputações dos laureados, o espectáculo da fúria admirativa lusíada é realmente confrangedor.
Nunca vi, em França ou na Inglaterra, falar-se no “nosso” Nobel André Gide ou T. S. Eliot. Até seria insultuoso pensar que fora o prémio que lhes dera prestígio e não o seu mérito. O grande dramaturgo George Bernard Shaw não precisava para nada do prémio, porque já era uma lenda viva, na altura em que lho deram: quem precisava do prestígio dele era o prémio. Visto isso, até se deu ao luxo de recusar o dinheiro, aceitando, só por cortesia, o diploma e a medalha. (...)
Tem-se visto isso com os vários gurus de serviço, como foi, por exemplo, a vergonhosa figura feita pela nossa intelectualidade, durante toda a vida de Eduardo Lourenço e, particularmente, por ocasião da sua morte. Aquilo não era admiração, era pura adoração bacoca. Fazerem de um homem que nunca foi filósofo o mais genial deles, na história da nossa cultura, tem que se lhe diga. Mas poucos, em Portugal, apreciam o grito “o rei vai nu!” (...)
in A POSTERIDADE DE ALGUNS PRÉMIOS NOBEL DE LITERATURA
ou:
Na sua coluna habitual, na última página, da última edição do quinzenário JL, Gonçalo M. Tavares refina na idiotice que usa as vestes sumptuárias de uma pitonisa cheia de segredos ominosos. As suas reflexões sobre a guilhotina, além de já terem vetustas barbas, alcançam, nesta nova formulação, uma densidade de tontice por decímetro quadrado de página, como havia muito não me era dado observar. E este senhor é publicado, patrocinado, promovido, premiado, prefaciado, traduzido, viajado e venerado. Não sei se condecorado, mas deve ser falta de informação minha. O nosso meio intelectual anda realmente a bater no fundo. A boa notícia é que, a partir daqui, só podemos melhorar. (...)
Poetas como Gastão Cruz, seduzidos por proclamações extremistas e carecidas de verdadeiro sentido, não perceberam estas coisas como não perceberam muitas outras e ficaram cinquenta anos agarrados ao excesso deliberadamente provocante de Mallarmé, pretendendo fazer poesia só com palavras.
Seria bom que os nossos críticos literários, com tribuna oficial e responsabilidades acrescentadas, dessem um banho lustral às suas ideias e não andassem a vender gato por lebre, lançando a confusão nas jovens cabeças que os frequentam (...)
Toda a recensão está cheia de coisas confusas e sempre me pareceu que uma cabeça confusa não é o melhor equipamento para clarificar as ideias dos outros. Os nossos literatos têm de interiorizar, de uma vez por todas, que o opaco e o obscuro da escrita não são um valor, muito pelo contrário. A um literato deve exigir-se, tal como a um cientista ou a um filósofo, a boa fé das ideias claras.
Já basta a obscuridade que muitas vezes habita na própria poesia, não se lhe acrescente a de quem a escrutina. Citando o nunca assaz citado António Sérgio, um eclipse do sol é uma obscuridade, mas a explicação científica desse eclipse deve ser uma claridade.
Não há uma escrita literária e uma escrita de ideias, há só uma escrita.
in PÁGINAS DE UM DIÁRIO POUCO COMPLACENTE
_____________________ _____________________
A mais criativa. Talvez também a mais genuína. Do pouco faz muito. Há qualquer coisa de inocência e de muito íntimo em tudo o que publica. Há nela qualquer coisa de Lispector e de Helena Almeida. Gosto muito do que faz e gosto muito dela. Acredito que seja muito boa pessoa. Diz-se solitária mas desencanta nela e no que a rodeia sucessivos motivos de inspiração. Gosto imenso de a acompanhar. É uma lufada de ar fresco.
Gina do Dias de uma Grafómana
Poses
(Durante as férias)
Quis repetir uma pose que fiz em outras férias, as de há uma década. (link aqui) Já nessa altura imitei esta pose, havia visto algures alguém roçando os cabelos na água da piscina e, considerando giro pra caraças, imitei. Ora, este ano, imitei-me foi a mim, que o lugar é o mesmo e idem para o fotógrafo - O Luís, who else? - Entretanto, lá atrás, há post fotográfico com a foto, porém de corpo inteiro. Antes de a publicar idealizei que faria uma junção de quadradinhos azuis desenhados (desenhei-os para apagar as pessoas presentes na piscina, sei lá se quereriam estar presentes no blogue!) com os quadradinhos do interior da piscina, mas depois deixei-me de falas dispensáveis e toca de chamar simplesmente 'quadradinhos azuis à despedida'. - Pronto, sou deveras original. - Deixo agora a foto recente, mais aproximada do que a já publicada, bem como a que publiquei há uma década. Qualquer diferença encontrada, casual ou procurada, pois que, pá... Pára o mundo de girar? Não, né? Poi zé.ou:
Pequeno-almoço
Chá de hibisco e torradas com manteiga, o pequeno-almoço. Às vezes parece que, escrevendo, retirarei a presença, e até a poesia, às coisas que vivo. Calo-me, então.
Como sabem, e se não sabem não faz mal, eu gosto de vocês na mesma, tenho um creme de rosto que afinal até nem é creme nenhum, é um sérum, e oleoso, e eu tinha idealizado que o poria no nécessaire aquando das férias, a ver lhe acabava com o rasto e pâ pâ pâ. Pois bem, acabei, já até pus a embalagem no contentor dos plásticos. Guardei foi a tampa, que lhe estou a dar um uso para o qual não foi criada - o de servir de base e apoio para o desodorizante, que, estando de resto, virei ao contrário para o líquido escorrer e se manter always junto ao roll. Precisely, a tampa é redondinha, daí não se manter em pé e ao contrário. A imagem, o que tem a ver com o assunto já exposto, é que estava a distribuir o protector solar pelo rosto quando me lembrei que podia tirar-me o retrato e assim eternizar os pedaços de creme que haveria de espalhar. Pus o filtro que pus porque o retrato a nu é tão risível que não o aguento.
O mais romântico. O mais subtil, o mais elegante no manuseio de palavras que acariciam, o que estende a leveza do traço ao desenho e à escolha das cores, o que destila com requinte as mágoas, as saudades, os sonhos. Também um cuidadoso coleccionador de instantes, de troca de palavras alheias, de troca de olhares. Alguém que, no acto de coligir, sempre encontra maneira de deixar perceber a atenção carinhosa com que observa os outros. Um romântico integral. Silencioso e sedutor como um gato.
há instantes que pertencem às mãos, a elas apenas
há beijos feitosde átomos de voragem
Todos precisamos de alguém a quem possamos realmente dizer a verdade quando nos é perguntado:— Como estás?
Comprei o livro no dia em que saiu sem ter lido qualquer referência, que os mergulhos em águas escuras são trepidantes também. Terminado no espaço de vinte e quatro horas, pergunto-me: terminou, de facto? Haverá sequela, haverá fecho em obra subsequente? «What are you?», se chama o livro de Lindsay Lerman, e idêntica interrogação se pode colocar quanto ao livro em si: o que és, «What are you?» Que objeto incompleto, inacabado és que nos deixas mais interrogações que respostas? Ao leitor são dadas pistas, indicações, sinais, mas não conclusões, sequer pontes entre os dados. Como uma impossível estante de montar à qual faltem prateleiras e uns quantos parafusos. Para leitores que querem ser co-autores. Para mim, talvez, assim me ache capaz de assumir tal responsabilidade sem o poder associado, a mais temível das condições, a que sempre evito, aquela que será difícil aceitar, para já.
__________________________________________________
Nota
Se a algum dos três ilustres bloggers aqui festejados não agradar que as suas fotografias, ilustrações ou textos aqui tenham sido plantados, por favor diga-me, está bem? Retirarei logo que possível, prometo.
________________________________________________________
E, por hoje, por aqui me fico. Se amanhã não surgir nenhuma emergência que vá além de tartarugas gigantes a bloquear o tráfego ferroviário no Reino Unido ou da suposição de que Trump enterrou a primeira mulher, a loura recauchutada Ivanka, no 1º buraco do seu campo de golf para ter benefícios fiscais e se, estoicamente, continuar a não ceder à tentação de dizer algumas coisinhas sobre o Presidente de todos os comentadores que comenta pecados de cardeais, bocas de uma senhora num restaurante da Caparica e outras inconveniências, aqui estarei para dar curso a mais umas quantas selecções. Boa matéria prima e ilustres candidatos é o que, felizmente, não falta.
Amanhã, se tudo correr de feição, falarei do mais cirúrgico, do mais inesperado, do mais doido ou de outros ainda melhores. E não quero dizer que sejam do género masculino: podem ser e podem não ser. O que são é especiais.
___________________________________
Desejo-vos um dia bom
Saúde. Boa sorte. Paz.