Só para dizer que, há uns três anos, na empresa, mudaram de empresa de cartões de refeição. Fiquei com saldo de dois euros no cartão antigo(e sei porque me enviam o saldo). Em relação ao seguinte, como mudei eu de empresa, passei a ter um cartão novo e do velho não sabia o saldo. A última vez que tentei usar no supermercado (para quem não saiba, estes cartões tanto podem ser usados em restaurantes como em supermercados) não consegui pagar, saldo insuficiente.
Em relação ao primeiro, ainda não usei pois nunca mais me apareceu uma conta de dois euros. Em relação ao segundo, fiquei também com ele em stand by até perceber como saber o saldo e tentar encaixar uma conta nele.
Até que, no outro dia, no supermercado, a pessoa à minha frente, por sinal uma brasileira anafada, extrovertida e com um cabelo num louro ostensivamente irreal, ao pagar decretou: 'É pa parcelá'. Fiquei sem perceber. Parcelá? Já estou como o Bolsonaro, sem perceber. Seria 'parcelar? Mas parcelar a conta do supermercado? Contudo, o rapaz da caixa não estranhou: 'Quanto no primeiro cartão? E ela: 'Dezassete e meio'. Passou o cartão. A seguir passou o segundo. Fiquei bege. Afinal dá para pagar a conta do supermercado com dois cartões!? Como é que nunca me tinha lembrado de tal? Como é que nunca me tinha apercebido disso?
Mas, assim sendo, problema resolvido. Só tinha que descobrir o saldo do segundo que, pelas minhas contas, ainda teria dinheiro que se veja.
Então, hoje ao ir ao supermercado, tive uma ideia peregrina: ir primeiro à máquina do multibanco e ver se me dava o saldo do cartão.
Enfiei o cartão. Ainda mal tinha introduzido o código já aquilo me estava a mostrar opções. Mas uma coisa atípica. Apenas duas opções 'Outras Operações' e 'Mb way'. Tentei 'Outras operações'. Em vez de me aparecer a opção 'consulta de saldos', não senhor, fui parar ao ecrã anterior. Tentei o Mb way. E, aí, nem saldo nem dinheiro nem nada. Zero. A máquina disse-me que, por razões de segurança, me ia reter o cartão e que contacte eu o banco.
Fiquei siderada. Sou avessa a situações destas, sinto-me impotente, indefesa, fico a temer que o mundo me sugue, que um meteorito me caia em cima e me esmague para todo o sempre.
Mas, pronto, a vida continua. Fui fazer as compras. Pouca coisa e, sem saber como, cinquenta e dois euros. Isto está bonito, está. Imagino o sufoco para quem tem miúdos em casa e um ordenado curto ou para quem tem uma reforma baixa e medicamentos e despesas inadiáveis.
Quando fui pagar, ao procurar o cartão normal, vi na carteira o outro cartão de refeição e constatei que, na máquina, me tinha enganado. Usei o cartão dos dois euros. Foi esse que, afinal, foi engolido. Ou seja, coloquei o código do cartão mais recente. Não percebo porque não assinalou que o código estava errado. Só sei que agora tenho que ligar para o banco e depois hei-de ter que ir buscá-lo. Ou deixá-lo lá ficar pois não sei se vale a pena grandes maçadas por dois euros.
Quando cheguei a casa, peguei no outro, o dito mais recente, aquele de que não sabia o saldo, e pus-me a vê-lo com olhos de ver. Vi que tem números de telefone. Nunca tinha reparado. Liguei. E fui guiada pelo atendedor automático: introduza o código. Depois: se quiser saber o saldo, digite 1. Digitei e aquilo disse-me o saldo. 29€.
Mas isto para dizer que andei este tempo todo sem saber como descalçar a bota e, afinal, era de caras: bastou ligar e fiquei logo a saber o saldo. E ando há anos a ir ao supermercado e desconhecia que dá para parcelar e pagar com dois cartões.
Aproximação segundo a Porta dos Fundos
Nunca foi sobre crédito ou débito, é sobre conexão, sobre estar junto em todos os pratos, em cada acompanhamento. É aquele acalento na alma na hora de pedir a conta e o coração chega a errar as batidas até a maquininha chegar. Ame seu garçom em praça pública!