sábado, março 15, 2025

Alguém consegue explicar porque é que ao grande Rangel deu a pica no day after?
Ao Rangel e, pelos vistos, ao Montenegro e, provavelmente, a todo o ex-Governo

 

Depois de a malta do Governo andar a baldar-se a reuniões europeias da maior relevância -- como as realizadas recentemente sobre o rearmamento da Europa ou sobre a guerra da Ucrânia (fosse para Montenegro ir jogar golf com o amigo Violas ou por outras razões lá deles) --, eis que, depois o mesmo ir abaixo, o Rangel resolveu armar-se em não sei o quê e apresentar-se em Kiev. Nem sei o que me faz lembrar. Vê-lo por ali a fazer não se sabe bem o quê só me constrange. É como se um noivo, depois de a noiva o ter rejeitado no dia do casamento, a seguir, todo lampeiro, se apresentasse para ir gozar a lua de mel. Figuras tristes.

É como a malta do Governo ter frequentado um curso sobre Transparência no dia a seguir ao governo ter caído por não merecer a confiança do Parlamento (por, justamente, o Montenegro ser tudo menos transparente ou confiável).

Falta de noção. Cenas muito macacas.

E, que nem de propósito, depois de eu, ontem, a propósito das dúvidas que, há uns meses, se levantaram sobre benefícios fiscais potencialmente indevidos por parte do Montenegro (quando fez aquela sua casa à beira da praia, com seis andares, seis casas de banho, elevador interior), ter referido a falta de transparência dele quando, num daqueles números em que é exímio, se tinha apresentado com um dossier cheio de papéis, hoje leio que, na realidade, não forneceu as facturas à PJ... Um artista. 

Muito transparente, de facto.

E li e ouvi também que a Câmara de Lisboa travou vistoria às obras nas casas de Montenegro em Lisboa, aparentemente feitas sem licenciamento (quando são obras que mexem com a estrutura do edifício ao abrir um buraco na placa de divisão entre pisos). Tudo situações muito transparentes...

[Não costumo ser cusca mas ainda hoje, ao ouvir comentar que ele deve ter uma grande fortuna para ter feito aquela casa exorbitante em Espinho e pouco depois ter comprado a pronto dois apartamentos no centro de Lisboa, fiquei curiosa sobre a sua declaração patrimonial]

O que é bizarro é vê-lo por aí, todo pimpão, com aquele sorrisinho cínico, como se os portugueses todos não olhassem para ele como o chico-esperto, o flausino, o habilidoso.

O trumpismo é uma virose que atravessa fronteiras e que contagia as pessoas mais vulneráveis, mais permeáveis à falta de vergonha.

sexta-feira, março 14, 2025

Sobre o beco ético

 

Marcelo não queria eleições, claro. Vai acabar coroado de dissoluções e de ingovernabilidades. Mas não pensou nisso quando dissolveu a Assembleia quando havia uma maioria absoluta. Tivesse ele aceitado Centeno como Primeiro-Ministro e não estaríamos onde estamos.

Mas, enfim, leite derramado.

Também achou uma burrice sem tamanho (burrice ou cavalice, como se queira chamar) o Mentenegro ter avançado com a Moção de Confiança. Mas não foi ele que andou com o Mentenegro ao colo até o pôr lá? Claro que depois percebeu que tinha feito mal, que o Luís não é flor que se cheire. Mas tarde demais.

Agora, na comunicação ao País, tentou alertar o País para que se o Parlamento tinha mostrado que não confiava no Primeiro-Ministro, não era colocando o Luís outra vez na berlinda que o problema ficaria resolvido. Como muito bem disse, quando se perde a confiança e quando o que paira é uma dúvida ética, nada a fazer. A mácula está e estará lá.

As notícias sucedem-se, todos os dias um jornal traz uma notícia nova e a conclusão vai sempre desembocar no beco ético a que Marcelo se referiu: Mentenegro é o típico videirinho, pequeno chico-esperto, daqueles que pensa que sabe como fazer para passar por entre os pingos da chuva, que sabe como usar as meias palavras  para que, quando vierem dizer que mentiu, ele  dizer que os outros é que não perceberam bem. 

Vai acabar mal, claro que vai. E não estou a rogar praga nem a fazer futurologia. Estou apenas a ser racional. Trabalhei parte da minha vida em modelos, frequentemente modelos previsionais, modelos que tinham por base estatísticas e probabilidades. Quando a informação chega até mim, mentalmente estabeleço correlações, vejo padrões, analiso desvios... percebo onde é que a coisa vai dar.

Um indício é coisa pouca. Da mesma forma que com dois pontos se traça uma recta, dois indícios já são qualquer coisa, já desenham uma linha de pensamento ou de actuação. E se com três pontos já se traça um plano, com três indícios o esquema começa a perceber-se. A partir de quatro pontos passamos para outras dimensões e o mesmo se passa com quatro ou mais indícios.

E depois há outra coisa: o que é verdadeiro, explica-se facilmente. Quando há mil explicações e quase todas, para parecerem muitas, já não são senão palha, a gente começa a perceber que alguma coisa está a querer ser ocultada. Se eu quiser mostrar as obras que fiz na minha casa, dou uma explicação clara e concreta. Se eu quiser ocultar, apareço com um dossier enorme cheio de papéis que, obviamente, numa conferência de imprensa vai ler. Só uma auditoria experiente, capacitada para perceber de construção e de contabilidade e de legislação consegue entender. Da mesma forma, se eu quiser explicar o que faz uma empresa minha, chego lá e explico: fazemos isto e aquilo, temos x clientes que são estes e estes, o que fazemos para cada um é isto e aquilo, facturamos tanto e tanto, a nossa estrutura de custos é esta, as contas de exploração e o balanço são estes. Tudo simples e clarinho. Mas, se eu quiser lançar a confusão, vou dizer que tenho um terreno com não sei quantos metros quadrados, com duas oliveiras e mais outro que se situa em Rabal e que tem isto e aquilo. E se eu quiser falar da minha idoneidade e da minha moral, vou para a frente das câmaras e sozinha, sem uma corte atrás, explico tudo direitinho, não vou dizer que montei uma empresa com uma estrutura, quando toda a gente sabe que uma empresa que faz consultoria jurídica não se monta com uma educadora de infância e dois filhos adolescentes, mesmo que um deles tenha jeito para a informática. E se eu fizer obras em casa, furando a placa, para transformar dois andares num duplex, não vou dizer que fiz o que tinha que ser feito, quando afinal parece que disse que eram obras interiores que não careciam de licença e não disse que ia mexer na estrutura do edifício. E falam os jornais também nas contas dos dinheiros que não batem certo e depois ninguém percebe ao certo se há para ali dinheiro não declarado ou o quê.

E se eu quisesse que não subsistissem dúvidas, pedia à Autoridade Tributária (ou porventura, também a outro qualquer organismo) que auditasse as contas da empresa. Pois se Mentenegro diz que nunca tirou de lá dinheiro nenhum, seria interessante que se comprovasse que não é de lá que sai o pagamento da água, da luz, das comunicações, dos combustíveis, da limpeza da casa, dos restaurantes, de viagens, um 'ordenado' da mulher, se calhar também um 'ordenado' para um ou para os dois filhos, quiçá uma 'renda' da casa, e sabe-se lá que mais. Se eu não tivesse nada a esconder, teria imediatamente fornecido a contas descriminadas da empresa.

E mostraria também, com o consentimento dos clientes, qual o trabalho efectivamente prestado. Seria interessante saber que trabalho é que a Solverde e demais clientes (como a gasolineira que pagou 230.000 € quando tem 12.000€ de lucro e, pelas contas do ano seguinte, parece que não beneficiou nada de tal trabalho) contratam para ser feito pela Inês Patrícia. Seria interessante não numa de voyeurismo mas, sim, para esclarecer tão bizarro mistério. 

Há um acumular de dúvidas que mancham a credibilidade de Mentenegro. Vota-se em alguém em quem se confia. 

Um político a sério, perante estas dúvidas, demitir-se-ia e tentaria provar, fora de cargos de poder, que é inocente e impoluto. Não arrastaria o governo, o partido e o País.

A dimensão de um homem (ou de uma mulher) vê-se, sobretudo, na forma como enfrenta os desafios: se é com verticalidade, de peito feito, com grandeza.

Mentenegro escondendo-se atrás da mulher e dos filhos, depois atrás do Governo, a seguir atrás do PSD, mostra ser um pequeno homem, alguém que não deveria estar na política.

O outro, que é gozado por todo o lado, roubava malas no aeroporto. depois continuou a dizer-se inocente e a manter-se no Parlamento. Este, a ser verdade tudo o que tem sido noticiado e não desmentido, joga num tabuleiro diferente, porventura mais rentável e um pouco, apenas um pouco, mais sofisticado. 

Só espero que a campanha que vai ser feita, em que mentem, mentem descaradamente, se gabam do que herdaram do Governo do PS (do excedente orçamental e dos projectos e trabalhos em curso, muitos dos quais interrompidos com a interrupção do Governo socialista), em que se vitimizam, seja desmascarada. Julgo que o mais eficaz será através do humor, através de memes que circulem nas redes sociais, que estejam nas ruas. 

 A política deve ser deixada para quem a executa com grandeza, com verdade, com honestidade, com verticalidade, com carácter. E não é o caso desta gente do actual PSD. 

quinta-feira, março 13, 2025

Fui ao ginásio e dei no duro, fui a uma bela Biblioteca, vi uma exposição de pintura, passeei à beira mar, fotografei garças e barcos, apanhei chuva, apeteceu-me lanchar mas contive-me, cheguei a casa já tarde mas ainda fui fazer sopa.
E agora vou imaginar que sou eu que estou aqui a dançar o tango e, para que não pensem que me esqueci do tema do momento, transcrevo um texto imperdível de Rui Bebiano no seu magnífico 'A Terceira Noite'

 

E, antes disso, ainda acrescento que já peso menos dois quilos e picos, ou seja, já estou na média para a minha idade e altura, mas que a balança inteligente e sobredotada (comunica-me os resultados por telemóvel, faz gráficos e diz-me em que ponto da escala me situo em relação a cada indicador) diz que ainda tenho alguma gordura corporal a mais. Não é muito, creio que uns 4 ou 5% a mais (tenho o telemóvel a carregar noutro sítio, não me apetece levantar-me para ir ver o valor certo), mas não quero. Só que ver-me livre dela não está a ser pêra doce. O ChatGPT diz que tenho que fazer mais exercício ou consumir menos calorias. La Palice não diria melhor. Só que é uma dor de alma não poder comer o queijinho pelo qual me pelo, tenho que me limitar a um esquálido quadradinho de chocolate preto sem pingo de açúcar. E a fruta, que eu se fosse eu comeria às carradas, agora está mesmo limitada a 3 míseras peças por dia. 

E o pior é que sei que, mesmo quando estiver no ponto, para assim me manter, terei que me manter assim, à míngua. Ora eu sou tudo menos vocacionada para me forçar a provações.

Enfim.

Bora mas é tangar.

No es por ti - Grupo Corpo (Lecuona)


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E agora é mal empregado colocar aqui um texto tão objectivo, tão exacto, como o que vou tomar a liberdade de transcrever na íntegra. Mas as coisas são o que são. O autor é Rui Bebiano, de que já antes aqui fiz referência, e escreve no blog A Terceira Noite que eu sigo religiosamente.

12 de Março de 2025

De forma simplificada, são dois os motivos principais que levaram à rejeição da moção de confiança e à próxima saída de Luís Montenegro do cargo de primeiro-ministro. O primeiro, mais invocado, tem a ver com práticas profissionais que colidem com o dever de exclusividade de quem detém cargos de responsabilidade no governo, por motivos acrescidos quem dele seja a figura principal. O segundo motivo, menos mencionado apesar de também importantíssimo, prende-se com o facto de a empresa envolvida, a Spinumviva, ser apenas familiar, não tendo sequer sede própria e corpos gerentes, dedicando-se basicamente ao tráfico de influências realizado sob a capa de «aconselhamento» em negócios privados.

Nada disto deveria ter acontecido, e, a ser revelado como foi, deveria ter conduzido de imediato à apresentação da demissão do cargo que LM ocupa. Todavia, não só tal não foi feito, como depois da triste novela pública vivida ao longo destes dias, o mesmo LM declarou pretender apresentar-se de novo a eleições e afirmou nada ter feito que «qualquer português não fizesse». Se assim acontecer, o PSD irá arrastar o país para uma situação de impunidade legal e ética premiada. Sabemos que em países como os Estados Unidos da América de Trump isto está a tornar-se trivial, mas, caramba, nós ainda vivemos no democrático país de Abril. Por isso de modo algum pode acontecer.

Nem mais. É isso mesmo. 

Ângelo Correia e Montenegro

 

Liguei a televisão e estava o Ângelo Correia, na SIC Notícias, a dar um tareão do Montenegro, mas um senhor tareão. 

Às tantas, interromperam para transmitirem o Mentenegro a falar, em directo para todas as televisões, creio que no Conselho Nacional. 

Quando se virou para a frente e disse que ia falar para os portugueses e para as portuguesas, fiz zapping. Foge...

Mas, quando chegar a casa, Mentenegro faria bem em ouvir a intervenção de Ângelo Correia. Talvez perceba melhor o que pensam os portugueses.

quarta-feira, março 12, 2025

O Mentenegro queria uma Comissão de Inquérito nini.
Ahahahahahahahaha

 

Quando a minha filha era pequenina, talvez ano e picos ou dois, quando uma coisa era pequena e nós, naquela forma que os adultos têm de usar diminutivos quando falam com crianças, dizíamos que a coisa era pequenina, ela reduzia a palavra e dizia que era nini. Uma vez, estava a chuviscar, uma chuvinha miudinha daquela de que se diz que é molha-tolos, e ela disse que estava uma 'chuva nini'.

Hoje, ao ver as cenas patéticas, ridículas, na verdade até absurdas, por parte do PSD a tentar, por todos os meios, impedir o escrutínio e propondo, em vez de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, uma conversinha de pé de orelha entre o Montenegro e o Pedro Nuno Santos ou uma Comissãozinha a jacto, de 15 dias, só me apeteceu dizer que vá brincar às CPIs ninis lá para a terra dele.

Haja paciência.

Ou melhor. Já não há paciência.

Montenegro já era.

Alô, alô Hugo Soares! Diz que 'o povo percebeu tudo'. Ah percebeu, percebeu... oh se percebeu... Percebeu que o Montenegro meteu o PSD no bolso e, com isso, arrastou a Assembleia e o País para uma crise

 

Continuem nesta senda e vão ver o que os 'Portugueses' -- com que tanto enchem a boca -- pensam. Já que não têm cabeça para perceber por vocês, esperem pelas eleições.

PSD: tudo patético. Agora o que me fez confusão foi o silêncio do Rangel

 

Não vi tudo, longe disso, mas, do que vi, estranhei não aparecerem nomes com algum peso a sair a terreiro a defender o Mentenegro.

Por exemplo, o Rangélico, sempre tão frenético, esteve tão caladinho porquê?

Todos aterrados com a linda proeza que o Mentenegro armou, é certo. Mas ele, sempre tão palrador, não conseguiu soltar um pio...?

terça-feira, março 11, 2025

Foi pena a Sandra Felgueiras não ter perguntado ao Montenegro quanto é que a mulher e os filhos recebem como 'ordenado' da Spinumviva e quais as despesas que estão a ser imputadas à empresa? Eletricidade, água, comunicações da casa? Limpeza da casa? Combustível dos carros da família? Etc, etc, etc. Por acaso, estou curiosa.

 

Eu sei que Montenegro já confessou que fez o mesmo que qualquer português. Mas está certamente a referir-se, como Vital Moreira também o diz, aos profissionais liberais que criam empresas para pagar menos ou nenhuns impostos e, em cima disso, ainda reaverem o IVA das facturas que contabilizam na empresa.

Mas Montenegro, como Primeiro Ministro, pode comparar-se a quem usa esse estratagema para pagar menos impostos? 

Não deveria ser eticamente imaculado? A ser verdade que na Spinumviva eram (ou são) parqueadas todas as despesas da família contabilisticamente elegíveis, até porque a 'sede' da empresa era a sua própria casa e o contacto da empresa era o seu próprio telemóvel, qual a sua motivação para apelar ao bom cumprimento fiscal?

(Não admira que queiram é aliviar o IRC... Ah pois...)

Já agora, Senhores Jornalistas: não querem fazer uma investigação e ver quantos médicos do SNS (e do privado, já agora) são facturados, como tarefeiros, através de empresas que, no fundo, são apenas uma extensão de si próprios, a extensão que lhes permite que o rendimento seja da empresa que, atafulhada de despesas pessoais, acaba por não dar lucro e, portanto, não paga IRC, e eles, como funcionários da empresa. recebem ordenado baixinho que mal paga IRS (e é se pagar)? Claro que esses habilidosos também podem meter como gerentes a mulher e os filhos, e todos ganham um ordenadozeco que, como é baixo, não paga IRS, mas que, sendo limpo -- e tudo somado -- já é coisa que se vê.

Mas, voltando aos médicos, com o valor absurdo que esta ministra ofereceu aos 'tarefeiros', não será que muitos estão a 'sair' do SNS para lá estarem a trabalhar na mesma mas como tarefeiros, ganhando em dois carrinhos, não apenas através do valor que o SNS lhes paga à hora como através do benefício fiscal que obtêm através das suas empresas?

E, já agora, Senhores Jornalistas: não seria de investigar se mais dirigentes da área da Saúde, especialmente os nomeados pela Ministra Ana Paula Martins, não estarão a acumular o ordenado de dirigentes com umas horinhas feitas como tarefeiros? Acreditam que foi só o Gandra d'Almeida? 

E, de qualquer maneira, não são apenas os médicos a praticar, creio que em larga escala, esta habilidade. Diria eu que também advogados, consultores, etc -- todos os que conseguem fazer isso conseguindo assim quase não pagar impostos.

Quando é que alguém se interessa a sério sobre a maria barbuda que é, na verdade, a nossa política fiscal?

Quando é que alguém simplifica e baixa globalmente o IRS para que espertezas saloias destas deixem de fazer sentido? 

E quando é que a inspecção fiscal cai em cima destes esquemas....?

Mas... como...? Se, na volta, se calhar, o próprio Primeiro Ministro pratica esta habilidade... Eu não sei se pratica, se não pratica, mas penso que é um tema que a CPI deveria analisar com cuidado. É que, a bem da higiene pública e da sanidade democrática, não deveriam subsistir dúvidas.

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E sobre o RGPD e o trabalho que, segundo diz o Montenegro, a Spinumviva presta, poderão descer até ao post que se segue.

Sei muito bem o que é o RGPD (Regulamento Geral de Protecção de Dados). Deu trabalho antes de entrar em vigor, em 2018. Depois disso, salvo uma ou outra questãozeca pontual, é como se nem existisse. Uma empresa gastar 54.000 € por ano com outra empresa -- quando tem equipa jurídica interna -- é a modos que um mistério.

 

Antes de 2018 as empresas focaram-se a fundo nos processos em que se 'mexe' em dados pessoais. Todos os processos tiveram que ser 'mapeados', tudo teve que ficar documentado. Como as empresas continuavam a trabalhar, contrataram-se empresas externas para entrevistar pessoas, para documentar, para avaliar da necessidade de usar dados pessoais (de clientes, de fornecedores, de colaboradores ou potenciais colaboradores, etc). 

Devo dizer que fui responsável pelo tema, a um nível 'macro', digamos assim, em várias empresas.

A partir do momento em que o RGPD entrou em vigor, em 2018, com tudo conforme -- o regulamento da empresa exposto nos respectivos sites, os formulários referindo que a aceitação de algumas condições teriam implícita a aceitação das regras, etc,, etc. -- o tema deixou de dar trabalho e chatices.

Agora, caso surja algum novo processo, o que em empresas já estabilizadas pouco acontece, segue-se o guião estabelecido e garante-se a conformidade. Contudo, vamos supor que há alguma queixa, alguma denúncia, de que há algum uso indevido de dados pessoais -- aí, geralmente, nas empresas há um DPO (Data Protection Officer) que avalia a situação e, em caso de dúvidas, o departamento Jurídico avalia melhor. Só em casos bicudos se pede parecer ou apoio externo.

Ora, se bem percebo, a Spinumviva recebe cerca de 11.000 €/mês (divididos por 4 avenças) por serviços relacionados com os dados pessoais que, na prática, não percebo ao certo o que são.

Montenegro, fazendo o que lhe é habitual, entra em pormenores que servem para empatar, para atirar areia para os olhos, descrevendo as funções de um DPO ou a lista de tarefas que aparecem descritas em termos de RGPD. Até o RGPD entrar em vigor, todos nós andámos às voltas com aquelas descrições. A partir de 2018 percebeu-se que a montanha tinha parido um rato. Portanto, é mais do que certo que na Spinumviva ninguém faz, mensalmente, nada do que ele para ali desfia.

Nota: Isto não quer dizer que o RGPD não valha nada. Vale. Por exemplo, o Facebook, se pegar em dados dos seus utilizadores e os vender a outras empresas, deve avaliar bem se nas cláusulas que as pessoas aceitaram (mesmo que as não tenham lido) está explícita a autorização para isso. Caso contrário, estará a usar indevidamente dados pessoais e deverá ser multada. Identicamente, se uma autarquia vender ou 'ceder' dados dos munícipes (morada, números de telefone, consumos, etc), sem autorização destes, a uma qualquer empresa, estará igualmente a infringir o RGPD. As grandes sanções que a violação do RGPD pode desencadear têm como fundamento situações gravosas deste tipo. 

Agora uma empresa normal, bem gerida, com os processos bem montados e documentados, em que ninguém usa dados pessoais de ninguém para usos indevidos, nem se lembra, e bem, do RGPD.

NOta: No título falei dos 54.000€ a título de exemplo (é a verba que, segundo as notícias, a Solverde paga à Spinumviva).

segunda-feira, março 10, 2025

Quando Paulo Portas fala em nome dos portugueses baseia-se em quê? Fez uma sondagem só para ele?
A que propósito enche a boca para dizer: 'Os portugueses não percebem' ou 'Os portugueses não querem'?
Ele, que nunca conseguiu nada enquanto líder partidário, sabe lá interpretar o sentir ou o pensar dos portugueses...

 

E depois, tendo engolido a cartilha da equipa de comunicação de Montenegro, o forever irrevogável Portas põe nas mãos do PS a decisão de não haver crise. E a entrevistadora, a simpática Andreia Vale, esquecendo-se de ser jornalista, não foi capaz de lhe dizer que está equivocado pois quem tem nas mãos essa decisão é o Montenegro que foi quem entregou uma Moção de Confiança, fadada à rejeição. Ele que a retire.

Só palhaçadas. 

Sinto falta de políticos sérios, cultos, eticamente irrepreensíveis, corajosos, com visão. 

Tirando alguns, poucos, que se encontram mais ou menos retirados, certamente fartos da cambada que por aí anda a trocar tintas, a vender banha da cobra e a poluir o espaço mediático, só se veem alguns decentes que parece que não conseguem falar suficientemente alto para se fazerem ouvir sobre o permanente ruído da marabunta.

Caraças.

Vou fazer zapping (vou em busca do 'Isto é gozar com quem trabalha'). Eu ainda consigo fazer algum esforço para ouvir o Portas e demais aves papagaias que por aí andam a papagaiar, mas o meu marido fica furioso, não está para ser aturar quem atenta contra a inteligência alheia.

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E transcrevo um comentário, pertinente, e que já aqui tinha sido deixado há dias:

Volto a uma pergunta anterior: porque razão o site da Assembleia da República deixou de publicar os registos de interesses?

É ir ao site, escolher o nome de um deputado. Vê-se quantas legislaturas fez, as comissões a que pertence, a biografia, e no cantinho direito está lá uma ligação para os registos de interesses. Se tiver feito várias legislaturas vemos em que sociedades tinha quotas ou lá o que eles entendem que deve ser publicado. Abre-se para esta legislatura e zero. Porquê?

Aqui fica a dica. Alguém sabe responder?

domingo, março 09, 2025

Alô, alô, senhor ministro Pinto Luz: não faça o número gago do agarrem-me senão eu bato-te. Fica ridículo.
Se, como diz, "O PSD não quer eleições, o primeiro-ministro não quer eleições e os portugueses não querem eleições", porque é que o seu chefe entregou na AR uma moção de censura?
Já pensou que o melhor para o País seria o PSD livrar-se do Montenegro? Ora puxe lá um bocadinho pela cabeça.

 

A narrativa que o PSD arranjou para tentar fazer-nos uma lavagem ao cérebro aí está no terreno, a toda a força. Tudo o que é papagaio anda a propagandear, com a ajuda da comunicação social, que a culpa de tudo é do PS.

Eu só espero que, maioritariamente, os portugueses não sejam tão acéfalos como estes papagaios sem vergonha na cara e mostrem, veementemente, que não engolem tudo o que lhes dão a comer. E que mandem o Montenegro -- que depois de se ter escondido atrás da mulher e dos filhos, agora anda a esconder-se atrás destes ministrecos -- de volta para Espinho para poder fazer fretes à vontade à Solverde, à gasolineira do pai do candidato à Camara de Braga, por sinal, marido da célebre Inês Patrícia, e a outros clientes do género.

Alguém devia fazer ver a esta gentinha que andar a poluir o ar que respiramos não é uma boa estratégia.

É pena que as vozes inteligentes sejam tão poucas e tão pouco escutadas. Pena, pena.É que, de uma coisa, não subsistam dúvidas. Como muito bem diz C.: "Por mais piruetas que as agências de comunicação façam, é esse rosto de chico-esperto que  vai ser impresso nos cartazes."

E qual o papel dos jornalistas? Transcreverem ipsis verbis a lenga-lenga engendrada para enganar os pacóvios ou exercer um mínimo de contraditório? Não sabem o que é exercer o contraditório? E são descerebrados a ponto de não serem capazes de desmontar retóricas enganosas?

Muito do que é o populismo ou votos dados a quem só anda cá para enganar o Zé Pagode deve-se a esta Comunicação Social que vai atrás de todos os ossos que lhe atiram.

De facto a estupidez é um mal generalizado e, pior, para o qual ainda não se descobriu o antídoto. Caraças.

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[E, se estiverem para aí virados, queiram, por favor continuar a descer pois há mais aqui, onde se fala da longa manus e do alter ego, do Montenegro -- como tão bem Vital Moreira escreveu]

Uma palavrinha e um conselho aos desesperados do PSD a propósito da longa manus e do alter ego de Luís Montenegro

 

As televisões têm estado encharcadas de papagaios e começámos a perceber que os inteligentes da equipa de comunicação do PSD pariram um aborto mas, sem perceberem que o nado-morto infelizmente não tinha pernas para andar, puseram os ministros e os caceteiros com ele ao colo. 

(Imagem mais triste. Não vou aprofundá-la muito mais.)

Mas, ainda assim, deu para perceber que a ideia peregrina é atirar o enrolo criado pelo Montenegro para cima do PS. 

Como o PSD é assim -- um saco de gatos que, quando toca a reunir e a defender os lugares a que se alaparam, unem-se a sério e papagueiam a cartilha que lhes distribuem -- nem querem saber da triste figura que andam a fazer e repetem as parvoíces que os da comunicação engendraram.

Mas eu, que estou de fora, daqui lhes envio a verdade-verdadinha que a malta do lado de cá, os votantes, apreenderam:

1 - O PS deixou passar o programa de Governo

2 - O PS safou a macacada em que o PSD se envolveu ao não conseguir, sequer, eleger o Presidente da Assembleia da República

3 - O PS deixou passar o OE 2025

4 - O PS não deixou passar a Moção de Censura que o Chega apresentou, salvando o Governo

5 - O PS não deixou passar a Moção de Censura que o PCP apresentou, salvando o Governo

6 - O PS avisou profilaticamente que não deixaria passar uma Moção de Confiança, avisando que era sensato que o Governo não fosse por aí

7 - Tendo o PSD provocadoramente -- ou numa tentativa patética de evitar uma Comissão de Inquérito -- apresentado uma Moção de Confiança, o PS veio publicamente sugerir ao Governo que retirasse a Moção

Portanto -- branco é galinha o pôs -- o PS não pode ser, de forma alguma, responsabilizado pela crise que Montenegro está a provocar. Clarinho como água.

Se Montenegro e demais tropa fandanga insistirem nessa narrativa patranheira estarão apenas a demonstrar ao País aquilo que já todos sabemos: para além de tudo, padecem de uma grande desonestidade intelectual.

E a desonestidade intelectual em cima de todas as notícias que têm vindo a lume -- e não desmentidas -- que dão conta de esquemas e mais esquemas (sendo que o escrutínio de alguns  eventualmente poderá vir a passar para a alçada do MP), é coisa que costuma indispor severamente os eleitores.

Recomendo a leitura do inequívoco texto O caso Montenegro (7): A empresa "avatar", de Vital Moreira, cuja leitura integral recomendo e onde se lê, por exemplo: 

- não tendo nenhuma autonomia em relação ao seu fundador, a Spinumviva não era mais do que uma metamorfose na apresentação externa daquele, um "avatar" do advogado Luís Montenegro, para continuar a sua atividade profissional e beneficiar do seus proventos.

- a Spinumviva é uma ficção de sociedade comercial, sendo verdadeiramente uma longa manus ou um alter ego de Montenegro.

- Esta extraordinária declaração de Luís Montenegro, de que «não fez nem mais nem menos do que faz qualquer português» é uma confissão implícita. Na verdade, como escrevi no início deste "caso", aquilo que muitos profissionais liberais fazem - que é criar empresas pessoais/familiares para prestarem os seus serviços em nome delas, serem pagos através delas e beneficiarem de redução de impostos e da imputação de despesas pessoais - podia ser feito pelo advogado Luís Montenegro, mas não podia ser continuado pelo PM, sob pena de violação da exclusividade a que está obrigado e de conflito de interesses, entre o interesse público que lhe cabe de prosseguir e os interesses económicos dos clientes que lhe pagam as generosas avenças.  Ao contrário do que defende Montenegro, o PM não pode fazer o que "qualquer português" pode fazer, quanto mais não seja por uma questão de ética política, que neste caso foi manifestamente posta na gaveta.

Aqui chegados, eu poderia elencar todas as irresponsabilidades, incompetências e descaramentos em que o Governo Montenegro tem sido pródigo. Poderia até dizer que se cair, não se perde nada. Mas não é isso que agora está em causa. 

O que está agora em cima da mesa é que, fruto das trapalhadas do Montenegro (repito: do Montenegro, exclusivamente do Montenegro) e da impossibilidade de as defender, este está a atirar o País para uma crise que, muito provavelmente, nos vai atirar para novas eleições.

Ora, face ao desespero em que vejo as hostes do PSD, o que sugiro é o seguinte:

Hipótese A

a) O Montenegro, se é homenzinho (reparem que não falo em homem, não peço tanto, falo apenas em homenzinho), deve apresentar uma Moção de Confiança interna (isto é, no PSD), de votação anónima

b) Mais do que certamente, essa moção será chumbada. A malta do PSD por vezes parece que não tem os alqueires bem medidos (muito sinceramente, com todo o respeito, (sic), deixem que diga que, ao quererem atirar as culpas da cagada em que o Montenegro se deixou afogar para cima do PS, parecem completamente parvos), mas não são burros de todo. Por isso, devem estar furibundos, sentindo-se fornicados de todo com o caldinho do Montenegro e só por pudor não correm com ele a pontapé. 

c) Com o tapete tirado pelo PSD, Montenegro terá forçosamente que se demitir.  

d) Com o Montenegro de volta a Espinho, Marcelo poderá perguntar ao PSD se quer apresentar algum nome para Primeiro-Ministro. Havendo um, talvez a legislatura consiga arrastar-se por mais algum tempo

Hipótese B

Em alternativa, Marcelo, se resolver lembrar-se que ainda está em funções, pode chamar o Montenegro e dizer-lhe que já chega, que antes que se descubram mais cegadas, é melhor que desampare a loja, que vá enrolar clientes para Espinho. E pode chamar o que ainda se mantiver de pé do PSD e perguntar-lhes se há lá alguém que se aproveite para Primeiro Ministro.

Claro que os timings são curtos, que não somos como os ingleses que num dia votam e no dia seguinte os vencedores já estão a tomar posse, tudo na base de atar e pôr ao fumeiro. Mas, ainda assim, em querendo, alguma corda aos sapatos talvez se pudesse dar

Errata: Lá em cima, na alínea b da Hipótese 1, enganei-me a escrever uma palavra. Como sou uma pessoa bem comportada, aqui está como deve ser: caguada. Assim já não estou a dizer nomes feios.

sábado, março 08, 2025

Se eu fosse eu

 

Há um texto muito conhecido de Clarice Lispector que explora essa possibilidade. Reza assim:

Quando não sei onde guardei um papel importante e a procura se revela inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase “se eu fosse eu”, que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar. Diria melhor, sentir. 

E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas, e mudavam inteiramente de vida. Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei.

Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho, por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo o que é meu, e confiaria o futuro ao futuro.

“Se eu fosse eu” parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos enfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais.

Neste caso paradoxal em que Montenegro, para não se desenredar a ele próprio, enredou todo o País, se eu fosse eu -- e se eu tivesse poderes mágicos para conseguir que se fizesse o que eu queria -- haveria algumas coisas que eu faria de imediato:

1ª - Corria com o Montenegro do PSD. O quanto antes.

O caciquismo laranja no seu pior, vestígios daquele cavaquismo que, em seu tempo, alastrou por todo o País, o amiguismo feito de esquemas, e aquele espírito videirinho em que se fala por meias palavras ou, de preferência, nem se fala para que possa sempre dizer-se que não foi isso que disse, em que uma mão lava a outra, em que há sempre quem contrate alguém para que um dia que seja necessário e etc. -- tudo isso vejo em Montenegro. Das pessoas mais incompetentes que conheci até hoje, um que era cavaquista, que estava administrador de uma empresa, tendo já passado por outras administrações, sem saber fazer nada de nada de nada (nem se esforçar por isso). Amigo de um amigo. Falava muito do Marques Mendes e do outro de que já nem me lembro o nome, um ministro com bigode que também andou metido em trabalhos. Este artista de que falo tinha uma bela casa, tinha uma outra bela casa, tinha um belo carro, a empresa pagava-lhe motorista, exigência dele, frequentava todos os convívios em que os amigos dos amigos estavam, gostava de ostentar o seu poder. Mas, fazia género, dá ideia que se considerava mesmo um bom trabalhador. 

Um fulano como Montenegro está a ser muito mau para o País mas também para o PSD. Não sei se, neste momento, há alguém de jeito no PSD para suceder a Montenegro mas, mondando bem, talvez descubram alguém que seja um bocadinho melhor que ele.

2ª - Arranjava maneira de seguir uma sugestão que Leitor bem pensante aqui teve a amabilidade de deixar: avançava com José Luís Carneiro como candidato a Primeiro-Ministro

Pedro Nuno Santos é um bom rapaz, é boa pessoa, é bem intencionado, é voluntarista, parece genuinamente honesto -- mas, em minha opinião, falta-lhe uma qualquer quelque chose. Parece que ainda não está sólido, parece que lhe falta pulso, punch, mão firme. 

Contudo, que não se faça confusão: entre Montenegro e Pedro Nuno Santos, claro que Pedro Nuno Santos. Estão em planos diferentes. O plano de Montenegro é o dos chicos-espertos, que usam a política para engrossar (ou, pelo menos, manter) a sua carteira de clientes. O plano de Pedro Nuno Santos é um plano em que há ainda utopia, desejo de uma vida ao serviço do País, há alguma nobreza na forma como se entrega de corpo e alma. Mas ainda não está no ponto. 

3ª - Arranjava maneira de ter uma direita decente, liberal, democrática. Havendo uma direita moderna, arejada, talvez esvaziasse a direita civilizada que se bandeou para o Chega

4ª - Tentava ter uma esquerda moderna, inteligente, lúcida, com compreensão para o que são os reais problemas das pessoas, uma esquerda despretensiosa, não ortodoxa, aberta. Talvez se conseguisse esvaziar o que resta do PCP, o que resta do BE, do PAN e do Livre, e criar uma força política nova, com os pés assentes da realidade actual (não no passado, não noutra qualquer geografia). Talvez assim a esquerda ganhasse força e talvez conseguisse cativar os que só encontraram 'amparo' junto do Chega.

Com um panorama político assim, acredito que o País seria outra coisa, seria governável, inteligente e eficazmente governável.

De qualquer forma, mesmo que a reorganização da esquerda e da direita não fossem para já, parece-me que seria saudável para o País que a 1ª e a 2ª medida fossem, desde já, seguidas. A 1ª seria não apenas saudável como higiénica.

Tirando isso, claro que havia ainda outra coisa:

5ª - Também gostava que tivéssemos um Presidente da República em acção e agindo de acordo com a Constituição e com o bom senso, e com uma visão rigorosa e ponderada cobre o País e sobre o Mundo. Mas, no actual contexto, acho que esta já seria talvez pedir de mais.

Mas o Tozé Seguro anda por aí a mandar bocas em que qualidade? Não se enxerga...

 

Só porque o ingénuo Pedro Nuno Santos teve a infeliz ideia de referir o nome dele, deu em pôr-se em bicos de pés como se alguém estivesse à espera dele.

Não está. Nunca acrescentou nada e, passados tantos anos, continua a ser a mesma nulidade.

Mas não se enxerga. Por aí anda a falar como se já fosse Presidente da República. Caraças, quando os carapaus têm tosse é uma tristeza de ver.

sexta-feira, março 07, 2025

O queixo de Christiane Amanpour até caiu ao ouvir Mélanie Joly, a Ministra dos Negócios Estrangeiros do Canadá

 

Uma grande e muito interessante entrevista. 

Tempos tempestuosos estes.

O mundo chocalha, estremece.... mas reajusta-se. 

Talvez não seja mau de todo. É aquilo que há quem diga: deus escreve direito por linhas tortas.

[Está traduzida]

'My jaw is dropped': Canadian official's interview stuns Amanpour

Canadian Foreign Minister Mélanie Joly talks to CNN's Christiane Amanpour about Trump's ideas on trade, military cooperation, annexation and more

Vladdy Daddy

 

The Lincoln Project is a leading pro-democracy organization in the United States — dedicated to the preservation, protection, and defense of democracy. Our fight against Trumpism is only beginning. We must combat these forces everywhere and at all times — our democracy depends on it. 

quinta-feira, março 06, 2025

O que aí vem

 

Não vejo como é que o PSD vai aceitar que quem irresponsavelmente atirou o País para eleições antecipadas, depois de andar a tentar esconder o que já estava à vista de toda a gente (e ando a ouvir dizer com alguma insistência que ainda mais está para vir a lume), seja o líder que vai conduzir a campanha eleitoral que aí vem.

Além disso, começam a ouvir-se outros nomes no seio do partido. Portanto, não sei se a instabilidade dentro do PSD não virá juntar-se à instabilidade em que Montenegro lançou o país.

Acresce que o tipo parece não ter noção. Faz coisas de uma leviandade que não lembram ao diabo. Baldou-se a uma cimeira da maior relevância e, ao mesmo tempo, é visto a transportar o carrinho dos tacos de golf enquanto, ao lado, o amigo da Solverde vai de mãozinhas. Podendo alojar-se na Residência Oficial de S. Bento, fica num hotel cujos custos não se percebe como paga com o ordenado que ganha, hotel esse onde se passam todos os grandes eventos do PSD, levando a que já haja quem tema que ainda venha a saber-se que está a ter um tratamento 'especial'. Dá ideia que é aquela mania que tem que quer, pode e manda e não tem que dar satisfações a ninguém. Aliás, na Assembleia da República, até deixou sair que 'tem mais que fazer do que estar ali a dar explicações'. Talvez por isso nem se tenha dado ao trabalho de informar o Presidente da República que ia fazer um anúncio no sábado à noite, rodeado pelo governo, que, mais que certamente, ia atirar o País para nova crise. Uma desconsideração um bocado surreal demais.

Portanto, sendo o menino do calibre que já se viu, o PSD vai aceitar ser conduzido para o desastre eleitoral sem tugir nem mugir?

Do CDS não falo. Não existe.

Do lado do PS, tenho algumas dúvidas. Numa lógica de que há que ter estabilidade, o Partido Socialista tem feito de tudo para que não haja crise: deixou passar tudo o que o PSD quis e agora queria tudo menos eleições. Pedro Nuno Santos queria fazer uns Estados Gerais ao longo de 1 ano para daí emergir um Programa de Iniciativas que desse origem a um programa de governo e uma equipa ministerial. Portanto, eleições agora é tudo o que o PS fez tudo para evitar. 

Mas as coisas são o que são. Num mundo ideal fazem-se as coisas ponderadamente, com tempo, step by step. Mas o mundo real geralmente atropela o mundo ideal. Portanto, situemo-nos no âmbito em que estamos, ou seja, no meio da confusão.

Sempre achei o José Luís Carneiro mais sólido, mais estruturado, do que o Pedro Nuno Santos. Mas não foi isso que o PS quis. Portanto, é Pedro Nuno Santos que tem que ir à luta. E só espero que se saiba rodear dos melhores. Há nos quadros do PS gente muito capaz, há que saber contar com eles. E há que saber recrutar gente capaz na sociedade civil, não necessariamente dentro do partido. Os timings são apertados, a conjuntura internacional é do caraças -- ou seja, nada disto é para meninos. Portanto, há o PS tem que dar ao pedal e manter a cabeça no lugar. 

Quanto ao PCP, tudo o que faz é ao lado, é cada vez mais uma nulidade, nem vale a pena pensar nisso. 

O Bloco está esvaziado, não sei se ainda consegue tracção para ir à luta.

O Livre não consegue agarrar senão um eleitorado restrito, mais intelectual e purista. Uma base eleitoral exígua.

A Iniciativa Eleitoral tem sabido manter-se sóbria, com intervenções racionais, sem embandeirar em arco, sem ceder a facilitismos. Provavelmente continuará a aguentar-se e talvez até a subir junto do eleitorado mais jovem e mais escolado.

Sobra o Chega. Nesta perspetiva, isto é, nas próximas eleições, para mim uma incógnita. André Ventura tem uma agilidade e habilidade mental notáveis. Consegue sacudir de si todos os escândalos que têm recaído sobre os seus deputados. É aquilo que se diz: nestes partidos, escândalos que não ferem o líder, não abalam as opções de voto dos simpatizantes. E, neste caso concreto, André Ventura pode capitalizar dizendo que, ao apresentar a 1ª moção de censura, fê-lo cedo demais pois o tempo (e não foi preciso muito) veio a dar-lhe razão. André Ventura consegue ocupar a agenda mediática: é sempre o primeiro a falar para a opinião pública, é sempre o primeiro a pronunciar-se e sabe falar com clareza e eficácia. Compreende-se que uma parte significativa da população se sinta confortável a votar nele.

Mais do que termos medo de André Ventura ou mostrarmos nojo do Chega, penso que o mais inteligente é perceber como é que a forma de comunicação deste partido e desta pessoa são tão eficazes. Abstraiamo-nos da demagogia, do populismo, da falta de vergonha e fixemo-nos na eficácia, no sentido de oportunidade, na construção das frases e na escolha das palavras. Talvez haja ilações que possam ser úteis.

Uma coisa é certa: a política de amiguismo, de nomeações por filiações partidárias, os 'tachos', levadas a cabo por partidos que têm ocupado o poder merecem profundo repúdio por parte da população. Ventura cavalga em cima disso. Mas o PS deveria interiorizar também estes princípios pois são essas práticas que minam a confiança do eleitorado.

Tirando isso, o que se me oferece dizer sobre tudo isto é que, para já, coitado do Marques Mendes. Ganda nóia.

Coitado do Marques Mendes...

 

Anos e anos a fazer a homilia dominical para ver se tinha a mesma sorte que o amigo Marcelo... e agora acontece uma destas...

terça-feira, março 04, 2025

O comentador e o chico esperto -- ou melhor, Marcelo e Montenegro
-- A palavra ao meu marido --

 

Sempre achei que o Montenegro é um chico esperto que, com maior ou menor falta de ética, tem enganado os portugueses. 

Recordemos, e só cito dois exemplos: 

  • o choque fiscal prometido e reprometido na campanha eleitoral e que nunca existiu 
  • e as prometidas "rápidas melhoras" na Saúde num prazo de 60 dias que, de facto, com a sua intervenção se tornaram num "estado muito grave" ao fim de dez meses. 

Agora descobrimos que o Montenegro também, na sua vida privada, usa e abusa, da chico espertice (e veremos se, em alguns casos, não será mesmo ilegalidade). A criação de uma empresa que está por provar se, entre outros objectivos, não será para pagar menos impostos, continuar a receber avenças sendo primeiro-ministro, entre as quais uma avença de uma empresa cuja  atividade depende de uma licença emitida pelo governo, comprar apartamentos através de contas bancárias cujo saldo parece ter sido criteriosamente gerido para as transferências não poderem ser escrutinadas vão muito para além da chico espertice. A olho nu parecem incompatíveis com a função de PM, parecem de uma falta de ética inimaginável e deverão, na minha opinião, ser investigadas por quem de direito (AT, Ordem dos Advogados e MP) para se verificarem se a legislação está a ser cumprida (por muitíssimo menos, e, na realidade, ainda está para se perceber porquê, o João Galamba foi escutado pelo MP durante quatro anos). 

Mas o Luís Montenegro ainda foi mais longe. Para tentar salvar a pele, meteu a mulher e os filhos "ao barulho", o que ultrapassa todos os limites (só o Marcelo se pode "orgulhar" de ter feito a mesma coisa). 

Por mais voltas que tentem dar, por mais vezes que digam que o País não aguenta outra crise politica 

(a referência ao Guiness feita pelo Marques Mendes é de gargalhada. As dissoluções que houve até hoje não foram da responsabilidade do seu amigo Marcelo que ele sempre apoiou na homilia semanal? Foram, foram!), 

o Montenegro ou se demite ou tem que ser demitido já!

Já agora, ao Marcelo aplica-se o ditado "quem semeia ventos colhe tempestades". Fez todos os possíveis para correr com António Costa (ainda está por esclarecer quem foi o autor "moral" do parágrafo metido â última hora no comunicado pela PGR que originou a demissão do António Costa) e saiu-lhe o Luís Montenegro que não lhe liga patavina (no caso do comunicado de sábado até me parece má educação) e só lhe cria problemas. 

E o tipo que comentava tudo e todos, corria ou tentava correr com ministros e secretários de estado, falava em "ramos pobres", visitou um beco e uma casa de gelados, saía por uma porta do palácio e entrava por outra "se calhar" só para fazer "comentários" â malta da comunicação social, agora não diz nada. Pelos vistos, acha que não dar posse a uma secretária de estado cujo marido estava a ser investigado é muito mais relevante do que o pântano atual causado pelo Luís Montenegro. 

Sr. Presidente, poupe-nos a esta novela faça alguma coisa: demita o Montenegro. E se lhe é difícil encontrar uma solução, o problema é seu. Ninguém o mandou demitir um governo que tinha maioria absoluta, ninguém. A sua atuação neste caso é mais uma confirmação para a opinião pública de que o Presidente Marcelo é o pior presidente da democracia portuguesa.

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Nota: o Público tem hoje um artigo sobre as nomeações na Saúde. De tudo o que se sabe, todas têm sido feitas pela cor do cartão partidário -- e a ministra, com a habitual cara de pau, diz que as nomeações não são feitas a pedido do PSD. Como dizia um colega meu, "mentiroso sou eu e não minto tanto". 

Gerir unidades de saúde que movimentam milhares de funcionários e centenas de milhões de orçamento sem qualquer experiência em gestão, seja em gestão hospitalar ou não, é caminho certo para o desastre. Mas os novos nomeados têm alguma dessa experiência? Basta por exemplo ver a experiência de gestão que tem, para citar um único exemplo, o novo CEO da ULS Almada/Seixal. 

Também valeria a pena os jornalistas investigarem:

1 - Os custos das demissões dos novos gestores 

2 - e se não existirão esquemas para os novos gestores auferiram mais proventos do que o salário. 

Não devem esquecer os esquemas "tipo" Gandra d`Almeida que, sendo dirigente do INEM, trabalhava como tarefeiro em Hospitais Públicos. Não haverá acordos desses com outros gestores contratados?

Depois das conclusões do IGAS sobre  a greve do INEM e depois do que a ministra disse no Parlamento qual a razão para não se demitir? Será porque, na realidade, em ética sai ao chefe, ao Luís Montenegro? 

E o Marcelo, achará que este caso também não  merece comentários? 

E quando é se vai escalpelizar a contabilidade da empresa do Mentenegro?
Pergunto

 

Volto a dizer: seria muito interessante ver a contabilidade da Spinumviva. Não estão lá debitadas as despesas da água, da luz, dos carros, dos combustíveis, das limpezas, etc, da casa do Mentenegro? E restaurantes, hotéis usados pela família? E não está a reaver IVA de faturas pessoais? Ou seja, a empresa não é um veículo para o Mentenegro e família pagarem menos impostos? Seria interessante verificar. Aliás, como sugere Vital Moreira, seria de homem se Montenegro pedisse, ele próprio, uma auditoria à sua empresa -- e a tornasse pública.

segunda-feira, março 03, 2025

Presidente Marcelo... cu-cu...!

 

Está escondido, Presidente Marcelo...? Ou anda a brincar às escondidas...?

É brincadeirinha destes tempos de Carnaval, é?  É que o seu amigo e correligionário Mentenegro também anda escondido dos palcos internacionais. Que saiba, nos últimos já é a terceira vez que se balda. Não convém também perceber que coisa estranha é essa? Estão os dois a brincar? Quiçá até a brincar um com o outro? 

E já nem falo das incompetências grosseiras do Governo do Mentenegro -- agora, cingindo-me aos últimos dias depois de todas as palhaçadas do 'seu' menino, depois das mentiras, das meias verdades, das chico-espertices, das cobardias, com o país inteiro perplexo com tamanha falta de coerência e de vergonha, o Senhor Presidente não acha que a sua palavra e a sua acção são necessárias?

Tanto e tão injustamente andou atrás de ministros competentes do Governo Costa, tantas demissões na prática exigiu, tantas dissoluções por razões só suas, e agora, perante um descalabro destes, fica calado? Passivo? Inerte? A assobiar para o lado?

Ou está à espera que a gente o encontre...?

Cu-cu...!

domingo, março 02, 2025

Chico-esperto. Manhoso. Cobardolas

 

Todas as opiniões são subjectivas. A minha também é. 

Sendo uma pessoa atenta e que tenta estar informada, é natural que forme uma opinião sobre os agentes políticos.

Sobre Montenegro desde há muito que tenho uma opinião. Contudo, agora que, fruto das suas funções, ele está mais exposto, passei a conhecer melhor a forma como actua. 

Em especial desde a campanha eleitoral e, sobretudo, desde que é primeiro-ministro, o que tenho visto é um daqueles videirinhos, chico-espertos, daqueles manhosos que acham que enganam os outros, daqueles que usam frequentemente a palavra 'sinceramente' para dizer coisas que sabemos que não são verdade, escuda-se atrás de questões familiares, e, como se isso não fosse já mau demais, foge. Desculpa-se com condições técnicas para não responder ou para não participar em videoconferências, balda-se a conferências internacionais, balda-se a responder às perguntas que lhe fazem, foge das perguntas, atira responsabilidades que são suas para cima dos outros e, mesmo num momento crítico em que se apresenta ao País numa comunicação na casa oficial do primeiro-ministro, consegue vir dizer coisa nenhuma e acabar sem que ninguém tivesse percebido qual a sua intenção ou o que vai fazer. Ou seja, porta-se cobardemente.

Claro que também avalio o desempenho deste governo como uma lástima. Apregoou como seu o que foi trabalho de outros, o que apregoou que resolvia em 3 meses não apenas não foi resolvido como está pior do que antes, etc., etc., etc.

Ou seja, quer as suas políticas são más para o País como a sua presença à frente do Governo é, sob todos os pontos de vista, uma desgraça.

E acabo com o que venho perguntando: e Marcelo? O que diz? Acha Marcelo que há alguma estabilidade? Acha Marcelo que Montenegro tem condições para continuar à frente do Governo?

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Quanto ao Pedro Nuno Santos fez a mesma coisa que fez em relação ao Orçamento: falou antes de tempo, neste caso a propósito da moção de censura que os comunistas, estupidamente, vão apresentar. Caraças. 

Confirma-se: Mentenegro é um brincalhão. E também se confirma: toma-nos mesmo por parvos

 

Nada a dizer, Senhor Presidente?

Nada? Nada? Nada mesmo...?

No meio da catrefada de parvoíces que disse, típicas do chico-esperto que é -- e mais uma vez numa de toca e foge -- e depois de atirar areia às pázadas para os nossos olhos, ainda consegue provocar o PS. Mais uma vez, porta-se mal. Mal, mal, muito mal. Se há coisa de que o PS pode ser acusado é de ter andado a tratar o desgoverno Mentenegro com demasiados paninhos quentes.

Vamos agora ver o que se segue. Vamos ver se o Pedro Nuno Santos se porta como deve ser.

sábado, março 01, 2025

Mas o Montenegro toma-nos por parvos ou quê...?

 

Lido agora na conta de Instagram de Miguel Pratas Roque:

José Sócrates está acusado por ter recebido, depois de ter cessado funções, pagamentos de um amigo para facilitar decisões públicas favoráveis às empresas desse amigo.

Manuel Pinho foi condenado por ter recebido pagamentos pelo Banco Espírito Santo, relativos a comissões e créditos anteriores à sua entrada no governo, enquanto era ministro da Economia, através de uma off-shore de que era beneficiária ("beneficiary owner") a própria mulher.
  • O que seria se José Sócrates estivesse a receber pagamentos mensais de vários grupos económicos enquanto era Primeiro-Ministro? 
  • O que seria se José Sócrates tivesse tido um amigo, médico e dono de um grupo empresarial de saúde (que já empregou a ministra e a secretaria da Saúde), que lhe pagasse férias e o albergasse numa casa de luxo que lhe pertence, no litoral nordestino brasileiro?
  • O que seria se José Sócrates tivesse passado férias e fins de semana, a convite de um amigo que é dono de casinos e de uma cadeia de hotéis?
  • O que seria se Manuel Pinho tivesse recebido pagamentos de grupos económicos, não por serviços alegadamente prestados antes de ser ministro, mas por serviços que o mesmo assume estarem a ser prestados enquanto exerce essa função?
Percebem, agora, a gravidade da situação? Onde anda a histeria coletiva do espaço mediático? Obre anda o Presidente da República que, antes, se preocupava com trocas de agressões, num ministério? Onde anda o Ministério Público?

Hoje, descobriu-se que os grandes especialistas contratados por Luís Montenegro trabalhavam, como advogada e jurista, no escritório de Hugo Soares e João Rodrigues, marido da primeira, que é candidato do PSD à câmara de Braga. Em comunicado, a empresa do Primeiro-Ministro tentou ocultar a identidade da advogada, chamando-lhe apenas Inês Patrícia e não Inês Varajão Borges.

São estes os grandes "especialistas" contratados?...

Mal foi emitido o comunicado, o site do escritório de advogados de Hugo Soares foi abaixo, ficando indisponível. A tentativa de ocultação de Inês Varajão Borges é apenas infantil.

Só quem não tem ponta de decoro e de vergonha na cara pode manter-se em funções.

E só quem gosta de ser feito de parva/o pode tolerar isto.

Marcelo sente-se enrodilhado, sem saber o que fazer no CASO Montenegro?
-- Depois de o ter levado ao colo até S. Bento, agora não sabe como livrar-se dele?
Uma dupla cujo final político é triste

 

Note-se: até ver, com o que se sabe, o caso Montenegro é político. Falta de ética, violação do princípio de não conflito de interesses, encobrimento, aparentemente não respeitar a obrigatoriedade de não receber rendimentos de outras fontes que não a de ser Primeiro-Ministro. Embora já se fale no possível interesse do Ministério Público em fazer umas certas averiguações. Mas não é essa vertente que, para já, aqui me traz.

Se o tema fosse criminal, eu diria, como sempre digo, que o Montenegro seria inocente até prova em contrário. Os julgamentos fazem-se nos tribunais e não na rua.

Mas o tema a que me refiro é de confiança, respeito, dignidade, moral, ética. E aí, sim, a avaliação de um governante em exercício é feita, em primeiro lugar, na rua. Claro que, também, na Assembleia da República (mas, a primeira aproximação veio pela mão do Chega e chegou prematuramente, quando ainda não se sabia da missa a metade, pelo que a moção de censura foi chumbada).

Claro que há também a questão da (in)competência e, aí, a menos que se trate de casos deveras graves que requeiram a intervenção da Assembleia da República e do Presidente da República, a avaliação deve ser feita nas urnas, no tempo devido.

Mas, volto a dizer, não estou a falar nem da competência nem de questões criminais. Estou a falar da questão da 'percepção', tão cara ao Montenegro. E aí há que ajuizar qual a percepção que a 'malta', em geral, tem da sua idoneidade, da sua credibilidade, da sua honorabilidade. Se a malta em geral, de forma unânime (só o ouvi o Núncio a defendê-lo e isso não conta -- e, ainda assim, foi uma defesa mais abstracta do que dele), o vê como um chico-esperto, um videirinho que pensa que pode disfarçar as coisas que faz com conversa da treta, areia para os olhos ('um terreno com duas oliveiras', por exemplo), com habilidades jurídicas (ainda por cima mal feitas, nulas), então que condições tem Montenegro para se manter como Primeiro-Ministro?

Já antes tinha ouvido o Lobo Xavier dar-lhe um par de machadadas fatais. Mas este sábado vi o Miguel Morgado, um ferrenho militante e quase acéfalo defensor de tudo o que vem do PSD, enterrar de vez o Montenegro. O que ele disse deixou-me estupefacta. Se o Miguel Morgado se refere a Montenegro como um político medíocre ou diz que é impossível um primeiro-ministro pedir escusa seja do que for, não sei quem vai apoiá-lo caso ele queira manter-se em funções.

É uma chatice haver uma crise política numa altura destas. Claro que é. Ninguém a quer. Mas mais 'chato' é ter um primeiro-ministro sem credibilidade, em quem os portugueses não confiam.

O espectáculo que Trump, esse bully asqueroso, e J.D. Vance, um porcalhão mal-educado, deram na Casa Branca é uma coisa obscena.
Mais uma vez Zelenskyy provou que é um homem (e até dá vontade de escrever o H em maiúscula), um homem que os tem no sítio

 

O espectáculo vergonhoso, com duas bestas a humilharem e a quererem vergar um homem que há 3 anos se aguenta de pé apesar da violenta guerra a que o seu País tem estado sujeito, foi surpreendente. Mas não foi só isso que Trump e J.D. Vance fizeram: na verdade, humilharam todos os americanos e os Estados Unidos enquanto nação. Chamarem estúpido a Biden, como Trump já o fez repetidamente, gozar com Obama, dizer mentiras em catadupa, proferir ameaças, ofensas, falar com Zelenskyy como se ele fosse um jogador de cartas e a Ucrânia um tabuleiro, é uma vergonha, uma vergonha a nível mundial, uma vergonha nunca vista.

Não sei como é que os americanos, democratas ou republicanos, digerem um espectáculo tão vexante. Não sei se não se sentirão tentados a acabar com a ruína moral que representa a presença de Trump como presidente dos Estados Unidos.

Em contrapartida, perante aquela vergonha, Zelenskyy manteve-se fiel a si próprio: inteiro, frontal, humilde mas firme. 

Para a história Trump ficará como um palhaço. Putin como um psicopata, um assassino. E Zelenskyy como um herói. 

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E as reacções aparecem por todos os lados. Aqui está uma:

Trump and Vance ATTACK Zelenskyy in Oval Office and Align U.S. with PUTIN

Rick Wilson reacts to the disgraceful Oval Office meeting between Donald Trump, JD Vance, and Volodymyr Zelenskyy. Today's Oval Office spectacle wasn't about showing strength, it was about surrendering to Putin. Trump and JD Vance have sold out America.

sexta-feira, fevereiro 28, 2025

E agora, Marcelo?

 

É a avença que a Solverde paga à empresa de Montenegro 

  • e é o envolvimento anterior e presente de Montenegro com a Solverde
  • e, sabendo-se que a empresa de Montenegro é ele e só ele -- já que não se pode acreditar que uma educadora de infância e dois filhos saibam agir em consultoria, e que a sede da empresa é a sua própria casa -- como pode Montenegro pensar que alguém acredita que o assunto não é directamente com ele?
  • e, já agora, e como o meu marido muito bem insistiu ontem, com que outras empresas tem Montenegro ainda negócios (e não apenas ainda mas desde que é governante)?

e são as várias mortes que, segundo o relatório preliminar, foram provocadas pela actuação do Governo, através do Ministério da Saúde. 

Questões de uma gravidade extrema, grande demais, impossível de ignorar, impossível de escamotear.

Repare-se que não falo das atitudes gravosíssimas de demitir a eito conselhos de administração e comissões directivas para lá pôr boys do PSD nem falo de todas as incompetências a que temos assistido. Não. Já quase dou isso de barato. São os tempos.

Falo de duas situações de uma gravidade incontornável. Insanável.

Perante isto, Marcelo -- que é especialista em dissolver Governos por razões lá dele -- o que vai fazer agora?

Estamos à espera, Presidente Marcelo. Tem que agir, e agir com clareza. E rapidamente. E com coerência.

quinta-feira, fevereiro 27, 2025

Montenegro, contratos e cláusulas de confidencialidade
-- De novo, a palavra ao meu marido, em continuação do post anterior

 

Complementando o que escrevi ontem sobre o Montenegro e a necessidade de esclarecer completamente a atividade da empresa da família, venho abordar o argumento que alguns "amigos" do Luís e alguns comentadores, "provavelmente" desinformados, têm propagado sobre a impossibilidade de serem referidos os clientes  devido a eventuais cláusulas de confidencialidade dos contratos.

Na minha atividade profissional participei na elaboração, na discussão e tive acesso a muitos contratos com âmbitos muito diferentes e em áreas de atividade muito diversificadas. Não me recordo de um único contrato em que as cláusulas de confidencialidade mencionassem que  a relação contratual entre o fornecedor e o cliente não podia ser divulgada. As cláusulas contratuais referem geralmente, com mais ou menos pormenores, que algumas informações disponibilizadas durante a relação contratual não podem ser divulgadas publicamente (por exemplo, questões técnicas, questões comerciais de pormenor). Acresce que os fornecedores têm todo o interesse em divulgar  os clientes com quem trabalham para aumentar a sua lista de referências e o seu prestígio. Basta consultar qualquer site de qualquer empresa, com mais ou menos relevo, para constatarmos que são referidos os clientes para os quais trabalhou. Tenho ideia de que, por exemplo, quando a Marinha divulgou  a sua atividade com veículos não tripulados terem sido referidos nomes de empresas que participavam nos projetos. Seguramente que projetos mais confidenciais do que estes não haverá. Eu até diria que, no âmbito das cláusulas de confidencialidade, divulgar, como fez o Luís, que trabalhou para uma empresa com "uma base de dados de 2 milhões de clientes" pode conflituar mais com as cláusulas de confidencialidade do contrato do que o nome do cliente.

Porque será que o Montenegro não quer divulgar a lista de clientes para os quais a sua empresa trabalhou?

Montenegro & Companhia
-- A palavra ao meu marido --

 

É evidente que o Luís Montenegro tem que dar resposta às questões que foram levantadas sobre a empresa da família. Quem é eleito presidente de um partido e ambiciona ser PM tem que estar disponível para ser escrutinado e tem que prestar contas sobre as atividades que desenvolveu e que podem originar conflito de interesses. 

  • Curiosamente, a empresa aumentou muito  a faturação após a eleição do Luís para presidente do PSD,
  • curiosamente, pelo que se sabe, a empresa não tinha no quadro ninguém com o perfil adequado à prestação dos serviços de consultoria que se julga ter prestado,
  • curiosamente o Luís recusa-se a dizer quem foram os clientes
  • e curiosamente seria interessante esclarecer com que recursos conseguiu desenvolver os trabalhos que originaram os volumes de faturação apurados e que são muito elevados para uma empresa que teria dois funcionários que ganhavam perto do salário mínimo. 

Neste caso o Pedro Nuno, finalmente, esteve bem. Temos que saber quais os clientes para se verificarem os potenciais conflitos de interesses e os valores das adjudicações para sabermos se correspondem aos valores de mercado. O Luís tem que esclarecer as coisas, não acha Sr. Presidente Marcelo? 

Ao que parece, ontem, o governo (terá sido o próprio Luís a fonte de S. Bento?), através de um dos jornais "oficiais", lançou a tese da perseguição jornalística (em especial por parte da RTP), tentando tornar o Luís numa vítima de jornalistas vingativos e condicionar a comunicação social.  

Na verdade, o Luís até há poucas semanas fazia o que lhe dava na gana sem o mínimo escrutínio da comunicação social. Estava mal habituado. Os jornalistas têm o direito e o dever de escrutinar as ações dos governantes e dos políticos, em especial quando estas não são transparentes. Situações como esta, ao contrário do que muitas vezes já aconteceu, têm que ser esclarecidas e escrutinadas. Só quem convive mal com a democracia é que lança estas campanha de difamação da comunicação social e recordo que já não é a primeira vez que o Luís se "atira" aos jornalistas. Será que vai seguir as pisadas do Trump com a Associated Press e proibir a RTP de ir a S. Bento?

E já agora: como é possível que a Ministra da Saúde continue no governo? Só faz asneiras. O SNS degrada-se de dia para dia, umas administrações demitem-se e outras são demitidas sendo as substituições feitas apenas segundo critérios partidários. Depois de ir ao Parlamento dizer que não tem praticamente nenhumas informações sobre o sector que gere, embora seja ministra há quase um ano, vem a saber-se que guarda relatórios com informações relevantes na gaveta e não age. Pior parece ser impossível. Alguém que corra com a ministra! 

E, também já agora, devíamos saber qual o aumento dos custos com o pessoal na Saúde desde que a ministra ocupou o cargo. Seria uma informação interessante. Ouvem-se falar em verbas verdadeiramente exorbitantes. E, também já agora, quando será publicitado, ponto a ponto, o relatório oficial da IGAS sobre o INEM? Sempre quero ver quais as consequências que a ministra daí vai retirar....

Nota: vi no noticiário, imagens de uma reunião do governo dos Estados Unidos em que o Trump perguntava aos ministros se queriam despedir o Musk. Fez-me lembrar a reunião do Putin com o governo antes da invasão da Ucrânia. As semelhanças não serão coincidências. São farinha do mesmo saco. As redes sociais deram cabo do bom senso e da razoabilidade das pessoas, neste caso, de muitos dos eleitores nos Estados Unidos. Estamos potencialmente tramados! 

quarta-feira, fevereiro 26, 2025

Ainda só lá está há 1 mês...

 

Quando me vê escandalizada, estarrecida, revoltada, com as cavalices do Trump, o meu marido diz sempre: 'Calma, só lá está há um mês.'. Até há pouco, dizia: 'Calma. Ainda nem há 1 mês lá está.'.

Fico irritadíssima. Gostava de o ver também furioso. Pelo contrário, mantém-se calmo. Desde que se começou a ver como era o Trump 2.0 que ele antecipa que a coisa não lhe vai correr bem. Diz que é uma questão de tempo.

Segundo ele, as ruas vão ficar ao rubro, os que vão ficar prejudicados por ele não vão perdoar-lhe, em especial os que votaram nele, a comunicação social não vai ser mole, muita gente vai mover-lhe processos, os tribunais vão cair-lhe em cima, os próprios republicanos, muitos deles, não vão gostar, provavelmente muitos vão levantar a questão de violação da Constituição, senão mesmo de traição. Ou seja, na opinião dele, ao ritmo a que Trump vai, não tarda a coisa vai azedar a sério para o seu lado.

Eu, sempre tão optimista, embora acredite que alguma coisa de boa vai forçosamente acontecer (porque não há mal que sempre dure), temo que ainda tarde. 

Mas a verdade é que as reacções se sucedem. Os americanos, que gostam de ser os maiores, os melhores, não gostam de se ver gozados e, face ao trafulha que foi eleito como Presidente, sentem-se envergonhados quando a barraquinha é grande e evidente demais. E Trump, de facto, não há dia em que não envergonhe os americanos.

Caraças de mundo este em que os Estados Unidos elegem pela segunda vez um anormal como o Trump.

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Lawrence: Trump humiliated on the world stage as France's Macron instantly corrects his Ukraine lie

MSNBC’s Lawrence O’Donnell details how French President Macron humiliated Donald Trump after the United States, for the first time in history, “voted with the dictator against freedom” when it stood with Vladimir Putin in opposing a UN resolution condemning Russia’s war in Ukraine.


Desejo-vos um belo dia

terça-feira, fevereiro 25, 2025

O amor de (ou por) um pequeno ser

 

No outro dia, quando, ao fim da tarde, dávamos o nosso passeio, o nosso cão, que odeia outros cães -- cães, género masculino; porque, se forem cadelas, desfaz-se em simpatias, cheira-as, deixa-se cheirar, andam em volta um do outro -- atiçou-se todo contra um outro, pequeno, que andava à solta.

Sendo um cãozito pequeno, não houve drama. Cães à solta são um caso sério, e, ainda mais, se não houver dono por perto para ajudar a separá-los. Já tivemos várias cenas complicadas, com cães que atacam o nosso e vice-versa, e em que nos vimos à nora para os separar. Mas com um canito, a coisa é mais tranquila pois o próprio cão pequeno acaba por ter receio e afastar-se. Mas, neste caso, o problema é que, andando à solta, não apenas poderia afastar-se da sua casa como ser atropelado.

Estava uma outra caminhante a passar e ficou igualmente sensibilizada, com receio do que pudesse acontecer-lhe.

Olhámos em volta e não vimos nenhum portão aberto. Resolvi ir até à zona mais comercial, saber se teria passado por ali algum dono a perguntar por um cão perdido. Não, ninguém sabia de nada.

Telefonei, então, para a Polícia inquirindo o que se poderia fazer. Disseram-me que só a Câmara pode mandar a brigada de resgate de animais mas que, àquela hora, já estariam fechados. Mas avisaram-me que, se o apanhassem, o levariam para o canil.

Enquanto eu tinha ido fazer as inquirições, a outra senhora ficou perto do cão para tentar impedir que ele fosse para a estrada. E o meu marido tinha-se afastado um pouco com o nosso, para não estarem a provocar-se mutuamente.

Quando cheguei ao pé da senhora, já a pensar no que faríamos, já ela andava a tocar às campainhas. 

Numa das casas apareceu um homem que reconheceu o cãozinho e disse que já no outro dia ele tinha fugido e disse qual a casa. Fomos, então, até lá.

Apareceu uma jovem, aflita, com crianças em volta. Andavam à procura dele no quintal e não o achavam. Explicou, então, que o cãozinho se escapava por entre a sebe que serve de vedação e que tem que estar fechado em casa. Mas a filha, pequena, tinha pena dele e abria-lhe a porta para ele brincar no jardim. Agarraram-se logo a ele, felizes.

E eu e o meu marido lá fomos à nossa vida, e a senhora-caminhante lá foi à vida dela.

No outro dia, eu que gosto de dormir com a janela aberta (mas, agora só a abro quando o meu marido se levanta pois ele recusa-se a dormir de janela aberta quando está frio), acordei a ouvir a voz de um homem e a voz de uma mulher a chamar 'Dula!', 'Dula!'. As vozes eram de aflição e percebia que andavam de um lado para o outro. Depois deixei de ouvir.

O meu marido contou-me que eram uns vizinhos de uma casa lá mais para a frente, na rua, que tinham ido buscar uma cadela ao canil mas que ela, nem eles tinham percebido como, se tinha escapado. Foram encontrá-la mais à frente, no quintal de outra casa.

Com este nosso, quando era pequenino, apanhámos um susto. Fugiu para a rua e corria, corria, atravessava a rua de um lado para o outro, numa brincadeira maluca. Eu e o meu marido a mandarmos parar os carros e ele, feito doido, numa brincadeira. Até que o meu marido conseguiu agarrá-lo.

E com a nossa boxer doce como mel também apanhou, ele, um susto. Tinha ido passear com ela ao jardim que havia não muito longe de casa e ela tinha conseguido escapar-se dele. Já era de noite. Ele chamou por ela, chamou, chamou, andou por ali à volta à procura dela. Quando foi para casa, inconsolável por ela se ter perdido, estava a pequena patifa à espera dele à porta de casa. 

A estima que uma pessoa desenvolve pelos animais, em especial pelos nossos, mas, também, de forma geral, por todos, é sempre tocante. É uma questão de respeito, de generosidade, de afecto -- não sei.

O vídeo abaixo é exemplo disso. A natureza é fascinante e quando sabemos respeitá-la e amá-la geralmente ela recompensa-nos.

Homem resgata um colibri preso numa teia de aranha e o que aconteceu depois foi incrível

Um homem compassivo chega a casa e descobre um pequeno colibri preso em teias de aranha no seu jardim. Neste comovente documentário sobre a natureza, testemunhamos uma bela demonstração de bondade humana enquanto ele ajuda cuidadosamente o colibri a escapar da sua sedosa prisão. A sua abordagem gentil com os animais e a sua dedicação à natureza criam um vínculo caloroso, à medida que cria um refúgio seguro para o seu pequeno amigo, com um alimentador para colibris.


Um dia feliz

segunda-feira, fevereiro 24, 2025

Como eram eles?

 

Trouxe de casa da minha mãe várias fotografias, cartas e outros documentos que me surpreenderam muito. Desconhecia em absoluto a sua existência. E não me refiro apenas à existência desses objectos mas às próprias pessoas que estão nas fotografias ou que escreveram aquelas cartas ou textos.

Uma fotografia, em particular, desperta a minha curiosidade. Deve ser deveras antiga. Mal se percebe de tal forma está esmaecida. E não sei quem é a pessoa. Presumo que seja alguém da família e alguém muito querido para que a sua fotografia tenha sido guardada de forma a que tenha atravessado os tempos.

Vejo que a fotografia foi feita na Avenida Gomes Pereira, em Benfica. Mas isso não me fornece qualquer pista. Sei que havia família na Morais Soares e no Bairro dos Artistas, conheci algumas dessas primas. Mas foi muito depois desta fotografia pois, quando as visitei e quando visitaram a minha avó, já havia fotografias 'normais', há registo disso. Para os lados de Benfica, desconheço. 

Aparentemente é uma mulher já com o cabelo um pouco branco. Será a bisavó que conheci já bem idosa, de cama, sempre a ler, que pedia livros e jornais por não poder estar sem ler? Seria assim quando era mais nova?

Ou é um homem, um homem de semblante fechado? Parece ter buço. Ou aquilo é uma sombra da fotografia? Se é um homem, tem um tronco elegante, diria que até delicado.

Ou será a mulher a quem essa bisavó se referiu no seu caderninho de registos como tendo saído de casa para ir viver com o amante, no início do século passado, mulher essa de quem nunca eu ouvi falar e de cuja existência só soube ao ler aquele relato?

Não sei e creio que nunca saberei pois já morreram todos os que me poderiam elucidar.

Mas tenho pena.

Talvez a Inteligência Artificial pudesse 'trazer vida' às pessoas que constam nas fotografias antigas que agora estão comigo mas, certamente, não será capaz de me dizer quem são, como foi a sua vida. E eu gostava de saber isso.

O vídeo abaixo é impressionante. A mim, pelo menos, impressiona-me bastante. De uma forma muito 'natural' as expressões estáticas, fixadas nas fotografias ou em esculturas, ganham vida. E ganham-na de forma muito credível, mexem-se, sorriem. Olhamos e temos a certeza de que eram mesmo assim. E isso é extraordinário.

Historical Icons Brought Back to Life using AI

Uma boa semana!

domingo, fevereiro 23, 2025

As pneumonias nas pessoas de idade e com saúde débil

 

O meu pai viveu cerca de doze anos depois de ter tido o grande AVC que não o levou mas que o deixou muito incapacitado. Já aqui falei disso: foi um processo lento e doloroso, em especial para ele. Antes era um homem em excelente forma física, que se sentia orgulhoso pelo seu bom estado de saúde, pela sua resistência física e, creio, pelo seu bom aspecto. Quase não tinha cabelos brancos. Sempre teve o cabelo preto e muito liso. Tinha praticado desporto até tarde, até ter partido uma perna a jogar futebol e ter feito uma cirurgia onde lhe puseram uma placa metálica e um parafuso. Mas continuou a fazer caminhadas e a manter-se em forma. Nunca fumou, não tinha hipertensão nem colesterol alto. 

Ver-se sem se poder mexer, sem orientação geográfica de proximidade e sem metade do campo visual foi, para ele, um rude, rude golpe.

Mas, com a fisioterapia persistente, voltou a andar. Mas a andar com muitas limitações, sempre apoiado.

E não percebíamos se as flutuações de humor ou a agressividade ou as fixações em temas inexistentes se deviam à medicação ou ao próprio estado. Foram anos complexos.

A fase final foi pior: depois de, em casa, ter caído e ter partido o colo do fémur, tendo sido operado, não voltou a andar. Todos os dias era levantado, cada vez com maior esforço. Mas não queria estar sentado. Implorava que o deixassem ficar na cama.

Creio que foi por essa altura, quando começou a estar permanentemente acamado, que teve a primeira pneumonia. Não sei quantas teve. Talvez três ou quatro. A última foi uma pneumonia por aspiração. Foi a partir daí que passou a ser alimentado através de sonda naso-gástrica.

De cada vez que teve pneumonias preparavam-nos para a gravidade do seu estado, em especial dada a debilidade do estado geral. Numa dessas vezes chamaram-me para me ir despedir dele pois dificilmente estaria vivo à hora da visita. Nesses internamentos também 'apanhou' bactérias multi-resistentes, uma das vezes no coração. Tínhamos que nos cobrir de alto a baixo para chegar perto dele, que, nessas alturas, estava completamente isolado.

Houve uma tarde em que nem sei como não tive eu um colapso nervoso. O monitor cardíaco apitava quase em contínuo: os batimentos ora iam abaixo das 30, ora iam acima do patamar crítico (já não me lembro bem mas creio que 150). Quando começavam a descer, a descer, e o apito era contínuo, a enfermeira dizia para eu chamar por ele e apertar-lhe os pés. Passei a tarde numa aflição, 'Pai! Pai!', e a abaná-lo, a apertar-lhe os pés, as mãos. Estava medicado mas, às tantas, suspenderam parte da medicação pois o cardiologista entendeu que alguma dela estava a conflituar com outra. Os médicos diziam-nos que poderia morrer de um momento para o outro, que já não havia muito que se pudesse fazer.

Contudo, sempre sobreviveu às pneumonias, às bactérias multirresistentes, às instabilidades gerais, ao quadro de falência geral que parecia irreversível.

Para o fim, já tinha que estar permanentemente com oxigénio, mas não foi de problemas respiratórios que morreu.

Recentemente, há menos de um mês, morreu um outro familiar meu: também infecção respiratória, também sobre um quadro clínico de debilidade. Neste caso, infelizmente, não se conseguiu reverter o quadro.

Mas cada caso é um caso.

Vejo que as televisões já começam a apresentar retrospectivas sobre a vida do Papa Francisco. Ultimamente já estava muito inchado. Provavelmente já estava a tratar-se com cortisona. É natural que o seu estado seja crítico pois com oitenta e muitos anos, uma saúde que já andava débil e uma pneumonia bilateral em cima, e a ter necessidade de levar transfusões, se calhar com o coração e os rins já não muito funcionais, as perspectivas não podem ser animadoras. É, pois, natural que o seu estado geral seja reservado.

Mas vejo os jornalistas, quais abutres, já a rondarem, já por lá, vejo os programas de televisão que já parecem louvores póstumos, obituários, e penso que pode acontecer que o Papa Francisco lhes troque as voltas. Quantas vezes estive eu numa aflição, com receio que o telefone tocasse de noite ou ao início da manhã... e, depois, como se por obra e graça, tudo parecia recompor-se...

No entanto, seja como for, a verdade é que somos perecíveis. Todos. Ninguém cá fica.

Quando o quadro clínico é complexo e as hipóteses de sobrevivência (em bom estado, em estado de independência e de lucidez) são diminutas, quando se sabe que, se a pessoa sobreviver, é apenas para sofrer ainda mais, nunca sei bem o que se deve desejar.

Sinceramente, o que desejo é que, se Jorge Bergoglio sobreviver, fique bem. Mais do que isto não sei o que dizer.