sexta-feira, janeiro 31, 2014

O que deu na Madonna? Alguém me explica? Desistiu de ser uma MILF? Uma cougar? Virou o quê? Nem percebo. Compareceu nos Grammy's de uma forma que me deixa transida. Nem dá para perceber o que aconteceu. Mas dizem que salvou o espectáculo ao apadrinhar um curioso casamento colectivo.


Bem. Abaixo já falei de coisas desagradáveis. Num dos posts falo da miserável actuação da Justiça neste triste caso do Meco e, no post mais abaixo, falo da manipulação através da infantilização que está em curso para que, aos poucos, (quase) toda a população se habitue a deixar de pensar.

A seguir. 

Agora aqui a conversa é outra. Nada a ver com a anterior, nada, nada, nada.

*     *     *





Madonna Louise Ciccone nasceu em Bay City em 16 de Agosto de 1958, ou seja, fará 56 anos no Verão. 

É certo que já não é uma menina. Uma mulher desta idade pode ter atractivos, pode despertar interesse, claro que sim, pode ainda fazer virar a cabeça dos outros na rua, pode tudo, mas, enfim, sejamos honestos, já não parece que tem 20. Por muito jovem que seja o seu espírito, por muito musculada, exercitada, plastificada, produzida, que seja, não vai parecer uma adolescente para o resto da vida.

E é assim que Madonna, a mulher dos mil visuais, 

loura, morena, ruiva, punk, Marie Antoinette, Evita, virgem, provocante, sedutora, provocante, hetero, bi, whatever

apareceu desta vez na cerimónia dos Grammy Awards 2014 acompanhada pelo filho de oito anos, vestida como ele, 

um modelo Ralph Lauren, fato de corte masculino, gravata, luva e bengala e... um adereço pavoroso, os dentes cobertos de ouro e diamantes, uma tendência da moda conhecida como Grilzz. 
“Todos ficam irritados quando uso o meu grillz, por isso é que estou a usá-lo”, acrescentando que só o usa quando não tem de comer e “quando combina com a roupa” (texto da Caras). 

Mas o pior nem é o horrível pormenor dos dentes: o pior é que tem o rosto quase deformado, dá ideia que encheu as bochechas com silicone, sei lá. Está velha, acho-a feia. Ou simplesmente estranha, nem sei. É que a questão nem está em estar velha ou feia que cada um é o que é, a questão é que parece que tanto mexem na cara que acabam por alterar as feições.

E o cabelo sem brilho, muito amarelo, parece que sem corte definido, mal arranjado. E os lábios muito pintados, parece que fica com ar vulgar, não sei - enfim, tudo neste seu visual me choca.


Olho o seu rosto e fico pasmada: tanto que ela preza o visual, tanto que ela vive em função da imagem e agora aparece assim...? Gostará de se ver? Se calhar gosta.

Tirando isso, dizem que com o seu carisma (não com a voz que essa está fraquinha, fraquinha....), ajudou a salvar uma cerimónia baça, sem sal.

Transcrevo (agora da Lux):

Madonna, Queen Latifah e a dupla revelação do rap Macklemore & Ryan Lewis celebraram a união coletiva de 34 casais durante a festa dos Grammy, no Nokia Theater, em Los Angeles. 


O casamento de 34 casais, incluindo homossexuais, foi um grande acontecimento no palco dos Grammy.

«Estamos aqui para celebrar o amor e a harmonia», pediu a artista Queen Latifah durante a canção «Same Love», que já se tornou hino da queda do Doma (Defense of Marriage Act), lei que negava direitos constitucionais a casais do mesmo sexo nos Estados Unidos.



Seja. Tudo bem, não digo mais nada. E se ela se sente bem, é o que importa. E continua a abraçar causas e a ser inconformista e isso é o que importa. E a idade passa por toda a gente, porque não haveria de passar por ela, não é?


(Passa por ela e, na volta, também passa por mim, sei lá :-)


Não, ainda não é o meu auto-retrato.
Fotografia obtida na net sem se perceber qual o site de origem.
Aliás tal como as outras deste post.


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Relembro: para coisas sérias é, por favor, descer um pouco mais.

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Hoje no meu Ginjal e Lisboa tenho Marília Pêra a dizer Carlos Drummond de Andrade, numa grande interpretação de Amar. Para enfeitar tenho uma fotografia minha feita por lá com um estranho rosto estampado numa rocha a ver o Tejo. Gostavam que me visitassem ali.


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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela sexta feira. 
Thanks God it's Friday!!!!!!

Existem rituais iniciáticos nas praxes? Na Lusófona o Dux tem mais poder que o Reitor? Quantas pessoas estavam na praia do Meco aquando da tragédia? Quem limpou a casa? Quem arrumou os pertences das vítimas? De facto, o que aconteceu e o que levou à morte de seis jovens? - - - Muitas perguntas cujas respostas não eliminarão a dor das famílias. Mas o que se passa para que tenham que ser as televisões a investigar? É a TVI que vai ter que descobrir sozinha o que se passou? Que vergonha de justiça é esta que temos em Portugal?


No post abaixo falo de outra pouca vergonha: a técnica de embrulhar os assuntos mais sérios num palavreado infantil que leva as pessoas a aderirem sem pensar ou num linguajar que camufla a realidade com um palavreado incompreensível. Para além da destruição de direitos civilizacionais que deveriam ser sagrados e em nome de cuja defesa se deveria governar, assistimos a uma gigantesca manipulação da opinião pública por parte do desGoverno e dos tarados que o apoiam. Esta gente não tem princípios nem escrúpulos. 

Mas isso é no post a seguir a este.

*

Aqui, agora, falo de novo de um assunto que é dilacerante quer para as famílias que perderam, de uma forma tão estúpida, os seus filhos, quer para todos nós que constatamos como existe uma realidade tenebrosa que envolve os nossos jovens e, ainda, como é ineficaz a justiça em Portugal - refiro-me, claro, ao drama da morte de seis jovens na Praia do Meco, sobre o qual já aqui antes falei.

Perante todos os indícios de que teriam existidos exercícios ligados a praxes, exercícios esses com contornos de rituais iniciáticos, temos vindo a assistir nas televisões a um espectáculo que mostra bem o estado degradante a que a justiça chegou em Portugal.



  • Assistimos à senhora que fez a limpeza da casa a dizer que ninguém falou com ela, que esperou que alguém fosse fazer uma peritagem mas que, como ninguém apareceu, acabou por limpá-la, 
  • assistimos ao senhor do restaurante ou a vizinhos a contarem o que viram e não viram, jovens a rastejar com pedras nos pés, jovens a caminharem altas horas da noite a caminho da praia, etc, etc, 
  • assistimos à repórter da TVI (uma vez mais Ana Leal a assinar trabalhos de grande profissionalismo) a reconstituir o que terão sido os passos dos jovens no fatídico fim de semana, manuseando os telemóveis e os dossiers, o que prova que os investigadores não apreenderam nada para investigação, podendo grande parte das provas já ter sido destruída, 
  • assistimos às famílias a movimentarem-se e a unirem-se para pedirem que alguém lhes diga o que aconteceu.


E, enquanto isso, vamos ouvindo que o assunto vai passar para a alçada daqui ou dali (Ministério Público de Almada, e que vai para segredo de justiça e que a Judiciária e mais não sei o quê) mas, na prática, a coisa não sai dos despachos ou dos gabinetes pois toda a gente diz que ainda não foi contactada (tirando ontem que parece que finalmente, ao fim de mais de um mês!, lá houve alguém que contactou 4 pessoas) - e constatamos como, nem mesmo perante situações limites como esta, a Justiça se agiliza para colher indícios ou provas em tempo útil, limitar o acesso indiscriminado a locais onde se possam colher meios de prova, etc.

Uma vergonha. Mais uma vergonha nestes tristes tempos que correm.

Não sei em que raio de país está Portugal a transformar-se. Num país a fingir? 


*

Clique se quiser ver o vídeo com uma das reportagens da Ana Leal, da TVI: a hipotética reconstituição do que teria acontecido na Praia do Meco, feita a partir de testemunhos de jovens que já terão participado em praxes idênticas as quais, segundo ali se refere, se inspiram - imagine-se! - no texto 'A Hora do Diabo' de Fernando Pessoa.


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Relembro: abaixo poderão saber a minha opinião sobre os mais recentes neologismos da novilíngua passista.


quinta-feira, janeiro 30, 2014

No reino do faz-de-conta governado por palermas fala-se uma estúpida novilíngua: por exemplo a saída quer-se 'limpa' e a lei dos despedimentos deve ainda ser 'densificada'. E têm que ser os próprios do PSD a denunciar a falta de seriedade desta gente, nomeadamente Rui Rio e Manuela Ferreira Leite. Oposição do lado do PS? Viste-a...



Hoje à hora de almoço ouvi Rui Rio referir-se, com ironia, a mais uma das metáforas de que Hélia Correia no outro dia falava: a saída limpa do programa da troika.


Dizia ele que isto é mais uma das habilidades a que já nos vamos habituando para que as pessoas adiram de imediato, sem cuidar de saber de que se trata. Sendo a coisa limpa as pessoas vão imediatamente aderir pois o oposto de limpo é sujo e quem é que vai querer defender uma coisa suja?

Concordo.

Começa a ser difícil a gente manter a cabeça limpa no meio de um ambiente cada vez mais conspurcado, em que o sentido das palavras é adulterado, em que se criam fantasias infantis à volta de assuntos sérios.

Dizia Rui Rio que sair directamente para os mercados sem rede (leia-se: ir pedir dinheiro emprestado sem alguém a afiançar) é um risco enorme e estúpido. Diz ele que obviamente um sistema qualquer que sirva de rede (chame-se programa cautelar ou programa prudente) é essencial uma vez que só o facto de se saber que o há, já os 'mercados' que emprestam o dinheiro têm a garantia que o vão reaver e, portanto, baixando o risco, os juros serão inferiores. Diz ele que esta parvoíce do Governo e partidos que o apoiam andarem a apregoar que vão fazer uma saída limpa já anda a deixar as agências de rating em alerta. Diz ele que os riscos de se andar nesta leviandade são tremendos para o País. Diz ele que é do PSD.

Neste momento em que escrevo está Manuela Ferreira Leite, que também é do PSD, a falar nisto na TVI 24: diz ela que só por eleitoralismo, para fazer flores, por irresponsabilidade se pode agora andar a apregoar uma saída limpa depois de se andar a falar compulsivamente de austeridade e ao mesmo tempo que se continua ainda a exigir sacrifícios de toda a espécie porque ainda não estamos bem. 


Pois. A questão é que estes governantes da treta não são gente séria, nem são capazes de ter uma conversa adulta e informada. Presumo que os que manobram, sabendo do que a casa gasta, lhes explicam as coisas como se estivessem a falar com crianças de 3 anos. E eles repetem isso como se fosse uma conversa normal. Ou então juntam-se a inventar palavras de forma a que as pessoas até se sintam mal se não alinharem com eles.

Outra que ouvi hoje da boca daquele ministro que já me parece sinistro, tamanhas as enormidades que diz sempre com um sorrisinho hipócrita no canto da boca, o Marques Guedes. 


Agora apareceram com um menu de razões para poderem despedir os trabalhadores mas, acrescenta ele, que agora vão receber mais contributos para densificar o cardápio. 


Densificar. O que é isso? Opacizar? Tornar opaco? Incompreensível, uma teia? 


Qualquer governo decente quereria tornar as leis transparentes, em especial num assunto tão sensível como o dos despedimentos. 

Estes não, estes querem densificar.


Uma cambada. Palavra. Uma cambada. 

Já custa a aguentar gente tão pouco transparente, tão pouco séria, que parece desconhecer o que é a honestidade intelectual, uns infantilóides que julgam que toda a gente é tão imbecil como eles. 

Caraças.

E caraças para o Totózero que não dança nem sai da pista. Porque é que o PS, perante tudo isto, não dá um murro valente na mesa?

(Do BE nem falo, nem se dá por ele. E o PC parece que também anda a dormir na forma. O que é que deu nesta gente, senhores? Será que o Cavaco ou alguém por ele anda a anestesiar toda a gente da oposição?)


Mário Crespo praxa Bruno Maçães em directo na SIC N. A coisa foi violenta. Face a isto só me resta gritar por socorro: socorro! Mas o que é isto? O fim dos tempos? Até o Mário Crespo?!?!? (Toda a gente faz oposição menos o PS. Até o Crespo, imagine-se ao que isto chegou). E a carinha do pequeno Bruninho...? Até tive pena, tadinho. Até já mal abria os olhinhos, o catraio. mas, vendo bem, o que é isto da minha parte: estou ficando 'velha e louca'?


No post abaixo deixei uma sugestão ou um apelo ou o que quiserem relativamente a essa sumidade que dá pelo nome de Hugo Soares. A gente brinca, brinca, mas a verdade é que isto não está para a gente se rir. Os animais tomaram conta da quinta e é uma bicheza da pior espécie. Pode pensar-se, ah um coelhinho, bichinho fofinho e tal, mas vão por mim, atrás do coelhinho estão verdadeiros abutres e, em volta do coelhinho, estão bisontes e cágados acéfalos, animais perigosos. Deviam andar com açaime e algemados, talvez fizessem menos porcaria. 

Mas isso é a seguir, por favor.

Agora, aqui, a conversa é outra.

Acho que hoje não vou responder a comentários ou a mails pois já estou perdida de cansada e com muito sono e ainda nem é uma da manhã. Tenho andado a deitar-me tarde e ando cheia, cheia de trabalho (felizmente!... - e digo felizmente porque, na idade activa, mais vale ter muito trabalho do que não ter nenhum). Hoje tive um desses dias de juízo, reuniões e mais reuniões e a andar de um lado para o outro e o trânsito um pavor. E cheguei tarde e meteram-se mais uma data de coisas e ainda preciso de fazer umas tretas antes de me ir deitar. Por isso, aqui deixo já o meu pedido de desculpas. Sinto-me uma malcriada mas é que o meu tempo não estica. Se eu pudesse ir trabalhar a pé ou deslocar-me de um lado para outro a pé, poupava umas preciosas horas. Mas não posso, é tudo longe umas coisas das outras [parece-me que esta frase que acabei de escrever não está lá muito católica do ponto de vista gramatical mas, deve ser do meu estado de dormência, não me ocorre melhor maneira de a escrever]

*

Não ouvi rádio, não vi telejornais, nada. Só há bocado liguei a televisão e qual o meu júbilo quando vejo o meu brunocas, o Bruno Maçães, esse macho man que gosta de se exibir rodeado de polacas. Ó coisinha mais fofa. Mas então reparo melhor e vejo que está com o Crespo e que o Crespo, imagine-se ao que isto chegou, estava com o Bruninho nos dentes e rodava-o no ar sem dó nem piedade. 



Fui logo a correr buscar a máquina fotográfica. 

O Bruninho estava apalermado, nitidamente não tinha ido ali à espera daquele ataque, pensava que o Crespo era amigo e afinal ali estava aquele mauzão a fazer-lhe perguntas difíceis, ui, ui.

O Bruninho fazia biquinho, quase beicinho, os olhinhos já mal se abrindo, e balbuciava irrelevâncias, queria armar-se em crescido mas o Crespo não dava tréguas, tumba, tumba, e o bruninho, tadinho, a querer ainda dar-se ares de importante mas o Crespo, qual quê?, pisava, calcava com o tacão em cima da cara do bruninho, só faltou dizer: ó seu palerma, mas achará você que tem arcaboiço intelectual para ser secretário de estado...? (Não disse mas deu a entender).

Não sei se mais alguém assistiu a isto. Não vi mais que uns cinco minutos mas o que vi foi o assassinato de um secretário de estado em directo. É certo que se tratou de um assassinato político mas, ainda assim, um assassinato.

Tive pena do bruninho. Se soubesse disto, teria ido com ele para garantir que ia com a fralda posta e para lhe pôr a chucha na boquita no fim da entrevista.

Se o Crespo lhe toma o gosto, começa a levá-los todos ali ao castigo e dá cabo da imagem do governo em três tempos. Macaco de rabo pelado, o Crespo faz um daqueles seus sorrisinhos inocentes e simpáticos e estes verdinhos caem-lhe aos pés em três tempos.

Agora o que eu não sei foi o que deu nele. Tinha um ódio tão visceral ao Sócrates que, por contraste, se derretia todo para as bandas do Passos Coelho & companhia, dava-lhes todos os créditos possíveis e imaginários. Mesmo perante toda a espécie de alarvidades, aí estava ele a desculpabilizá-los. E agora isto...? Saltou-lhe a tampa, foi? 

Quem ouça e veja agora o Mário Crespo em acção dirá que se fartou do Passos, que já não aguenta, que se passou com esta tropa fandanga, que, para este peditório, já não dá mais. 

O que ele gozou com o meu bruninho - e ao bruninho, meu rico menino, só lhe ocorriam infantilidades, um fiozinho de voz, e o outro irónico, gozão. Só faltou ao Crespo pegar numa pistolinha de água e esguinchar na cara do meu bruninho, tadinho, e depois desatar a rir-se à porco. A esta hora deve estar o meu bruninho a chorar, infeliz, snif, snif, um vexame destes deve dar cabo da alma sensível do pobrezinho do brunino piu-piu.



PS: Não é por nada, mas alguém acredita que o País esteja mesmo entregue a criançolas como este brunino? A mim ainda me custa a crer.


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Chego aqui e estou com remorsos: nem respondo aos comentários nem escrevo sobre temas interessantes. Desagradável e uma seca, não é? A ver se amanhã tenho mais tempo para, a seguir a desabafos destes, falar de temas menos maçadores.

Para ver se me redimo, deixo-vos um vídeo com uma música que não me sai da cabeça, mesmo quando estou no meio de reuniões chaaaaaatas. Ainda hoje: enquanto desafiava o mundo, virava a mesa e partia a louça toda, num cantinho dentro de mim ia uma animação que nem vos digo nem vos conto. 


Eu tenho tido a alegria como dom
Em cada canto eu vejo o lado bom




Mallu Magalhães interpretando Velha e Louca, uma graça.


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Relembro: se quer voltar às ervas daninhas e, depois do Maçães, seguir para bingo é descer um pouco mais. O PSD no seu melhor hoje aqui no Um Jeito Manso.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta feira.

A mãe do Hugo Soares que me desculpe mas quando os putos só fazem burrice da grossa e não atinam de maneira nenhuma, acho que uns calduços são muito bem aplicados. "Todos os direitos das pessoas podem ser referendados", ó Hugo...? Tens bem a certeza disso ou não sabes o que são direitos? Ou não sabes o que são pessoas? Ou não sabes o que é um referendo? Ou não sabes o que dizes, ó Hugo Alexandre?


Que não me interpretem mal: sou contra a violência. Mas há coisas que não são violência, são pedagogia. 

Por exemplo: se a miudagem anda por aqui à minha volta, desatinada, a fazer disparates sem parar e não obedecem quando se lhes diz que parem de tentar destruir a casa, só me parece que haja um remédio santo: uma palmada bem aplicada.

Claro que, sendo pequeninos, bastará um ameaço de palmada ou, se forem mais crescidotes, uma palmada no rabo, coisa simbólica, aplicada com cara de caso. Resulta.

Estou a dizer isto e a lembrar-me que, quando o meu filho era já espigadote e, depois de ter chegado a cinturão azul do karaté, se passou para o judo, quando eu queria acertar-lhe, ele defendia-se de uma maneira enervante. Eu a querer dar-lhe um estalo e ele a aplicar todas aquelas técnicas de defesa. Impossível atingi-lo. O esforço para eu não me desatar a rir do ridículo da minha situação, nem vocês imaginam. Para ver se conseguia, acabava a dar-lhe ordem para parar de se defender, mas aquilo já estava entranhado nele, mal eu avançava com a mão, o braço dele automaticamente aparecia a travar o meu. Umas cegadas. Enfim. (Um conselho a mães de crianças pequenas: se puserem os vossos filhos nessas artes marciais, vão também aprender porque senão acontece-vos isto). Adiante. Saíu educado, respeitador, um menino lindo. (E vai ficar fulo comigo por eu estar aqui a falar dele...)

Volto a outro que já não me parece que vá lá de outra forma. Claro que com ele não bastará um ameaço nem um tautau no rabo. Acho que terá que ser mesmo um calduço. Será que lá entre os jotas não há praxes? Já não vão a tempo?

Vá lá meus: todos a darem calduços nele!

O Hugo Alexandre a cantar e a dançar o vira


Talvez fosse uma boa praxar o Hugo Alexandre, não vos parece? Bora referendar isso?

Ou então, para não banalizarmos isto dos referendos, posso daqui lançar um apelo? Não poderá algum dos colegas da jota ou algum dos séniores, quando ele estiver sentado na bancada na Assembleia, dar-lhe um bem dado? Digo isto porque ele é grande e não deve ser fácil apanhá-lo a jeito. Assim, sentado, já me parece mais fácil.

Querendo, alguém também lhe poderá dar uma belinha naquela testa a ver se ele acorda para a vida, pelo menos para a vida a sério (fora do laboratório infecto dos jotas). A Senhora Dona Teresa das Écharpes não se importa de lhe aplicar uma belinha com toda a força naquela testa?

Ontem um Leitor dizia que, sendo um burro um animal tão inteligente, ficamos sem saber o que chamar às pessoas que não são inteligentes. Pois, também não sei. Pedaço de asno? Cavalgadura? Não sei.


Nota: Eu sei que ele já não é bem um puto, pelo menos de tamanho, eu sei que não. Mas é jovem, certo? É jovem (jsd) e não tem tino nem experiência de vida nem coisa nenhuma. Se seguirem o link ali em cima verão de que é que a casa gasta. Uma indigência.

Pois bem: do jota Hugo Alexandre, estranhamente um deputado da Nação a quem, de cada vez que abre a boca, só lhe sai matéria fora do prazo e fora de especificação, saíu já esta semana, num debate televisivo com Isabel Moreira (que ficou pregada ao tecto, tal o espanto) a pérola citada em epígrafe, que todos os direitos das pessoas são referendáveis. A gente ouve e nem acredita. 


E eu, no meio disto, só penso: mas porque raio de carga de água ando eu a pagar o ordenado a um coiso destes? Ando eu a trabalhar para me roubarem grande parte do fruto do meu trabalho para depois se andar a pagar a anedotas destas? Caraças. 

quarta-feira, janeiro 29, 2014

E se o Cristiano Ronaldo tivesse ido receber a condecoração das mãos de Cavaco Silva vestido de Maria Cavaca? Bom, mas não foi, não foi. Mas aqui fica a ideia para o próximo a ser condecorado. Que ponha os olhos em Grayson Perry que compareceu perante o Príncipe Carlos vestido de Camilla Parker Bowles.


Depois de no post abaixo ter deixado aberto à votação um Referendo sobre o Aborto, um Aborto especial diga-se de passagem, aqui, agora, passo para coisas ainda mais sérias. Hoje não estou para brincadeiras. 

*


Grayson Perry, quase a fazer 54 anos, é um artista ingês polifacetado - quase poderia ser um Manuel João Vieira. 


É ceramista, trabalha em tapeçarias, desenho, tecelagem, etc.


Recebeu o Turner Prize em 2003. 





Algumas das suas obras de cerâmica podem parecer clássicas embora coloridas, exuberantes, mas são frequentemente provocadoras, irónicas, muitas vezes com 'cenas' sexuais explícitas.

Dificilmente se pode ficar indiferente perante as suas obras, sejam elas potes ou as suas grandes tapeçarias.

Muitas vezes parecem cartoons ou rábulas, ou simplesmente uma paródia.

Contudo, por vezes, é mais do que isso. Por vezes há ali reminiscências autobiográficas, não apenas na actualidade em que se auto-retrata, como em criança. O pai saíu de casa na sequência de adultério por parte da mulher e isso foi trágico para o pequeno Grayson, então com sete anos. Ficou a viver com a mãe e com um padrasto violento. Grayson escondia-se dele e inventava vidas fictícias em que um ursinho era a figura parental de quem sentia falta. Esse teddy bear aparece frequentemente nos seus trabalhos.

Tapeçaria

A semana passada Grayson Perry foi condecorado pelos seus bons serviços relacionados com a arte contemporânea; é agora Comandante da Ordem do Império Britânico - a Coroa Britânica mostra assim que a modernidade e a diferença são aceites e acarinhadas no Reino de Sua Majestade.


Grayson, que é casado e tem uma filha, tem uma outra particularidade. Volta e meia aparece vestido de Claire, o seu alter ego feminino. Desde sempre gosta de se vestir de mulher ou de menina irrequieta. É até frequentemente convidado para falar de travestismo e vários documentários têm sido feitos sobre isso.

Quando se soube que ia ser condecorado, os amigos e os admiradores desafiaram-no logo: não és capaz de ir vestido de Claire.

Calou-se caladinho e eis que, no tão esperado dia da cerimónia, surpreendeu todos, mesmo os que já se habituaram às suas excentricidades: compareceu na cerimónia não de Claire mas de Camilla, fazendo com que o Príncipe Carlos se fartasse de rir. Respeitador, Grayson disse que não, ora essa, qual Camilla, que ia apenas de mãe de uma noiva italiana. 


Acho o máximo. Quando é que, por cá, temos um acto assim, de graça, de humor, de boa disposição desempoeirada?

Sempre gostava de ver o Cavaco a condecorar o Manuel João ou qualquer outro artista não convencional, a reconhecer o mérito de alguém capaz de romper barreiras, convenções, preconceitos, géneros. E, se um fenómeno desses tivesse lugar, sempre haveria de ver o Cavaco com fair play para agraciar um qualquer Manuel João que lhe aparecesse vestido de D. Cavaca ou coisa do género.

No final da cerimónia, Grayson, já comandante, tirou as normais fotografias de família: ele, a mulher Philippa Perry que é psicoterapeuta e a filha, Florence, que tem 21 anos.



O comandante Grayson e a sua família feliz
[Parecem saídos de uma BritCom -
 mas não, são mesmo assim, estavam era vestidos a rigor para a cerimónia]

(E os chapelinhos? Lindos.
O que eu gostava de poder usá-los, adoro chapéus)


E, agora, eis então o filme do grande momento:

O eterno putativo rei - o sexagenário Prince Charles - e o novo comandante Grayson Perry



Love, love it...!


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Relembro: Para votarem no acima referido Referendo, é descerem, por favor, até ao post seguinte

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E, por hoje, fico-me por aqui. 
Estive a responder a mails (e não a todos... sorry) e a comentários e quase fiquei sem mais tempo para a minha empreitada diária. 

(Verdade seja dita que também comecei tarde e más horas. Hoje comprámos um sofá no IKEA. Aquele a partir de onde o meu marido fazia zapping e invectivava o Passos Coelho, o inefável deputado Abreu Amorim, o insuportável José Gomes Ferreira e outros emplastros, já tinha conhecido melhores dias. Por isso, foi de vela e veio este novo que teve que ser montado. Desta vez a coisa correu bem e já ali está todo bonitinho mas, com estas manobras todas, apanhei o meu turno da noite quase a meio. )

Desejo-vos, meus Caros leitores, uma bela quarta feira. 
E hoje, para a gente se andar a rir o dia todo, proponho que os homens vão para a rua vestidos de Judite Dartacão e as mulheres vestidas de Manuel Luís Goucha. 
Um país inteiro vestido do avesso.
Boa?

REFERENDO SOBRE O ABORTO





NB: Agradeço ao generoso Leitor que me enviou o texto já devidamente aprovado pelo Aníbal e pelo TC. Tudo certinho, direitinho que isto aqui não é a casa da Carlota Serpa Pinto onde entra quem quer e onde cada um faz baderna e poucas vergonhas para seu lado. Aqui não entram jotas, candidadtos à Goldman Sachs, foragidos do BPN, amigos do Branquinho e quejandos. Aqui toda a gente respeita a lei e trabalha como deve ser. Ou seja, os referendos são a sério, as perguntas bem feitas, tudo conforme a lei. 

Podem votar à vontade que, no final, eu tentarei que a  Miss Dartacão divulgue os resultados em prime time.


terça-feira, janeiro 28, 2014

As minhas árvores muito queridas


Abaixo falo de um novo vídeo maravilhoso do Cine Povero, um vídeo que é tão oportuno, tão belo, que vos peço que não deixem de o ver. Vão gostar, garanto.

Mas agora, aqui, falo de outra coisa. Falo-vos de seres muito belos.




*


Para mim as árvores são quase como pessoas.

Estas que vos mostro nasceram das minhas mãos. Plantei-as. Eram muito pequeninas quando as trouxe para a minha terra, um ou dois centímetros. Eram bebés que tratei com carinho e desvelo. No meio de mato, um terreno pedregoso, ali estavam as minhas pequenas árvores.

Tinha que as regar, levávamos garrafões de água, e eu ajeitava-as, tirava-lhes de perto as ervas que as poderiam enfraquecer, protegia-as do vento. Tantas vezes os meus filhos: 'ó mãe, mas quando é que elas vão ser grandes?' e eu parecia-me perceber neles o receio de que eu nunca chegasse a ver o fruto de tanto desvelo. E eu dizia que mesmo que eu não chegasse a sentar-me à sombra delas, se sentariam eles e os seus filhos. E essa esperança a mim sempre me bastou.

Muitas morreram cedo, as temperaturas muito elevadas do verão ou os frios inclementes muitas vezes as queimavam. Eu punha-lhes ramos à volta, tentava protegê-las do sol ou do vento frio mas para algumas não foi suficiente.

Por cada uma que morria, uma outra eu plantava.


Mas algumas vingaram, tornaram-se espigadotas e o vento quase as vergava. Resistiram, depois fizeram-se adultas.

O ano passado houve algumas que não resistiram a uma noite de ventania. Custou-me tanto. Parecia que tinham morrido pessoas que me fossem muito queridas, nem conseguia vê-las caídas por terra.

Mas a vida continua.

As que lá estão são lindas. Fotografo-as incansavelmente. No inverno ficam nuas, descarnam. E eu emociono-me com tanta beleza. As cores, as camadas de pele, as rugas, a vida impressa naquela casca cuja cor varia, se vai tornando mais rica, mais impregnada de história.

Ao longo do ano eu ando em volta das minhas árvores, cheiro a rama quando há, cheiro a resina, passo as mãos pela pele que envolve os troncos.

Não as vejo como pessoas mas como uns seres especiais com quem consigo relacionar-me com uma grande intimidade.


Por vezes caem ramos ou há raízes que se descobrem sob o musgo macio que cobre a terra. Tomo-os nas minhas mãos e depois fotografo-os como peças belas, uma beleza sem artifícios.

É uma madeira muito macia, parecem animais vindos de outros tempos, peixes talvez, peixes de longas caudas, mas não são animais nem precisam de o ser para eu gostar destes pedaços vindos não sei bem de onde.

As pedras, a madeira das raízes ou dos troncos, o musgo, a terra, os cheiros, os pássaros que cantam, tudo me envolve de beleza. 

Escrevo isto e sei que pode soar ridículo. Eu, que vivo a maior parte do tempo na cidade, que trabalho numa das zonas mais business area da capital, que vivo rodeada de executivos (e que eu própria sou uma), tenho depois este lado completamente bucólico, completamente fora deste mundo. Se me vissem, perdida no meio das pedras, a olhar para as árvores como se as quisesse guardar inteiras dentro de mim.

E depois há isto: as estações neste país não são obedientes (ainda têm vontade própria, ainda não se submeteram às convenções). 

Dizem os calendários que vamos na primeira metade do inverno e, no entanto, a Primavera já aí está à porta. 

Os ramos das figueiras começam a enfeitar-se com umas pequenas nails pintadas de amarelo claro, a tender para o verde. Mulheres coquettes estas figueiras. Cheirosas, perigosas. O que eu gosto das minhas figueiras.

Espreito estas pequenas manifestações de vida. É como quando uma filha nossa está grávida e a gente vai sondando o volume da barriga, tentando perceber o que aumentou, qual a forma que está a tomar. Assim eu em volta das árvores, atenta ao rebentar dos pequenos rebentos de folhas, vendo a floração (quando há floração), antevendo os pequenos frutos.

Não sei se foram os deuses que inventaram tudo isto ou se isto são os próprios deuses. Não sei mesmo. Mas curvo-me perante tanta beleza, tanta generosidade. São belas as árvores apenas sendo árvores. Oferecem-se sem nada pedir em troca.

Os pássaros, as árvores, as pedras, os perfumes do ar, a macieza do musgo, o sumo doce das laranjas. Não sei de receitas rápidas para a felicidade mas sei que a mim isto me faz muito feliz. Contemplar e existência de seres perfeitos e que, na hierarquia de valores, estão bem acima de mim, é coisa que me enche de felicidade. E podem chamar-me doida à vontade. Sei que sou. (Mas não tenham medo, sou uma doida pacífica).


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A música lá em cima é de Max Richter, The Trees, do álbum The Blue Notebooks.

As árvores e as raízes foram fotografadas este fim de semana in heaven, o paraíso de onde só falta nascer mel.

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Relembro e peço-vos: desçam por favor até ao post seguinte pois de lá dá para saltar para o filme novo do Cine Povero.

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E, por agora, nada mais. Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela terça feira. 


Há filme novo do CINE POVERO - absolutamente a não perder.


Sou admiradora profunda, se é que faz sentido dizer assim, do realizador Cine Povero. Conheço a sua obra há pouco tempo mas, desde que a conheço, a ela regresso de quando em vez. A forma como entretece as justas imagens, a oportunidade e beleza das palavras, a sensibilidade da música, a subtileza do movimento, e, não menos importante, um certo silêncio que envolve os seus filmes, atrai-me.

Fico, pois, contente quando sei que nasceu mais um. É o caso: há um vídeo novo!




É construído sobre o poema Morte ao meio-dia de Ruy Belo dito por por Mário Viegas, um poema cujas palavras parece que foram escritas antes do tempo, parece que agora é que são verdadeiramente actuais ('O português paga calado cada prestação', por exemplo). 


Dada a música que percorre o filme ser vedada a transmissão através de alguns meios entre os quais os blogues, não o posso ter aqui. Mas, no final vou colocar o link para que o possam ver no Youtube. 

Este filme é um momento de beleza e, ao mesmo tempo, um apelo. Valemos alguma coisa se, à nossa volta, aos outros também for dado valor.

Permito-me transcrever o texto que o apresenta (e as fotografias pertencem também ao filme):


Dito por Mário Viegas in «Humores», Disco 2, lado A (1980). Mário Viegas recita aqui a versão definitiva do poema, publicada no Vol. I da «Obra Poética de Ruy Belo» (1972), onde foi interpolada a estrofe iniciada por "O português paga calado cada prestação".

Música: Max Richter, "What had they done?" in «Waltz with Bashir. OST» (2008).

Em diversas línguas europeias a palavra "meio-dia" permite também designar o Sul geográfico. Tal foi o ponto de partida deste vídeo. 



A frase de abertura é retirada de «A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer», da autoria do escritor sueco Stig Dagerman (1923-1954). 

Eis a frase no seu contexto: "E enquanto me for possível empurrar as palavras contra a força do mundo, esse poder será tremendo, pois quem constrói prisões expressa-se sempre pior do que quem se bate pela liberdade" (p. 23 da edição portuguesa de 1989).


O graffiti final é uma variação da frase do poeta austríaco Erich Fried (1921-1988), refugiado em Inglaterra após a anexação do seu país pelos nazis: "Aquele que deseja que o mundo permaneça tal como está, não quer de facto que ele permaneça". 

Na versão original não figura o enfático "at all" do graffiti: "Wer will, daß die Welt so bleibt, wie sie ist, der will nicht, dass sie bleibt."



POEMA:
No meu país não acontece nada
à terra vai-se pela estrada em frente
Novembro é quanta cor o céu consente
às casas com que o frio abre a praça
Dezembro vibra vidros brande as folhas
a brisa sopra e corre e varre o adro menos mal
que o mais zeloso varredor municipal
Mas que fazer de toda esta cor azul
Que cobre os campos neste meu país do sul?
A gente é previdente tem saúde e assistência cala-se mais nada
A boca é pra comer e pra trazer fechada
o único caminho é direito ao sol
No meu país não acontece nada
o corpo curva ao peso de uma alma que não sente
Todos temos janela para o mar voltada
o fisco vela e a palavra era para toda a gente
E juntam-se na casa portuguesa
a saudade e o transístor sob o céu azul
A indústria prospera e fazem-se ao abrigo
da velha lei mental pastilhas de mentol
O português paga calado cada prestação
Para banhos de sol nem casa se precisa
E cai-nos sobre os ombros quer a arma quer a sisa
e o colégio do ódio é a patriótica organização
Morre-se a ocidente como o sol à tarde
Cai a sirene sob o sol a pino
Da inspecção do rosto o próprio olhar nos arde
Nesta orla costeira qual de nós foi um dia menino?
Há neste mundo seres para quem
a vida não contém contentamento
E a nação faz um apelo à mãe,
atenta a gravidade do momento 
O meu país é o que o mar não quer
é o pescador cuspido à praia à luz
pois a areia cresceu e a gente em vão requer
curvada o que de fronte erguida já lhe pertencia
A minha terra é uma grande estrada
que põe a pedra entre o homem e a mulher
O homem vende a vida e verga sob a enxada
O meu país é o que o mar não quer

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O filme pode ser visto aqui e peço-vos que não deixem de o ver. 
É uma maravilha (como aliás são sempre os filmes do CINE POVERO)

segunda-feira, janeiro 27, 2014

António Horta Osório e Manuel João Vieira, dois homens portugueses de 50 anos. Verso e Reverso. Branco e Preto. As Finanças e a Arte. A cabeça e o coração. A construção e a desconstrução. Na Revista do Expresso. [Os entrevistadores são também o oposto um do outro: respectivamente João Vieira Pereira e Clara Ferreira Alves]


Bem. Já me insurgi contra a decadência moral que dá forma a um dos mais recorrentes programas em prime time na TVI, a Casa dos Segredos (que penso que agora se chama Desafio Final) e já divulguei uma anedota que a uma Leitora ocorreu acerca do assunto e sobre o qual, inclusivamente, até fez uma montagem; e, num post mais abaixo, dei também voz a um outro Leitor que me enviou um vídeo da cassandra Medina Carreira, relativamente ao qual deveremos ter presente as suas posições ao longo do tempo, para não levarmos a sério o que diz. E já relatei a saída de cena de Valérie, a destruidora de louça e mobílias.

*

Mas isso é a seguir. Agora, aqui, vou mostrar como são contrastantes dois homens portugueses de 50 anos que concederam entrevistas ao Expresso deste sábado.

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António Horta Osório concedeu uma entrevista a João Vieira Pereira.


É apresentado da seguinte forma: António Horta Osório começou a trabalhar aos 20 anos. Agora, aos 50, lidera a partir de Londres um gigante da banca mundial. 


Uma carreira exemplar de quem sempre estabeleceu para si objectivos extremamente ambiciosos.



Toda a entrevista o revela seguro, focado, uma vida construída em torno de uma carreira. Um homem exemplar. Uma vida sem desvios. 

Foi a seu tempo o melhor aluno da Católica e depois do Insead.

Ele próprio se define como 'Sou bastante planeado e previdente' e conta que, ainda na faculdade, escreveu a todos os bancos em Portugal.

Depois do Insead foi para a Goldman Sachs, porque, diz ele, era o melhor banco de investimento do mundo. E daí foi sempre a abrir. 

Agora está no Lloyds, o maior banco inglês.

Há tempos teve um esgotamento. Não dormia. Foi-se abaixo. Descobriu-se humano e, aparentemente, isso foi para si uma surpresa. Na altura, quando se tinha acabado de recuperar, o Expresso, fiel seguidor, entrevistou-o. Lembro-me de como o discurso era o mesmo, arrumado, clean. Agradecia à mulher (Ana, seria?) e aos accionistas e colegas de Board o seu grande apoio.

E sorria com aquele seu característico ar arguto, menino esperto, trabalhinhos de casa sempre feitos a tempo e horas, dedinho no ar, fila da frente.

Vem duas vezes por mês a Portugal, diz que gosta de ser administrador não-executivo da Fundação Champalimaud, e que está ligado à holding da família Soares Santos na Jerónimo Martins. Faz, pois, parte dos happy few que estão nos locais onde é importante estar-se.


Acha que Portugal está a ir no bom caminho. Diz que se pode discutir a intensidade e o mix, mas não a direcção. 

Diz que o desemprego é um problema e que as empresas empregarão mais quanto mais produtivas as pessoas forem. Diz que, se hoje não há oportunidades de carreira em Portugal, os jovens têm todo o direito e devem ir para o estrangeiro procurar uma vida melhor.

'A reforma não é algo que veja com naturalidade. Diz: Vendo os exemplos fantásticos de pessoas que eu admiro nos negócios, acho que a pessoa deve trabalhar até ao momento em que continue a criar valor.' 

*

Posto isto, o que é que eu acho do que li?

Pois bem, acho que deve ser um chato de primeira e a entrevista revela-o assim: sem pitada de interesse. E revela-o alinhado com a directriz financeira dominante. Que os portugueses sofram, que as famílias se desmembrem, que o país esteja mais pobre e a retroceder a todos os níveis, isso é coisa que o ambicioso e centrado Horta Osório não vê. Pode, quanto muito, criticar o mix mas não o rumo. Estamos entendidos.

(Aliás, já estávamos, e até já aqui falei dele antes. De resto, nem percebo para que foi esta entrevista uma vez que nada acrescenta. João Vieira Pereira tem alguns gurus, aqueles que inspiram as suas pouco inspiradas e pouco objectivas crónicas, de entre os quais os venerados Horta Osório e Alexandre Soares dos Santos serão dois deles, pelo que, quem o lê, percebe que há vassalagens que se prestam sem esforço. É a minha opinião como leitora e observadora destas coisas. Mas, claro, pode acontecer que esteja, também eu, a ser pouco inspirada e pouco objectiva.)

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E depois temos Manuel João Vieira que, logo no nome, é ao contrário. Chama-se, de facto, João Manuel. Clara Ferreira Alves assina mais uma grande entrevista. Quase tão interessante é o personagem e o homem Manuel João, como a entrevista em si, nomeadamente as inteligentes perguntas da entrevistadora. Um prazer ler uma entrevista assim. 


(O meu marido enerva-se com o Expresso, com aqueles editoriais do Ricardo Costa, com os textos sem coluna vertebral do Henrique Monteiro, não percebe porque insisto eu em comprá-lo. Tem razão mas só em parte - porque entrevistas como estas justificam que eu continue fiel a este jornal).

Na introdução, escreve Clara Ferreira Alves sobre Manuel João Vieira: É artista plástico, músico romântico e obsceno, antigo candidato à Presidência da República. Nesta conversa, fala da sua vida de vagabundo, insurge-se contra a venda da colecção de Miró do BPN e indigna-se com a corrupção no Estado e a falta de cultura no país.


Todo ele se revela na sua multiplicidade: é ele e é Lello Minsk, Lello Universal, Orgasmo Carlos, Candidato Vieira, Irmão Catita, tímido, desbocado, irreverente, hesitante, músico e pintor, performer e talvez outras coisas.



Mostra como se vai construindo a si próprio, sem uma segurança económica, sem uma linha de rumo bem definida. Mas um cidadão atento, preocupado com o país, um ideal solidário.

Pergunta Clara Ferreira Alves: Quando se exerce uma autoridade sobre os portugueses, caso da troika, os portugueses aceitam e conseguem culpar-se por coisas que não fizeram. Obedecemos sempre, burocraticamente?

Responde ele: Estamos sob administração estrangeira. O que existe agora é uma infantilização da linguagem política. Isso é uma infantilização, nós fomos meninos maus, uma moralização infantil. A infantilização é o que leva à mansidão. Posição subalterna.

Depois Clara Ferreira Alves diz-lhe: Na Irlanda, houve um respeitável reformado que mandou um ovo podre à cara de um banqueiro de um dos bancos que lhe tinha sugado as finanças. Na Bélgica e em França, existe o tipo das tartes. Aqui, quando um oportunista é promovido para um cargo internacional à custa dos portugueses, é saudado como um exemplo.

Responde: Claro, lá está um que se safou. (...) Vou falar-te de uma coisa que acho um escândalo criminoso, a venda da colecção de Miró do BPN. Eu pus alertas no meu Facebook, houve um abaixo-assinado e essas coisas todas e publicitei isso. E houve um tipo que foi ao meu Facebook e disse que achava bem porque não percebia qual a graça deste pintor. Uma coisa mal desenhada... Estamos a lidar com pessoas que não sabem quem é o Miró, não sabem o que é arte moderna. Temos a elite política mais inculta da Europa...(...) Ora a cultura, dizia eu, é a alma, o fundamento, e se não temos cuidado com o que é mais alto, mais elevado, ficamos na lama. Ficamos como os porcos que comem trufas.

Já para o fim, Clara Ferreira Alves pergunta-lhe: És um moderno?

E Manuel João responde: Sou um medieval. Há coisas na história da arte, peças, com as quais me identifico. Os tintorettos de San Rocco, por exemplo.

Os grandes Tintorettos e Tizianos? Vais muito a museus?

- Podem ser pequenos. Há pequenas telas que são grandes telas (...) Gosto de me perder nos museus até bater a bota.

Pergunta tola: onde é que te vês daqui a 10, 15 anos?

- Metido num caixão. E se não estiver, devo estar numa vida muito miserável.


*

O que acho eu dele? É sabido por quem aqui me acompanha há algum tempo. Gosto do Manuel João Vieira. É genuíno, deve ser uma boa pessoa, é um homem interessante. Tem ideias, sabe pensar. Preocupa-se com a alma do País, percebe que a cultura é a alma comum de um povo. Tem sentido de humor e tem uma certo ar de drama que me seduz. É um maluco, é certo (e a minha mãe sempre se lamentou, parece que só gostas de malucos..). É um artista multifacetado e tem valor no que faz. E agita as águas. e espero bem que daqui por 10 ou 15 ou 30 ou mais anos ainda esteja entre nós, estimado por todos, o seu mérito reconhecido, as suas finanças em ordem, e feliz.

E uma palavra ainda para Clara Ferreira Alves: uma grande jornalista. Grande entrevista esta. Como, aliás, são também sempre relevantes e muito bem escritas, as suas crónicas na Pluma Caprichosa. São jornalistas como ela que mantêm viva a alma de um jornal (usando o conceito de alma à semelhança do que Manuel João Vieira o fez). 


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Relembro: por aí abaixo há mais uns posts sobre temas variados: desde a Casa dos Segredos de Madame Teté à Valérie ex-Hollande, passando pelo insuportável Medina Carreira.

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Convido-vos ainda a darem uma espreitadela ao que tenho hoje no Ginjal: autores de Trás-os-Montes. Um vídeo com poesia dita sobre paisagens muito belas.

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E, por agora, é isto. 
Desejo-vos, meus Caros leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda feira. 
Saúde e felicidade é o que, muito sinceramente, vos desejo.


A Casa dos Segredos (ou O Desafio Final) na TVI: a abjecção não tem limites? Vale tudo em televisão? E, por coincidência, uma vez mais a palavra aos Leitores: "BORDEL CHEZ MADAME TÉTÉ"


Há pouco, para ver se o Professor Marcelo ainda estava na opinação com a Judite, parámos na TVI. E, sem querer, assistimos a uma cena que mais parecia uma cena de praxes. Era a Casa dos Segredos que agora, salvo erro, se chama Desafio Final. 


A TVI abusa daqueles pobres coitados que tudo fazem para aparecer ou para ganhar algum dinheiro. Que as pessoas se esforcem para assegurar a sua subsistência é mais do que compreensível. Mas, do que parece, mais do que por uma questão de subsistência, aqueles jovens estão ali para serem conhecidos para depois fazerem presenças. E, do que me parece, fazer presenças é o seu modo de vida.

É mais uma daquelas manifestações de uma realidade paralela. Mas que a TVI, para ter audiências, vá até ao ponto em que a dignidade das pessoas saia beliscada, já me parece demais.

O que se estava a passar ali era o seguinte: para que uma de duas miúdas, Érica ou Jessica, se bem fixei os nomes, pudesse estar na Final, teria que enfiar o braço para tirar peças de um puzzle de um frasco cheio de pequenos ratos. As miúdas enojadas, cheias de medo, sujeitaram-se a isso.


E, como se isso não bastasse, a seguir ofereciam 5.000 euros a quem tirasse uma certa chave de frascos com larvas nojentas. E sempre a Teresa Guilherme a incentivar, a gritar, a fazer trocadilhos maliciosos, uma coisa quase aberrante dado o que se estava ali a passar. 


Nesse ponto, fugi a sete pés daquele canal.

É mau demais. 

Como é que há jovens que se prestam a isto? E, tão estranho como isso, na assistência está (o que se percebe ser) a família a aplaudir. Em vez de se indignarem com os sacrifícios a que os jovens estão a ser submetidos, as famílias rejubilam.

Como é que a televisão chegou a este ponto? E em prime time num fim de semana?

É o que as pessoas querem ver, dirão os cínicos. Pois. Podia aqui recordar coisas que as pessoas, em tempos que já lá vão, também gostavam de ver. No entanto, gosto de pensar que isso foram coisas que ficaram lá para trás, nas dobras sombrias da história.

Tudo isto é estranho e inquietante. Que mundo é este?

Li um texto escrito por Rui Bebiano no seu interessante blogue, A Terceira Noite, que me deixou a pensar. Nem tudo resulta de um mau governo, claro que não. Mas de um mau governo, nascem más escolhas que depois fazem outras más escolhas, gente que faz más leis, que desregula o que deveria regular ou regula ao contrário do que devia.

Transcrevo a parte inicial desse texto:


Ainda sobre as medidas governamentais em curso objetivamente destinadas a desmembrar o mais depressa possível a investigação científica e a fazer com que Portugal regrida trinta ou quarenta anos neste domínio. Independentemente das dificuldades de tesouraria que todos sabemos existirem – e que servem para justificar formalmente os cortes arbitrários –, parece evidente que tais medidas de imposição da barbárie só podem ter como responsáveis, em última instância, pessoas que nem uma licenciatura fizeram com um mínimo de qualidade, e para as quais, por isso, é totalmente inimaginável aquilo que se faz ou deixa de fazer nos centros de investigação e nos domínios mais avançados da produção de conhecimento. É o cenário distópico, até há pouco inimaginável para qualquer professor, de um país governado pelos que foram os seus piores alunos.

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Mudando agora de registo, até porque o humor por vezes é mais eficaz do que muitos sermões. Recebi da Leitora Lídia mais algumas das suas divertidas montagens e textos.

Transcrevo um dos textos, uma anedota. Diz a Leitora que se lembrou desta anedota vendo uma revista cor de rosa no escaparate:


Em Paris há um bordel chiquérrimo dirigido por Madame Tété. As demoiselles estão todas prontas esperando os clientes. Tocam à campainha e Madame Tété ordena a Mademoiselle Bébé: Vá ver quem toca. 

Era um gentleman de chapéu de coco e uma mala samsonite na mão, que lhe diz: Diga à sua patroa que eu sou um tarado sexual e quero  uma mulher obediente e pago tudo  o que ela quiser. 

Entrou discutiu o preço com Madame Tété que ordenou a Mademoiselle Mimi:  Acompanhe o cavalheiro ao quarto e faça tudo o que ele exigir.

Ela subiu as escadas e, chegada ao quarto, começou a despir-se. Ele indignado disse: Nada disso, vá à casa de banho, encha um copo de água e suba para cima do guarda fatos. Ele despiu a roupa toda, abriu a samsonite e começou a vestir um fato de mergulhador, pôs as barbatanas e o respirador.

Disse: Mademoille, com os dedos comece a atirar a água para cima de mim. E começou a gritar: Ai Mãezinha estou a gozar tanto, com tanta chuva. 

Passado um bom bocado gritou: Agora bata com os sapatos no guarda-fato. E ele gritava: Ai Mãezinha estou a gozar tanto, tanta chuva, tantos trovões. 

Passado outro bocado disse: Agora com o outro pé apague e acenda a luz. Aí gritou: Ai Mãezinha que tempestade monstruosa, tanta chuva, tantos trovões, tantos relâmpagos.

Passado um tempo, Mimi já não aguentava mais e disse. Oh Cavalheiro e quando vamos f.......?

E ele, indignado, respondeu: É maluca ou faz-se? Com um tempo destes? 

*

E esta foi uma das montagens que a Leitora Lídia me enviou.

"Em noite quente na casa", "Doriana e Érica"

Nem de propósito
hoje aterraram aqui alguns visitantes

que vinham em busca de 'Érica nua',

não sei se era desta ou se há outras Éricas que andem nuas por aí.


*