Se os meus Caros Leitores já leram o meu post de baixo são muito bem capazes de estar ainda de cabelos em pé. Quem vos veja assim, não sabendo o que se passou, ainda é capaz de pensar que é do vento, mas não, percebo que tenha sido mesmo da minha maluquice. Nem precisam de me chamar a atenção, que não é próprio de alguém da minha idade e condição social, rebéubéu, rebéubéu, pardais ao ninho. E agora são os que estão a ler isto, sem terem lido o de baixo, que devem estar de cabelos em pé (condição social...?! mas quem se julgará a madama?).
Bom. Sensível que sou à vossa reprovação (tão forte ela é que a sinto aqui à distância), vou mostrar-vos como também me sei elevar. Ó se sei. Alto, alto, alto. Tão alto que até fico com vertigens - e se eu padeço de vertigens, caraças. Ui. Só de pensar já estou a sentir aquele formigueiro inquietante nos pés.
Passo então aos factos:
Alex Honnold é um puto americano. Bem, puto, puto não será mas enfim, ainda nem 30 anos tem. Com 28 anos, Alexander J. Honnold é ateu, gosta de literatura e vive com pouco dinheiro. Largou os estudos de engenharia aos 19 anos e atirou-se com unhas e dentes à actividade dos seus sonhos. Bem, acho que com dentes não, só com unhas.
Alex Honnold pratica free solo escalando grandes paredes. Sem cordas. Sem rede. Um homem desafiando a lei da gravidade. Um homem quase desafiando a própria lei da vida.
Vê-lo é, para mim, assustador. Tal como, quando vou ao circo, fico cheia de vertigens e apavorada com os exercícios no trapézio, também a ver estas imagens fico aflita. Só não fico muito mais porque aqui já sei que, a esta que vamos ver, ele escapou com vida enquanto, quando estou no circo, estou sempre com o credo na boca não vá algum deles despenhar-se.
Mas, de facto, entre o que se passa no circo e isto não há comparação possível. isto aqui é do além. Mas mesmo do além.
Um bocado de rocha que se desprenda, um pé mal posto, um cansaço, uma falta de forças, um instante de medo. Qualquer coisa. Qualquer coisa e será a sua morte.
Mas, de facto, entre o que se passa no circo e isto não há comparação possível. isto aqui é do além. Mas mesmo do além.
Um bocado de rocha que se desprenda, um pé mal posto, um cansaço, uma falta de forças, um instante de medo. Qualquer coisa. Qualquer coisa e será a sua morte.
E se chega a um ponto em que não tem mais onde se agarrar? Se a rocha deixa de ter fissuras ou saliências? Que horror. Como poderá sair dali?
Vocês que me lêem devem pensar que estou a exagerar quando falo nas minhas vertigens. Não estou. Juro. Estou a pensar nas imagens que estive a ver, neste filme que aqui coloquei e noutros e fico toda assustada, o peito numa inquietação, as plantas das mãos e dos pés a ficarem num formigueiro que me tira a força nas extremidades. Uma coisa horrível, só quem padece de vertigens poderá saber do que estou a falar.
Mas, fazendo um esforço para me abstrair deste meu medo das alturas, penso na adrenalina que este rapaz deve sentir dentro de si quando olha uma parede inexpugnável e resolve arriscar a vida para a vencer. E imagino o seu prazer ilimitado quando, sozinho no topo do mundo, festeja a alegria de ter sobrevivido e o prazer primordial de ver a natureza que apenas olhos de um outro mundo podem alcançar.
(Bem, claro que, se ele foi filmado, é porque alguém o filmou. Mas esses são outros felizardos: podem testemunhar não apenas a natureza como a coragem inquietante deste jovem. Só que vão com cordas ou em helicópteros. Nada mas nada que se compare com o risco tremendo que Alex Honnold corre)
(Bem, claro que, se ele foi filmado, é porque alguém o filmou. Mas esses são outros felizardos: podem testemunhar não apenas a natureza como a coragem inquietante deste jovem. Só que vão com cordas ou em helicópteros. Nada mas nada que se compare com o risco tremendo que Alex Honnold corre)
National Geographic - Free Soloing com Alex Honnold
[Escalada do Half Dome, nearly 2,000 feet (cerca de 610 metros) — sem corda]
Não é para todos, isto. Não é aliás para quase ninguém, talvez apenas para seres sobrenaturais que têm asas invisíveis ou um qualquer magnetismo que os mantém presos às rochas.
E se me perguntarem porque estou eu hoje com coisas destas, confesso que é porque já não tenho paciência para falar de gente mentirosa, manipuladores sem escrúpulos, parlapatões, gentinha pequenina e medíocre. A gentinha que dirige o Expresso e que espalha aldrabices (como que a venda dos Mirós vem do tempo de Sócrates) ou Marcelo Rebelo de Sousa que dá uma cravo para disfarçar e dez na ferradura para malhar. Muita mentira. Muita. E tudo envolto em capas de isenção ou puritanismo. Enoja-me tanta falta de vergonha e de escrúpulos.
Por isso, isto hoje é só assim. Não falo de gente parva, amoral, aldrabona, medíocre, ignóbil. Hoje estou noutra.
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