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sábado, junho 21, 2025

Um dos mais lindos metros do mundo

 

Isto é uma manifestação

Não sei há quantos anos não ando de metro em Lisboa. Décadas, seguramente. Habituámo-nos a andar de carro. Bem sei que é uma parvoíce. Mas, quando sugiro ao meu marido que, em vez de andarmos preocupados com o trânsito ou com o estacionamento, podíamos usar transportes públicos, pergunta-me onde é que deixávamos o carro. Não há transporte directo para o centro, pelo menos que saibamos. Por isso, ou fazíamos transbordo ou íamos de carro até um lugar mais ou menos periférico. Mas desabituámo-nos, isso parece-nos mais complicado do que irmos de carro desde que fechamos a porta de casa até quase à porta do lugar onde vamos. Há hábitos difíceis de quebrar.

Isto é uma (subtil) performance

Quando eu andava de metro, e gostava de andar por ser prático e rápido, esteticamente nada tinha que se lhe dissesse. Mas mudou e, do que tenho ouvido dizer, mudou para melhor, para muito melhor. Tenho ouvido falar de algumas estações que me dizem ser espectaculares, quer do ponto de vista arquitectónico quer do ponto de vista artístico. Do ponto de vista técnico, nomeadamente do ponto de vista de engenharia civil, tendo em conta as particularidades da cidade, nem falo pois não tenho competências para avaliar -- mas imagino que cada estação seja um desafio, especialmente as da baixa, debaixo de água, no meio de estacaria e de ruínas.

Estas são as três graças

Mas hoje, depois de um dia longe de trânsitos, poluições e outras confusões, um dia dedicado a varrer (não dou conta da caruma, das folhas secas das azinheiras, das bolotas), a caminhar entre árvores, a fotografar flores e florzinhas, pés de orégãos, searas imaginárias, luzinhas mágicas a envolver pomponzinhos fofos, eis que pouso aqui, no bem bom, e recebo, de presente do youtube, um vídeo que mostra a beleza do metropolitano de Lisboa.

Diz ele que é dos mais belos do mundo. E eu fico contente por saber isso. Adoro Lisboa, adoro Portugal, adoro as coisas lindas do meu País.

Para quem esteja como eu -- a milhas de o conhecer -- aqui fica. Lindo, de facto, moderno, elegante, arejado e convidativo. Um dia destes vai ter que ser.

This Is the Most Beautiful Metro (that no-one talks about)

When transport fans, enthusiasts, tourists, guidebooks and listicle websites talk about the most beautiful underground systems in the world, the same small handful of cities tend to be mentioned. You've just immediately thought of at least two of them.

But no-on ever seems to bring up the Metro in Lisbon, which is, in my opinion, definitely worth including on the list. Using footage from my recent trip to the city, let me show you what I mean...


Dias felizes

sexta-feira, junho 20, 2025

Podem desmentir-me se quiserem

 

Isto é uma catedral

Gosto agora muito de me sentar no jardim ou no campo, em especial à tardinha, a olhar para o ar, para o céu, para as árvores. 

No jardim há agora um perfume novo, creio que a mistura de várias flores. É um perfume floral, isso sem dúvida, mas, ao mesmo tempo, doce e íntimo. Os pássaros também gostam. Descem e vêm passear perto de mim, entretendo-se a debicar o que encontram na terra. 

Se estou sob as árvores gosto de as admirar, vendo-as de baixo. Não existiam e foram-se tornando a maravilha que são. E gosto de ver as flores através da luz. Ou a luz através das flores. Parece o mesmo mas não é. 

As nuvens também me cativam. São efémeras como uma aragem. Não têm a noção do tempo nem do espaço, são livres como uma partícula elementar, como uma palavra solta ao vento, como espíritos vogando por aí.

Isto é um deus, e creio que daqueles que não são particularmente santos
(honi soit qui mal y pense).

Muitas vezes tenho um livro comigo mas, se o livro não tem nada que me impressione (e impressionar no sentido em que a luz impressiona a película, nela gravando imagens, sombras, movimentos), fecho-o e deixo-me estar.

Isto é um milagre. Inexplicável. Fruto da inspiração de uma inexistente divindade

Tenho saudades de fotografar com as minhas máquinas fotográficas. Foram-se estragando e, depois, para quê continuar?, já tinha milhares de fotografias. Faz sentido continuar a acumular fotografias? Não vou voltar a vê-las. O que gosto é do momento em que capto a imagem. A partir daí já não me interessam. Agora uso o telemóvel. E vou apagando pois estou sempre a precisar de mais espaço.

Isto é uma obra de arte. Fortuita. Com a vantagem de não ser um Miró 

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Já contei muitas vezes que, quando fazemos as nossas caminhadas nestes dias de calor, mal transpomos e entrada do nosso jardim, sentimos a frescura que nele se acolhe. A temperatura está uns graus abaixo da temperatura fora dele. São as árvores, as trepadeiras, as flores, é o carinho que retêm.

In heaven a mesma coisa. Vou andar lá em baixo e, no meio das árvores, é outra a geografia. 

Em qualquer dos casos, o tempo suspende-se. 

Hoje estava sentada no meio das flores, o cão deitado, os passarinhos a cantar. Pensei que poderia ficar assim saecula saeculorum. Talvez bastasse não me mexer. O mundo à minha volta a girar e eu ali, parte do tempo, imóvel como o tempo, uma partícula imaterial suspensa na infinitude do espaço.

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E para que não protestem com o teor da conversa, para quem prefere temas mais concretos, aqui está um vídeo que poderia muito bem servir de inspiração a quem tem a responsabilidade de melhorar os espaços públicos.

THE MINI FOREST - Rewilding using the Miyawaki Method

Terrell Wong is about to plant 100 trees in her small Toronto backyard, a dense mini forest based on the Miyawaki Method. What at first seems like a simple act soon evolves into a complex story about dirt, lawns, fungus, wildlife, native species, and finally the human brain. An anti-lawn anthem from director David Hartman, The Mini Forest explores this innovative form of afforestation and the importance of restoring the native woodlands that once covered so much of Canada and the World.


Uma boa sexta-feira

domingo, maio 25, 2025

Modo de pausa

 


Depois de ter esperneado com o resultado das eleições, ter espremido os neurónios tentando pôr em equação o ensarilhamento em que estamos metidos, depois de ter lido mil opiniões e ouvido cinquenta mil sapientes veredictos, o que tenho a dizer é o mesmo que sempre fiz em situações de berbicacho: bola para a frente porque para a frente é que é caminho.

Enquanto muitos dos meus colegas adoravam enfronhar-se em cansativos meas culpas ou em intermináveis sessões de lições aprendidas, eu sempre fui mais de me reunir rapidamente com quem tinha alguma coisa de inteligente a dizer (opiniões de burros ou de papagaios dispenso), tirar meia dúzia de conclusões, com essas conclusões e mais o que há pela frente traçar um caminho e... bora lá antes que se faça tarde.

Portanto, por mim já chega de andar a tentar a pisar e a repisar sobre o mesmo assunto.

É certo que continuo a achar que o Montenegro é um chico-esperto e que, nos 11 meses em que governou, não fez nada de jeito -- e o que pareceu melhorzinho foi a continuação do que vinha do anterior governo ou a distribuição de ma$$a, pois tinha folga (herdada) e sabia que as eleições estavam ao virar da esquina. Mas, enquanto a Spinunviva ou outras argoladas do género não o derrubarem, só espero é que faça aquilo para que foi eleito.

Quanto ao PS, sempre disse que achava que o Pedro Nuno Santos não era a pessoa certa para suceder a António Costa. O PS pela mão de Pedro Nuno Santos quase me levou a não votar no PS. Pedro Nuno Santos foi um erro de casting, como os resultados eleitorais mais do que demonstraram. 

Na altura, pareceu-me que José Luís Carneiro seria a pessoa certa. Mas, na altura, o Chega ainda gatinhava. Agora, os do Chega já andam em duas patas e já convenceram milhão e tal de pessoas que são os melhores para governar o País. Orwell cheirou-os a léguas (a eles e a todos os outros que têm feito o mesmo percurso). Não sei se, para a presente circunstância, José Luís Carneiro tem o carisma, o punch e a visão para levantar o PS e, ao mesmo tempo, para atirar o Chega ao tapete. Não estou a querer dizer que acho que não. Estou apenas a dizer o que disse, que não sei. Não o conheço suficientemente bem. Mas espero que sim. Espero bem que sim.

Face a este panorama, se eu fosse o Marcelo o que faria, antes de mais, em paralelo com as conversas oficiais com os partidos e off the record, seria chamar os directores de informação dos diferentes meios de comunicação social para os desafiar a fazerem um pacto (de regime) para que parem de andar atrás do Ventura. O Chega é o Ventura. E o Ventura é um demagogo, sem ética, sem vergonha. Mas é também um excelente comunicador. Criativo e bom comunicador. Consegue lançar ossos para a praça pública a toda a hora, mobilizando a agenda dos media. Só que os canais de televisão -- ou de rádio ou os jornais -- não são cães para irem atrás de qualquer osso, pois não? Se a Comunicação Social deixar de dar palco ao Ventura, o Chega esvazia-se. Provavelmente deveria ser a ERC a ter um papel pedagógico junto da Comunicação Social. Mas a ideia que tenho é que a ERC não risca, não serve para nada. Portanto, penso que deve ser o Marcelo (que tem muitas culpas no cartório em toda a instabilidade que atravessamos) a atravessar-se.

Identicamente, alguém deveria andar em cima das redes sociais dos partidos, em especial do Ventura e do Chega. Contas falsas devem ser denunciadas. Incitamentos ao ódio ou insultos devem ser denunciados. Há mecanismos legais para lidar com tudo. Não deve haver complacência.

Tirando isso, penso que, com toda a humildade, deve tentar validar-se se as percepções de tanta gente estão erradas ou se, pelo contrário, são legítimas. 

Dou alguns exemplos:

Como são atribuídos os subsídios? Como é que isso é auditado para verificar se não há abusos? Há gente que não faz nenhum e que vive, ao após ano, à pála de subsídios?

Há mesmo milhares e milhares de imigrantes que não trabalham e que recebem subsídios? 

Há mecanismos para acolher e integrar os imigrantes, em especial os que não falam português? 

E, pelo que se tem visto em algumas reportagens, os abusos que se têm detectado no SNS são altamente lesivos das contas públicas e, também pelo que tem visto, os processos administrativos, para além de permitirem toda a espécie de abusos, são manuais, precários e não há auditorias. Será que isto acontece generalizadamente? 

Tenho lido que em Portugal há mais médicos por habitante do que na maioria dos outros países. E, no entanto, há muitos milhares de pessoas sem médicos de família, é preciso esperar muitos meses por uma consulta banal (e sobre as de especialidade acho que ainda é pior). Parece que há sempre falta de dinheiro. E, no entanto, na volta o que há é dinheiro a mais, esbanjamento, aproveitamento, muita ausência de gestão, muito regabofe. Tenho defendido que a gestão de hospitais deve ser entregue a gestores profissionais. Não a médicos, não a gentinha dos partidos. Hospitais que gerem orçamentos de milhões têm que ser entregues a gestores competentes e profissionais. Numa altura em que a Saúde está tão mal, com Urgências fechadas, com tantos atrasos, se entregassem a gestão a profissionais não apenas se poupariam muitos milhões como os serviços melhorariam rapidamente. Se as pessoas começarem a ver 'saneamento' de gastos abusivos e melhoria no atendimento com certeza o paleio populista será esvaziado.

Quanto à habitação, também é preciso arranjar soluções urgentes: aproveitem edifícios públicos, adaptem-nos, alojem o máximo de pessoas. Rapidamente. Com assertividade. Com pouco paleio. E favoreça-se e apoie-se o ressurgimento de cooperativas de habitação. Apareçam com soluções concretas, rápidas, bem articuladas, bem acompanhadas, bem divulgadas. Esvazie-se o populismo.

Já disse e repito-me: é tempo de juntar esforços contra o populismo. E, enquanto a legislatura for avançando, o PS terá tempo para se reorganizar. Ou haverá tempo para aparecer um novo partido (caso o PS não consiga livrar-se do anquilosamento aparelhista, não consiga regenerar-se assimilando com inteligência o ar do tempo).

Mas, dito isto, agora vou continuar na mesma onda em que tenho estado nestes últimos dias: a ler, a curtir, regando, cozinhando, caminhando, estando em família, na boa. Agora nem tenho escrito. Tem-me apetecido descansar, estar em modo de pausa.

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Desejo-vos um belo dia de domingo

domingo, abril 21, 2024

Coisas boas e bonitas

 


Desta vez, quando atingi um número redondão, não me apeteceu festejar. Estava desinspirada, sem cabeça para pensar em cenas festivas. Por isso, passei pelos 7 milhões como boi por vinha vindimada. (É boi ou cão? - engano-me sempre nos provérbios, Mas tanto dá, boi ou cão, o que quero dizer é que fui deixando passar os dias e os 7.000.000 já vão em 7.146.009 (neste momento)). Por isso, agora, já foram.

Mas, ainda assim, agora que aqui estou, quero dizer que continuo surpreendida por aqui ter chegado, tanto milhão de visualização, e agradecida por ter a vossa companhia. Quero que saibam que não é palavra de circunstância. É mesmo de coração.

Penso muitas vezes que nada me obriga a continuar a vir aqui todos os dias pelo que poderia conceder-me (a mim e a vocês...) umas tréguas, umas férias, um descanso. Mas, para mim, estar aqui é estar de férias, é descansar a cabeça. Venho aqui por prazer, não por obrigação. E, muito sinceramente vos digo, espero que convosco aconteça o mesmo.

De vez em quando, ao ver qualquer coisa bonita, fotografo para partilhar convosco ou penso que poderia falar nisso.

Depois, à noite, aqui, penso que são coisas insignificantes, que não faz sentido estar a ocupar espaço e a maçar-vos com banalidades.

Em alturas de guerras, destruições, ou em período de instabilidade política ou degenerescência ética, que sentido falar de pequenas coisas, iguais para todos? 

Mas, também, pode alguém estar permanentemente motivado para falar de coisas sérias e preocupantes? Eu não consigo. Posso ser fútil, mulherzinha desocupada, dondoca (como aquele meu fofo arqui-inimigo me chama). Mas sou o que sou e não me apetece vir para aqui fingir que sou diferente.

Estando com a família estou protegida, rodeada de alegria e boa disposição. Ainda ontem, à conversa com amigo de longa data, pusemos a conversa em dia e, apesar de também falarmos de acontecimentos tristes nas nossas vidas, logo falamos de coisas boas, rimo-nos, combinamos um almoço. E agora estou a preparar outro encontro bom. E tudo isso me transporta para um espaço no qual há paz, canto de pássaros, flores crescendo em liberdade, sorrisos, afectos.

Por isso, por vezes, dói-me sair do aconchego da minha zonazinha de conforto e falar de gente que não me interessa, de gente má, ou, pior ainda, das suas vítimas inocentes.

Por comodismo, fico-me por florzinhas, por vídeos de decoração, pela vontade de abraçar o mundo inteiro e deixar-me ficar a ouvir o canto dos passarinhos, a sentir o perfume dos flores, a ouvir os meus amores e amigos a conversarem à minha volta, envolta em paz e sossego.

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Por exemplo, um vídeo que mostra um lugar muito bonito onde deve ser maravilhoso estar

At Home in Marrakesh with Meryanne Loum-Martin

Join Susanna in Marrakesh, Morocco as she visits renowned hotelier Meryanne Loum-Martin at her stunning property containing both her renowned boutique hotel Jnane Tamsna and her own residential refuge in the heart of Marrakesh’s Palmeraie district. Both places are just seamless steps from one another and resonate with Loum-Martin’s penchant for blending culture, history and design.

Born in Cote d’Ivoire, Loum-Martin worked in Paris as a lawyer before moving to Morocco in 1996.  She built the property in 2001, after creating its buildings and outfitting its unique rooms with furniture and objets culled from her extensive travels. Her ethnobotanist American husband fashioned the native gardens and their bounty helps feed the many guests who seek their generous hospitality from all over the world. 
The hotel’s interiors are as singularity exotic as the rooms in Loum-Martin's home, both filled with art, textiles and antiques and she and Susanna explore each.  You won’t want to miss how Morocco’s only Black female hotelier determinedly brought her vision of creating a destination for world travelers and for her own family, to life.

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Desejo-vos um belo dia de domingo

Saúde. Alegria. Paz.

domingo, fevereiro 11, 2024

O tio-avô anarquista, a avó que era Frida vibe, casórios e muitas centenas de cartas e de fotografias (centenas? ou milhares?)

 

Passei o dia de volta das caixas. Descobertas que, para mim, são fascinantes. 

Uma fotografia me encanou: a minha avó materna, muito jovem, sentada com o meu tio, ainda bebé, ao colo e a minha mãe, talvez com uns três anos, muito loura, olhos muito claros, muito séria. Mas o que mais me surpreende é o porte da minha avó, muito direita, com um vestido que devia ser de uma cor viva com um padrão não de bolinhas claras mas um qualquer motivo assim, com mangas compridas, cós branco nas mangas, um decote em bico com uma gola branca em volta e um colar de grandes e coloridas contas. Morena, cabelos pretos, sobrancelhas vincadas. A minha filha disse Frida Kahlo vibe. E é.

Tenho que arranjar maneira de ter em casa, algures, em destaque, algumas das incríveis fotografias que  descobri. E para as cartas antigas. Tenho que tê-las num lugar em que saiba onde estão. Receio guardá-las num sítio em que se perca o rumo para elas.

Descobri também um pequenino caderninho em que a minha bisavó escreveu a data de nascimento da minha avó, a data em que se casou e a data em que a minha mãe nasceu. Afinal nasceu à tangente com a minha avó com dezasseis acabados de fazer. 

Aí escreve também como o filho andou aos tiros, foi preso, foi deportado. Na fotografia dessa folhinha apaguei o nome desse meu tio-avô.

Noutra folhinha, diz que regressou e, mais tarde, foi outra vez preso.

Já descobri que era anarquista. Encontrei-o, via google, num trabalho sobre os movimentos anarquistas. Bate certo com o que a minha bisavó escreveu, a data, o nome do navio, etc. E a minha filha descobriu uma fotografia com os deportados dos anos 30 em Timor, na ilha em que, justamente, ele esteve. Um dos da fotografia é certamente esse meu tio-avô anarquista de que sempre ouvi falar como sendo um combatente, um aventureiro, corajoso. Viveu clandestinamente, esteve preso. Morreu pouco antes do 25 de Abril para grande desgosto da minha avó pois toda a vida ele lutou pela liberdade.

No dia do enterro da minha mãe (custa-me dizer enterro pois foi cremação; apenas uma semana e tal depois é que fizemos o enterro das cinzas), os meus primos, filhos do irmão da minha mãe, disseram que tinham descoberto não sei o quê sobre esse tio, qualquer referência histórica, creio, e que aparecia lá o nome de código dele. Tenho que lhes enviar a fotografia de algumas destas coisas que estavam com a minha mãe e pedir-lhes que me mandem imagens do que, se calhar, estava com o pai deles.

Nesse livrinho a minha bisavó fala de uma Luiza que tinha um amante e que viveu um drama, tendo sido salva. Nunca ouvi falar dela. Seria uma outra filha? Não sei.

Descobri também duas folhas antiquíssimas com textos, creio que humorísticos (mas tenho que me debruçar para conseguir ter a certeza). Tenho ideia que era correspondência dos primos algarvios, entre eles o que foi presidente.

E inúmeras, inúmeras fotografias. Primos em Lisboa, outros no Algarve. E muitas, muitas de quando eram jovens. Era um grupo enorme de amigos e deviam andar sempre juntos. E fotografias do casamento dos meus pais. E dos meus tios, os meus pais como padrinhos de ambos, a minha mãe de chapéu, elegante, o meu pai muto bem, eu de menina de alianças.

Passando para a correspondência que me foi dirigida tenho muitas dezenas, talvez centenas, de uma grande amiga epistolar, alguém que escrevia muito bem, com muita facilidade e que me encantava pelos seus gostos, pela sua cultura. São Tavares. Tenho ideia que estudou História. Tenho cartas que vinham de Leiria mas creio que ultimamente vivia no Porto. Não consigo descobrir o nome completo para conseguir descobrir que é feito dela.

E várias outras. Por exemplo, a Mané de Leiria. Era muito alegre, tenho ideia que era um espírito livre. E muito bonita. Mas a única coisa que sei dela é isto: Mané. Conhecia-a, a ela e à São, num acampamento creio que na Quinta dos Lilases, ao Lumiar. Estivemos uma semana a acampar e tornei-me muito amiga delas, uma amizade epistolar que durou vários anos.

Com tempo vou pôr as imensas cartas por ordem cronológica e vou ler.

Mas já separei as cartas por sacos: um para as cartas da São, outros para as da Mané, outro para as da Jill, outro, quase a rebentar, para o namorado que escrevi que se desunhava. Etc. Encontrei também cartas anónimas de um que dizia que era louco por mim, que me adorava há muito tempo. Como nunca descobri quem era, juntei-as ao saco do namorado. Enfim, vários sacos,

Foi o dia quase todo de volta do conteúdo das caixas. Tinha pensado que o dia me chegava para arrumar lençóis e toalhas de mesa mas o tempo não esticou. Entre refeições, caminhadas, fotografias e correspondências, não deu para mais nada.

A meio da tarde senti um cansaço grande, uma saturação. Ia pondo as coisas em cima de uma mesa e ia vendo, eu de pé. Mas o cansaço não foi, certamente, de estar tantas horas de pé. Deve ter sido de tanto tempo de atenção, de seguida.

Agora tenho que intervalar disso, tenho que descansar a cabeça.

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Um feliz dia de domingo

Saúde. Esperança. Paz.

segunda-feira, outubro 30, 2023

Domingo de chuva. Bem bom.

 



Em dia felizmente mais tranquilo. Consegui que a acalmia me tirasse um pouco do peso da inquietação que tem vindo a alojar-se em cima de mim.

Choveu que deus a deu e continuo a gostar muito de dias assim. Não apenas gosto de estar em casa a ver a torrente a cair sem parar como não desgosto de andar pelo campo enquanto ela cai. 

Quem frequenta a natureza sabe como as terras estavam ressequidas e precisadas de hidratação. E as bacias hidrográficas ainda precisam de muito mais. Portanto, que venha ela que bem falta faz.

Claro que, para fazermos as nossas caminhadas, escolhemos os momentos em que ela abrandou. 

Tudo molhado, a caruma ensopada, muitas poças de água, muitos líquenes, os cogumelos a rebentarem do chão. E o urso felpudo doido de alegria, a procurar as poças para passar por elas, a beber água, a cheirar tudo, de um lado para o outro, sem querer perder nada.

Fomos a meio da manhã e fomos agora ao fim da tarde, aliás já noite cerrada. 

É verdade. De manhã, acordei outra vez com barulhos. Desta vez não ouvi escadas a serem desdobradas mas não consegui identificar o que era. Como durmo com as janelas do quarto abertas e uma dá mesmo para o lado do jardim em que estão as árvores, qualquer coisa que ali se passe ouve-se logo. 

Portanto, levantei-me, abri a janela para averiguar. O dog, que estava na rua, pôs-se logo de pé, as patas dianteiras apoiadas no peitoril. A dar ao rabo e a rir, todo contente por ver a sua julieta a assomar ao balconete.

Afinal era o meu marido que estava a serrar os ramos mais grossos de entre o monte que ontem resultou do desbaste, para aproveitar a lenha, e a atar os ramos finos para serem levados para compostagem. Como lhe pedi encarecidamente para não se pôr a desbastar as árvores enquanto eu estivesse a dormir, fez-me a vontade. E não se apercebeu que o barulho da serra e do podão nos ramos que estavam no chão também iriam acordar-me. Enfim...

Mas, pronto, paciência. Também já eram horas de acordar.

Antes de irmos fazer as nossas caminhadas, entre duas intensas cargas de água, fomos até à árvore que está junto à vedação da entrada. 

Com as ramagens a pingar, o meu marido encavalitado na escada, cortou mais um conjunto de ramos, formando mais um grande monte. E ficou outro tanto por cortar. Mas não só esta árvore é muito aberta não sendo fácil chegar aos ramos mais afastados como é difícil arranjar apoios para a escada. Temos que avaliar bem a situação.

Só que depois voltou a chover intensamente e tivemos que nos recolher. 

Hoje estivemos só os dois. Os dois mais o urso cabeludo, claro.

Parte da família esteve a ver um dos jovens futebolistas a jogar (à chuva) e outra parte andou em tarefas relacionadas com arranjos em casa. Ambas as partes também com os meninos em estudos. 

A minha mãe, depois da pesada crise da véspera, felizmente esteve mais descontraída o que, naturalmente, me deixa a mim mais descansada.

Do lado dos meus amigos chegaram-me notícias de estragos feitos por um cachorro ou de aventuras culinárias. Até do lado deles foi um dia muito tranquilo.

Só mais uma coisa: não sei se contei que por aqui têm aparecido umas coisas que saem da terra. Parecem bocados das raízes das árvores que aparecem à superfície. Mas, quando pisamos, sentimos que aquela matéria não é tão dura como a madeira das raízes. Se formos com uma daquelas pás pequenas e escavarmos, arrancamos e são bolas, compactas, rijas. Serão sensivelmente do tamanho de ovos mas esféricas. Suponho que sejam cogumelos mas a verdade é que não parecem nada cogumelos. Serão trufas? Não faço ideia. Mas há montes dessas bolas estranhas a rebentarem da terra.

E, por hoje, é isto. De guerras ou outros problemas não tenho cabeça ou disposição para falar...

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As fotografias foram feitas este domingo. 

Lá em cima, Luísa Sonza, a bonita e talentosa jovem de cuja existência só hoje soube através da minha filha, interpreta Chico.

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Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira.

Saúde. Esperança. Um milagre. Paz.

sexta-feira, outubro 20, 2023

Aline com folhas de outono, mar revolto, barcos em terra.
Cá em casa, depois da guerra, a paz.

 



A Aline deu-lhe com alguma força mas foi sobretudo perto da hora de almoço. Chuva, chuva a jorros.

O pior foi que a grande buganvília que cresceu para cima do telheiro sob o qual deixamos o carro, quase desabou. Deve ter sido da força da água ou do vento, não sei. O que sei é que, quando demos por ela, estava a nossa meia altura. Nem o carro passava nem nós. Felizmente o tronco não se partiu, apenas tudo vergou, pendeu. Tentámos, os dois, levantá-la para que uma parte se apoiasse no muro que separa dos vizinhos. Mas não conseguimos. Aliás, o peso daquilo, ainda por cima, ensopado, é brutal, Os dois a dar o máximo e aquilo nem se mexeu. A única hipótese foi ir buscar o podão e desbastar, desbastar. No fim, ficou um monte enorme de ramos cortados. 

Como para o fim da tarde a coisa tinha abrandado, fomos buscar um quadro que estava a emoldurar. 

O quadro é em tons azul, verde esmeralda, acinzentado, com uma mancha em branco. Abstracto, como quase tudo o que temos. 

Mas a tela veio da galeria esticada e presa a um passpartout. Quando na casa das molduras perguntaram se era para tirar o passpartout, resolvi deixar ficar e pôr, por cima, um vidro-museu que é invisível. 

A moldura que escolhemos (nestas coisas conto com a opinião do meu marido que chega lá, aponta e diz: 'Esta'. Fico sempre na dúvida se tem uma fantástica visão panorâmica e, num único olhar, vê tudo o que há para ver, aliada a extrema convicção, ou se é, apenas, vontade de não estar na loja mais do que quinze segundos). Como lhe reconheço bom gosto, apesar das dúvidas, gosto de contarcom  a sua opinião. Desta vez foi uma moldura larga, simples, num tom entre o prateado e o suavíssimo dourado, mais prateado do que dourado, mas pouco uniforme e quase sem brilho. Por dentro desta moldura, encaixado nela, escolhi uma outra fininha em azul claro alfazema, acinzentado, que puxa aos tons da tela. Fica como que um filet, entre a moldura propriamente dita e o passpartout branco. Acho que este apontamento valoriza a obra em si. Coisas minhas. 

Coloquei aqui a fotografia de pormenor para que percebam o que estou a dizer (a parte de fora que se vê em cima e à esquerda é a parede)

Fomos ainda comprar o livro 'Como mentem as sondagens' do Luís Paixão Martins, que o meu marido está desejando de ler. Estive a folheá-lo e parece-me que também eu vou gostar bastante de saber o que lá se diz.

Comprei também o 'O outro nome' do Jon Fosse. Também já o folheei. E, mais uma vez, torço o nariz. Não me parece que me convença. Não sei o que se passa comigo. Já no outro dia falei nisso. Estou de má boca, nada parece ser para o meu bico. Enjoadinha. Agora, ao escrever isto, para ver se me convenço a mim própria, fui ler o princípio do livro. Perdoem-me os puristas, os nobelistas, os entendidos mas a mim pareceu-me uma seca. 

Depois fomos ver o mar. Ficámos cá em cima. Mar bravo, bravo. Barcos em terra. 

Muito bonito. Andei a fotografar. Maravilha.

E, como dois pensionistas a preceito, preguiçosos e a apreciar a boa vida, a seguir fomos buscar um sushi bem apetitoso.

O pior, claro, foi, ao chegar a casa, conseguir que pendurasse o quadro até porque pensei que deveria fazer uma movimentação entre outros, obrigando a ajustar a altura do penduramento dos que mudaram de poiso. É sempre cegada das antigas quando tem que fazer um buraco na parede. E, se é mais do que um, aí é a guerra total. E eu que ando há anos a dizer que tenho que aprender a pegar no berbequim, a escolher buchas e parafusos, continuo na ignorância e, portanto, dependente dele.

Por fim, contrariado, quase furioso, lá o fez. Quando a obra foi dada por concluída, feita boa menina, agradeci. 

Depois pus-me de longe a contemplar. Fiquei contente.

A assinalar ainda que o nosso cão mais fofo hoje voltou a deitar-se na caminha dele que está aqui num cantinho da sala. Aninhou-se, enroscou-se. Há meses que dorme pelo chão, certamente onde se sentia mais à fresca. Hoje deve achar que o tempo mais frio já aconselha a algum aconchego. Cão mais lindo, mais querido.

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E agora estive aqui a ver uns vídeos e vou partilhar um, legendado, em que o dono de uma casa, um estilista bem simpático, mostra objectos bonitos que lá tem. 

Inside This Fashion Designer's Modern Belgian Home, Filled With Wonderful Objects | Vogue

Fashion designer Pieter Mulier, Maison Alaïa's creative director, takes us through his Belgian home and shares some of his most precious possessions. As the successor to the legendary Azzedine Alaïa at Maison Alaïa, Pieter's taste and passion for art come shining through as he tours his abode. 


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Lá em cima Eva Cassidy interpreta Autumn Leaves
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Desejo-vos um belo dia 
Saúde. Tranquilidade. Paz.
Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz. Paz.

sexta-feira, setembro 29, 2023

Casório, pedido de casamento, porquinhos da guiné, catatuas, kookaburras

 

Uma vez mais o meu dia começou com um telefonema a acordar-me. Os deuses conspiram para não me deixarem dormir aquilo de que preciso. Desta vez não foi um telefonema com drama mas, sim, uma situação tão inesperada, tão insólita, tão nem sei dizer o quê, que não sei como não pedi para desligarem e voltarem a ligar para eu me certificar que não estava a sonhar.

Além disso, nesse momento, andava eu, uma vez mais, num daqueles sonhos/pesadelos que me deixam de rastos. Quando eu tinha reuniões a norte e tínhamos que lá estar às nove, saindo de madrugada, muitas vezes encontrava-me com um colega e íamos juntos, geralmente ele a conduzir. Acontece que ele mora perto do local em que trabalhávamos. Pois bem, no meu sonho eu ia ter a casa dele e, de casa dele, seguíamos para o trabalho. Ou seja, uma versão absurda do que acontecia. Só que, às tantas ele tinha que fazer não sei o quê e eu tinha que ir sozinha. Ora, no sonho, ele morava numa torre sobre o mar, mas uma torre arranha-céus, com dezenas de andar. E eu tinha que ira pela escada de serviço, fora do prédio, e aquilo não tinha corrimão. Portanto, um terror para mim. E, para agravar, como sempre, ia com os meus netos. Então, estava em pânico com medo que caíssem, que se despenhassem, gritava por eles, que não se mexessem, que esperassem por mim. Mas eles fugiam e eu deixava de vê-los e ficava num total desespero com medo que tivessem caído. Depois eu perguntava se não havia outra maneira e diziam que sim, era voltar atrás e apanhar o comboio lá em baixo. E, então, eu ia com os miúdos, sem mãos para os agarrar a todos, e, afinal, para lá chegar, eram outras escadas quase a pique, sem corrimão. E eu já atrasada. E queria entrar em casa do meu colega mas só podia lá chegar por uma das duas escadas. E eu agarrava o mais novo e ele, a querer esgueirar-se ainda se colocava em mais risco. E os outros, vendo o mar lá em baixo, já falavam em mergulhar e eu, numa aflição, a implorar que fossem junto a mim, nem pensassem em mergulhar nem em andar depressa nem sequer em espreitar.

E estava eu nesta aflição toca o telemóvel. Não que fosse má notícia mas não era o que esperávamos, precipita as coisas. Fiquei estupefacta, quase sem saber que decisão deveria ser tomada.

Portanto, parte do dia foi depois a tratar desta bomba que nos caiu em cima. 

Acresce que esta sexta feira é um dia ultra super hiper especial. E, afinal, em vez de poder estar totalmente focada nisso, ainda vou ter que tratar de cenas relacionadas com o tema do telefonema.

Com este calor, demos um salto até à praia, Uma névoa. Um certo calor mas envolto em névoa. Bonito, apesar de tudo. Ou, sobretudo, por isso.

Ao chegarmos, um casal de noivos no areal. Só os dois. A olharem para cima, certamente intrigados por estarem só eles, como se o resto do pessoal tivesse tido mais que fazer. 

Passado um bocado chegaram duas convidadas e lá foram para um palanque.

Fomos fazer a nossa caminhada. Depois sentámo-nos na areia. Mal estendi a minha toalhinha e me sentei, logo o urso felpudo veio deitar-se sobre ela ao meu lado. Passado um bocado, pôs-se a fazer o buraco do costume e a encher-nos de areia.

Nessa altura, o meu marido disse-me: 'Olha ali'.

Ao princípio, de longe e com a neblina, não dava para perceber. Depois percebemos. Dois casais. Um era uma dupla de fotógrafos e o outro casal era o objecto da sessão fotográfica: de joelho em terra (leia-se, em areia mais do que molhada) o homem pedia a namorada em casamento. Mas isto com a fotógrafa a pedir e a ensaiar poses, ângulos, orientação solar. Portanto, chegámos a isto. Um homem pergunta à mulher se quer casar. 

Mas fá-lo em público, com pessoal contratado a fotografar. Agora, toda a gente, qualquer vulgar anónimo, acha-se uma estrela de cinema com direito a publicação de reportagem fotográfica de momentos que, em situações normais, deveriam ser íntimos. E, mais do que certo, já estava mais do que pedido, ou seja, mais do que tudo combinado, aquilo ali na praia deve ter sido apenas um faz de conta.

Ora, pergunta a minha ignorância: para quê isto? Para impressionar os outros? Para se sentirem famosos?

Dá ideia que parte das pessoas se vai afastando da genuinidade, da espontaneidade, da simplicidade... e isso, cá para mim, não pode ser saudável.

Pelo contrário, no extremo oposto, há outros que se afastam totalmente deste mundo e buscam a quase eremitagem, o isolamento. No outro dia, quando perguntei a uma amiga pela outra filha, contou-me, com um certo desconcerto na voz, sobre a sua opção de vida, a viver no campo mais campo deste país, a viver do pouco que as suas mãos produzem, sem preocupação em acautelar o futuro, apenas querendo viver em paz, no silêncio, de quase nada, longe de tudo. 

São pólos opostos. Provavelmente a virtude estará a meio destas duas realidades. Mas que sei eu...?

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O que sei é que vi estes vídeos e achei o máximo.

Cockatoo teasing Kookaburra


Existential Guinea Pig


Are you filming me?


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Desejo-vos uma feliz, feliz, feliz sexta-feira

Saúde. Afecto. Paz.

sábado, maio 13, 2023

Como são bons os banhos de floresta

 



Não sei se no outro dia contei que estava na cozinha, a tratar do almoço ou a lavar a louça, não me lembro, e, ao olhar para o pinheiro lá mais ao fundo, vi um esquilo, com o seu mega cauda felpuda, a salta de um ramo para outro. Senti uma onda de felicidade. Se alguma vez, quando a terra à volta da casa era só pedras e mato rasteiro e eu sonhava com um pequeno bosque, eu podia sonhar que os pinheirinhos que o meu pai trouxe, ainda pequeninos, agora estariam tão altos e que neles eu haveria de ver um esquilo a brincar...

Não quis desviar o olhar pelo que não fui buscar o telemóvel para fotografar. Ao ver o bichinho verifiquei que apenas o vi porque ele estava a salta de um ramo para outro. Se não o tivesse seguido com o olhar não o detectaria. 

Quando estou a caminhar, tento descobri-los mas não consigo. Mas penso que, se calhar, são eles, lá em cima que estão a ver-me a mim.

A vida é uma breve passagem e mesmo que gostemos muito de cá estar chegará o dia em que chegamos ao fim da passadeira rolante em que calhou que viéssemos parar. Mas, enquanto cá estamos, é bom que aproveitemos, que gostemos de cá estar, que façamos aquilo de que gostamos e, se possível, que deixemos, à nossa passagem, coisas boas de que os que vêm a seguir possam desfrutar.

Hoje, nos intervalos dos meus trabalhos, por aqui andei a caminhar, a respirar este ar tão puro, a banhar-me nestes verdes tão límpidos, a fazer corridinhas ao despique com o ursinho cabeludo. 

Por diversas vezes pensei que era sábado ou domingo. Ainda não assimilei que posso ter uma vida boa durante a semana. Outras vezes, quando acordo mais tarde, sobressalto-me como se estivesse a baldar-me, a abusar da minha sorte dormindo quando devia estar a trabalhar. parece que o meu corpo (ou a minha mente?) ainda não se habituou completamente à liberdade.

Trouxe para ler um livro que a minha filha me deu sobre os banhos de floresta, o bem que fazem ao corpo e à mente, o bem que sabem, as maravilhas que se escondem numa floresta ou como essas maravilhas se mostram para quem está disponível para as ver, ouvir, tocar, cheirar, sentir, respirar.

Acredito muito nos benefícios de andar na natureza, de andar ao sol, de andar à sombra sob o fresco saudável da copa das árvores, de andar em silêncio, de escutar os sons das árvores e aspirar o perfume das flores, da aragem, de sentir a macieza da terra, dos musgos, da caruma, de ver os mil tons de verde.

Para além das fotografias que fiz ao fim da tarde, partilho convosco um conjunto de vídeos que têm a ver com isso. Espero que tenham tempo e vontade de os ver e ouvir e gostava que também gostassem deles.





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Um bom sábado
Saúde. Serenidade. Paz.

domingo, maio 07, 2023

Um casal todo real-caturra, uns convidados à maneira, uma boa música e toilettes para todos os gostos

 



Não tenho nada contra a festa da coroação. Parece-me uma coisa de outros tempos: juras e rezas, paramentos, cerimoniais, coches puxados a cavalos, arcebispos e cantares. Coisa de filme. Coisa de histórias infantis. Tem um lado ficcional. Devaneios que envolvem reis e rainhas, príncipes e princesas, mantos, pajens, aias, damas de companhia, coroas, ceptros, tiaras. 

É quase como se um filme extraordinário fosse realizado em directo, um filme com protagonistas que conhecemos, com um guarda-roupa cuidado, com adereços valiosos, com uma boa banda sonora, rodado em palácios, catedrais e com cenas de rua.

Sou republicana de cabo a raso, da cabeça aos pés. Mas nada me move contra as monarquias dos outros países. 

A do Reino Unido já se viu que não tem qualquer intervenção política. Podem, no terreno, desentender-se completamente uns e outros, andar desgovernados, resolver sair da União Europeia sem perceberem o que era o brexit, não saberem bem a quantas andam, pouco faltar para andarem à batatada. A Rainha não mexeu uma palha. Assistia, fazia uns discursos simpáticos mas mais nada. Era a Rainha de Inglaterra a ser a Rainha de Inglaterra e toda a gente compreendia que era isso que se esperava dela.

E agora, com o septuagenário novo rei vai, certamente, ser a mesma coisa. Ele e a sua rainha, amor de longa data, coroados quando se julgaria que com aquela idade bem podiam retirar-se de cena, majestades improváveis, alguma vez vão dirimir conflitos entre partidos ou fazer discursos à nação para desancar num ministro? Nem pouco mais ou menos. Continuarão com as suas fundações (algumas, segundo ouvi, até bastante meritórias), com as suas visitas e pouco mais. E se é assim que é e se a maioria lá deles gosta, quem sou eu para opinar em contrário?

Gastam fortunas nestes festejos, é certo. São milionaríssimos, é certo. Mas dão também muito a ganhar pois são, no conjunto, uma fantástica máquina promocional, uma imparável máquina de marketing, o turismo muito lhes deve e o comércio de toda a espécie de bugigangada também, e, no balanço final, acredito que haja  benefício para os cofres de Estado.

Acresce que, entre eles, os Royals, há sempre festa e fanfarra, cegada e coboiada da boa. Amores clandestinos e adultérios, zangas, boas e más companhias, tristezas agudas, fugas de informação, conluio com os tablóides, há de tudo. E já nem falo no caso extremo da Princesa do Povo que alimentou escândalos, amores e desamores durante anos acabando tragicamente como acabou ou agora o outro, caído em desgraça pelas suas mal afamadas incursões epsteinianas. 

Uma espécie de Netflix e HBO em directo e em permanência, folhetins quase diários.

E depois há estes happenings: casórios, baptizados e enterros reais, e, agora, cereja em cima do bolo, uma coroação. 

Nós temos o desfile das marchas na Avenida ou o alho porro no Porto ou todas as outras festas pelo País, temos umas efemérides celebradas com enfado. Os russos, os chineses e os coreanos têm aquele disparate de armamento a desfilar e o culto do grande líder. Os ingleses têm isto e, convenhamos, divertem-se muito mais que todos os outros. E, convenhamos também, em direitos televisivos, devem ganhar fortunas pois o mundo inteiro é cusco e gosta de ver estas cenas.



As mulheres, em particular, gostam de ver as toilettes, vestidos, sapatos, penteados e, sobretudo, chapéus, e a elegância, o a propósito, a compostura, as gracinhas das crianças, as extravagâncias, os olhares que trocam entre eles. 









Enfim, essas irrelevâncias com as quais às vezes gostamos de nos entreter. E quem nunca...?

Não sei o que se seguirá mas eles já devem estar a preparar o próximo acontecimento pois a máquina tem que se manter em movimento.

Finalmente tenho que referir que do Marcelo nem sinal. Que eu saiba não o filmaram nem à entrada, nem durante nem à saída. Se calhar, o seu tão importante comunicado ao país não despertou o interesse dos media britânicos, coisa que não se percebe.

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terça-feira, abril 18, 2023

Cuidado com a língua quando se fala ao telefone...

 


Houve uma altura em que, no Grupo, se desenvolveu a ideia que, na altura, muitos tomaram por peregrina mas que veio a revelar-se estratégica, de uniformizar sistemas contabilísticos, sistemas de controlling e de planeamento entre todas as empresas.

Isso desencadeou sentimentos bairristas, territorialistas como se fosse questão de credo ou clube de futebol. Não apenas os mais conservadores mas também os que se julgavam revolucionários, todos eram contra. Todos queriam defender os seus sistemas e todos achavam péssimos todos os outros. O núcleo que defendia que se avançasse apesar de toda a oposição, em que eu me incluía, sofreu toda a espécie de destratamentos. A oposição era intensa e vinha de todos os lados. Ir para a guerra sem ter aliados é coisa suicida. Mas eu e mais uns dois ou três éramos assim: acreditávamos nas coisas e atirávamo-nos de cabeça.

O grande salão era pequeno para que todos os CEOs mais os respectivos Directores Financeiros e Directores de Planeamento, Estratégia e Controlling, entrincheirados e coordenados entre si, atirassem a matar sobre os pobres indefesos que queriam que eles abdicassem das suas idiossincrasias e passassem a falar a mesma linguagem.

Todas as semanas, uma vez por semana, havia uma tortura daquelas. As reuniões começavam às duas e acabavam quando acabassem, sempre muito tarde.

Um dos que estava do mesmo lado que eu passava-se. De rastilho curto, volta e meia enervava-se, ficava branco, gritava, quase espumava e nós todos ficámos à espera que ele acabasse estendido, vencido por uma apoplexia. 

Pessoa de muitas actividades, quer no meio empresarial quer no académico quer, ainda, no  político, em dias em que já não aguentava mais, inventava uma desculpa, um compromisso inadiável (embora inexistente) e pirava-se.

Sendo pessoa conhecida, vou mudar-lhe o nome. Digamos que se chama José Pires Oliveira. 

Um dos piores era um que nós dois achávamos intelectualmente um bocado limitado mas que falava pelos cotovelos, invocando argumentos sobre argumentos, cada um mais disparatado do que o outro. Víamo-nos aflitos para rebater as parvoíces que ele dizia, sempre com ar exaltado, como se estivesse a defender a pátria. Este tinha dois nomes em comum com o meu aliado. Digamos que se chama José Oliveira.

Num desses dias, o meu 'sócio', José Pires Oliveira chegou-se a mim e disse-me ao ouvido que ou matava o outro ou se raspava. Raspou-se.

No dia seguinte de manhã cedo, estava eu no trânsito, um trânsito congestionado, eu estafada da canseira da cena da véspera e estafada do trânsito, recebo uma chamada. (Estava em alta voz, claro). Vi José Oliveira. Ao meu 'sócio' eu tinha-o, nos contactos, como José P. Oliveira.

Era normal, quando se pirava, o José P. Oliveira ligar-me logo na manhã seguinte para saber como é que a coisa tinha acabado. Já estava à espera da chamada dele.

Portanto, mal atendi comecei logo a desbobinar: 'Olhe, fez bem em pirar-se. Não perdeu nada. Uma seca das valentes. O chato do José Oliveira sem se calar, só a dizer disparates, uma pessoa não consegue avançar um milímetro porque aquele atraso de vida não dança nem sai da pista, não faz ideia do que diz mas não se cala, e a gente que o ature. Não dá. Alguma coisa temos que fazer porque assim, com retrógrados destes, a gente não vai a lado nenhum'

Estranhei o silêncio pois, em situações normais, ele estaria a rir e a chamar burro ao ao outro. Mas nada. Silêncio. Então perguntei: 'Está? Está a ouvir?'

E então aconteceu o pior. O José Oliveira, o burro, respondeu: 'Estou, estou...'. 

Não sei se conseguem imaginar a aflição... Sem ter como escapar, enfiada no carro, por um momento fiquei siderada, congelada. Depois respirei fundo e assumi: 'Não leve a mal mas ontem saí de lá muito cansada, estou farta de reuniões que duram horas e em que não se consegue avançar. Tanta resistência por causa de uma coisa que todos deviam abraçar pois todos fazemos parte do mesmo Grupo. Mas, pronto, não vamos reatar a discussão de ontem. Ligou-me para...?'

Ele deve ter engolido em seco e conversou como se nada se tivesse passado. 

E nunca mais tocámos naquele triste episódio.

E hoje lembrei-me disto ao ver e ouvir o vídeo abaixo. Na altura, quando se percebe a gaffe, quem vive uma destas só quer enfiar-se por um buraco adentro. Mas, reconheçamos, visto de fora, é um pratinho daqueles...

Heloísa Périssé ligou para o ginecologista, mas... 

| Que História É Essa, Porchat? | GNT

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Fiz estas fotografias durante a caminhada da tarde

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Um dia bom

Saúde. Boa sorte. Paz.

segunda-feira, fevereiro 20, 2023

Um domingo in heaven.
E conhecemos pelo menos um dos novos vizinhos. Se calhar, dois...



Fomos passar o dia ao campo, coisa breve. Com tanto pinheiro não queremos arriscar outro acidente com as infernais lagartas. Tinha visto que o cozido era prato de dia e resolvemos ir comprá-lo ao restaurante onde às vezes nos abastecemos. O restaurante a abarrotar, gente cá fora, gente lá dentro. Deve haver muita gente a sofrer com a subida do custo de vida e dos juros nos empréstimos mas a verdade é que o trânsito anda que não se aguenta, os restaurantes deitam por fora, as lojas a bombar. E se uma criança faz anos há toda a espécie de cenas com os parques temáticos cheios, apesar do que custam. Não sei. À vista a desarmada diria que a economia está a bombar que é um regalo.

Primeiro que conseguisse chegar ao balcão para fazer o pedido, quase tive que esbracejar tão compacta a amálgama de gente em que tive que penetrar. Quando estava à espera, uma chamada do meu marido: que trouxesse também pão. Perguntei ao senhor que fez um ar desolado. Pode comprar-se tudo menos pão, não há pão para take away. Percebe-se. Mas também devo ter feito um ar tão desanimado que, passado um bocado, quase à socapa, o senhor veio com um pacotinho de papel. 'Foi o que consegui arranjar'. Ao pegar, percebi que era um carcaça. Passado um bocado, o saco com as duas caixas. Estava com vontade de pedir uma sobremesa mas no meio de um incrível reboliço, o senhor, na maior das eficiências, tirou o talão e não estava lá o pãozinho. Disse-lhe e ele encolheu os ombros: 'Deixe lá isso'. Agradeci. E não quis passar pela mesma vergonha de parecer que estava a mendigar uma sobremesa.

Uma dose chegou para os dois e ainda sobrou um bocadinho. Portanto ainda tenho mais um refeição e um pouco de outra no frigorífico.

Para sobremesa apanhei uma laranja.

Quando chegámos, depois de abrirmos as janelas e pormos a casa a arejar, fomos passear por lá. Eu fotografando, aspirando os perfumes de uma primavera que começa a avizinhar-se, o cão brincando (embora pela trela), o meu marido inspeccionando potenciais processionárias.

Estando lá em baixo, reparámos que o novo vizinho cuja propriedade tem, em parte, um dos lados adjacente a uma parte do nosso, uma parte separada por uma vedação de rede, estava a serrar uns troncos. Contudo, ao ver-nos, veio na nossa direcção. Mas veio ele e os três cães gigantes. O nosso, como é óbvio, ficou num desatino, ladrava e saltava como se estivesse possuído. Ou seja, mal nos ouvíamos. Ele chegou-se à rede do lado dele e eu aproximei-me do nosso lado, enquanto o meu marido tentava controlar o urso frenético.

Resumindo: o senhor, de tshirt (enquanto nós estávamos encasacados), apresentou-se, colocou-se ao dispor. Nós também. Trocámos contactos. Depois enviou um mensagem muito amável.

Quando cheguei a casa googlei. E fiquei a saber que é pessoa com uma considerável pegada digital, com um historial de vida que tem que se lhe diga. No carro, de volta, vim a ver uma entrevista sua e vi também a sua biografia na wikipedia. Uma personagem. Comentámos: 'olha, pelo menos, acho que estaremos bem guardados'.

Depois do casal anónimo e ultra discreto, temos agora um vizinho que é o oposto.

Quando ao fim da tarde vínhamos a sair de casa, no carro, cruzámo-nos com um jovem, muito alto, magro, muito louro. Vinha a praticar corrida, com o seu cão ao lado. Nunca o tínhamos visto. Lembrei-me que há uns meses recebemos um contacto no sentido de sabermos se estávamos interessados em adquirir um terreno que, numa parte, também é adjacente ao nosso. Parece que nos terrenos rústicos, antes de se vender um terreno, devem questionar-se os vizinhos pois, a quererem, terão primazia. Em tempos, de facto, tínhamos pensado nisso mas entretanto percebemos que ter um terreno rústico bem cuidado dá trabalho e custa dinheiro. Informaram-nos então que, nesse caso, o terreno seria vendido a um jovem, salvo erro finlandês, que dizia ir dedicar-se a agricultura biológica. Não sei se será aquele rapaz mas talvez seja.

E assim a envolvente vai evoluindo, vizinhos novos com hábitos também certamente novos. 

Mas, dentro do nosso espaço, a paz é a mesma. Há outra vez muitas pinhas roídas e isso vê-se onde antes não se via. Ou seja, já andam em vários locais. Estão, pois, a aventurar-se. Não tarda teremos esquilos por todo o lado. Adoro a ideia.

Voltaram também a ver-se aquelas pegadas grandes e fundas e o terreno lavrado. Voz entendida, há algum tempo, disse que era javali. As pegadas apareciam sempre no mesmo sítio. Qualquer coisa os bichos procuram ali. Penso sempre: se calhar, trufas. Mas agora apareceram também num outro sítio. 

E vi rolas, várias. Não é inédito. Mas desta vez eram mais, muitas.

Penso sempre em como será quando lá não estamos. Deve ser um paraíso absoluto para a bicharada. Tenho muita vontade de que passe a época das bandidas das lagartas para podermos passar lá mais tempo. Agora já podemos.

De volta, um dissabor: a casa dos gelados continua fechada. Nunca mais abre. Como é possível? A falta que um gelado me faz nestas noites de inverno.

Tirando isso, está tudo bem.

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Desejo-vos uma boa semana, a começar já nesta segunda-feira

Saúde. Alegria, Paz.