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terça-feira, outubro 23, 2018

Quando a roupa espelha a atitude e a atitude espelha o orgulho de ser


Mulata escura, talvez uns trinta e tal anos, reboluda, de grande e arrebitado rabo, anca generosa, perna substantiva, amplos seios verdadeiramente laudatórios. Toda ela ostentava o orgulhoso corpo que tinha conseguido enfiar dentro de um fato de lycra em amarelo quase dourado, apertado a meio com um cinto cor de cobre. O salto era alto, a malinha de mão tinha bonecos estampados sobre uma pequena superfície reluzente e falava ao telefone num brasileiro gostoso, perguntando à amiga se ainda tinha aquele esmalte azul. A amiga não deve ter percebido logo porque ela foi mais precisa: aquele piquinininho azul que estava lá na mesinha piquinina da televisão. Penso que disse: aquele vidrinho piquinininho azul. Aí a outra deve ter dito que sim pois a ampla mulata rejubilou enquanto explicava que tinha encontrado esmaltes de todas as cores mas nenhum naquele azul que fica bem com a roupa que ia levar para ir na casa da doutora. Falava muito alto, ria, jorrava exuberância. Pela conversa pareceu-me perceber que ia conhecer a dona da casa onde precisariam de uma empregada. 

Eu ia atrás dela no corredor do centro comercial a caminho da escada rolante e assim continuei na escada, uns dois degraus acima dela. Não podia deixar de ouvir. De resto, estava fascinada com aquela mulher tão orgulhosa da sua aparência, tão alegre, tão confiante. À luz dos meus formatados conceitos estéticos diria que ela tinha o dobro do peso, usava roupa demasiado garrida, justa demais, os saltos eram altos de mais, a carteira garrida demais, as unhas gaiteiras demais, aquele cabelo liso demais, comprido demais e arruivado demais.

Se o que percebi estava bem percebido, iria apresentar-se à possível patroa. Não sei se a roupa azul que pedia um esmaltinho a condizer seria mais discreta, não sei se viraria outra, uma mulher normalizada, e ou se iria assim, gloriosa, provocante, espaventosa.

Pensei: fosse eu jornalista e meteria conversa, pediria sessão fotográfica, pose indecente ou, para contraste, pose sonhadora, pediria que me levasse a sua casa, que me mostrasse a decoração do seu quarto, o armário da roupa. E quereria saber da família, de amores -- ávida das histórias suculentas que dali certamente sairiam. E, se ela costumasse sair para dançar à noite, eu quereria conhecer os passos e os reboleios, quereria vê-la reluzente e ainda mais liberta, quereria vê-la de volta a casa, transpirada, saciada, pronta para se atirar na cama.

Mas não sou jornalista. Por isso, saí dali para o parque de estacionamento enquanto ela foi para a porta da rua, talvez para a paragem de autocarro. Deve ter ido a casa da amiga para poder pintar as unhas de azul e eu, insignificante, praticamente invisível, fui enfiar-me numa torre de vidro junto de homens cujo dress code não deixa espaço para a ousadia, para a cor.

Quando a vi no centro comercial e agora, a pensar nela, lembrei-me dos sapeurs congolenses que conheci através do E. que tantas coisas me tem dado a conhecer. E agora, ao procurar um vídeo com os sapeurs, apareceram-me também outras figuras típicas, os pachucos. Que graça.

José de la Rosa, aka Pachuco Nereidas


Jocelyn Armel Le Bachelor



E viva la vida!

terça-feira, janeiro 17, 2017

Velhas bibliotecas


Alguma vez haveria de acontecer. Eu a querer escrever e o sono a tomar conta de mim. O meu dia também foi do além, mais do que razões para chegar aqui e cair para o lado. Fogo, nem sei é como ainda não caí a dormir de vez.

As minhas intenções eram as melhores mas a verdade é que caio a dormir de minuto a minuto. Não é a primeira vez mas acho que é a mais definitiva.

Os meninos há muito que dormem e também muito admiro a resitência deles. A mãe dos meninos saíu da sala ha pouco para recolher aos seus aposenos e se calhar, a esta hora, está a ler.

Os telefonemas estão todos feitos. Melhor fora que a esta hora ainda estivesse com telefonemas. Não, por volta das oitro e picos está feita a ronda familiar.

Ando com ideia de escrever sobre bibliotecas velhas mas adormeço antes de lá chegar.

Por isso, para me precaver, ponho já aqui um pequeno vídeo::


E o link que abre para um mundo novo (apesar de bem velho)


Ôde aux vieilles bibliothèques



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sábado, agosto 20, 2016

Pessoas de cor


Hoje estive numa reunião com um homem negro. Um homem ainda jovem, gentil, sorridente, aparentando ser tímido. Quando começava a falar, parece que entrava a medo, quase como se fosse dizer uma irrelevância. E eu ficava em suspenso com medo que fosse mesmo uma irrelevância e que eu, depois, tivesse dificuldade em disfarçar. Mas depois ficava surpreendida porque não era nada irrelevante. E ele ficava a sorrir como que a desculpar-se por não ter nada mais para dizer. Falou pouco mas o que disse foi sempre oportuno. 

Não éramos só nós. E eu, por um daqueles reflexos condicionados completamente idiotas, de cada vez que a outra pessoa fazia perguntas como por exemplo, referindo-se, a um gráfico que estava a ser projectado: 'O que significa aquilo ali, escuro?' eu ficava com receio que ele achasse que aquilo do 'escuro' era uma indirecta. Absurdo. Parece que há estigmas que nunca foram nossos e que, no entanto, insidiosamente se inscreveram na nossa mente.

Nunca fui racista, nunca tive qualquer tipo de preconceito. 

De resto, acho a pele negra muito bonita e dois dos homens que, na actualidade, acho fisicamente mais interessantes são, de facto, negros. 

Usain Bolt, a todos os títulos excepcional

Omar Sy, a personalidade preferida dos franceses


Identicamente, em geral, acho as mulheres negras de grande beleza, uma beleza primordial. E, também em geral, acho que há uma implícita alegria, ternura e sensualidade na beleza negra.

Vem isto a propósito de umas fotografias que achei particularmente bonitas. The Coloured Girls.
“Colours are beautiful, different and unique in their own right. Not one shade is the same. Each colour holds special vibratory and spiritual qualities — just like people,” says Sasha Sarago, a subject in my exhibition, The Coloured Girls.
The Coloured Girls is inspired by a conversation I had with a model that was rejected by several agencies, despite being told they liked her look. One agency reportedly said, it was because they already had one of you. After querying, one of what? — The model was told they already had a black model on their books. This story shocked me. With 54 diverse countries in Africa, it had never occurred to me that anyone might consider there is only one type of African look.
Quem o diz é a fotógrafa Lisa Minogue que a cada uma das fotografadas perguntou o significado, para elas, da expressão 'Coloured Girl'. As respostas são as que se vêem como legendas das fotografias.

‘Being a girl of colour in a society where the majority of the people are white, I have had to get used to all the different ways people approach me. From being asked what kind of rap music you listen to and how you wash your hair, to getting told, “you don’t sound black”, “you’re pretty for a black girl” or “you’re not that black so it’s OK”, as if being black is such a bad thing.’

’The “colour” of my skin is the root of my history, my ancestors and most importantly my future. I will not let the pigments of my skin define me, however, and I will not let it be defined by others.’

Why make it harder for me to stay true to my culture and love my skin colour? Why take my culture, yet not me? Why make my sisters so weak that they feel they have to bleach their skin colour to belong and be excepted by the mainstream? … If [racism] was not the reason, why only show in the media that in order to be beautiful you need to be white?’

‘When I was at primary school, all these kids would touch my hair and rub my skin to see if the colour would come off. I would think, “It’s just skin … what do you expect?”’

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E que Seckou Keita nos traga a sua música.


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E, já agora, queiram por favor descer até à sexy Dama dos Kiwis, a Camarada Cristas, que consta que está a tratar de se filiar no MPLA, o glorioso partido democrátco capitaneado pelo bom amigo Zedu, o incontornável guru dos centristas.

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sábado, agosto 22, 2015

Angola: miséria, corrupção e luxo


Porque as imagens falam por si (e algumas são difíceis de ver), sem mais palavras deixo-vos com duas reportagens sobre Angola.

Não nos esqueçamos que de Angola provém capital que tem servido para comprar muitas empresas de Portugal (nomeadamente grande parte das empresas de comunicação social e pelo menos num grande clube de futebol) 


Angola: The World's Deadliest Place for Kids | Nicholas Kristof | The New York Times


Nicholas Kristof reports on the rampant corruption in oil-rich Angola, which is depriving children of education and contributing to the highest rate of child mortality in the world.





Exploring one of the world's most expensive cities-LUANDA




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terça-feira, julho 09, 2013

Francisco em Lampedusa, chorando por aqueles por quem ninguém chora, apelando contra a globalização da indiferença. E Emmanuel Jal, um ex-menino da guerra, que recorda os horrores, os fantasmas - e que contando as suas memórias nos faz perceber de que fogem aqueles que se fazem ao mar, correndo todos os riscos, em busca de uma Europa que idealizam (enquanto nós, europeus, os ignoramos, acamados na nossa indiferença e decadência).


No post abaixo, recordo a dupla cirurgia a que fui submetida há um ano. Aquilo por que passei e o calor e a indolência - recordações um bocado pesadas. 

Mas, enfim, isso é lá em baixo, a seguir a isto.

E, de resto, entendamo-nos: nada, nada, nada que se compare com aquilo de que vou falar agora.

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Sempre me custou muito, mas mesmo muito, quando tomo conhecimento de que barcaças carregadas de pessoas desidratadas, desnutridas, naufragam ou têm à sua espera forças policiais que fazem aquela pobre gente prisioneira. De muitas desgraças que acontecem quotidianamente esta é das que sempre me tocaram mais.

Por vezes os corpos dão à costa. Outras vezes vêmo-los sem energia, encolhidos, derrotados. Muitas vezes deitados no areal, cercados. Acossados, humilhados, derrotados - e despojados de tudo.

Não posso falar muito mais disto pois não quero que pareça forçado da minha parte. Sinto um respeito tal que me tolhe as palavras. É das coisas que mais me custa: pensar que se fazem ao mar, correndo riscos tremendos, sem saber o que vêm encontrar, sabendo certamente que tantos caem ao mar, morrem pelo caminho, são presos, mães que vêm com os filhos, alguns de colo. Em embarcações frágeis. Imagino os sustos que passam, de noite no mar, a fome, as aflições quando uns começam a morrer, o que se passará a bordo, nem quero pensar.

Vêm em busca de um mundo melhor. Muitas vezes não o encontram. Muitas vezes, se sobrevivem, são recebidos por forças militares, e são filmados e aparecem nas televisões, e já ninguém liga. São notícias vulgares. 

No outro dia, prenderam-se a redes de pesca e os marinheiros cortaram as redes. Banal. Apenas mais uns africanos a quem a viagem correu mal.

Antes de virem, durante quanto tempo sonharam por um mundo melhor? Quantos horrores sofreram? O que era a vida destas pessoas que se arriscam tanto para fugir do que tinham, em troca de um futuro tão tragicamente incerto?


O depoimento de Emannuel Jal deve ser visto apenas por quem não seja excessivamente sensível pois é barra pesada. Outro dia, mostrarei a música dele. Mas hoje são as suas palavras que eu quero aqui para percebermos um pouco daquilo de que fogem alguns dos que sonham com o paraíso europeu. A história dele não passou por fugas por mar mas coloco-a aqui para que imaginemos um pouco o que pode ser a vida em condições extremas - e de como, apesar disso, há quem se rebele, quem preserve a capacidade de sonhar, de lutar por uma vida melhor.




Emmanuel Jal teve sorte. Alguém olhou por ele. Alguém o ouve, o respeita.

Mas e os que não têm sorte? Aqueles de quem ninguém quer saber? As mães que partiram com os filhos ao peito, para lhes dar uma vida melhor e que chegam a terra já sem as crianças, e são presas e enviadas de volta para a miséria da qual quiserem fugir? Alguém consegue imaginar a dor, a culpa, o arrependimento, a frustração?



Francisco fala com imigrantes ilegais


Pois bem. Foi com incontida emoção que soube que Francisco, o Papa, saíu do Vaticano para ir celebrar missa a Lampedusa, para chorar aqueles por quem ninguém chora. 


Francisco, com estes seus gestos, emociona-me. Esta é a generosidade e a proximidade das pessoas, de todas elas, em especial das mais pobres, das mais indefesas, que eu aprecio. 

Não quero saber de encíclicas, de teorias, de rituais, de missas como aquela de que os lusos noticiários nos deram conta, nos Jerónimos, cheias de pompa e circunstância, de gente que canta e se abraça, que se levanta e senta e ajoelha, rituais e mais rituais, e que aplaude como se fosse um espectáculo, e que mistura devoção por um deus distante com devoção por pífias e tristes figuras da politiquice nacional. Nunca me apanham nestas missas, nada disso me diz nada. A Igreja para mim não é fausto, ou multidões em delírio, ou prédicas a cheirar a moralismo. 



Jorge Bergoglio, Papa Francisco: um homem bom


O que me emociona mesmo são estes gestos de Jorge Bergoglio, tão próximo do coração dos que mais desfavorecidos são - pessoas de carne e osso, com anseios, como nós, e que nem são olhadas, como se fossem meros acidentes do destino, gente que não é gente. 

Jorge Bergoglio interpela as consciências: Olhem o que andamos a fazer! 

Ele quer que não nos deixemos ficar contemplativos, bovinamente apaziguados, indiferentes. Ele quer que pensemos: Que mundo é este? Como deixámos que isto chegasse a este ponto?

Estas são as perguntas que Francisco nos obriga a colocar. A nós próprios. 

Para que mudemos. Porque temos que mudar.


**

[Para saberem das minhas recordações sobre o meu pós operatório em dias de calor e indolência é descerem um pouco mais].

*

Desejo-vos, meus Caros Leitores, um dia muito bom.


sexta-feira, dezembro 28, 2012

Estou com obras em casa, tudo virado do avesso. Quero é saber onde vou arrumar os livros que já andam tresmalhados e ainda não consegui ensaiar uma possível nova disposição dos móveis. Por isso, nem tenho grande cabeça para falar da venda da ANA aos franceses da Vinci. Convido-vos antes a virem sorrir comigo vendo o maravilhoso sorriso de crianças africanas.


Tal como já vos disse, estou com obras em casa. Estava a entrar humidade em algumas paredes que dão para a rua, o que fazia descascar a tinta. Claro que a melhor solução seria a impermeabilização pelo lado de fora mas isso seriam obras dispendiosas a cargo do condomínio o que naturalmente é sujeito a orçamentos, autorizações, demoras. Ou seja, é mais prático e expedito sermos nós a resolver dentro da nossa casa. Chamados os experts, a decisão foi fazer, nesses locais, uma parede falsa com uma caixa de ar e isolamento. Depois, já que se terá que fazer a pintura dessas paredes, aproveita-se para pintar um tecto e, já agora, aproveita-se para fazer alguns pequenos arranjos a nível de electricidade e, já agora, para fazer alguns ajustamentos a nível de canalização e, já agora, para pendurar umas coisas, e, já agora, para substituir uns estores por uns de tipo screen (que deixam ver de dentro para fora mas não permitem ver de fora para dentro) e, já agora, aproveito para mandar pôr umas japonesas noutras janelas e, já agora, para substituir algumas fitas de outros estores, e, já agora, ... Vocês sabem: é o drama do 'já agora'.

Felizmente a empresa que está a tratar de tudo isto é fantástica, de uma enorme versatilidade, e tudo tem corrido lindamente, resolvendo-se tudo muito rapidamente, com valores muito acessíveis, e protegem móveis, tapetes, tudo, para se sujar o mínimo, e, ao fim do dia, antes de se irem embora, varrem e limpam, uma maravilha, um achado. 

Mas, não obstante, a casa está virada do avesso. 

Só para terem uma ideia, mostro-vos como está a sala onde agora estou (estou aqui num canto que é como que um pequeno oásis no meio deste caos). 



Teve que se afastar as estantes e, para afastar as estantes, os livros tiveram que sair
O que vale é que cobriram tudo com um plástico fininho

O outro lado das coisas


Embrulho os livros e os poemas
num enorme véu de noiva
não sei onde guardar
não sei o que fazer
(por onde começar)
talvez por temas
quem sabe, autores...

às vezes constrói-se uma saudade
para depois voltar
e subitamente
descobrir
o outro lado das cores


['O outro lado das coisas' de 'Era uma Vez' num comentário aqui abaixo)




Mas, portanto, agora maior parte dos livros estão assim como os vêem, não lhes consigo deitar a mão. Ou seja, estou aqui em casa, nisto, e por exemplo os livros de poesia estão todos inacessíveis.

(Tenho estado a ler o Resgatados, o livro que relata os dias que precederam o pedido de apoio de Sócrates. Um livro muito bem feito e que transmite uma ideia muito precisa dos bastidores do poder (seja ele o poder do Governo, o do Presidente da República, o da oposição). Um livro bem feito.)


E como já estou com falta de espaço para guardar os livros, acho que lá vamos ter que arranjar mais uma das célebres estantes do Ikea. Só que, para arranjar espaço para a estante, vamos ter que imprimir aqui uma rotação nos sofás e não estou segura de que fique bem. A ver se amanhã já se consegue fazer um ensaio antes de tomarmos uma decisão. 

Uma trabalheira. Vejam bem os três dias de férias que estou a ter (o meu marido, claro, mais esperto que eu, 'tem' que ir trabalhar; isto acaba sempre por sobrar para mim - e ainda há quem ache que eu não sou mansinha...).

Face a este estado de sítio, não estou suficientemente concentrada para me poder debruçar sobre a venda da ANA. Pouco sei sobre esta venda. Sei que, afinal, não foi vendida aos alemães mas, sim, aos franceses. Pouca importa. Os aeroportos portugueses também já na mão de estrangeiros... Uma dor de alma, é o que é. Uma empresa estratégica, rentável, que não sobrecarregava nem um pouco as contas públicas, também já saíu da alçada do estado ou seja, já deixou de ser nossa, de todos nós.

Muito triste isto. Agora que estou a ler a luta que Sócrates travou durante meses, acossado, pressionado, para evitar cair na mão dos sinistros burocratas a mando de outros burocratas - homens de negro que exigem que se sacrifique o interesse nacional a troco de empréstimo a juros um pouco mais baixos do que os que levam outros abutres, mais sinistros ainda - percebo melhor a guerra que ele travou.

Cometeu erros, sem dúvida, mas penso que o mal maior que nos aconteceu foi Portugal ser um país que não se une contra os verdadeiros adversários e que tem uma incompreensível atracção pelo abismo.

Agora, uma vez caídos no abismo, com o País entregue aos funcionários da troika e a gente medíocre, inculta, incompetente (leia-se: governo de Passos Coelho) e sem um presidente da República que nos defenda, estamos, pois, assim, entregues a quem fez da venda do País a retalho a sua missão pessoal.

Mas não pode durar muito tempo isto, que eu não acredito que os portugueses sejam as moscas mortas, os bananas que parecem. Não tarda seremos capazes de todos, unidos, darmos um valente murro na mesa - antes que seja tarde, antes que não sobre pedra sobre pedra.

E, se olho à minha volta, no país, e só vejo parvoíces, péssimas decisões, burrices, e se olho à minha volta, nesta sala, e só vejo confusão, sou forçada a procurar alívio numa coisa totalmente diferente. E nada melhor, meus amigos, que o sorriso das crianças.

Convido-vos, pois, a juntarem-se a mim. Os doces, inocentes, genuínos sorrisos das crianças africanas são uma lição, são um incentivo, são uma mão estendida na nossa direcção. É com eles que temos que aprender, são eles que nos devem levar pela mão. Temos que aprender a ser genuinamente felizes e, depois, temos que lutar para defender essa felicidade conquistada, não podemos aceitar que qualquer chico-esperto, qualquer palerma,  venha destruir a nossa vida, o futuro dos nossos filhos






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Como vos disse, não consigo chegar aos meus livros de poesia. Por isso, não consigo seguir o meu processo usual de escolher os poemas que coloco no Ginjal e que me inspiram pequenos textos, Por isso, optei por escolher uma Receita de Ano Novo de Carlos Drummond de Andrade, palavras ditas. Bem a propósito para a época que vivemos.

*

E, com isto, já estamos no final da semana. O tempo andar a correr cá a uma velocidade... 
O que vos desejo é que o agarrem, que o vivam da melhor maneira.

segunda-feira, maio 30, 2011

Fronteiras para um Próximo Futuro na Gulbenkian - 9ºs Encontros de Fotografia de Bamako













Até 28 de Agosto o Programa Próximo Futuro da Fundação Gulbenkian apresenta a Mostra de Fotografia Africana e Afro-Americana - os Encontros de Bamako, exposição colectiva de fotografia e vídeo, de seu nome Fronteira. Absolutamente a não perder.