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sexta-feira, abril 08, 2022

Estar do lado errado da História -- o que não é forçosamente o mesmo que ser gauche na vida*




Por motivos que mal compreendo, o facto de me sentir indignada com a invasão da Ucrânia por parte da Rússia e chocada e revoltada com a barbárie a que temos assistido, uma destruição e uma chacina impensáveis, tem desencadeado em algumas pessoas que por aqui me lêem reacções verdadeiramente violentas contra mim. Alguns comentários (que não publico) são abjectos, ordinários, violentos e, alguns, ameaçadores. Isto foi exponenciado pelo que escrevi ontem, espantada e incomodada que tenho andado com as reacções do PCP que, envolvendo as suas opiniões em algodão doce, na prática está ao lado de um psicopata assassino, autocrata e cabecilha de um regime de oligarcas, de seu nome Putin. Publiquei dois desses comentários mas não publiquei todos, alguns porque são excessivos e violentos e outros por não usarem linguagem compaginável com este blog.


Contudo, como bem devem saber, sou osso duro de roer. Por isso, de novo aqui o digo e repito: há qualquer coisa de triste na forma como os comunistas portugueses ficarão para a história, colados a um déspota, a um psicopata, a um assassino que ousou invadir um país, que ousou tentar a sua destruição, que violou todas as regras do direito internacional, que é responsável por toda a espécie de crimes de guerra em larga escala. 

Poderia acrescentar aqui o lado caricatural de tudo isto: a tareia que uma superpotência como a Rússia está a levar da Ucrânia que, apesar de ferida na carne e na alma, está a resistir e a obrigar a Rússia a bater em retirada de Kyiv e de muitos outras cidades e a sofrer pesadas perdas. Mas isso, neste momento, não é para aqui chamado, isso poderá esperar para quando ficar claro que, se a Ucrânia está arrasada, a Rússia não o ficará menos. E Putin será responsabilizado por isso. Portanto, o PCP ficará colado a um bandido assassino que ficará para a história como um segundo Hitler, um desgraçado que destruiu tudo em que tocou antes de acabar ingloriamente derrotado.

Entretanto, a par dos putinistas, dos comunistas, aparem também os negacionistas. Sempre que há qualquer tema mais relevante, cá aparecem eles. São os que se acham mais inteligentes, vendo o que todos os outros não vêem. São os que negam a existência da covid, os que sabem sempre o que o resto do mundo não sabe, são os sabem, de fonte segura, que a terra é plana. 


Psicologicamente deve haver explicação para isto: o que leva a que, perante todas as evidências, imagens, testemunhos, validação de informação por fontes isentas e diversas, algumas pessoas se agarrem a narrativas ficcionadas, inverosímeis, ridículas?

Aquando dos picos covid, fomos sabendo de negacionistas que, às portas da morte, se arrependiam das suas campanhas anti-vacinas, pedindo desculpa pelo absurdo do seu comportamento. 

Não sei se alguns dos que por aí andam, defendendo Putin* e atacando a Ucrânia ou lançando suspeições ou insultos virão a público reconhecer que se enganaram e pedir desculpa. Se calhar não. Se não conseguiram, até agora, reconhecer o assassino que foi Estaline e o rasto de pavor que espalhou, como irão agora ter a humildade de reconhecer que, uma vez mais, se puseram do lado errado da história ao apoiarem Putin?

[* E não vale a pena dizer que não estão a apoiar Putin. Estão. Ao não serem capazes de condenar inequivocamente Putin, estão a pôr-se do seu lado. )


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De novo, partilho alguns vídeos de quem, no terreno, testemunha o horror e a evidência do que têm sido as práticas das tropas russas. A crueldade humana pode ser excessiva. Em tempos de guerra, mesmo os inocentes perdem a inocência. Parece haver provas de que a violência não terá sido apenas fruto do álcool, do stress causado pelo medo misturado com a adrenalina, mas de algo premeditado para intimidar e fazer vergar a resistência ucraniana. Seja como for, é uma tragédia ilimitada.

Ukrainians say Russian soldiers used them as human shields - BBC News

Clear evidence of Russian troops rounding up Ukrainian civilians and using them as human shields has been found by the BBC.

In multiple interviews, villagers from Obukhovychi, north of Kyiv, have said they were taken from their homes at gunpoint and held in a school gym by Russians trying to stop advancing Ukrainian forces.

Local people also gave accounts of Russian troops shooting civilians and holding others captive in and around neighbouring town Ivankiv.

The BBC’s Jeremy Bowen reports from Ivankiv.

Ukrainian girl vlogs siege of Mariupol: 'My nerves collapsed'

When the Russian invasion reached Mariupol in Ukraine at the end of February, Alena Zagreba, 15, went from filming vlogs with her friends to chronicling the destruction of her home city. While most people hid in bunkers and cellars, Alena and her parents stayed above ground, and her videos are a rare insight into the intense attacks by Russian forces. Alena melted snow for water while her parents cooked on makeshift fire pits outside. The family survived by moving from house to house as shelling made their home and other shelters uninhabitable. Alena said at one point in the diary that her nerves had been 'destroyed' by the constant bombardment. After fleeing to the Ukrainian-controlled city of Zaporizhzhia, Alena and her mother moved to Luxembourg, where the teenager has resumed school – while her father is still in Ukraine as men aged 18-60 have been ordered by the government to remain in the country

The Horrors Russia Left Behind | Russia-Ukraine War

After weeks of heavy fighting in Kyiv’s suburbs, residents who had been in hiding returned to the streets to find damage and carnage — land mines, bullet holes and corpses.

On April 4 and 5, video journalists from The New York Times entered the towns of Bucha, Borodianka and Hostomel to talk with witnesses and document the aftermath of the Russian occupation.
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Ao mesmo tempo, há qualquer coisa de rudimentar e de incompreensivelmente impreparado na forma como toda esta operação militar russa se tem desenrolado. Numa perspectiva muito diferente, o que abaixo se vê é também de bradar aos céus. Os soldados russos que ocuparam a central nuclear de Chernobyl andaram a cavar trincheiras em solo radioactivo, andaram por ali como se nada fosse. Devem estar carregados de radioactividade. E o que parece é que com a mesma leviandade com que ocuparam a central, também se expuseram, eles próprios, ao risco como se totalmente ignorantes estivessem do que ali se passava.

E tão estupidamente a ocuparam como desocuparam. Não se percebe qual o planeamento e a lógica de muito do que se passa, parecendo evidenciar que não há liderança nas hostes russas, apenas desvario.

Ukraine officials survey Russian dug trenches in Chernobyl exclusion zone's radioactivity levels

'It’s already squeaking showing excess' says a Ukrainian official surveying the trenches dug by Russian forces in the Red Forest exclusion zone surrounding the Chernobyl nuclear plant.

The footage shows members of the State Agency of Ukraine for Exclusion Zone Management walking through former tank positions and trenches.

At one point one of the men can be seen measuring the radioactivity of the area. “It’s already squeaking showing excess,” he’s quoted as saying.

The International Atomic Energy Agency was investigating reports that forces had been impacted by radiation poisoning, but said on March 31 it was unable to confirm and was seeking further information.

The footage was released by Ukrainian Witness on Thursday. Russian troops took control of the plant on February 24 and withdrew weeks later on March 31.

Vladimir Putin’s troops occupied site of the world’s worst nuclear disaster, after they captured it in the early days of their Ukraine invasion.

Dozens of Russian soldiers are said to have been struck down with acute radiation sickness and were taken in seven busses back across the border in nearby Belarus.

The site of the 1986 nuclear tragedy in northern Ukraine was captured in the opening days of the war, sparking fears of a major radioactive disaster as a result of heavy fighting around the plant.

Russian troops dug trenches in the highly toxic Red Forest zone, just a few miles west of the plant, but have now retreated as part of a pull-out from around the capital Kyiv.

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* a propósito de se ser gauche na vida:

Poema de Sete Faces (Carlos Drummond de Andrade) por Paulo Autran


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As fotografias foram feitas aqui em casa e transbordam de primavera 
e vêm ao som de Music for Peace in the Ukraine 🇺🇦 Schindler’s List com Edmond Fokker no violino

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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Esperança. Paz.