(Robert Mapplethorpe, outra vez)
Gosto muito de poesia - como gosto de matemática.
A poesia é a síntese perfeita de todas as coisas.
Em poucas palavras, a (boa) poesia é capaz de exprimir uma história, uma emoção, um movimento, um rasgo de luz, um turbilhão de sentimentos. Nem uma palavra a mais, nem uma a menos e, as que são necessárias e suficientes, encontram-se entrelaçadas com a intensidade adequada e na sequência certa.
A mesma coisa que a pureza de uma equação, de um sistema, de um polinómio reduzido, o rigor absoluto da álgebra, da análise, a perpendicularidade límpida de uma linha, a sinuosidade perfeita de uma curva, a beleza das formas em geometria.
Não há supérfluos, não há omissões, não há redundâncias.
Assim eu gosto da vida. Assim eu gosto das pessoas.
Cansam-me as conversas repetitivas, os raciocínios emaranhados, contraditórios, vazios, as pessoas vulgares, os assuntos óbvios, os lugares comuns, tudo isso me cansa porque tudo isso é nada - só que é um nada que consome tempo da nossa vida, impede-nos de a preenchermos com o que vale, de facto, a pena.
A poesia e a matemática são faces da mesma moeda.
A fotografia de Robert Mapplethorpe é poesia feita imagem: pura, límpida, rigorosa, perfeita.
E tem, para além desse lado redutor, o lado provocador que eu tanto aprecio. A vida avança por descontinuidades, tantas vezes, na altura, incompreendidas e rejeitadas.
Robert Mapplethorpe foi um esteta, um poeta. Provocou o mundo. E morreu cedo.
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