No outro dia, quando falei do que Sergei está, de novo, a fazer a si próprio, destruindo a sua carreira e a sua imagem, a Isabel, em comentário, disse:
Estas pessoas talentosas, que se auto-destroem, fazem-me confusão. Todos os que se auto-destroem fazem-me confusão. Acho que há algum egoísmo nisso. Não me são nada simpáticas e não compreendo. Tanta gente com doenças graves e problemas de saúde crónicos, que trocava de lugar...A vida é demasiado preciosa!
E, de certa forma, compreendo-a. Desperdiçar o talento e mostrar desinteresse pela sua própria capacidade para encantar os outros, desdenhando de um dom que quase parece sobrenatural, não parece coisa sensata. Incomoda. Custa aceitar.
Mas, se bem percebo, as pessoas que são assim, com uma certa tendência para a auto-destruição, não o são voluntariamente. Especialmente em pessoas muito talentosas que atingem uma fama incontestável, sabe-se dos casos de depressão, por vezes fatal, do receio de não serem capazes de continuar a surpreender os admiradores, da necessidade de estarem sempre disponíveis para os admiradores, os media, os agentes, de como se sentem sugados, a alma exangue, exausta, a sensação de que um dia o talento se há-de esgotar, que um dia o corpo fraquejará e a genialidade escasseará e em vez de ver espanto e vénia no olhar dos outros se verá apenas compaixão.
Mas, se bem percebo, as pessoas que são assim, com uma certa tendência para a auto-destruição, não o são voluntariamente. Especialmente em pessoas muito talentosas que atingem uma fama incontestável, sabe-se dos casos de depressão, por vezes fatal, do receio de não serem capazes de continuar a surpreender os admiradores, da necessidade de estarem sempre disponíveis para os admiradores, os media, os agentes, de como se sentem sugados, a alma exangue, exausta, a sensação de que um dia o talento se há-de esgotar, que um dia o corpo fraquejará e a genialidade escasseará e em vez de ver espanto e vénia no olhar dos outros se verá apenas compaixão.
Por isso, sabendo-se como Sergei vive nos limites, não custa acreditar que sinta mesmo a necessitade de fazer um intervalo, de fazer reset e recomeçar do nada.
Entretanto, temos os vídeos em que se reinventa a cada bailado. São sempre extraordinários. O seu corpo, o seu rosto, os seus gestos, a sua leveza e elegância, o seu voo -- únicos, maravilhosos.
Este vídeo, justamente, refere-se à sua natureza.
His nature - Sergei Polunin
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E é verdade, JV, há alguns bailarinos efeminados, com muito maneirismo nos movimentos. Mas repare em Sergei: nada. Há ali virilidade. Apesar da leveza, ele transpira sensualidade, uma sensualidade muito masculina. Eu, pelo menos, acho isso. E (escuso de dizer) gosto.
3 comentários:
Bem...eu imagino que sofrem e que esta tendência auto-destrutiva é uma espécie de droga...
Mas também acho que são pessoas que não sabem lidar com frustrações. São narcisistas e querem estar sempre no topo. Não sabem lidar com o fracasso, não sabem estar sem os aplausos. Um pouco como aquelas actrizes/cantoras lindíssimas, que não sabem envelhecer de forma natural e procuram manter a imagem da eterna juventude.
Viver não é fácil e independentemente do talento ou da profissão, há quem saiba lidar com os reveses da vida e quem não saiba. Quem não sabe, recorre ao álcool, às drogas, à auto-destruição. Todos sofrem e nem todos escolhem o mesmo caminho...
Enfim...cada um sabe de si, génios ou anónimos, somos todos pessoas, todos temos dores e alegrias e em função delas, fazemos as nossa escolhas.
Beijinhos e um bom domingo:))
Completamente de acordo, UJM. Também acho isso do Sergei: nada de maneirismos; talento puro!
JV
Fazendo ressonância ao que a Isabel disse, e bem, mal de nós se a vida se conjuga para nos fiarmos apenas nos nossos talentos.
A solidificação dos limites interno externo é um elemento essencial à nossa capacidade de existirmos em verdade na nossa vida mental, para isso é quase imperativo que nos tenham dado esse estatuto de existência separada, quando não se solidificam vive-se em constante teste existencial aos limites das coisas, a relação é funcional/instrumental, deambula-se entre o apego e a repulsa - há quem sobreviva, há quem não sobreviva.
De qualquer modo, viemos ao mundo para viver, para isso é essencial termos quem nos crie segundo uma dinâmica relacional nestes moldes: "tu existes e ainda bem, estou aqui para caminhar contigo, para que te tornes tu mesmo".
Parece-me um bom sinal o Sergei permitir-se a um intervalo, que lhe seja absolutamente reparador, pois é um artista de mão cheia.
Um riquíssimo domingo.
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