sexta-feira, março 08, 2019

Sergei fez delete e, uma vez mais, destruíu a sua vida



Toda a gente reconhece que Sergei, ucraniano, é daqueles bailarinos especiais que aparecem de cem em cem anos. Sou sua devota há muito tempo e não me canso de aqui o ter. Há nele qualquer coisa de sobrenatural.

Para poder estudar dança, o pai veio trabalhar para Portugal, a mãe para Itália. Quando soube que os pais se tinham separado, ficou para morrer. 

Talentoso até mais não poder, ele é bailarino, modelo, actor e é universalmente aplaudido.

No entanto, há nele qualquer coisa de destrutivo. Confessou o uso de drogas, fartou-se dos treinos na Companhia de Bailado onde estava, agora elogia Putin, troça dos gordos, desdenha da falta de masculinidade dos bailarinos homens, diz toda a espécie de maluqueiras nas redes sociais. E, de novo, perde contratos de bailado, perde contratos de publicidade, cancelam-lhe conferências Ted, pedem-lhe que devolva dinheiro. E já não vive com Natalia Osipova

Desde o tempo em que decidiu fechar-se às emoções até chegar onde chegou foram vários degraus. Diz que foi sem querer, que era para gozar. Outras diz que era a sério. E outras confessa que gosta de fazer delete, destruir tudo o que conseguiu até aí e recomeçar do nada.


O belo torso, para além de tatuagens provocadoras ou insólitas tem agora cicatrizes, como se a carne tivesse sido rasgada. Tão estranho.

É belo, anormalmente talentoso. E, no entanto, tem isto entro dele. Como se o que já conseguiu fosse mais do que o que pode suportar, como se o caminho que conhece seja sempre a subir, parece sentir a compulsão da destruição para, sem amigos, sem admiradores, sem rendimentos, voltar a reinventar-se e voltar a subir, a voar.

Diz que admira James Dean e ao ler isso sinto o arrepio, um temor. Aliás, li todo o texto com um aperto no peito. O artigo chama-se Self-destructive dance superstar Sergei Polunin: 'Ukraine put me on a list of terrorists'
He was sacked from the Paris Opera Ballet after homophobic and sexist online rants. In an exclusive interview, he talks about the joy of self-sabotage – and his Vladimir Putin tattoo (...)
(...) For now, though, he is looking forward to all the rebuilding that lies ahead. He is focused on creativity – meditation, painting, choreographing, producing. He has even got a few dancing gigs that have survived the scandal – playing the title role in the ballet Spartacus in Munich, and shows at the Palladium in London. He may even treat himself to a new tattoo. “I want to write ‘Save and protect’ across my shoulders.”
It’s a nice idea, but it may be a little late for that.

Sergei Polunin - Take me to the church 


[Talvez o vídeo mais conhecido de Sergei]


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Até já

2 comentários:

Anónimo disse...

Verdade seja dita, alguns dançarinos parece que fazem mesmo por ter um estilo efeminado (e isso nada tem a ver com mexer ancas e esticar o pezinho). Por exemplo, aquele rapaz português cujo video aqui partilhou há uns dias, UJM, um que ganhou um prémio importante, se bem me recordo. Não há dúvida que ele é muito bom, forte, flexível, tudo isso e muito mais. Mas não gostei nada da dança em si, do estilo, pareceu-me tudo muito efeminado. E não tenho mesmo outra palavra para descrever a sensação, foi mesmo efeminado a palavra que me ocorreu ao vê-lo dançar.
Abraço
JV

Isabel disse...

Estas pessoas talentosas, que se auto-destroem, fazem-me confusão. Todos os que se auto-destroem fazem-me confusão. Acho que há algum egoísmo nisso. Não me são nada simpáticas e não compreendo. Tanta gente com doenças graves e problemas de saúde crónicos, que trocava de lugar...A vida é demasiado preciosa!

Beijinhos e bom fim-de-semana:))