segunda-feira, setembro 22, 2025

Just saying

 

Volto a um dos temas que me anda a preocupar por demais: a transição de regime nos Estados Unidos às mãos de um único homem.

Apesar de ser claro para toda a gente com dois dedos de testa que esse homem tem uma mente perturbada, a verdade é que o regime de um grande país como os Estados Unidos soçobrou em pouco tempo e que o resto do mundo assiste passivo e submisso, vergando as costas para agradar a esse narcisista maligno, psicopata, paranico, vingativo, demente, etc.

Este domingo, com as cerimónias fúnebres de Charlie Kirk, ficará na história como um dos marcos dessa perigosa viragem para um regime totalitário, obscurantista, persecutório, em que a bíblia, ou melhor, a sua interpretação desenquadrada e fundamentalista, substitui a Constituição. 

Uma multidão ululante, cega, avidamente transformou em mártir um influencer racista, xenófono, reaccionário, misógino que, não se sabe ainda porquê ou por quem, foi assassinado. Obviamente condeno este homicídio pois sou visceralmente contra o uso de armas e de violência para resolver diferendos ideológicos ou outros. Portanto, acho chocante que alguém faça o que foi feito, assassinando Charlie Kirk.

Mas condenar o seu assassinato não pode levar, de modo algum, à sua transformação num mártir nem ao branqueamento do que ele disse e fez.

Contudo, tudo o que aconteceu naquela tarde -- aquele disparo, um único tiro -- está tão cheio de contradições, de inexplicações e de impossibilidades que fico espantada por tanta gente achar normal uma narrativa que se desfaz a ela própria.

Não ouso alinhar-me com nenhuma das inúmeras teorias que irrompem mas, sem mais comentários, partilho vídeos que aparecem pela mão de ferrenhos MAGA's, amigos do peito de Charlie Kirk, que têm vindo a fazer saber que Charlie KIRK, nos últimos tempos, parecia estar a afastar-se de algumas linhas traçadas por quem parece mexer todos os cordelinhos da política americana. Por exemplo, estava a demarcar-se cada vez mais frontalmente de Netanyahu. Por exemplo, estava também a manifestar-se cada vez mais claramente sobre a possibilidade de Epstein ter sido um activo da Mossad ou da CIA ou sabe-se lá de quem. Por exemplo, estava a exigir cada vez mais abertamente a divulgação integral dos ficheiros Epstein, tema que, obviamente, deixa doido não apenas Trump como todos os envolvidos.

Sendo ele o ponta de lança do MAGA no recrutamento de jovens, o principal responsável em manter viva a chama  pró Trump e pró MAGA na camada universitária e junto dos jovens que vivem nas redes sociais, alguns dos mais ilustres e vocais MAGAs  (Megyn Kelly, Candace Owens e Tucker Carlson, por exemplo) sugerem, embora não o explicitem, que as inúmeras ameaças que Charlie Kirk vinha recebendo poderão ter alguma coisa a ver com o seu fim.

São mundos que me são estranhos, que me assustam, que me metem medo e sobre os quais nada sei. Apenas sei que gostaria que os meus filhos e netos vivessem sempre em democracias sãs, liberais, humanistas, livres, modernas. Gostaria que nunca no meu país se vivesse uma realidade diabólica, demente, disfuncional, distópica como aquela que se vive nos Estados Unidos.

Seria bom que os portugueses e os europeus em geral conhecessem um pouco melhor o que está ali a passar-se. Talvez só assim percebam o risco que é abrir as portas a movimentos populistas, anti-democráticos.

Partilho estes vídeos apenas porque penso que devemos ter um pensamento crítico, informado, que devemos questionar as narrativas que não nos parecem lógicas, que devemos olhar para o que se passa à nossa volta, para o que se passa atrás do que nos é mostrado.

Megyn Kelly Breaks Down the Controversy Surrounding Candace Owens, Ackman, Israel, and Charlie Kirk

Megyn Kelly breaks down the controversy surrounding Israeli Prime Minister Netanyahu’s comments on Charlie Kirk’s legacy, Candace Owens’ remarks about the letter and Kirk's views on Israel, Megyn and Charlie's conversation about Israel last month, and more.


Kirk on Epstein




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Desejo-vos uma boa semana a começar por esta segunda-feira

Que a paz, a democracia, a liberdade e o humanismo nunca nos faltem

domingo, setembro 21, 2025

Narcisista maligno, psicopata, paranoico, sádico e, ainda por cima, demente -- e, no entanto, com acesso aos códigos nucleares.
Assim vai este nosso mundo

 

O que está a passar-se nos Estados Unidos -- em que uma democracia que pensávamos robusta e com mecanismos de defesa e controlo rapidamente soçobrou às mãos de um doido varrido, em que parte da sociedade parece adormecida, passivamente a ser sugada para um regime despótico, em que, por medo, instinto de sobrevivência ou puro oportunismo, outra parte parece adaptar-se bem aos repentes, aos disparates, às conversas erráticas de um presidente que não ouve ninguém, às suas decisões prepotentes e absurdas, ao seu autoritarismo agressivo, aos seus ímpetos vingativos  -- traz-me preocupada.

Ao assistir a isto, constato que as democracias -- regimes assentes na crença da bondade alheia e no respeito pelo outro, mesmo quando o outro é contra a democracia -- são vulneráveis, muito mais frágeis do que eu poderia imaginar. 

E o que assusta ainda mais é que os tiranetes que, por todo o lado, em todos os países, brotam de sob as pedras parecem sentir-se 'empoderados' ao verem estes exemplos em que a maldade impera, impune, vingativa. E, por efeito de mimetismo ou de contágio, vão ganhando cada vez mais força.

Parece haver traços psicológicos comuns entre os diferentes ditadores ou aspirantes a tal, e é normal que assim seja. Uma pessoa mentalmente escorreita, generosa, respeitadora, empática, não consegue mentir sem vergonha, não consegue insultar e humilhar os outros sem ficar com um peso na consciência, não consegue ser vil, cruel para com os mais vulneráveis sem se deitar, à noite, atormentado por remorsos. Apenas os que têm uma 'certa' pancada conseguem ser assim e seguir em frente, sem um pingo de arrependimento, sem um pingo de vergonha, sem um pingo de humildade, sem um pingo de empatia.

Vou partilhar um vídeo muito interessante. É longo mas vê-se de gosto. Está legendado embora, de vez em quando, a legendagem não seja perfeita. 

Tenho vindo a acompanhar os podcasts de Joanna Coles no Daily Beast, nomeadamente o sempre interessante Inside Trump's Head com Michael Wolff. Mas desta vez o convidado de Joanna Coles é outro e é uma pessoa que se exprime de forma didáctica e, ao mesmo tempo, divertida: John Gartner, um reputado psicólogo.

E se é mais ou menos inequívoco, aos olhos de todos, que ter um doido varrido ao comando de um país como os Estados Unidos é um daqueles perigos existenciais contra os quais deveria haver medidas de mitigação, a verdade é que o mais assustador é que verificamos que aparentemente não há. Em situações 'normais', um maluco destes já deveria ter sido afastado e colocado num hospício em que fosse garantido que não faria mal a ninguém. Mas não. O que assistimos é que desde empresários, os mais ricos do mundo, a chefes de outros Estados, todo o mundo o reverencia e bajula. Em vez de se assistir a um movimento colectivo de rejeição, o que vemos é justamente o contrário: todos vão ao beija-mão, todos lhe lambem o rabo.

E eu assisto enojada a isso. Enojada.

This is What Proves Trump’s Dementia: Psychologist | The Daily Beast Podcast

O Dr. John Gartner, antigo professor da Johns Hopkins e co-apresentador do podcast "Shrinking Trump", junta-se a Joanna Coles, da Beast, para apresentar um diagnóstico arrepiante: Donald Trump apresenta sinais de demência, somados a um narcisismo maligno. Com base em décadas de experiência clínica, o Dr. Gartner explica como a linguagem decadente, o andar errático e as anedotas perturbadoras de Trump apontam para uma deterioração cerebral que o torna não só imprevisível, mas também excecionalmente perigoso no cargo. Coles pressiona-o sobre como o narcisismo de Trump se compara com a persona pública do Rei Carlos, se o seu gabinete e família estão a afastar-se da sua volatilidade e o que significa quando um líder com códigos nucleares também apresenta sintomas de mini-derrames e confabulação. Da psicologia de Hitler ao narcisismo benigno de Bill Clinton, este episódio explora a forma como o poder amplifica a paranóia, a crueldade e a decadência — e coloca a questão mais clara de todas: à medida que Trump enfraquece física e mentalmente, ao mesmo tempo que reforça o seu controlo sobre a autoridade, até onde pode ir o trumpismo antes de destruir a América?


E não haverá por aí mais nenhum valentão (ou valentona) que também enquadre o Trumpura Ventosa, aka, André Tuttti Fruti?

 

O Andrézito, como é bom de ver, cobardolas como é, achando que o Isaltino tem um calcanhar de Aquiles, desatou-lhe ao pontapé e à canelada.

E eu pensei que bom, bom, seria se mais figuras públicas publicassem também vídeos a mostrar ao Tutti Fruti que já não engana ninguém, que a malta toda já o topa à légua, que toda a gente já perceber que quer armar-se em Trump dos pequenitos e, que, tal como o seu guru, tem um total desamor em relação à verdade, que gostava mesmo era de poder mandar num regime de liberdade condicionada, à semelhança do que são os EUA manietados pelo alarve cor de laranja. Não seria bom se esse populistazeco de meia tigela, que só se sente bem quando está a tentar minar a democracia, não desse mãos a medir, todos os dias a surgirem vídeos virais a desancá-lo?

E não só: tal como o Isaltino apelou a que se investiguem os financiamentos do Chega, mais figuras públicas deveriam trazer o tema à colação. O grande sacristão da moral e dos bons costumes não apresenta contas porquê? Onde está a transparência que tanto apregoa?

Tudo o que é gente com muitos seguidores e cuja voz é ouvida, porque não fazem vídeos assim, a desmascarar e a desautorizar o pantomineiro do Ventas?

Herman José, Vasco Palmeirim, Nuno Markl, Madalena Abecassis, Jéssica Athaide, Vasco Pereira Coutinho, Tio Jel, Eduardo Madeira, Sincera Mente, Beatriz Gosta, etc... Bora lá fazer vídeos a desbroncar o coisinho?

sábado, setembro 20, 2025

Isaltino enfia o Ventura no bolso cá com uma pinta...!

 

Conheço relativamente bem o município de Oeiras, pelo menos uma parte. E, do que vejo, reconheço que o Isaltino tem sido um bom Presidente de Câmara. Conheço também quem lá viva e que, com toda a naturalidade, votam nele, não querem outro. 

Percebo que os munícipes votem nele. Desde que tenho o Instagram, volta e meia aparece-me ele a divulgar tudo e mais alguma coisa e, por mais polémico ou divertido que seja, não escondo que gosto do que vejo: vê-se que é pessoa que se dedica de corpo e alma a Oeiras, vê-se que conhece e que enaltece tudo, cada canto e esquina, cada rotunda, cada viaduto, cada leitaria, cada restaurante, cada árvore. Não se refugia no gabinete, não é um fosquinhas como o Moedas que tudo o que diz é para se enaltecer a ele próprio, não é um caguinchas que, quando a coisa aperta, se vai esconder debaixo da saia do Montenegro ou do Marcelo. Pelo contrário, se há sarilho, pega nas pernas e põe-se a caminho. Dá o corpo às balas e é isso que se espera de um munícipe.

Bem sei que já foi condenado, mas já cumpriu pena, e, portanto, admitindo que aprendeu a lição, o que posso dizer é que o que lá vai, lá vai.

Mas hoje trago-o aqui pois a minha filha enviou este vídeo para o grupo da família e, em minha opinião, é uma resposta notável ao Ventura. Todos os líderes partidários, todos os jornalistas e todos os que têm alguma influência tratassem assim o André Ventura e a ver se ele ainda andaria a levantar cabelo, a falar grosso e a posicionar-se como o líder da oposição (que, desgraçadamente, de facto é).

Por isso, nunca me imaginaria a dizer isto mas a ocasião a isso me obriga: Ganda Isaltino!

Isaltino de Morais deixa mensagem a André Ventura, aka André Tutti-Frutti, líder do partido Chega

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E queiram deslizar até ao post abaixo em que a tropa avança para mover os obstetras à força

A ministra da saúde, com certeza
-- A palavra ao meu marido --

 

Vi hoje nas notícias que a ministra da saúde, depois de falharem os, pelo menos, cento e cinquenta planos que já fez, decidiu transferir à força os obstetras do hospital do Barreiro para Almada. 

Consta que, antes tomar a decisão, se inscreveu no MAGA e telefonou ao Trump. Consta também que após a conversa telefónica com o Trump, se aconselhou com o Montenegro e já marcou uma reunião com o ministro da defesa para definirem as datas em que os pára-quedistas descerão no hospital do Barreiro e transportarão à força os obstetras para Almada. 

As televisões já têm os direitos preparados. Admite-se que os directos deste happening poderão não acontecer se o Mourinho se deslocar de carro ou o Ventura achar por bem viajar de novo de ambulância. Nesse caso os meios serão alocados para cobrir estes dois importantíssimos acontecimentos.

A ver vamos ...

sexta-feira, setembro 19, 2025

Receita de almôndegas à italiana (e de tostas de almôndegas) com um ou outro toque a la UJM

 

Ando para partilhar a receita das almôndegas mas têm-se metido outros assuntos. Mas, como o prometido é devido, aqui vai.

Devo ter feito cento e tal, e não foram daquelas bolinhas tipo berlinde do ikea. Usei, no conjunto cerca de dois quilos de carne, dividida entre porco, vaca e peito de frango. No talho, escolhi uns pedaços bons, sem gordura, e pedi para picar em conjunto duas vezes. A ideia é que ficasse uma mistura homogénea e o frango amacia a mistura.

Almôndegas à italiana

Comecei por colocar três pãezinhos individuais de molho em leite, talvez meio litro ou quase. Depois de amolecido desfiz com as mãos. Piquei uma cebola grande, uns três ou quatro dentes de alho, um ramo de salsa, seis ovos inteiros, cerca de meio quilo de queijo ralado (usei mozzarella, edam, gouda, cheddar e um italiano de que agora me passou o nome). Temperei com sal. Com as mãos misturei tudo muito bem. Depois, com as mãos, fiz bolinhas que fui colocando num tabuleiro grande, separadas umas das outras. Por cima da primeira camada, coloquei papel vegetal e, por cima, mais uma série delas. Fiz o mesmo com outro tabuleiro. Depois foram para o frigorífico, para as bolinhas enrijarem e não se desfazerem quando fossem confeccionadas.

Nesse ínterim, virei-me para ao molho. Num panelão com azeite no fundo, cortei três cebolas grandes, uns dentes de alho, dois alhos franceses e salsa. Deixei que a cebola alourasse e que tudo estivesse devidamente amolecido. Nessa altura, coloquei uma lata das grandes de tomate pelado e mais uns quatro ou cinco tomates maduros. Juntei cinco cenouras grandonas aos bocados. Temperei com sal. Deixei que fervesse e depois baixei o lume, tapando a panela.

Entretanto, teria decorrido mais de meia hora e tirei as bolas de carne do frigorífico. Tinha, entretanto ao lume, uma frigideira gigante (em termos de diâmetro) com azeite, dentes de alho, folhas de louro e alecrim. Quando estava quente, juntei uma leva de bolinhas que fui virando com cuidado, para selarem em todos os lados. Claro que tive que fazer várias levas delas e a meio ia substituindo os alhos para não esturricarem. Uma canseira, não via a hora de dar a volta a tanta almôndega. À medida que iam ficando seladas, douradas, não as pus logo na panela, ficaram estacionadas noutros tabuleiros.

Essa operação acabada, virei-me para o molho. Juntei uma colher de sopa de açúcar pois apesar da cenoura já cortar alguma acidez, achei que aquele pouquinho de açúcar garantiria que o tomate não se imporia mais do que a conta. Triturei, então, a tomatada que estava na panela até ficar um creme bem homogéneo. Nessa altura, coloquei as almôndegas uma a uma, com cuidadinho. Não as atirei, não fossem desmanchar-se. Ficaram todas mergulhadinhas no molho. Deixei que levantasse fervura e depois baixei. Ficou ao lume cerca de uma hora. 

Entretanto, noutro tacho grande fiz tagliatelle fresco. Não tem nada de mais, é só cozer em água com um pouco de sal. Mas refiro-o porque, no fim, antes de escorrer a água, retirei umas três (ou quatro? -- não me lembro bem) conchas dessa mesma água para misturar no tacho das almôndegas. O molho fica mais cremoso, com uma textura mais interessante e uniformiza melhor o sabor entre as almôndegas e o molho.

No final, deitei um pouco de vinagre de maçã na panela das almôndegas e mexi ao de leve. Acho que torna a comida mais leve e traz benefícios à digestão, é saudável. E realça os sabores, acho eu. E, para perfumar, coloquei umas folhas de manjericão.

Portanto, ao almoço foi isso: massa fresca com almôndegas. Antes disso, tinha servido salada de alface com bolinhas de mozzarella fresca.

Para sobremesa, fruta.

Acontece que, para além do almoço, ao fim do tarde, houve lanche ajantarado.

Então, para 'entrada', cortei melão aos bocados e, por cima de cada um, coloquei salmão fumado, que prendi com um palito. Pelo meio, espalhei bagos de uva branca sem grainha. Fica uma mistura fresca, agradável.

A seguir, voltaram as almôndegas (que já tinha feito em quantidade avantajada, a prever que à tarde poderia dar jeito usá-las)

Tostas de almôndegas

Abri pães individuais (bolinhas da baviera e bolinhas de rio maior) ao meio, ao alto, digamos assim, ou seja, separei cada pão em duas metades. Retirei o miolo a cada um. Sobre cada parte, coloquei uma ou duas almôndegas, ou uma e meia, consoante o tamanho das ditas e mais umas colheradas de molho. Tapei cada uma com uma fatia de queijo (numas usei fatias de queijo flamengo dos Açores e noutras fatias de mozzarella). Polvilhei com orégãos e levei-as, numa grelha, sobre papel vegetal, ao forno previamente aquecido, com calor por cima e por baixo. Claro que o queijo derreteu e que o paozinho tostou. Ficaram mesmo boas.

PS: No fim ainda deu para levarem umas quantas para casa...

Claro que no meio da trabalheira nem me ocorreu fotografar. Mas foi pena, em particular o prato do meu neto mais velho, uma coisa apocalíptica. Quando vi tal exagero, até recomendei que não pusesse tanto logo de início não fosse não estarem as almondegas boas e não gostar. Respondeu que não fazia mal pois estava cheio de fome e, mesmo que não gostasse, comeria na mesma. Mas gostou e comeu tudo e tenho ideia que ainda repetiu. O irmão mais novo também não lhe ficou muito atrás mas esse até tinha uma justificação maior, vinha de um jogo de futebol bem difícil, tinha que repor energias... Jogadores de futebol é assim. E são os quatro rapazes. Portanto, não apenas estão a crescer como têm sempre muita energia para repor. Escusado será dizer que gente com bom apetite é uma alegria para mim. Felizmente são todos. Portanto, cozinhar para bons garfos é uma felicidade redobrada. E ter toda a gente à volta da mesa, a comer, a conversar, a rir, é o melhor de tudo (apesar de nesse dia estar com o torcicolo bem assanhado e, de tarde, até me ter dado, durante um bocado, uma certa pancada de sono inerente ao relaxante muscular que tinha tomado...)

quinta-feira, setembro 18, 2025

Se o Rui Costa fosse PM em vez do Montenegro muita coisa mudaria!
-- De novo, a palavra ao meu marido --

 

Devo confirmar que sou do Sporting e que o objetivo deste mail não tem nada a ver com a rivalidade clubística nem com os aspetos desportivos. Quero apenas deixar a minha opinião de que as coisas tenderiam a não piorar se o Rui substituísse o Luís. 

O Rui, depois de, para aí há dois meses, apostar mais uma vez no Lage, após dois resultados menos conseguidos, correu com ele. 

Se o Rui fosse PM e seguisse a mesma politica, já nos tínhamos visto livres dos ministros "nódoa" do governo. À segunda falha, rua que se faz tarde. A ministra da saúde já tinha sido posta na rua há  séculos, as ministras da administração interna tinham estado pouquíssimas semanas no lugar, o rapaz da educação já tinha voltado ao Minho, a "simpática" da habitação já não apareceria sempre ao lado do PM em todas as fotos de família, o Sarmento, depois de tantas cativações e "do crescimento da economia não ter correspondido às ambições do governo" já tinha voltado para a escolinha, o inefável Rangel estava a curto prazo, mais uma má criação e ala que se faz tarde, o ministro da economia também estava a prazo, mais uma incontinência verbal e voltava para casa... e por aí fora. Será que o Rui, caso não continue na atividade atual, ainda se torna coach do Montenegro?

Voltando à ministra da saúde. Esta zaragateira com pouca educação hoje ainda mergulhou mais fundo do que alguma vez tinha mergulhado. Sendo certo que não assume nem uma única responsabilidade pela desgraça que é o SNS e habitualmente culpa os subordinados pelos erros que na realidade são da sua responsabilidade,  hoje veio dizer que as urgências de obstetrícia da margem sul continuavam fechadas porque a equipa que ela nomeou e trabalha com ela a tinha enganado. A ministra não só perdeu a cabeça como perdeu a noção do ridículo. Palpita-me que há um certo Dr. Pedro Azevedo das hostes laranjas recentemente nomeado pela ministra para responsável da ULS de Almada que deve estar com as orelhas a arder. Tanta solidariedade por parte da tutela põe qualquer um vermelho que nem um tomate. Será que com mais este notório desequilíbrio a ministra se mantém no cargo? A talhe de foice, será que os obstetras que iam sair do privado para irem para o hospital de Almada não foram porque não tinham a certeza de poder compor o vencimento com a prestação de serviços no hospital como tarefeiros?

Mudando de assunto. Ouvi uma parte da entrevista da Clara de Sousa ao Gouveia e Melo. A Clarinha foi tão "claravidente" que conseguiu que, num período de tempo significativo da entrevista, o tema fosse o Ventura. Parece que os jornalistas têm uma obsessão com o Ventura e não percebem que é isso que o Ventura quer. Apre! Os jornalistas ensandeceram? Não metam o Ventura em tudo o que fazem, tenham algum discernimento! A Clara não teve e conseguiu transformar a entrevista ao Gouveia e Melo numa entrevista centrada no Ventura!

quarta-feira, setembro 17, 2025

Presunção e água benta cada um toma a que quer - o Montenegro que o diga Caixa de entrada
-- A palavra ao meu marido --

 

Antes de ir para o governo, a rapaziada do PSD, com o Montenegro à cabeça, resolvia os problemas do País num abrir e fechar de olhos. 

Após um longuíssimo abrir e fechar de olhos -- que demorou um ano e meio -- não resolveu nada e, pelo contrário, os problemas mais críticos pioraram. 

  • O que aconteceu na saúde é uma tragédia, com novas notícias desgraçadas a saírem todos os dias (bebés a nascerem em ambulâncias ou no passeio, helicópteros com menos disponibilidade que a exigida, urgências obstétricas fechadas, etc) e hoje a ministra anuncia que vai estudar mais um plano para resolver o problema das urgências fechadas. É preciso ter uma lata do caraças para não se ter ainda demitido. 
  • O que aconteceu com as duas MAI também não dá para acreditar. A falta de coordenação no combate aos incêndios e o desconhecimento total que ambas demonstraram das diferentes valências da administração interna é paradigmático. 
  • Na educação, o governo torrou e voltou a torrar dinheiro com os professores e nada foi resolvido. Veja-se que os alunos continuam sem professores e também não há pessoal auxiliar suficiente nas escolas. 
  • A questão da habitação só piorou com as medidas do governo que fizeram subir bastante os custos da aquisição e do aluguer (parece que a malta jovem que tem isenção do IMT pode comercializar a casa que comprou quando quiser, sem ter que pagar o imposto de que esteve isento, o que pode dar ideias assaz lucrativas a mentes mais criativas). 

Boa! É fartar vilanagem. 

A célebre questão ética que os moços laranja tanto levantavam tornou-se uma desgraça com o caso Spinunviva, com as investigações a que são sujeitos atuais e antigos secretários de estado. 

E hoje mais uma cerejinha para pôr em cima do bolo. Os pseudo atrasos nos PRR, que motivaram tantas críticas do Montenegro & sus muchachos e originaram vários momentos de incontinência verbal por parte do Marcelo, tornaram-se reais e vi hoje na TVI que, por exemplo, existem financiamentos previstos para obras na área da saúde que ainda nem sequer estão em fase de projeto. 

  • Solução do governo: tentar renegociar as datas de conclusão das obras. 
  • Solução do Marcelo: calado que nem um rato. 

Não duvido que a rapaziada do PSD tem jeito para festas e coboiadas, o Pontal, então, foi cá uma arraial de animação, mas o jeito para governar é zero.

terça-feira, setembro 16, 2025

Governo Montenegro: uma cambada de mentirosos ou de incompetentes profundos?
-- A palavra ao meu marido --

 

É difícil compreender que o ministro da educação tenha afirmado e reafirmado um ou dois dias antes do início das aulas que este ano praticamente não haveria alunos sem professores. Azar do costume, afinal haverá pelo menos mais de 90.000 alunos sem professores (o PS fala em mais de 100.000) e as escolas também se queixam de falta de pessoal auxiliar. Só vejo duas hipóteses o ministro da educação é mentiroso ou é profundamente incompetente. 

A ministra da saúde anunciou com pompa e circunstância que tinham contratado 7 ginecologistas para o hospital de Almada e que a partir de agora haveria sempre urgência de obstetrícia e ginecologia abertas na margem sul (alguém deveria investigar quais as condições em que estes médicos foram contratados. Será que vão trabalhar também como tarefeiros para "comporem" o vencimento?). Azar do costume, afinal todas as urgências da margem sul destas especialidades têm estado fechadas. Só vejo duas hipóteses: a ministra da saúde é mentirosa ou é profundamente incompetente.

Hoje foi noticiado que o secretário de estado da agricultura estava a ser investigado por contas "pouco transparentes" de empresas do setor imobiliário em que participou. A história do costume, o Montenegro, a exemplo do que fez no caso Spinunviva, veio dizer que o homem deve continuar no governo. O Montenegro está-se sempre nas tintas para a decência em política.

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Adenda: Hoje vi uma parte do debate das autárquicas de Lisboa. Na parte que vi, o Carlitos Moedinhas virou um "fofinho" embora não pareça ter perdido o gosto de mentir. O costume, qualquer populista que se preze diz o que convém dizer numa determinada altura, tenta portar-se melhorzinho se julga que isso lhe dará votos, mas tem sempre uma péssima relação com a verdade. Carlitos, por esse andar ainda te tornas um Ventura de segunda categoria.

João Ferreira: a julgar pelo debate na SIC, se eu votasse em Lisboa, seria nele que eu votaria

 

É certo que tem aquele pequeno problema de ser do PCP. É sabido que sinto sempre alguma perplexidade quando vejo uma pessoa que parece ser lúcida e racional manter-se no PCP. Provavelmente há questões psicológicas que o justificam mas a mim, que não as conheço, faz-me confusão. 

Contudo, a nível autárquico, o que em minha opinião deve prevalecer é a capacidade de fazer, a visão de ver ao perto e ao longe, a sabedoria para vencer obstáculos, a paciência para ultrapassar as chachadas da pequena política (que a nível autárquica parece tender a ser coisa muito rasa), a energia para se dedicar de corpo e alma ao bem estar dos habitantes ou dos visitantes da cidade. E, do que vi, pareceu-me que o mais estruturado, o mais assertivo e talvez competente, seria o João Ferreira.

Claro que é também o mais bonito e isso, parecendo que não, também conta.

segunda-feira, setembro 15, 2025

Pode uma pessoa ser um perigoso íman, cujo efeito electrizante e perturbador sobrevive à sua morte?

 

Partilho um vídeo de Agosto de 2023 por continuar a ser actual. Nessa altura, tal como antes e tal como depois e, na verdade, tal como agora, Epstein continua a ser um mistério que ninguém consegue deslindar. Jornalistas de todo o lado têm investigado a fundo e a conclusão é sempre a mesma: não conseguem perceber que pessoa era aquela, como se movia por tantos e tão poderosos meios, de onde lhe vinha a fabulosa fortuna, como atraía tantas pessoas que pareciam decentes e que, no entanto, sabendo-o um pedófilo compulsivo já condenado, continuavam a frequentar as suas casas e a manter tão dedicada amizade com ele.

Eric Weinsten está na mesma e conclui que para tal só pode haver uma explicação: acha ele que Jeffrey Epstein era uma construção, um ser forjado, era a pessoa que aparecia mas que, na realidade, atrás dele estaria uma estrutura, provavelmente os serviços secretos. Não é uma dúvida inédita. Que ele seria um agente da CIA ou da Mossad, um agente treinado para agir na base da chantagem -- e que 'agarraria' pelos testículos (pardon my french) tudo o que era gente poderosa, da política aos negócios, passando por cientistas, gente relevante do mundo universitário -- é rumor que circula desde há muito.

Não sei, claro. Se meio mundo que o investiga não consegue agarrar as pontas e ir atrás delas, claro que não era eu que ia saber. 

O que sei é que talvez algumas séries ou filmes que se façam sobre ele venham, através da ficção, revelar-nos algo de mais concreto do que hoje há.

E o que sei também é que, apesar de Epstein ter sido encontrado morto numa cela -- em que toda a gente que conhece o lugar e que o conhecia a ele diz que era impossível ter sido um suicídio e que tais ideias não lhe passavam pela cabeça -- o tema tem tais difusos contornos que continua a marcar o dia a dia da política americana, com muita gente a dizer que grande parte do que Trump faz é para desviar as atenções do tema pois toda a gente, Magas incluídos, querem que os ficheiros do caso sejam divulgados.

Seja como for, aqui fica o registo desta curiosa entrevista. 

[E aqui fica prometido que amanhã contarei como fiz as almôndegas a la italiana que, felizmente, foram consensualmente aprovadas e que não apenas foram servidas ao almoço como, com um ligeiro twist, vieram a ser também parte substancial do lanche ajantarado. Hoje já é tarde, se me ponho a dar a receita completa, deito-me tarde de mais. E agora vou tomar um relaxante muscular. O que tomei ontem, ao deitar, fez-me bem, mas a seguir ao almoço, tive que tomar um ben-u-ron de 1gr. Fiquei melhor enquanto fez efeito mas agora já estou, outra vez, bem apanhada. Portanto, mesmo que estejam para aí a lamber-se por umas almôndegas bem cheias de molho, bem italianadas, terão que esperar por amanhã. Mas guardem um bocadinho de pão para ensoparem no molhinho, ok? Quem vos avisa, vosso amigo é.]

The Night I Realised Epstein Wasn’t Normal - Eric Weinstein


E, já agora, um vídeo muito recente que faz uma resenha corrida de alguns factos e 'achados' relativos a esta personagem misteriosa.

The DISTURBING THINGS Found Jeffrey Epstein's Home


Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda feira.

domingo, setembro 14, 2025

Os grandes amores não morrem nem esmorecem

 

Não ando em grande forma e não sei porquê. Agora é um torcicolo que está a tolher-me completamente. Não consigo mexer o pescoço e até me custa a comer. Poderia atribuir isto a algum esforço ou a algum mau jeito. Mas não sei o quê. De quinta para sexta estive assim, tomei paracetamol e fiquei melhor. Fui ao ginásio pois pareceu-me que os exercícios não buliam com os músculos. Não sei se foi isso ou outra coisa qualquer, piorei. A meio da note tive que me levantar para tomar mais um comprimido. 

Mas, ao longo do dia, a coisa foi azedando e de que maneira.

Não obstante, não me apeteceu estragar o dia e, por isso, não apenas fomos tratar do que tínhamos que tratar, como, estando o dia tão lindo, me lembrei de, a seguir, ir matar saudades a um dos lugares do meu coração, o meu querido, queridíssimo Ginjal.

Claro que antes ainda fui comer um gelado à boa gelataria artesanal que há na ruazinha pedonal que sobe de Cacilhas para dentro de Almada.

Já lá não íamos há uns anos. E que diferença... Aqueles edifícios decadentes que tanto me impressionavam e inspiravam foram demolidos. E ainda bem, já eram um perigo. Essa zona está vedada e segura. E o pavimento está refeito, impecável. 

E montes de gente. Juventude e mais juventude, todas as línguas, diversos perfumes, muitos sorrisos, muitos abraços e beijos, e toda a gente envolta naquela luz tão especial. Apetece-me escrever que é uma luz mágica mas temo que o lugar comum estrague a descrição e não consiga passar o deslumbramento que é o sol a pôr-se sobre Lisboa, tão bela, sobre o rio, poderoso, estrada larga por onde deslizam os veleiros. 

O meu marido tem mais tendência para protestar que eu e acha que já é gente a mais. Não creio. Os lugares belos, desde que respeitados, devem conseguir acolher todos quantos queiram visitá-los.

Matei também as saudades de fazer fotografias, fiz dezenas e dezenas delas. Encantada, saciada.

Claro que agora estou pior. Dores, dores. Tolhida de todo. Já pus pomada, estou com um daqueles sacos de gel que se aquecem no microondas em volta do pescoço e vou ter que tomar outro comprimido. Estou a ver se não vou ao ibuprofeno, mas não sei se o paracetamol vai conseguir dar conta disto. Agora o que eu gostava de perceber é por que raio de carga de água é que fiquei neste estado. Caraças.

Fui ver a gaveta dos medicamentos e descobri um relaxante muscular, a caixa quase intacta. Não sei para que foi, não me lembro minimamente de o ter tomado. Terá sido o meu marido? O que vale é que está dentro do prazo de validade. Vai um destes. Se não me aliviar as dores, a seguir vai um paracetamol. Fico doida com estas gaitas, não tenho pachorra para estar incapacitada.

Mas, enfim, não quero parecer daquelas velhas que só sabem falar de doenças. Por isso, vou, antes, juntar mais uma das muitas fotografias e vou para a cama. O Ginjal e a fotografia são daquelas paixões antigas, eternas. Espero que a beleza deste lugar chegue até vós.

E vou para a cama que este domingo não posso preguiçar na cama, vou fazer um cozinhado demorado para o almoço, uma coisa que nunca fiz. Se ficar bom, depois conto.

Desejo-vos um feliz dia de domingo

sábado, setembro 13, 2025

‘Uma escapadela secreta onde o verão perdura’: as viagens favoritas dos leitores do Guardian, em setembro, na Europa

 

Ao ver o título da notícia do Guardian (acima, no título), patriota como sou, fui logo ver se aparecia algum destino português. E sim, aparece. Fiquei contente. Mas fiquei admirada. Évora é uma cidade linda (e onde se come bem) mas, ainda assim, estava à espera de um lugar mais pitoresco ou mais desconhecido ou com uma oferta mais diversificada. No entanto, reconheço, é disparate meu, na volta até demonstro algum provincianismo ou alguma miopia.

O Alentejo banha-se em luz dourada até finais de Setembro e Outubro. A região estende-se desde florestas de sobreiros a praias selvagens do Atlântico, com temperaturas diurnas ainda a rondar os 20°C. Na cidade caiada de Évora, ruínas romanas e praças tranquilas convidam a um passeio tranquilo. Mais a oeste, a costa perto de Vila Nova de Milfontes oferece ondas quentes e areias quase desertas. O Alentejo é lânguido e soalheiro, um refúgio secreto onde o verão se prolonga e o tempo parece parar.
Autor do texto: Matthew Healy.
Autor da fotografia:  Praça do Giraldo, Évora. Fotógrafo: Philip Scalia/Alamy

Numa altura em que alguns dos meus amigos andam no laré por locais longínquos e enviam fotografias maravilhosas, eu sinto-me cada vez melhor no nosso país, e, em particular, em casa, seja na da cidade, por acaso perto do mar, seja na do campo, no meio do nada, rodeada de serras e de silêncio. 

No outro dia o meu marido estava a sugerir uma viagem e eu, que antes estava sempre numa de ir e que adorava planear, escolher hotéis, ir à aventura, agora penso sobretudo na maçada de fazer malas, na falta de conforto que representa a ausência dos nossos sítios tão bons, ou penso no déjà vu que já tudo me parece, quase como se já nada é verdadeiramente novidade. E quando, no meio deste comodismo, abro uma excepção e penso em ir visitar algum lugar, o que me ocorre é sair de manhã, irmos de carro, levarmos o nosso querido cãobeludo mais fofo, e regressarmos ao fim do dia. Quem me viu e quem me vê.

Mas depois, quando tento situar, no tempo, o momento em que comecei a desinteressar-me por ir viajar, localizo facilmente. Primeiro foi o meu sogro com uma doença grave que nos enchia de preocupação, que ia fazer tratamentos, que era preciso acompanhar, visitar, que nos fazia ter receio de nos ausentarmos. Depois, durante esse mesmo período, foi a minha sogra, também muito mal, internada durante bastante tempo, depois em casa, acamada, a precisar de cuidados permanentes. O que esse período nos trouxe a nível emocional e logístico não tem explicação. A seguir, durante esse mesmo período, foi o tremendo avc do meu pai. Aí a nossa vida complicou-se severamente. Eu e o meu marido cheios de trabalho, com responsabilidades que não podiam ser compatibilizadas com a ocupação que nos era requerida, e as preocupações a sucederem-se, umas atrás de outras. As férias passaram a ser apenas no país e fora de casa não mais que uma semana de seguida. E, ainda assim, íamos sempre com o credo na boca. Entretanto, morreu o meu sogro, algum tempo depois a minha sogra. Depois veio a covid, o confinamento, a morte do meu pai, e, quando já apenas sobrevivia a minha mãe, vieram os horríveis problemas com ela, que me iam levando a uma tremenda depressão tal a situação complexa que ela atravessou. Impossível afastar-me. Já lá vai um ano e picos que se foi, já poderia ter recuperado os meus velhos hábitos de nos pormos na alheta, de irmos passear e descobrir outras terras. Talvez um dia. Mas não sei.

Em retrospectiva, lembro-me de quando trabalhava, saindo de manhã e regressando ao fim do dia, os fins de semana sempre tão cheios de visitas e de mil compromissos, sempre sem tempo para usufruir tranquilamente da nossa casa. Agora consigo fazê-lo. Olho para as árvores, sento-me a ouvir os pássaros, rego, ocupo-me da casa, o meu marido ocupa-se com o jardim, lemos, cozinhamos, caminhamos. Tempos muito tranquilos. 


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Desejo-vos um bom sábado

sexta-feira, setembro 12, 2025

O palerma dos hambúrgueres, a última sondagem, o brutal ataque à democracia a que se assiste nos Estados Unidos... e etc.

 

Depois de ter escrito o post de ontem sobre os atentados à racionalidade, à justiça, à ética, ao decoro, à verdade (e a tudo o mais que queiram juntar) por parte de muitos militantes do Chega, chegou a notícia de que um ex-dirigente do Chega quer pagar para evitar julgamento por prostituição infantil. Ou seja, quando se julga que é impossível piorar, piora mesmo. 

Depois veio o momento caricato do Ventura -- naquele seu tom indignado, superior --, a vir divulgar que o Chega tinha votado contra a ida de Marcelo ao Festival dos Hambúrgueres, até porque, diz ele, é inadmissível que os impostos dos portugueses sirvam para pagar tamanho disparate. Como já foi amplamente parodiado, confundiu a Festa dos Cidadão com um festival de hambúrgueres. 60 carneiros sentados no nosso Parlamento e que estão a ser pagos com o dinheiro dos nossos impostos votaram com as patas, sem saberem o que estavam a votar.

Tendo sido ridicularizado por todo o lado, o que fez Ventura? Pediu desculpa? Não, senhor. Disse que se tinha enganado mas que a culpa tinha sido do Marcelo por andar sempre a viajar... e atirou com um número absurdo de viagens, dez vezes superior à realidade. Porque diz tantas mentiras? Porque faz tantas acusações disparatadas? Má fé, impreparação, desapego da verdade? Seja o que for, é mau demais.

Mas se a reputação do Ventura e da escumalha que se juntou a ele no Chega deveriam merecer o mais frontal e inequívoco repúdio de toda a população, não entregando um único voto a tal agremiação de marginais, mentirosos, incompetentes, mal-formados... o que se verifica é que uma parte significativa da população votante é igual ou pior a eles pois, segundo a última sondagem, aponta-se para o Chega a liderar as intenções de voto, caso houvesse agora novas legislativas. 

Pasmo com isto. Como é possível? As pessoas estão parvas? Ou, pior que isso, são parvas?

Penso que é tempo de se encarar a realidade: para evitar o descalabro (como o que está a acontecer nos Estados Unidos, um descalabro aterrador), há que entender, por dentro, as razões de tanta gente se rever neste culto, no culto Ventura. Provavelmente há que perceber que maioritariamente é gente que não lê jornais (muito menos livros, claro), que não ouve notícias, que apenas consome o lixo veiculado pelas contas das redes sociais do Chega, gente muito ignorante a quem não vale a pena tentar convencer através de factos, de números ou de gráficos pois, com certeza, nem a tabuada sabe, muito menos sabe interpretar gráficos, gente sem bases morais ou culturais, gente que se sente integrada no meio de um partido de meliantes.

Tudo isto preocupa-me demais.

As redes sociais, no meu caso, o Instagram, tem tido um lado positivo: traz-me o acesso à opinião de muitos senadores e congressistas americanos, de muitos jornalistas, de governadores, de gente da Justiça (alguns dos quais varridos pelo Trump), e o que ouço e vejo é aterrador, como se, num par de meses, todos os checks and balances, tal com os freios e o sistema de emergência do Elevador da Glória, tivessem deixado de servir para o que quer que fosse. Dá ideia que se partiu ou desprendeu o cabo da democracia e, inesperadamente, toda a sociedade americana se vê virada do avesso. 

O impensável passou a ser o quotidiano. A ignorância, a incompetência, o revanchismo, as perseguições gratuitas, a prepotência, a rudeza, a malvadez, a subserviência, tudo o que enoja, tudo isso é o que agora impera. 

E tudo isto perante a incapacidade de reacção dos democratas. Parece que estão anestesiados, sem reação. Aliás, para dizer verdade, nem sei quem é o mais poderoso dos democratas: ainda será Biden? Aquele senhor da Câmara dos Representantes? o líder dos democratas no Senado? A Kamala ainda mexe? O que se passa para estarem tão entorpecidos? Parece que apenas Gavin Newsom estrebucha. Mas não é suficiente. Perante os tremendos riscos há que haver uma força que se levante e defenda a liberdade, a democracia, a ética, a moral.

Mas não há.

E à medida que vou lendo, que vou ouvindo, que vou cruzando informação, mais aterrada fico. Sou radicalmente contra teorias da conspiração. Nada disso faz minimamente o meu género. Sou pela objectividade, não pelas suposições infundadas, pelo diz que diz. Só que, nestes domínios, em especial quando há muita patifaria, muito narcisismo, muita psicopatia e muito poder envolvidos, há um mundo paralelo, subterrâneo, do qual apenas nos vamos apercebendo à medida que alguém repara numa ponta solta, outro alguém a agarra e a puxa, outro se esgueira para ver de onde vem... E, portanto, a única coisa que, em concreto, sei é que, nos Estados Unidos, pouco ou nada sei sobre os mais recentes escândalos, atentados, suicídios, homicídios com contornos políticos. Volta e meia dou por mim a querer estabelecer ligações, relações causais. Mas detenho-me. Não sei o suficiente sobre o que se passa para poder, sequer, raciocinar.

Neste tema do jovem que foi assassinado, Charlie Kirk -- alguém que pregava a favor da violência, do porte de armas, alguém que defendia que era aceitável que todos os anos morressem pessoas assassinadas pois isso justificaria o tema da permissão do uso generalizado das armas, alguém abertamente xenófobo, racista, misógino, alguém que mobilizava fortemente a camada jovem do movimento MAGA, mas que, apesar disso, obviamente merecia viver --, estou em crer, a partir do que tenho lido e ouvido, ao constatar que há quem formule algumas dúvidas sobre alguns factos anómalos que envolvem todo o crime, que muito do que não se sabe talvez possa ser mais importante do que o que se sabe. E essa nebulosa que agora parece envolver tantas coisas naquele imenso país ainda torna tudo mais assustador.

Por isso, por tudo o que se vai sabendo sobre o que está a acontecer nos Estados Unidos (já para não falar de casos mais antigos como a Rússia), penso que deveríamos excomungar todo o populismo, todos os que dividem para reinar, todos os que instilam ódio na sociedade, todos os que não respeitam escrupulosamente a democracia, a liberdade, o respeito pela lei e pelas instituições democráticas. A dúvida é: mas como fazê-lo de forma eficaz? 

Aceitam-se sugestões.

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Nota

Claro que leio todos os vossos comentários, claro que os agradeço, os comentários enriquecem o blog, muitos leitores se calhar têm mais curiosidade em ler os comentários do que o que eu ou o meu marido escrevemos. Mas tenho andado com pouco tempo. E continuo a ter este hábito peregrino de só escrever no blog às quinhentas da noite o que faz com que, quando acabo, esteja com sono. Por exemplo, agora que já passa, e bem, da uma e meia da manhã, ainda quero ver os mails (... e já perdi a conta aos que também não agradeço e a que não respondo...) e ainda quero ir espreitar uma notícia cujo título me intrigou. Por isso, mais uma vez não vou responder ou agradecer os comentários. Por isso, peço as minhas desculpas.

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Desejo-vos uma feliz sexta-feira

quinta-feira, setembro 11, 2025

Algum psicólogo forense por aí que trace o perfil dos meliantes que se agremiam no Chega?

 

Hoje soube-se de um que roubava combustível ao INEM. Imagine-se: roubava gasóleo das ambulâncias. No outro dia soube-se de um apanhado em flagrante a atear fogos. Outro, um caso digno de filme cómico, apanhado a roubar malas nos aeroportos, guardando-as no gabinete da Assembleia da República e depois vendendo os pertences dessas malas num site de roupa usada no qual usava o seu nome e ano de nascimento como nickname. Outro agride árbitros em jogos infantis. E receio que seja delírio meu mas tenho ideia de que já houve um que roubava caixas de esmolas, outro que usava armas sem ter licença para isso, não sei até se não havia um ligado a tráfico de drogas ou coisa que o valha. Não continuo pois receio que seja a minha imaginação ou a minha memória a atraiçoar-me. 

E estou a elencar isto apenas porque me espanto e me sinto intrigada: o que leva estes marginais a juntarem-se a um partido que prega a moralidade e que exige mão pesada nas penas justamente contra os crimes que eles cometem?

Não é estranho? Não há qualquer coisa de psicopata nisto?

E ainda outra dúvida: o que leva os votantes no Chega a votar num partido em que já se descobriu que tantos dos seus militantes (incluindo deputados) têm problemas com a Justiça? Não é estranho? Se quem vota no Chega é gente que preza a lei e a ordem como é possível que se identifiquem com um partido destes?

Será que vamos ter que aceitar que há mais gente do que pensamos que não bate bem da bola?

quarta-feira, setembro 10, 2025

Ro Ro, ou a graça das mulheres-meninas

 

Confesso a minha ignorância: nunca tinha ouvido falar em Angela Ro Ro. Mas devota do Bial como sou, se ele a leva às suas gostosas conversas, eu estou lá. Portanto, pus-me a ouvir.

E, à medida que a ouvia, risonha, provocadora e engraçada como uma adolescente, mostrando continuar sequiosa de vida e diversão, pronta para os amores, ia-me lembrando de uma amiga que é assim. Muito, muito assim (apenas com a diferença de que Angela Ro Ro é gay e a minha amiga é hetero).

Tal como vejo, pela entrevista, que Angela Ro Ro tinha a fama de ser uma malandreca, também a minha amiga, quando entrou a sério na adolescência, virou uma bela safadinha. Tinha fama de alta namoradeira ou mais que isso, fazia coisas que, por vezes, me deixavam um bocado perplexa, sobretudo por achar que ela caía com demasiada facilidade nos braços errados. Mas ela não me ouvia. Não ouvia ninguém. Parecia tomada por uma urgência de experimentar tudo, de quebrar todos os tabus.

Mas, à posteriori, vim a verificar que, afinal, era muita parra e pouca uva. Muitas aventuras, muitos empolgamentos, e, depois, muitas decepções, muitos desgostos. Conta que foi várias vezes traída. No fundo acreditava demais em quem, se via à légua, que não merecia qualquer crédito. Mas ela não via o mesmo que os outros. Olhares racionais e objectivos não eram com ela, toda emoção, toda inocência.

Talvez por isso ou talvez porque a vida, por vezes, prega partidas a quem não o merece, amores verdadeiros, grandes, intensos, duradouros, que não a fizessem sofrer, não os teve.  

Mas não ficou ressentida nem desanimada. De facto, ainda agora continua a ser tal como se descobriu quando, adolescente, resolveu abraçar a vida sem reservas: alegre, brincalhona, sedutora, irreverente, com uma tremenda vontade de amar e de ser amada, a mesma adorável adolescente. E... continua a dar com os burrinhos na água pois continua a atirar-se, sem reservas, para os braços de quem não tem condições de retribuir a paixão. No entanto, continua, sorridentemente a acreditar que o melhor ainda está para vir, a correr atrás da sorte, do amor, da paixão. E eu, do mais fundo do meu coração, desejo que um dia encontre alguém que a ame como ela, desde sempre, desejou ser amada.

A voz INESQUECÍVEL de Angela Ro Ro | Conversa com Bial | GNT

No #ConversaComBial , uma homenagem especial à icônica Angela Ro Ro, cantora e compositora que marcou a MPB com sua voz potente e canções inesquecíveis.

Com uma carreira iniciada nos anos 70, Angela deixou clássicos como Amor, Meu Grande Amor e Compasso, tornando-se referência de autenticidade e emoção na música brasileira.



terça-feira, setembro 09, 2025

Quem é Armando Martins?
Quem é o homem que aprecia o desvio à perfeição?

 




Eu não sabia quem era Armando Martins. 

Fiquei curiosa. E, depois de ler a sua breve biografia e depois de ter visto o vídeo, fiquei surpreendida. Muito interessante. Há pessoas com percursos ímpares. Afinal, Armando Martins é um português excelentíssimo: é o Senhor MACAM.

MACAM = Museu de Arte Contemporânea Armando Martins

Transcrevo:

Armando Martins nasce em 1949, no concelho de Penamacor, e passa a sua infância longe dos circuitos das artes.

Aos 14 anos vem estudar para Lisboa. Na adolescência realiza a sua primeira visita a um museu de arte, o Museu de Arte Antiga, experiência que não o seduz, pois seria a arte contemporânea o seu caminho e paixão.

A sensibilidade e o interesse pelo mundo da arte só começam a anunciar-se mais tarde, de forma crescente e em paralelo com o caminho que vem a traçar a nível profissional.

O colecionador que sonhou um museu

Licencia-se em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico, em 1973, ano em que inicia a sua atividade profissional.

No final da década de 70 parte para o Brasil, regressando a Lisboa em meados dos anos 80. Enceta desde então um percurso de sucesso no sector da promoção imobiliária, com a criação de várias empresas.

Nos anos 90, constitui o Grupo Fibeira SGPS,S.A., com atividades na promoção imobiliária, hotelaria e serviços, do qual é hoje o Presidente honorário. 

Foi o promotor do edifício Atrium Saldanha, em Lisboa, projeto com a assinatura do arquiteto catalão Ricardo Bofill, galardoado, entre outras distinções, com o Prémio Valmor de Arquitetura em 2001.

É também proprietário do Palácio do Correio-Mor, em Loures, e do Palácio Condes da Ribeira Grande, na Junqueira, Lisboa, onde instala o projecto MACAM.

O interesse pela Arte

O interesse pelo colecionismo e pelas artes visuais começa aos 18 anos, com a aquisição de serigrafias em parceria com um amigo. 

Por ocasião do seu 25º aniversário, decide oferecer a si próprio a primeira obra de arte original.

Essa experiência é o primeiro momento de um percurso sem retorno, dando início ao que viria a ser a Coleção Armando Martins. A partir de então, a sua actividade como colecionador vai-se intensificando.

Dotado de um espírito inquieto e empreendedor, Armando Martins continua a alimentar a sua capacidade de sonhar e de desenvolver projetos que, por vezes, o conduzem para fora da sua zona de conforto. O gosto pela arte é disso exemplo.

A Coleção e o Museu

Armando Martins não só se decide a criar uma das melhores coleções de arte a nível nacional como, paralelamente, vai alimentando o desejo de fundar um museu para partilhar a sua coleção.

Em 2007, concretiza a aquisição a título privado do Palácio dos Condes da Ribeira Grande, um edifício histórico do século XVIII. Avança com o projeto de reabilitação para criação do Museu, decidindo incluir um Hotel de 5* como motor de financiamento e de sustentação da autonomia do projecto.

Em 2018, é distinguido com o Prémio "A" para o colecionismo pela Fundación Arco, instituição dedicada à promoção, investigação e divulgação da arte contemporânea.

Três anos depois, é-lhe atribuído o Prémio de Colecionador da Associação Portuguesa de Museologia, pelo seu projeto de criação de um museu privado para tornar pública a sua coleção.

O que outrora era apenas sonho, hoje torna-se realidade. O empreendimento está concretizado, a coleção Armando Martins perfez 50 anos de história e o Museu MACAM abriu portas ao público em 22 de Março de 2025.

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 Armando Martins: O Penamacorense que deu um museu a Lisboa


Salve Armando Martins.

Obrigada.

Considerará o indigno Moedas que o Paulo Portas e a Mariana Leitão são seus sicários?
-- A palavra ao meu marido --

 

O Moedas, na entrevista à SIC, esquecendo-se que estava a fazer-se de coitadinho, e após dizer que nem pensava nas eleições, atirou-se com ignomínia ao PS, chegando, entre outros "mimos", a chamar a quem o atacava, sicário da Alexandra Leitão. 

Seguindo essa analogia, será que o Moedas também considera que quem tem tentado salvar a sua pele -- com argumentos estapafúrdios, é certo --, como, por exemplo, o Paulo Portas e a Mariana Leitão, são seus sicários, certo? 

O Moedas tem demonstrado ser reles e ignorante, mas, como já deve, entretanto, ter sido esclarecido, sicários são criminosos contratados que, no início, usavam adagas escondidas debaixo das togas com as quais perpetravam os assassínios. É óbvio que não são os métodos usados em democracia mas vê-se bem o calibre do personagem quando é capaz de fazer este tipo de afirmações. Pior ainda e de uma baixeza insuportável é o que afirmou sobre a demissão do Jorge Coelho quando ocorreu o acidente em Entre Rios. Um tipo que mente descaradamente e que mostra ser tão reles não é confiável e não merece qualquer tipo de consideração ou respeito. Não vale tudo, certo?

segunda-feira, setembro 08, 2025

(Actualizado) Obviamente, pirem-se!
-- A palavra ao meu marido --

 

O presidente da Carris e o Moedas não podem continuar. O que soubemos ontem no inquérito preliminar é gravíssimo. Um equipamento de transporte público que funciona há 140 anos, com todos os riscos que acarreta um período tão longo de funcionamento, e transporta centenas e centenas de milhares de pessoas por ano num percurso com inclinação de 17 por cento, não tem sistemas de travagem que atuem no caso de falha no cabo que suporta o equipamento e permite  que este trave. É inconcebível!  Como é  possível que um equipamento cujas condições de segurança são tão precárias transporte pessoas? 

O dirigente principal da empresa tem que se demitir porque não garantiu que a empresa cumprisse a sua missão principal que é assegurar o transporte dos utentes em segurança. 

O Carlos Moedas também devia ir-se embora por indecente e má figura: não só porque a CML tutela a Carris mas também porque vai para a SIC fazer figura de poucochinho e consegue dizer que tudo funcionou bem, dizer que não pensa em eleições, e, enquanto isso, põe-se a dar bicadas na concorrente eleitoral, e continua apelando aos sentimentos mais primários das pessoas e quase chora para conquistar votos. E porque ao longo deste processo demonstrou que tem zero de capacidade de liderança. Uma triste figura. 

Além disso, depois de andar a pregar contra a insegurança na cidade, mostrou que se esqueceu de um aspecto tão fundamental como garantir a segurança de quem usa veículos de transporte, ainda por cima talvez dos veículos mais usados na capital. Afinal o grande problema para a segurança de Lisboa não são os imigrantes mas a falta de condições dos elevadores turísticos da cidade. 

Indecente e má figura do Carlos é  também seguir a cartilha do Montenegro e, quando tudo está a correr a mal, vir dizer que se gastou mais dinheiro com o problema e que ninguém se demite porque "estão lá para resolver os problemas" que de fato agravaram. É uma cartilha que, de tão gasta, fede.

Eu sei que vivemos num País cujo governo atual mandou a ética às urtigas. O PM, com a Spinunviva às costas, diz no Governo o contrário do que dizia na oposição,  consegue dizer sobre o mesmo assunto três coisas diferentes no mesmo dia (foi o que fez quando falou sobre o acesso à matriz das propriedades que possui), mente quando lhe convém,... O ministro das finanças é o rei das cativações que tanto criticava nos antecessores. A ministra da saúde mantém-se no cargo apesar das sucessivas tragédias que têm ocorrido, mostrando que pensa que não tem nada a ver com as desgraças da área pela qual é responsável... 

Só falta mesmo que, depois do horrível acidente que ocorreu em Lisboa, ninguém assuma a responsabilidade pela inconcebível situação em que a empresa que transporta milhões de passageiros por ano colocou os seus utentes.  Mesmo no estado a que as coisas chegaram parece impossível.

Nota: quem é que garante que os outros equipamentos da Carris são seguros e não põem em perigo os utentes?

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Post scriptum

Ontem quando escrevi o post ainda não tinha ouvido as declarações do Moedas em 2021 a pedir a demissão do Fernando Medina. Depois de ter dito o que disse, o Moedas tinha que se demitir de imediato. É preciso descer muito baixo para utilizar os argumentos que ouvi ontem na SIC para justificar a sua continuidade no cargo. 

É vergonhoso! Não vale tudo! Um comentário de ontem, muito consistente, que agradeço, refere que o que aconteceu pode configurar um crime de homicídio por negligência ou dolo. Assim, parece que seria mais prudente o Moedas preparar a defesa em vez de andar por aí esganiçado, qual beata histérica, a tentar chutar para canto. Cada vez mais estes dirigentes do PSD me parecem aquela cambada que rodeia o Trump: impreparados, sem nenhuma ética, mentirosos e viciados em "fake news".

domingo, setembro 07, 2025

O relatório preliminar
-- Porque aconteceu a tragédia do Elevador da Glória? --

 

Estamos em território minado em que ninguém divulga documento nenhum sem que, primeiro, os advogados o mire à lupa, com mil olhos. 

Sabemos que o tema da responsabilidade civil* e as respectivas consequências é o que agora estará a envolver todos intervenientes, e, quando falo em envolver, é isso mesmo: há que ter mil cuidados, pois qualquer ponta que se deixe solta será usada pelas seguradoras, pelos advogados das partes envolvidas, pela comunicação social, pelos partidos, para triturar impiedosamente o primeiro que se deixe apanhar 'a jeito'. É, pois, a altura de mitigar os efeitos dos danos de toda a ordem, nomeadamente os financeiros, os reputacionais, os políticos. Claro que em background estará sempre o drama dos mortos, dos acidentados. Mas isso já aconteceu. Já não há nada a fazer. Portanto, isso estará presente, claro que sim, mas em background. Quem não está habituado a isto, dirá que há muito cinismo, muita hipocrisia nisto. Talvez, sim. Mas não sei se é isso ou se é o instinto de sobrevivência dos intervenientes. Sei bem o stress que, em situações deste tipo (e nunca passei por nenhuma tão grave, nem nada que se pareça), costuma existir sobre todos: reuniões e mais reuniões, com os circuitos todos da gestão de risco a serem seguidos ferreamente.

Quanto ao relatório sobre o que aconteceu, mais do que saber que foi o cabo solto ou a ineficiência dos freios, é importante detectar a verdadeira causa-raiz que levou a que isso acontecesse. Seja o que for, da minha experiência, o que me parece óbvio é o seguinte: por muito que o relatório preliminar seja prudente e tente dar a entender que o que se passou foi uma fatalidade, pois os procedimentos de manutenção foram todos rigorosamente cumpridos e o condutor agiu como devia, uma coisa é certa: em acidentes desta natureza não há fatalidades -- há, sim, uma ou mais ocorrências como, por exemplo, desgaste dos materiais que não foi devidamente acautelado, falta de adequação dos materiais ou dos sistemas às funções, falta de manutenção com a profundidade, a tecnicidade ou a periodicidade devida, ou a não substituição atempada de peças, equipamentos ou sistemas. E um ou vários desses aspectos serão a causa directa. E é preciso identificá-los.

Mas depois há as segundas derivadas: ou seja, porque é que isso aconteceu? Sub-orçamentação, inexperiência ou inaptidão dos técnicos (quer os da Carris que fizeram o caderno de encargos ou que monitorizam a execução do contrato quer os da empresa externa que efectua o serviço), inadequação organizativa (quem monitoriza ou quem decide sobre falhas ou decisões a tomar), inaptidão da gestão da Carris?

Numa perspectiva séria, para apurar todas as razões (e não para alimentar o espectáculo da comunicação social mas, sim, para evitar que voltem a acontecer acidentes desta gravidade), haveria uma comissão de gente séria, experiente e objectiva, a varrer todas estas vertentes.

Não podem ser totós que embarquem em banalidades, que não vão ao fundo da questão, tem que ser gente que saiba desmontar os argumentos, que saiba pesquisar, averiguar:

- Faz sentido manter aqueles elevadores, lindos, com aqueles materiais, com aquela tecnologia, ainda estarem em funções? Não seria mais seguro haver réplicas perfeitas mas robustas, tecnologicamente modernas, seguras, monitorizáveis e controláveis?

- Faz sentido os serviços de Manutenção continuarem externalizadas? Em caso afirmativo, quem define os moldes em que é executada, quais as fronteiras de responsabilidade entre os serviços internos e os externos (por exemplo, quem assegura os serviços de Oficina, a gestão de peças, quem efectua inspecções periódicas, quem assegura a transmissão de conhecimentos e a formação dos técnicos)?

- etc...

E isto de que tenho falado é uma vertente. Mas há outra: não nos esqueçamos, uma empresa tem accionistas que nomeiam a administração e é a administração que leva ao terreno as orientações que recebe. É o accionista que aprova as linhas estratégicas, os orçamentos, as grandes decisões programáticas. No caso, o accionista é a Câmara de Lisboa. E quem está à frente da Câmara de Lisboa não é uma dinastia ou uma família: são pessoas eleitas, são políticos. Logo, antes de qualquer outra responsabilidade, há a de carácter político.

Carlos Moedas não pode esconder-se atrás das saias do falecido Papa, não pode encostar-se a Marcelo ou a Montenegro nem pode continuar a andar a correr atrás da comunicação social para se gabar de tudo o que mexe ou não mexe. Carlos Moeda, por uma vez, tem que se portar como um homenzinho. A menos que não saiba o que isso é.

* Num comentário abaixo, que agradeço, levanta-se a possibilidade de vir a haver também uma questão criminal. Não a referi por admitir que esse caminho não será trilhado pois, a haver responsabilidades dessa natureza, elas provavelmente seriam de tal forma partilhadas que não se chegaria a lado algum. Mas, de facto, nunca se sabe. Estou a lembrar-me de um caso que não tem a ver com acidentes ferroviários ou afins  mas com saúde pública e o tema foi aí parar, com muitos dos responsáveis da empresa envolvida sentados no banco dos réus. Portanto...

sábado, setembro 06, 2025

A tragédia do Elevador da Glória -- a infeliz ilustração prática do que é a Lei de Murphy?

 

Tenho cá os meninos em casa em regime de pernoita e, em dias assim, tenho dificuldade em mudar o chip para falar de coisas sérias. 

Antes de se ir deitar, o meu marido deixou-me várias sugestões para o que eu poderia abordar no que fosse escrever no blog. Concordei e disse que sim, que o faria. Simplesmente, as minhas mãos estão com dificuldade em falar de concursos públicos, em externalizações, em planos de manutenção, em escassez de mão obra especializada, em gestores políticos de meia tigela. 

É que, tal como ele, também eu posso falar destes assuntos, não do caso do Elevador da Glória em particular, que não conheço, mas destes temas em geral. Mas, para eu falar disto, porque só consigo falar com seriedade e rigor, teria que me alongar. E a esta hora, com os meninos a dormirem nos quartos ao fim do corredor, não sei se consigo forçar as minhas mãos a temas sérios quando só me apetece falar da graça das crianças, do menino que chegou a casa, do treino, já às dez da noite, e, depois, ainda foi tomar banho e, depois, jantar, para pouco depois ter que ir dormir pois este sábado tem que estar a pé cedo já que tem reunião e treino antes das dez da manhã, ou do mais novo, arisco, que me deixa abraçá-lo e dar beijinhos, revelando ser um falso arisco, ou a menina, mais alta que eu, já não criança mas uma bela adolescente, que veio carregada com uma valise dentro da qual se encontram dois necessaires, um com produtos para o cabelo, outro com maquilhagens, sempre toda decidida, toda organizada, e que me faz recordar-me de mim com a idade dela.

Por isso, como conseguir fazer a agulha para os temas que estão na ordem do dia e que, de uma maneira ou de outra, farão parte da causa-raiz da tragédia?

Bem.

Vou tentar. 

Mas vou ver se abrevio. 

Externalizar? 

Sempre fui totalmente contra quando se trata de áreas críticas, de utilização permanente e em que a retenção de conhecimento é relevante. Era a favor em sectores indiferenciados, de utilização sazonal, em que não é requerido conhecimento específico do 'entorno' ou da função. 

No caso da manutenção, em que os técnicos são sempre necessários ao longo do ano, em que é importante reter o conhecimento para que exista um historial de avarias, do que as provocou, da forma como se resolvem, para que acompanhem os novos investimentos e recebam formação no seu manuseio, sempre fui a favor da não externalização. 

No caso da Carris, tendo sido tomada essa decisão há uns anos, e ainda não tendo havido a coragem de a reverter, a única forma de assegurar uma boa manutenção é haver internamente, na Carris, quadros técnicos altamente experientes e conhecedores, que consigam plasmar no caderno de encargos do concurso público, todos os requisitos e, depois, que acompanhem o seu escrupuloso cumprimento: Por exemplo, quais os planos de manutenção preventiva, qual o plano de inspecções, tempos de chegada ao local em caso de manutenção correctiva (e, se já estiverem evoluídos, planos de manutenção condicionada e preditiva). Coloquei entre parêntesis pois temo que os equipamentos do elevadores não estejam ainda sensorizados para emitirem alertas em situações de desgaste, de perda de tensão ou outras situações críticas. Mas o caderno de encargos deve ainda prever de quem é a responsabilidade por gerir os stocks de peças de reserva ou de consumo corrente e de quem é a responsabilidade pelos trabalhos em oficina (está também externalizada? se não, como se integra a sua gestão, num fornecimento externo?). E nos planos dos trabalhos deve estar bem definido o que fazer e com que periodicidade bem como quais as habilitações, formação profissional e experiência dos técnicos que integrarão as equipas. Tudo isto tem que ser, depois, contratualizado e rigorosamente monitorizado.

Como o meu marido referiu ontem, se isto estava tudo bem definido e se nenhuma empresa apresentou proposta no concurso que entretanto decorreu, é porque as empresas concorrentes acharam que, pelo valor base do concurso, não era possível fazer o trabalho. Atendendo a que esse valor é cerca de 20% superior ao que estava a ser praticado, das duas uma: ou a empresa que andou a fazer a manutenção até ao fim de Agosto andou a perder dinheiro, muito dinheiro, ou andava a cortar as unhas, mas a cortá-las muito rentes, ou seja a não fazer o trabalho que devia ser feito, pelo menos de acordo com os requisitos do concurso que ficou deserto. 

O meu filho, no dia do desastre, dizia que parecia ter acontecido o worst-case scenario, aquele cúmulo de azares que, quando a coisa dá para o torto, parece que os azares se atraem uns aos outros: parece ter falhado o cabo, o freio, e sabe-se lá mais o quê. Mas vamos ver se, em cima de tudo isso que se traduziu num número tão elevado de mortos e feridos, não aconteceu ainda um outro. Não nos esqueçamos que, quando acontecem acidentes desta natureza, as indemnizações e os gastos de reparações e outros são exorbitantes. As empresas têm uma responsabilidade civil que, geralmente, está segura (leia-se, coberta por um seguro). Mas, para não pagarem prémios excessivos, limitam a responsabilidade coberta. E está tudo bem... até ao dia em que deixa de estar. Portanto, vamos ver qual o tecto da responsabilidade civil da empresa responsável pelo que aconteceu. Vamos ver se, a seguir a toda a desgraça que aconteceu, não começam a surgir outros dissabores. Claro que não há maior dissabor do que uma vida ser ceifada num acidente destes mas, a seguir, começam a surgir as consequências e, neste capítulo, vamos ver se estava tudo bem acautelado.

E aqui um tema que será certamente avaliado: supostamente, a empresa externa que fazia a manutenção vai ser chamada à pedra e vai averiguar-se se os planos contratados foram cumpridos. Se não foram cumpridos, estará encontrada a empresa responsável. Mas se os planos foram cumpridos e o que se conclui é que os planos estavam mal feitos, aí a responsabilidade reverterá para quem os definiu. E aí entrarão as contendas jurídicas, os pareceres, as complicações que, às tantas, se transformam em complicados enredos.

Mas há ainda um outro aspecto: pelo que vi, a empresa MNTC que fazia a manutenção dos elevadores de Lisboa terá sede num prédio residencial na Margem Sul, um capital social de apenas 15.000€ e 30 trabalhadores. Não consegui encontrar o site, talvez não tenha. Não posso questionar a competência e a estabilidade da empresa e dessas 30 pessoas pois delas nada sei. E também não sei se os trabalhadores que faziam a manutenção pertenciam mesmo à MNTC ou se seriam subcontratadas. É que o que frequentemente acontece, nesta perversidade de externalizar e contratar pelo menor preço, é que as empresas a quem é adjudicado o trabalho, para o conseguirem fazer por tão baixo custo, recorrem à mão de obra mais barata que arranjam (muitas vezes pagando parte do ordenado por baixo da mesa, para pouparem na Segurança Social e nos impostos). Não faço ideia se é o caso mas não me admiraria se fosse.

E ainda um outro aspecto: li que o contrato com a MNTC acabou no fim de Agosto. Não havendo empresa para a substituir (dado o concurso ter ficado deserto), a Carris terá feito um ajuste directo com a MNTC para mais 5 meses. E pergunto: fez contrato? Quais as cláusulas do contrato? O contrato está assinado? Em vigor? Certinho. direitinho? Ou foi na base do 31 de boca? É que, numa situação como a que aconteceu, tudo isto faz a diferença -- e as Seguradoras e os advogados das diferentes partes não costumam condoer-se, é o business deles, costumam defender-se com unhas e dentes, e todas as pontas soltas são boas para desmontar pretensões com pés de barro.

Só espero que o worst-case scenario não se aplique também a estes aspectos, senão a dimensão do problema alastrará e de que maneira. 

Claro que há muitos intervenientes que, de uma maneira ou de outra, têm a sua quota parte de responsabilidade no que aconteceu: no que se refere a questões técnicas, a questões jurídicas, a questões administrativas, a questões de organização e, claro, a questões de gestão.

Mas, acima de tudo, e convém não a relativizar, há a responsabilidade política. Na forma como as empresas sob responsabilidade municipal se organizam, na aprovação do plano de investimentos e do orçamento de gastos correntes, nas prioridades, nas linhas vermelhas, a primeira e última palavra vai para a Câmara que, no caso, funciona como o accionista, o grande decisor.

Estar à frente de uma autarquia não é ser como o Moedas, esse oportunista que parece achar que se nos aparecer, televisão adentro, a toda a hora, em todo o sítio, como um emplastro, sempre a gabar-se, sempre em bicos de pés -- é ele que faz tudo, é ele que pensa em tudo --, uma figurinha ridícula que se acha o máximo. Não. Ser responsável por uma autarquia é tomar as grandes decisões, é garantir que o que é crucial é seguido à risca (por exemplo, é alguém que traça linhas vermelhas como 'nunca por nunca pôr em risco a vida humana'), é assegurar que há medidas de controlo para monitorizar o cumprimento dos planos. Ser responsável é saber gerir prioridades como por exemplo, ser capaz de dizer: 'não vou cortar na manutenção de equipamentos de utilização pública nem na higiene urbana nem no apoio à recuperação de consumidores de droga; pelo contrário, vou aumentar, nem que, para isso, tenha que cortar em dispêndios exagerados como os das Jornadas da Juventude ou outros folclores de utilidade duvidosa'. 

Não sei o que vamos ficar a saber da responsabilidade da tragédia mas temo que conheçamos apenas uma versão superficial das coisas e temo que o Moedas, na sua hipocrisia travestida de beatice, ainda tente reverter o problema, tentando capitalizar a seu favor. Quando, em cima do desastre, o ouvi dizer que Lisboa nunca tinha sofrido uma tragédia desta dimensão (ah não? o terramoto de 1755 não lhe diz nada?) só me fez lembrar o Trump que, na estupidez do seu narcisismo exacerbado, consegue gabar-se da porcaria que faz só porque é uma grande (huge, fantastic) porcaria.

Enfim.

É tarde, daqui a nada a minha maltinha está a pé e, portanto, é bom que eu esteja antes deles. Portanto, fico-me por aqui.

Desejo-vos um bom sábado.

sexta-feira, setembro 05, 2025

Compreender bem o que aconteceu
-- A palavra ao meu marido --

 

A tragédia que aconteceu em Lisboa, no elevador da Glória, é absolutamente chocante e difícil de admitir. Um acidente como este no centro da cidade ultrapassa a perspectiva que temos do que nos pode esperar no quotidiano. É terrível! 

Espero que esta tragédia tenha resultado de uma falha fortuita e imprevisível no sistema. Espero também que o inquérito aponte conclusões para percebermos o que falhou e quais as razões da(s) falha(s). 

Ao ouvir hoje uma parte da conferência de imprensa do presidente da Carris, houve dois aspectos que me chamaram a atenção. 

  • Primeiro, afirmou que os custos de manutenção tinham aumentado 25 por cento, não me lembro se em 3, se em 5 anos, mas só após a pergunta de um jornalista informou que os custos com a manutenção dos elevadores tinham sido os mesmos nos últimos 3 anos (995.000 € por ano). Parece que queria dizer só meia verdade. 
  • Mas o que me suscitou mais dúvidas foi ele ter dito que o concurso para prestação do mesmo serviço para 2025 tinha como valor base 1,2 milhões de euros, e nenhuma empresa tinha apresentado proposta. Quando um concurso fica deserto, geralmente isso significa que nenhuma empresa achou que conseguia fazer o trabalho pelo valor base. E, ainda assim, comparando com o valor que vigorou até agora, estamos a falar de uma diferença para cima, de mais cerca de 20 por cento (mais de 200 mil euros) -- e mesmo por estes valores bem mais altos ninguém apresentou proposta. Face a isso, a Carris vai ter que lançar novo concurso por um valor superior. Admitamos que o valor passará para 1,3 milhões de euros. 

A minha dúvida é: como é que a empresa a que foram adjudicados os trabalhos nos últimos três anos podia prestar um serviço de qualidade, parecendo que o valor que recebia era manifestamente insuficiente. A Carris pagava 995 mil euros, e, de um ano para o outro, o serviço vale mais de 1,2 milhões de euros, provavelmente 1,3 ou mais milhões de euros. Esteve a empresa prestadora do serviço disposta a perder centenas de milhares de euros por ano? Ou, porque o valor não era suficiente, fez algumas economias na prestação do serviço? Gostava de ver esclarecido este ponto.

O Moedas está sempre na televisão a gabar-se do que faz e, especialmente, do que não faz. Devia ter sido homenzinho e ter estado hoje ao lado do presidente da Carris, empresa tutelada pela Câmara, e assumir a responsabilidade política. 

O Marcelo veio dizer que era preciso apurar rapidamente a responsabilidade por esta tragédia. Concordo. O problema é quando se apuram as responsabilidades para nada, ou seja, apesar de conhecidas, ninguém as assume -- e o caso da Saúde tem sido sobejamente paradigmático disso, com a agravante de isso acontecer perante a conivência de Marcelo.