domingo, setembro 28, 2025

Ansiedade, bullying, fobias sociais

 

Por vezes receio que pensem que estou a pintar uma versão ficcionada e melhorada de mim. Mas não é, limito-me a dizer as coisas como as penso ou recordo.

Estava a ver o vídeo que aqui partilho, no qual duas pessoas que admiro, uma há mais tempo, o médico Drauzio Varella, e outra mais recentemente, o influencer Felca, e dei por mim a pensar que, felizmente, nunca sofri bullying nem mesmo em miúda, nem me lembro de ir contrariada para a escola. 

Mas também não me lembro de saber que algum dos meus colegas o sofreu. Contudo, sabendo-se que quem o sofre muitas vezes o sofre em silêncio, será que eu é que não dei por isso? Ou será que, também sem dar por isso, algumas vez eu o pratiquei?

Do que me lembro sempre gostei de toda a gente, sempre me dei bem com toda a gente, gordos ou magros, altos e baixos, feios e bonitos. Mas também sempre fui distraída, indiferente à intriga, bem disposta, divertida. Sei lá se alguma vez não me desatei a rir por qualquer coisa e se o meu riso não foi entendido por alguém mais sensível como troça? Não sei. 

E lembro-me de uma colega muito doce, muito silenciosa, com um ar sempre vagamente triste. Porque seria? Não me lembro. Sentir-se-ia mal amada pelos colegas? Quando soube que já tinha morrido fiquei muito impressionada, fiquei a pensar que se calhar ela não tinha conhecido a alegria de viver ou que, se calhar, desde sempre ela tinha trazido a morte dentro de si (e, pensando isto, reconheço que não faz muito sentido pois se calhar todos a transportamos dentro de nós, sejamos tristes ou alegres).

E, depois, se calhar não posso pensar nestes assuntos tomando-me a mim por padrão pois nunca me desgostei especialmente com a minha aparência nem me lembro de alguma vez ter sido objecto de troça seja pelo meu aspeto físico seja pela minha maneira de ser. Mas sei lá se os meus colegas mais magritos ou mais gordinhos (ou magrinhas e gordinhas, porque isto tanto vale para eles como para elas), ou os rapazes que viam os outros a jogar energicamente futebol não tendo eles qualquer jeito ou gosto nisso, ou os que tinham o cabelo mais encaracolado ou os que tinham óculos mais graduados, ou que não conseguiam atinar com alguma matéria ou qualquer outra coisa do género, não se ressentiam quando pensavam que alguém os estava a discriminar ou a gozar.

Por exemplo, havia um rapaz que era por vezes gozado por uma certa particularidade física. Não sei se ele se incomodava. Eu, por exemplo, achava-o o mais sexy de todos, se calhar até por isso. E era apaixonada por ele. E ele por mim. Se ele sentia que o gozavam nunca percebi que isso o molestasse até porque, para além do mais, isso não impedia que o seu amor por mim fosse retribuído. Mas, se agora o questionasse sobre o assunto, o que será que ele diria? Será que guardou mágoas? Que se sentia revoltado? Envergonhado? Será que aquela irreverência e rebeldia que lhe era tão peculiar resultaria em parte disso?

Hoje estamos todos mais sensibilizados para estes fenómenos. As pessoas já falam mais abertamente das suas ansiedades, dos seus medos, e todos já respeitamos o sofrimento alheio, sofrimento esse que se manifesta das mais variadas maneiras, podendo até ser recalcado ou sublimado.

Quando ouço testemunhos como o do Felca fico a pensar nisto. Quando ele, já com 18 anos, contou aos pais o que se tinha passado nos últimos anos, eles desataram a chorar. Compreendo-os bem. Queremos o bem, a felicidade, o melhor para os nossos filhos. Saber que eles sofreram em silêncio e que não fomos capazes de os ajudar deve ser muito doloroso.

Todo o cuidado é pouco na atenção a prestar aos outros, em especial se forem crianças ou adolescentes. Ter atenção a pequenos sinais, estar muito presente, querer saber, mostrar aos filhos que se está e estará sempre ali para eles é fundamental.

Quando o Felca, que tem milhões de 'seguidores', diz que ainda hoje tem fobias sociais, que ainda tem muitos medos, que, por exemplo, ainda tem dificuldade em ir ao mercado, percebe-se como tantas vezes algumas pessoas têm males profundos, difíceis de desenraizar, que, como ele, cristalizam dentro de si. E percebe-se também como tantas vezes as pessoas que vemos e que julgamos que conhecemos podem, afinal, guardar segredos de que jamais desconfiámos.

Felca fala sobre Ansiedade e Bullying com Drauzio Varella


Desejo-vos um belo dia de domingo

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