sexta-feira, setembro 12, 2025

O palerma dos hambúrgueres, a última sondagem, o brutal ataque à democracia a que se assiste nos Estados Unidos... e etc.

 

Depois de ter escrito o post de ontem sobre os atentados à racionalidade, à justiça, à ética, ao decoro, à verdade (e a tudo o mais que queiram juntar) por parte de muitos militantes do Chega, chegou a notícia de que um ex-dirigente do Chega quer pagar para evitar julgamento por prostituição infantil. Ou seja, quando se julga que é impossível piorar, piora mesmo. 

Depois veio o momento caricato do Ventura -- naquele seu tom indignado, superior --, a vir divulgar que o Chega tinha votado contra a ida de Marcelo ao Festival dos Hambúrgueres, até porque, diz ele, é inadmissível que os impostos dos portugueses sirvam para pagar tamanho disparate. Como já foi amplamente parodiado, confundiu a Festa dos Cidadão com um festival de hambúrgueres. 60 carneiros sentados no nosso Parlamento e que estão a ser pagos com o dinheiro dos nossos impostos votaram com as patas, sem saberem o que estavam a votar.

Tendo sido ridicularizado por todo o lado, o que fez Ventura? Pediu desculpa? Não, senhor. Disse que se tinha enganado mas que a culpa tinha sido do Marcelo por andar sempre a viajar... e atirou com um número absurdo de viagens, dez vezes superior à realidade. Porque diz tantas mentiras? Porque faz tantas acusações disparatadas? Má fé, impreparação, desapego da verdade? Seja o que for, é mau demais.

Mas se a reputação do Ventura e da escumalha que se juntou a ele no Chega deveriam merecer o mais frontal e inequívoco repúdio de toda a população, não entregando um único voto a tal agremiação de marginais, mentirosos, incompetentes, mal-formados... o que se verifica é que uma parte significativa da população votante é igual ou pior a eles pois, segundo a última sondagem, aponta-se para o Chega a liderar as intenções de voto, caso houvesse agora novas legislativas. 

Pasmo com isto. Como é possível? As pessoas estão parvas? Ou, pior que isso, são parvas?

Penso que é tempo de se encarar a realidade: para evitar o descalabro (como o que está a acontecer nos Estados Unidos, um descalabro aterrador), há que entender, por dentro, as razões de tanta gente se rever neste culto, no culto Ventura. Provavelmente há que perceber que maioritariamente é gente que não lê jornais (muito menos livros, claro), que não ouve notícias, que apenas consome o lixo veiculado pelas contas das redes sociais do Chega, gente muito ignorante a quem não vale a pena tentar convencer através de factos, de números ou de gráficos pois, com certeza, nem a tabuada sabe, muito menos sabe interpretar gráficos, gente sem bases morais ou culturais, gente que se sente integrada no meio de um partido de meliantes.

Tudo isto preocupa-me demais.

As redes sociais, no meu caso, o Instagram, tem tido um lado positivo: traz-me o acesso à opinião de muitos senadores e congressistas americanos, de muitos jornalistas, de governadores, de gente da Justiça (alguns dos quais varridos pelo Trump), e o que ouço e vejo é aterrador, como se, num par de meses, todos os checks and balances, tal com os freios e o sistema de emergência do Elevador da Glória, tivessem deixado de servir para o que quer que fosse. Dá ideia que se partiu ou desprendeu o cabo da democracia e, inesperadamente, toda a sociedade americana se vê virada do avesso. 

O impensável passou a ser o quotidiano. A ignorância, a incompetência, o revanchismo, as perseguições gratuitas, a prepotência, a rudeza, a malvadez, a subserviência, tudo o que enoja, tudo isso é o que agora impera. 

E tudo isto perante a incapacidade de reacção dos democratas. Parece que estão anestesiados, sem reação. Aliás, para dizer verdade, nem sei quem é o mais poderoso dos democratas: ainda será Biden? Aquele senhor da Câmara dos Representantes? o líder dos democratas no Senado? A Kamala ainda mexe? O que se passa para estarem tão entorpecidos? Parece que apenas Gavin Newsom estrebucha. Mas não é suficiente. Perante os tremendos riscos há que haver uma força que se levante e defenda a liberdade, a democracia, a ética, a moral.

Mas não há.

E à medida que vou lendo, que vou ouvindo, que vou cruzando informação, mais aterrada fico. Sou radicalmente contra teorias da conspiração. Nada disso faz minimamente o meu género. Sou pela objectividade, não pelas suposições infundadas, pelo diz que diz. Só que, nestes domínios, em especial quando há muita patifaria, muito narcisismo, muita psicopatia e muito poder envolvidos, há um mundo paralelo, subterrâneo, do qual apenas nos vamos apercebendo à medida que alguém repara numa ponta solta, outro alguém a agarra e a puxa, outro se esgueira para ver de onde vem... E, portanto, a única coisa que, em concreto, sei é que, nos Estados Unidos, pouco ou nada sei sobre os mais recentes escândalos, atentados, suicídios, homicídios com contornos políticos. Volta e meia dou por mim a querer estabelecer ligações, relações causais. Mas detenho-me. Não sei o suficiente sobre o que se passa para poder, sequer, raciocinar.

Neste tema do jovem que foi assassinado, Charlie Kirk -- alguém que pregava a favor da violência, do porte de armas, alguém que defendia que era aceitável que todos os anos morressem pessoas assassinadas pois isso justificaria o tema da permissão do uso generalizado das armas, alguém abertamente xenófobo, racista, misógino, alguém que mobilizava fortemente a camada jovem do movimento MAGA, mas que, apesar disso, obviamente merecia viver --, estou em crer, a partir do que tenho lido e ouvido, ao constatar que há quem formule algumas dúvidas sobre alguns factos anómalos que envolvem todo o crime, que muito do que não se sabe talvez possa ser mais importante do que o que se sabe. E essa nebulosa que agora parece envolver tantas coisas naquele imenso país ainda torna tudo mais assustador.

Por isso, por tudo o que se vai sabendo sobre o que está a acontecer nos Estados Unidos (já para não falar de casos mais antigos como a Rússia), penso que deveríamos excomungar todo o populismo, todos os que dividem para reinar, todos os que instilam ódio na sociedade, todos os que não respeitam escrupulosamente a democracia, a liberdade, o respeito pela lei e pelas instituições democráticas. A dúvida é: mas como fazê-lo de forma eficaz? 

Aceitam-se sugestões.

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Nota

Claro que leio todos os vossos comentários, claro que os agradeço, os comentários enriquecem o blog, muitos leitores se calhar têm mais curiosidade em ler os comentários do que o que eu ou o meu marido escrevemos. Mas tenho andado com pouco tempo. E continuo a ter este hábito peregrino de só escrever no blog às quinhentas da noite o que faz com que, quando acabo, esteja com sono. Por exemplo, agora que já passa, e bem, da uma e meia da manhã, ainda quero ver os mails (... e já perdi a conta aos que também não agradeço e a que não respondo...) e ainda quero ir espreitar uma notícia cujo título me intrigou. Por isso, mais uma vez não vou responder ou agradecer os comentários. Por isso, peço as minhas desculpas.

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Desejo-vos uma feliz sexta-feira

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