O que está a passar-se nos Estados Unidos -- em que uma democracia que pensávamos robusta e com mecanismos de defesa e controlo rapidamente soçobrou às mãos de um doido varrido, em que parte da sociedade parece adormecida, passivamente a ser sugada para um regime despótico, em que, por medo, instinto de sobrevivência ou puro oportunismo, outra parte parece adaptar-se bem aos repentes, aos disparates, às conversas erráticas de um presidente que não ouve ninguém, às suas decisões prepotentes e absurdas, ao seu autoritarismo agressivo, aos seus ímpetos vingativos -- traz-me preocupada.
Ao assistir a isto, constato que as democracias -- regimes assentes na crença da bondade alheia e no respeito pelo outro, mesmo quando o outro é contra a democracia -- são vulneráveis, muito mais frágeis do que eu poderia imaginar.
E o que assusta ainda mais é que os tiranetes que, por todo o lado, em todos os países, brotam de sob as pedras parecem sentir-se 'empoderados' ao verem estes exemplos em que a maldade impera, impune, vingativa. E, por efeito de mimetismo ou de contágio, vão ganhando cada vez mais força.
Parece haver traços psicológicos comuns entre os diferentes ditadores ou aspirantes a tal, e é normal que assim seja. Uma pessoa mentalmente escorreita, generosa, respeitadora, empática, não consegue mentir sem vergonha, não consegue insultar e humilhar os outros sem ficar com um peso na consciência, não consegue ser vil, cruel para com os mais vulneráveis sem se deitar, à noite, atormentado por remorsos. Apenas os que têm uma 'certa' pancada conseguem ser assim e seguir em frente, sem um pingo de arrependimento, sem um pingo de vergonha, sem um pingo de humildade, sem um pingo de empatia.
Vou partilhar um vídeo muito interessante. É longo mas vê-se de gosto. Está legendado embora, de vez em quando, a legendagem não seja perfeita.
Tenho vindo a acompanhar os podcasts de Joanna Coles no Daily Beast, nomeadamente o sempre interessante Inside Trump's Head com Michael Wolff. Mas desta vez o convidado de Joanna Coles é outro e é uma pessoa que se exprime de forma didáctica e, ao mesmo tempo, divertida: John Gartner, um reputado psicólogo.
E se é mais ou menos inequívoco, aos olhos de todos, que ter um doido varrido ao comando de um país como os Estados Unidos é um daqueles perigos existenciais contra os quais deveria haver medidas de mitigação, a verdade é que o mais assustador é que verificamos que aparentemente não há. Em situações 'normais', um maluco destes já deveria ter sido afastado e colocado num hospício em que fosse garantido que não faria mal a ninguém. Mas não. O que assistimos é que desde empresários, os mais ricos do mundo, a chefes de outros Estados, todo o mundo o reverencia e bajula. Em vez de se assistir a um movimento colectivo de rejeição, o que vemos é justamente o contrário: todos vão ao beija-mão, todos lhe lambem o rabo.
E eu assisto enojada a isso. Enojada.
This is What Proves Trump’s Dementia: Psychologist | The Daily Beast Podcast
O Dr. John Gartner, antigo professor da Johns Hopkins e co-apresentador do podcast "Shrinking Trump", junta-se a Joanna Coles, da Beast, para apresentar um diagnóstico arrepiante: Donald Trump apresenta sinais de demência, somados a um narcisismo maligno. Com base em décadas de experiência clínica, o Dr. Gartner explica como a linguagem decadente, o andar errático e as anedotas perturbadoras de Trump apontam para uma deterioração cerebral que o torna não só imprevisível, mas também excecionalmente perigoso no cargo. Coles pressiona-o sobre como o narcisismo de Trump se compara com a persona pública do Rei Carlos, se o seu gabinete e família estão a afastar-se da sua volatilidade e o que significa quando um líder com códigos nucleares também apresenta sintomas de mini-derrames e confabulação. Da psicologia de Hitler ao narcisismo benigno de Bill Clinton, este episódio explora a forma como o poder amplifica a paranóia, a crueldade e a decadência — e coloca a questão mais clara de todas: à medida que Trump enfraquece física e mentalmente, ao mesmo tempo que reforça o seu controlo sobre a autoridade, até onde pode ir o trumpismo antes de destruir a América?
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