domingo, novembro 26, 2023

O do costume + heaven, oh so beautiful.

Ponto. Parágrafo. Espaço. (para não contaminar o resto do post)

Os passistas, os moedistas, os rangelistas, os cavaquistas, as galinhas histéricas e a múmia que foi abençoar os mencionados mais o risonho Montenegro com o seu pouco saudável bafo

 

Havia um ténue cheirinho bom a queimada. Quase parecia um cheirinho a lareira vindo de longe. Tudo bom, tudo bonito. Adoro lá estar. Adoro, adoro.

Mas tivemos que vir. 

Lanchámos com parte da família. Chegar e abancar soube-me bem. Tínhamos pensado parar algures para não aparecermos de mãozinhas mas recebemos indicações de que era para levar nada, nada. Portanto, foi isso. O meu marido disse: 'Bom, se já lá há lanche, só se formos comprar menus do mcdonalds...'. Informei, não fosse isso causar algum mal-estar. Mas também fomos impedidos. 

Portanto, de mãozinhas mesmo, foi mesmo apenas lanchar. E o lanche bem bom.

O pior foi o telefonema. A crise, o desespero, o alarme, o drama de sempre. Depois, ao tentar perceber o que se passava, já não era bem aquilo, era coisa que, a meus olhos, é menor. Ainda por cima, omite indicações que ajudam a dimensionar o que diz. Reporta as coisas descontextualizadamente, exageradamente. E, na cabeça dela é, como sempre, como todas as vezes, uma situação terminal. Para a equipa clínica deve ter valido zero pois não me ligaram e o médico nem a foi ver. Já devem estar a perceber o que se passa pois nos primeiros dias ligavam-me sempre. 

A verdade é que, apesar de ser o mesmo todos os dias de há bastante tempo a esta parte, fico num stress, preocupada, sem saber o que devo fazer, sempre no receio de que desta vez seja a valer. Bem que a família me diz que agora já não sou eu que tenho que fazer alguma coisa pois por alguma razão ela agora está num sítio com equipa clínica diária. Mas como o médico não a vê todos os dias (porque já deve ter percebido que nada daquilo corresponde ao drama que ela pensa que é), fica ainda mais insegura, exponenciadamente aflita, com medo de estar a ser descurada. E então ainda mais empola e dramatiza, certamente para conseguir que o médico vá lá amanhã de propósito (como já aconteceu no fim de semana passado).

Bem posso tentar relativizar mas é uma pressão tão, tão, permanente, tão, tão, em crescendo, que a minha cabeça não tem tempo para se restabelecer antes do drama que se segue (porque não há um dia, um só dia, em que ela não pense que está em estado gravíssimo, sem retorno, e que aja como se quisesse convencer-me de que devo tomar imediatas providências -- mas quais...? quais, senhores...?).

Mas, enfim, adiante. Adiante. Adiante. Adiante. (Tenho que me puxar da fossa em que parece que estou a enterrar-me). ´

Entretanto, ligou-me há pouco uma amiga que, ao contar-lhe eu esta situação, me perguntou se não seria já uma forma de demência. Os meus filhos e o meu marido acham que é. Eu não. Mais me inclino para depressão, paranoia, coisa assim. O raciocínio dela e todo o discurso bem como a memória estão intactos, tudo funcional, surpreendentemente bem. Dizem-me todos que pode ser algum tipo de demência em que não controle as emoções nem consiga raciocinar para relativizar os medos. 

Contou essa minha amiga que o pai, um dia, do nada, saiu-se com uma conversa desprovida de sentido deixando todos sem perceber o que era aquilo. E que, a seguir, se tornou agressivo, desconfiado, via coisas, imaginava coisas, tornou-se uma ameaça. 

Ora isso corresponde ao tipo de demência que se identifica enquanto tal, ao passo que, no caso da minha mãe, se é demência, nunca de tal tipo ouvi falar.

Mas, pronto, vou parar com isto. Stop. Stop. Stop. Interrompam-me, digam-me que não volte a falar nisto, enfiem-me numa camisa de forças.

Vá, adiante. 

Cá vou.

Já em casa, a jantarmos uma pizza que comprámos pelo caminho, vimos parte das notícias.

E não dava para acreditar no que via. Em Almada, o encontro dos festivaleiros laranjas. Tudo gente datada, fora de prazo. Montenegro, sorrisinho matreiro, a dizer insanidades, disparates atrás de disparates. Depois vi o Rangel a fazer olhinhos e trejeitos enquanto o Montenegro esparvoava. Provavelmente, também falou e imagino bem os trocadilhos, os esgares, a vozinha escaganifada. Ou seja, a barraquinha ainda deve ter sido maior. E, se calhar, enquanto falava, estava o Montenegro com aquele seu sorrisinho de quem não percebe nada do que se passa à sua volta pelo que mais vale sorrir a ver se disfarça.

Ouvi também o Moedas e é outro daqueles esganiçados que não dá para levar a sério. Cantam de galo mas não passam daqueles galinhos da Índia que fazem muito barulho mas a que ninguém, na capoeira, presta qualquer atenção.

Para cúmulo dos cúmulos, vi que apareceu por lá a célebre múmia que, de vez em quando, aparece a dar à mandíbula, parece que quer ganhar balanço para bolsar a azia em forma de palavras, com aquele arzinho ressabiado de quem não consegue conviver com a vida real. Falou, falou e não conseguiu dizer uma que se aproveitasse. Contudo, atrás dele, o Montenegro parecia satisfeito por ter recebido a visita daquela assombração e isso diz muito sobre ele. Se fosse eu corria a sete pés. Foge. 

A seguir, a televisão mostrou o omnipresente Ventura a troçar, de alto, do Montenegro e do PSD no conjunto.  Não sendo nada, o Chega, fruto de ser permanentemente levado ao colo pela comunicação social, consegue parecer que é alguma coisa. Um partido fascistóide, populista, vazio de propostas concretas, constituído por gente desclassificada, vários a contas com a justiça, e aí anda sempre nos écrans das televisões. Uma aberração parida sobretudo pelas televisões.

O IL a desfazer-se, o CDS inexistente, o Chega que não passa de um populista com um bando de saudosistas de outros tempos atrás, e, para ajudar à festa, um PSD que mais parece um conjunto de salvados de um naufrágio qualquer. Até a Marilú dos Swaps eu lá vi naquele circo que montaram em Almada. 

Face a este pindérico panorama, teria o PS que se pôr a dormir na forma para não agarrar uma maioria confortável nas próximas eleições -- e isso não vai acontecer. 

Tomara é que a abstenção, em especial por parte das pessoas que têm neurónios, não dê cabo da lógica. 


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As fotografias, como é bom de ver, foram feitas in heaven. Como poderão reparar, apesar de não serem um luxo, não as quis contaminadas pelo bafo do Cavaco nem pelo dos seus descompensados apoiantes. Por isso, coloquei-as fora dessa parte do texto. 

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Isto está um bocado maçador, não está?

Se estiverem de acordo, vamos mas é dançar. Boa?

Paolo Conte - It's wonderful - Via con me


Desejo-vos um bom dia de domingo

Saúde. Ânimo. Paz.

8 comentários:

Anónimo disse...

Cara UJM,
Há dias vi na televisão uma médica neurologista arrumar as dores crónicas em três grandes gavetas.
- dor causada por uma lesão física (queimadura, artrose …)
- dor associada a lesões no sistema nervoso (formigueiros, choque eléctrico, queimor …)
- dor resultante duma percepção alterada dos estímulos pelo cérebro (cefaleia de tensão, fibromialgia …
Fiquei impressionadíssimo com esta última gaveta. Pareceu-me do domínio da ficção ou da maldade da AI. Mas como é real, se uma percepção alterada pelo nosso cérebro nos pode causar dor, também nos poderá sentir ou tornar doentes.
Não sei se isto tem algo a ver com as reações da sua mãe, se a neurologia pode ajudar.
Um bom domingo.

Anónimo disse...

Que nojo toda esta gente do psd e afins!!

ccastanho disse...

Cara UJM

Começo a desconfiar que a estratégia da direita, é reforçar o chega para o PSD perder, e depois nas próximas, darem a mão a Passos, só pode ser assim, porque razão as televisões dão tanto palco ao Chega? Isto é conspiração minha , ou será mesmo verdade...

Eu também concordo com UJM na lógica de votar PS, sobretudo, a quem mais beneficiou diretamente nos rendimentos sociais e outros.

Há uma semana mais coisa menos coisa, tive conhecimento de uma jovem Mãe solteira com dois filhos, cuja renda da casa, leva a uma taxa de esforço muito acima do plafond, e, por via disso, lhe tinha sido depositado em conta 200€ mensais com retroatividade segundo julgo saber a Janeiro deste ano.

Ora, não faço ideia de quantos milhares de pessoas nestas circunstância há no país a receber estas verbas, mas uma coisa me parece óbvia, não acredito que estas pessoas votem na direita e não em quem lhes proporcionou estas ajudas, para além de creches gratuitas, aumentos salariais, reformas, enfim, e outras coisas.

ccastanho disse...


Decididamente Marcelo hibernou. Há um Marcelo do antes 7 de Novembro, e outro no depois dessa data.
Há pouco tempo o Presidente corria para os jornalistas, agora foge deles. Esquisito isto.

Anónimo disse...

Cara UJM,
Além das causas de dor acima referidas há também, e tão frequente,
a angústia da fragilidade, da separação física dos entes queridos, o medo aterrador de morrerem sem os terem por perto.
Esse quadro de stress psicológico leva a alterações fisiológicas, fisicas

Um Jeito Manso disse...

Caro 1º Anónimo

A minha mãe não apenas acha que está doente, e em cada dia, suspeita e queixa-se de uma coisa diferente, como tem ainda mais medo dos efeitos secundários dos medicamentos pelo que, de cada vez que começa um medicamento novo, arranja maneira de o parar imediatamente pois 'sente' todos os efeitos secundários que lê na bula e no google. Identicamente atribui todas as doenças aos medicamentos que não pode deixar de tomar e tem feito de tudo, e quando digo 'tudo' é mesmo tudo, para convencer toda a gente que está cada vez pior devido aos medicamentos (embora todos os muitos médicos já consultados) se recusem a retirar a medicação e afirmem categoricamente que é impossível causarem o que ela diz. Ela diz, quando eles não estão a ouvir, que vão informar-se e ler as bulas que verão que ela é que tem razão. Por outro lado, quer estar sempre a fazer análises e exames mas recusa-se a fazer os mais invasivos ou recusa-se a levar o contraste em exames de imagiologia (coisa que só descubro quando leio nos relatórios que ela se recusou a tal, coisa para a qual ela arranja mil desculpas). Ou seja, não sei se é uma questão localizada algures no cérebro que possa ser tratada (até porque se recusaria a fazer exames que suspeite que são mais complicados e se recusaria a tomar novos medicamentos).

Agora imagine isto, associado a uma memória assombrosa, a um raciocínio rápido e a uma capacidade (e quase vício) de pesquisar na internet.

Mas ela tem sido vista por não sei quantos médicos e agora está a ser seguida de perto por um fixo, que se tem ocupado dela desde que ela foi para a residência assistida onde está e para onde foi deliberadamente para estar rodeada de enfermeiros e com um médico 'sempre à mão'. E eu apoiei pois eu já não sabia o que fazer à minha vida pois, por vontade dela, eu levava-a todos os dias para as Urgências ou ia percorrendo todos os médicos da cidade até descobrirmos um que a pusesse como ela era quando era nova, mas que o fizesse sem medicamentos, por obra e graça.

Obrigada pelos seus esclarecimentos (muito úteis) e pelo seu cuidado. Fico sempre sentida quando vejo que Leitores que não conheço são generosos e simpáticos. Receba um abraço agradecido.

Não sei... Acho que ainda dá com todos em malucos

Um Jeito Manso disse...

Últim@ Anónim@

Não sei se o que diz se aplica no caso da minha mãe pois sempre fui muito presente, não só estando com ela presencialmente bastante amiúde como falando com ela ao telefone duas vezes por dia e indo lá de todas as (muitas) vezes em que achava que estava em estado terminal. Pelo contrário, ela é que quer estar cada vez menos com os netos e bisnetos pois arranja sempre desculpas para eles não irem visitá-la mas à senhora que a ajudava em casa ela dizia que os miúdos nas escolas apanham viroses e ainda lhe pegam alguma e não precisa de arranjar coisas para morrer mais cedo. Identicamente, também deixou de querer vir a minha casa pois tem medo de não se sentir bem e estar mais longe do hospital ou porque os miúdos vêm cá muito e não apenas fazem muito barulho como podem pegar-lhe alguma coisa.

Ela sempre foi avessa a medicamentos. Aliás, sei agora que não os tomava. (Pelos vistos não foi má ideia... pois aos 90 já chegou...). Nunca quis que ninguém controlasse isso. Nunca quis ninguém a verificar o que (não) tomava. Nunca deixou que eu a visse a tomar medicamentos. Por vezes dizia que tinha tomado e eu tinha quase a certeza absoluta que o não tinha feito.

Até que a sua situação se agravou e soubemos, com surpresa, que estava não medicada. A partir daí foi o descalabro pois tem forçosamente que tomar alguns e, segundo ela, os medicamentos estão a dar cabo dela (note-se, segundo ela, não é a doença ou a idade... são os medicamentos). A senhora que ia lá a casa desesperava com ela pois sabia que ela não tomava os medicamentos, sabia que ela não me contava a verdade. E a minha mãe também já não suportava que a senhora percebesse que ela não tomava os medicamentos e temia que ela me contasse. Aliás, dizia mal dela, dizia que eu não devia falar com ela, não devia acreditar no que ela dizia, etc. Portanto, resolveu que ali, onde agora está, não apenas há equipa clínica como imaginou que estava 'à larga'.

Mas aqui não apenas são eles que lhes dão os medicamentos como me telefonam a reportar tudo. Por isso, anda desesperada porque acho que tudo lhe saiu ao contrário do que pretendia. E, por outro lado, todos os dias tem toda a espécie de sintomas, deixando a equipa à nora.

Eu ainda tenho esperança que saibam lidar com casos assim e que consigam tranquilizá-la, para ver se não desperdiça a vida. Há cerca de dois anos que entrou nesta espiral mas, mais gravemente, talvez há uns nove meses, quando se detectou que a sua condição física se tinha agravado consideravelmente por não estar medicada e passei a acompanhá-la às consultas (entrando mesmo para o consultório). Antes pela covid e dado que ela está mais que lúcida, eu não podia entrar. Agora, como entro e ouço o que os médicos dizem, já não tem grande margem para se furtar à medicação.

Enfim.... (Não falei no post... e vim para aqui falar no mesmo... Razão têm os meus filhos e o meu marido quando dizem que já estou também pirada... Peço desculpa...)

Obrigada.

Um abraço.

Um Jeito Manso disse...

Ccastanho e Anónimo que também não gosta do PSD,

Ando um pouco deslocada destes temas, só de raspão...

Mas tenho para mim que os da IL vão desintegrar-se. O Chega desintegrado já está, as televisões é que andam com os cacos ao colo a fazer de conta que o Chega é um partido a sério. E o PSD é um saco cheio de gatos e de naftalina.

Por isso, tenho esperança que as pessoas reconheçam que, apesar do que as más línguas possam dizer (e de uma ou outra coisa menos boa), o PS ainda é o partido mais responsável, mais aberto, mais atinado.

Portanto, é preciso é que as pessoas que têm os pés na terra e neurónios dentro da cabeça vão votar.

Tenhamos esperança.

Abraço