segunda-feira, dezembro 26, 2022

Ementa do almoço de Natal -- um post culinário com reportagem fotográfica

 



Estou aqui a ganhar coragem para desencostar a cabeça do sofá para escrever. Acordei bem, provavelmente ainda sob efeito do paracetamol da noite mas, para a tarde, o torcicolo começou a mostrar os dentes e agora está aqui a morder de uma maneira... Tenho que tomar outro mas, como também estou com sono, prefiro escrever agora e, só depois, quando for para a cama, o tomar.

Não levem a mal que não agradeça os comentários ou não responda aos mails. Vai a caminho da uma da manhã e estou um bocado incapacitada. 

O dia foi muito bom, talvez dos melhores dias de Natal. Todos bem dispostos, todos com tempo, todos a mostrando gostar de estar na conversa. A lareira estava óptima, a deitar um quentinho bom e, aos poucos, fomo-nos juntando ao redor a contar histórias e recordações, a rir, os miúdos contentes por ouvirem histórias da família.

Claro que isto foi já à noite, quando a maltinha miúda já tinha gasto parte das pilhas. Alguns dos meninos receberam jogos de cartas e jogos de palavras e, por isso, houve uma animação doida com o pessoal em volta da mesa. Depois de almoço e durante um bom bocado, os decibéis estavam delirantes, tamanho o entusiasmo. A minha filha também trouxe hastes de rena que punham na cabeça e argolas para os outros acertarem, atirando-as de longe. Uma festa.

E houve filmes, houve montagem de legos, um dos bisnetos a resolver fenómenos "inexplicáveis" do telemóvel da bisavó, a tia a fazer penteados à sobrinha e houve tudo o que de bom acontece quando todos estão disponíveis para conviver em harmonia.

E naturalmente houve troca de presentes (e até e pequena fera os recebeu e na foto está já a usufruir de um) e houve contentamento e alegria pela troca e pelo prazer não apenas em receber mas, sobretudo, em dar. 

Desta vez, durante um parte do dia, pusemos o ursinho na rua, senão seria o fim da picada com as mesas cheias de comida à pata de semear, com papéis e sacos all over. 

Claro que não está habituado e ficou infelicíssimo. Subiu para um parapeito e pôs-se ali e encher-nos de remorsos. 

A minha filha fotografou-o e aqui está, em baixo, coitadinho.

Quanto ao repasto, penso que gostaram da comida e isso é uma coisa que me enche de alegria. Abriu-se a mesa grande e teve que se trazer mais uma mesa grande lá de fora. E ter assim uma mesa enorme cheia de gente é daquelas coisas que me enche o coração. A mesa redonda ficou a servir de mesa de apoio, onde nos íamos servir. 

Vou contar o que foi o almoço. Uma vez, ao descrever o repasto alguém disse que era comida a mais. Por acaso sobrou alguma coisa que, quando saíram, à noite, levaram. Mas é preciso não esquecer que é muita gente e, felizmente, todos uns bons garfos.

De entrada, tínhamos polvo no forno, tostas e embrulhinhos folhados. De prato principal, açorda de galinha do campo. De sobremesa, uma menina fez arroz-doce, outra doce de chocolate, outra bolo de cenoura e vieram também filhoses, sonhos e bolo-rei, broas. E havia uvas, bombons e etc.

Quando estou a cozinhar é sempre num registo contra-relógio pelo que nunca me dá para fotografar. E quando a comida é disposta, logo várias vivalmas se acercam de prato na mão para se abastecerem. Por isso, de comida nada tenho para mostrar. 

Tentei fotografar algumas luzinhas para vos mostrar mas não ficaram grande coisa pois há sempre alguém a passar. Ficam aqui as possíveis.

Mas vou contar como fiz o que eu fiz:


Tostas

Usei pão, salvo erro de massa mãe que fatiei, finamente, no supermercado. Foi ao forno até as fatias secarem. Cá fora, cobrimo-las de queijo mozzarela ralado. Voltaram ao forno para o queijo derreter. Quando saíram, reguei ao de leve com um fio de azeite e polvilhei com orégãos. A seguir, cobriram-se umas com presunto serrano de cura longa e outras com salmão fumado. Por muitas que se façam voam num ápice.


Polvo no forno

De véspera (de véspera apenas porque tive que ir adiantando serviço) cozi o polvo, depois de descongelado. Segui o ensinamento do meu filho. Põe-se a água a ferver. Mergulham-se os polvos e retiram-se. Deixa-se que a água volte a ferver. Novo mergulho e cá para fora. Depois de ferver, vai de novo mas desta vez fica por cerca de 45 minutos, até que fiquem macios. No fim, juntei um pouco de sal. E ali ficou até que hoje escorri e coloquei num tabuleiro de ir ao forno. Coloquei dentes de alho (com a sua pele), folhas de louro, um pouco de alecrim e azeite. Envolvi bem. Deixei ficar um niquinho do caldo. Ficou um bocado (20 a 30 minutos, talvez) no forno. Quando estava com ar tostadinho e cheiroso, retirei, cortei aos bocadinhos, retirei o louro e os alhos e coloquei numa taça.


Embrulhinhos folhados

De véspera coloquei num tacho três cebolas grandes, dois alhos franceses fatiados, bastante salsa fresca, folhas de louro, um bocado de vinho branco. Sobrepus uma belo naco de cachaço de porco no qual dei uns golpes fundos para melhor cozinhar. Cobri com outra grande cebola, sal, azeite, um pouco de alecrim. Depois de levantar fervura, baixei e ficou a cozinhar lentamente até a cebola e o alho francês estarem desfeitos, a carne muito macia e o caldo bastante reduzido. Depois de desligado, com um garfo andei à volta para a carne ficar desfiada. Ficou no frigorífico. Fiz de véspera também para adiantar e para que não estivesse quente quando usasse como recheio.

De manhã, usei massa folhada fresca que comprei no supermercado. Cortei cada uma em bocados e, em cada bocado, com uma colher colocava o estufado que estava quase com uma papa. Fechei bem para cada embrulhinho ficar selado. Alguns ficaram como bolinhas, outros mais irregulares. Entretanto, numa taça juntei umas colheradas de mel, azeite e gemas de ovos. Bati para ficar um espécie de polme caldoso. Num prato coloquei sementes de sésamo. Então, envolvi cada embrulhinho naquele 'polme' dourado e depois passei pelas sementes. Na grelha do forno, que estava quente, coloquei papel vegetal e acomodei o melhor que consegui uns quarenta e tal embrulhinhos. Ficaram até estrem bem dourados. Por acaso, uns quantos ficaram um pouco tostados de mais. Tem que se estar de olho e foi na fase dos presentes, distraí-me por uns minutos.

Aprovados. Numa tigela tinha polme de maçã que penso que fazia uma boa combinação com os folhadinhos.


Açorda de galinha

Encomendei duas galinhas do campo. Não sabia bem o tamanho. Acontece que, no conjunto, tinham sete quilos e tal e, por isso, acabei por não as usar na íntegra. Mas quase.

Mal me levantei, o meu marido tirou da última prateleira da despensa, o maior tacho que temos. Coisa tipo quartel. Uma vez mais, cebolas grandes, umas quatro. Um alho francês. Umas três ou quatro cenouras grandes às rodelas. Um belo bocado de salsa. Galinhas, aos bocados, lavadas e lá para dentro com água que deitei já a ferver, água abundante, quase até acima. Um pouco de sal. Depois de levantar fervura (mais de meia hora para isso, imagine-se), baixei. Ficou ali cerca de duas horas. Ao fim desse tempo, quando a carne já mostrava despegar-se do osso, juntei um bocado de chouriço aos bocadinhos, uma farinheira (poucos enchidos pois eram mais para temperar do que para serem ingrediente principal), ovos, um por pessoa mais dois de bónus, para escalfar no caldo. Já perto do fim, juntei uns cotovelinhos (massa) e deixei que cozessem. No fim, escorri um frasco de grão de bico cozido e juntei. Juntei um molho de hortelã fresca e mexi bem para perfumar o caldo.

Entretanto, num tigela juntei azeite e coentros finamente picados. Numa outra, o mesmo mas com um bom dente de alho picado (isto porque alguns não gostam de alho). Mexi bem cada uma. Cobri o fundo de dois tabuleiros grandes e fundos com fatias de pão alentejano. Cobri-as com o azeite com coentros (um tabuleiro sem alho e o outro com). Por cima do pão, colocámos (o plural é porque esta fase já foi a duas mãos, com o meu filho) os pedaços de carne, os ovos, as massinhas, o grão, a cenoura, os bocadinhos de chouriço, rodelinhas de farinheira e, por fim, regámos com o caldo.

Devo dizer que ficou boa e creio que o grande mérito tem a ver com a qualidade da carne de galinha do campo. Nada a ver, nada, nada, nada com as galinhas de aviário. De tal forma que a minha filha, estava a comer e até achava que seria outra carne. Uma carne escura, compacta, muito saborosa.

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E foi isto. Comeu-se, conviveu-se, curtiu-se e, bem vistas as coisas, aviou-se mais um Natal. Daqui a nada estaremos no próximo, ouçam o que vos digo.

E eu agora vou tomar o desejado paracetamol a ver se tenho posição na cama pois preciso meeesmo de dormir.

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Desejo-vos uma boa segunda-feira

Saúde. Boa disposição. Paz.

2 comentários:

ccastanho disse...

Olá UJM.

Deixo aqui uma dica que aprendi neste Natal dada por um aprendiz de cozinheiro que anda em disputa comigo.

Para saborear o bom presunto pata negra, ou outro suponho eu, levamos a aquecer um prato raso
sem nada na prato, ao micro-ondas. Depois de bem quente , então, colocamos as finíssimas fatias de presunto no prato e... com um bom tinto, e um amanteigado queijo de azeitão ( não gostei tanto do serra da estrela) é chorar por mais.

Depois, como muito bem diz, há comida por todos os cantos, aqui um doce, acolá outro, depois, comida feita no Alentejo e levada para a capital com o respetivo sericaia( por exigência das filhas, a mãe tem que fazer dois ou três, para se saciarem ), e depois, fartos até não caber mais, ainda sobra outro tanto para o almoço de Natal, e ainda sobra comida para dividir por todos. É um perfeito exagero.

Continuação de boas festas.












9. e ameixas
em calda de Elvas, mais isto e aquilo, o que é uma afronta àqueles que nada ou pouco têm,

Um Jeito Manso disse...

Olá Ccastanho,

Pois já nos deu uma boa ideia. Essa do presunto servido em prato quente promete... Vamos experimentar e é já amanhã.

E como estou sem saber o que fazer para o almoço de Ano Novo, bem podia ter sugerido alguns desses pratos alentejanos...

E como adoro sericaia, acho que vou ver como se faz.

Ou vocês têm serviço de take away... posso encomendar...? 😊

Dias felizes!