Mais uma reconfissão. No carro, depois das 19, é na Antena 3 que gosto de vir. Sou fãzaça do Alvim. Acho-o um daqueles malucos inofensivos que trazem alegria às nossas vidas. Vir a ouvir o Prova Oral era daquelas coisas boas quando diariamente vinha do trabalho depois dessa hora. Claro que tinha os telefonemas à família mas geralmente arranjava maneira de me divertir um bocado com o Fernando Alvim.
Esta quinta-feira calhou, ao virmos do campo, passar das 19. Portanto, claro que ali nos posicionámos. Tinha faltado a convidada, covid oblige, e, portanto, o programa foi de tema livre. Quando isso acontece é do melhor que há. As pessoas ligam para lá e falam do que querem. E querem tudo. Piadas, provocações, desafios -- aparece de tudo. Por vezes é maluqueira atrás de maluqueira. Outras vezes, no meio daquilo, alguém liga para falar a sério. E isso ainda me dá mais vontade de rir.
Mas isto para dizer que, já nem sei a propósito de quê, alguém disse que tinha experimentado responder 'neutro' em relação a todas as perguntas do Votómetro do Observador e que a conclusão tinha sido que aquilo era uma tanga, que lhe tinha dado que o partido com o qual tinha mais afinidade era o Chega e, logo a seguir, o PSD. Achei curioso. Ainda percebo que uma pessoa que não tenha opinião sobre nada, às tantas, vote no Chega. Mas... o PSD em 2º lugar....? Hummm....
E então tocou uma campainha. A mim tinha-me dado o PS com 80% de afinidade e, inesperadamente, a seguir o PSD. Tinha achado aquilo um puro nonsense mas, num esforço de compreensão, até poderia perceber porquê.
Para já, as perguntas daquilo são simplistas e, algumas, parvas. Por exemplo, eu defendo em absoluto o SNS e a Educação Pública. Contudo, para os melhorar, não acho que a solução seja despejar-lhes em cima mais dinheiro. Acho que o que faz mais falta é reorientação, reorganização, simplificação, revisão de processos e procedimentos. Portanto, à pergunta: "A despesa pública em educação e saúde deve ser aumentada?" eu respondo que não. É que a pergunta é estúpida e destinada a enviesar resultados. A pergunta correcta deveria ser: "A educação e a saúde públicas devem continuar a ser uma prioridade?" E aí eu responderia que sem dúvida que sim.
Ou seja, provavelmente a minha resposta é usada pelo algoritmo para me aproximar do PSD quando isso é errado. Mas, enfim, se consigo identificar quais as minhas respostas que, por deficiente e enviesada formulação das perguntas, foram usadas para isso, já não consigo perceber que uma pessoa que responda 'neutro' a todas as perguntas tenha também o PSD como 2ª opção, o CDS em 3º e a IL em 4º.
Fiz outra experiência: à vez, escolhi como resposta 'neutro' e 'sem opinião'. Pois bem. Qual a conclusão do Votómetro do Observador?
Aqui está.
Ou seja, mais uma vez Chega, CDS, PSD e IL nos quatro primeiros lugares.
A seguir troquei: onde antes tinha escolhido 'neutro', agora escolhi 'sem opinião' e vice-versa. Conclusão...? Ora adivinhem...
Cá está. Novamente os mesmos partidos nos 4 primeiros lugares: PSD, CDS, IL e Chega.O que concluo é que o algoritmo está viciado, tentando indiciar opções de voto puxadas à linha editorial do Observador. Se isso for mesmo assim, será manipulação pura (para ser branda no que digo). E o Observador, ao albergar tretas destas, perde ainda mais a cara como imprensa de confiança. Mostra-se à descarada como uma agremiação de direitolas, de farsolas, de chicos-espertos sem dois dedos de testa.
Mas uma coisa é o que eu, leiga na matéria, concluo. Mas deve haver maneira de validar isto.
Não sei quem deverá zelar pelo rigor das supostas ferramentas de apoio à decisão na escolha da opção de voto divulgadas pelos órgãos de comunicação social mas alguma deve haver e, havendo, deverá agir atempadamente: auditar, validar e, se for mesmo treta, denunciar e proibir.
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7 comentários:
Riqueza, nada de admirar o algoritmo manhoso, mas escusavam de ser tão óbvios.
Um bom fim de semana.
O jornal Observador, e a sua extensão radiofónica, a Rádio Observador, não passam de órgãos de propaganda desta medonha direita que se mobiliza e marcha para se apoderar outra vez do país.
Basta atentar na composição e desempenho das brigadas de comentadores e analistas quotidianamente arregimentados para as campanhas de desinformação e manipulação (em que o Partido Socialista é sistematicamente zurzido e menorizado, quando não difamado).
É quase tudo malta da pesada, alguma directamente recuperada das catacumbas em que jazia. São propagandistas profissionais, batidos, isentos de escrúpulos, autênticos jagunços da baixa política, que preencheriam com uma perna às costas os requisitos de emprego fixados por Goebbels. Não merecem respeito.
Algumas figuras, por candura, distracção ou estupidez, aceitam passar por lá para representar o papel de idiotas úteis e emprestar uma sugestão de (falsa) imparcialidade às peças de propaganda.
O problema é que este tipo de intervenções alastrou aos principais órgãos da comunicação social, claramente dominados por essa direita caceteira e exploradora, ávida de poder e sedenta de vingança.
Procurem um – um só - órgão de informação que se possa dizer mais ou menos alinhado com o Partido Socialista. Vá lá – um só... O Expresso? O Correio da Manhã? O Público? A RTP? A CNN? A SIC?...
A democracia portuguesa tem nesta toxicidade “informativa” e manipuladora um dos seus mais graves problemas (vejam como pululam por ali os antigos chefões do PSD ou do CDS – cujo único risco, para além dos fartos proventos, é o de acabarem um dia refastelados num cadeirão de Belém ou de S. Bento).
Atendendo ao vergonhoso e assustador repasto "informativo" que é diariamente servido aos portugueses, estaremos perante uma espécie de milagre se o PS conseguir derrotar nas urnas, no próximo dia 30, a grande ofensiva reaccionária em curso... E que milagre!
Olá Falcão Vigilante,
100% de acordo. O que me espanta é como é que a malta toda parece que 'papa' isto sem se indignar.
A democracia sofre ameaças vindas de muitos lados mas uma das mais poderosas é que nos entra pelas casas, pelos olhos e ouvidos, todos os dias. Uma imparável máquina manipuladora, trituradora.
Dou-lhe razão: se o PS ganhar será milagre.
Gostei de ler as suas palavras. Venha mais vezes...
Um bom domingo!
Olá Francisco,
Sabe o que é: o descaramento parece que é aceite com passividade, com permissividade. Portanto, vão continuando...
Tantos canais, tanta necessidade de encher 'chouriços', de alcançar share, de conseguir parangonas... custe o que custar... E com a direita a enxamear tudo o que é comunicação social... Dá nisto.
Olhe, Francisco, o que vale é que há mar, há praia, há campo, há flores, há um mundo inteiro que continua a andar digam eles o que disserem. Portanto, é desligarmos deles e seguirmos em frente.
Um Belo domingo!
Há isso tudo e há blogues, felizmente...cumprimentos.
Olá José,
Mas pregamos no deserto...
As ruas estão enxameadas de um ruído em que as vozes parece falarem em coro (sic, tvi, cnn, cmtv, comentadores de televisões e cronistas de jornais: papagueiam-se, constroem cenários, manipulam, distorcem).
Bem podemos falar nos blogues, eu, o José, alguns mais... mas somos apenas um fio de voz...
De qualquer forma, muito obrigada.
Dias felizes para si.
Acha que o observador é enviesado? Então dê uma olhadela nestas "reportagens" que o Público (por muitos idolatrado como o jornal de referência) vai enfiando assim à sucapa, qual estratégia de marketing de "product placement" para vender as soluções da direita... https://www.publico.pt/2022/01/25/sociedade/noticia/alemanha-holanda-nao-ha-disparidades-acesso-saude-sejas-rico-sejas-pobre-1992444 (é tão descarado que até usam só os dois países referidos pela IL como o exemplo que pretendem seguir).
PS: a pergunta não é a mais correta mas a) e porque não aumentar a despesa ou pelo.menos a sua proporção no orçamento de estado?! b) a solução que propõe também não é muito melhor - as prioridades só fazem sentido em relação a outras opções... E para isso então mais vale contabilizar em termos de despesa....
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