Alguém me falou numa reportagem que, no outro dia, passou na televisão sobre retiros. Fui à procura, pus a antar para trás e vi uns bocados, o suficiente para achar que por cada boa ideia que aparece há sempre quem logo a transforme em treta.
Quando, sem o saber, vivi numa casa de raparigas da Opus Dei, apercebi-me que faziam muitos retiros. Convidavam-me, por vezes de forma algo insistente, para os frequentar. Eram umas raparigas cinzentas, com saias pelo joelho, camisas abotoadas até ao pescoço. Eram todas boas alunas, beatas, sonsas. Cercavam-me para que participasse nas actividades da Casa -- o jantar com o Prior, o debate sobre o aborto, o Retiro, etc Claro que nunca participei em nada e até hoje ainda estou para perceber porque quiseram lá ter-me. Pensaram que me convertiam? Mas porque estariam interessadas nisso? Não percebi e não percebo. De vez em quando, à sexta-feira, lá iam todas para só regressarem no domingo à noite. Iam para o retiro. Antes preparavam farnel. Era o tipo de coisas que a animava. Vinham de lá em êxtase.
Mais recentemente, uma colega que pratica ioga começou a ir, pelo menos uma vez por ano, para um retiro na serra, num mosteiro. Deixava o telemóvel à porta, não podia levar computador nem falar com ninguém enquanto lá estivesse. Ela gostava, dizia que era uma tranquilidade imensa. De vez em quando vai para Barcelona, também para retiros destes.
Conheço um outro, rapaz dado a desportos radicais e com uma profissão paga a peso de ouro, que foi fazer um mês de retiro na Tailândia, longe de tecnologias, longe da civilização.
Muitas vezes já aqui o referi: o isolamento num mosteiro ou seja onde for a mim não me choca. Acho que até me atrai.
Poder não me preocupar com nada, poder estar em paz, em silêncio, jardinar, regar, ouvir os passarinhos, não ter que me preocupar com o que fazer para o almoço ou para o jantar ou, em alternativa, estar na cozinha a cozinhar para uma dúzia ou uma vintena de pessoas, estar longe de notícias ou intrigas, ter tempo para ler ou para, simplesmente, estar ao sol -- tudo isso me agrada.
Mas não me imagino posta em círculo, de vestido até aos pés e todas a outras também de vestido até aos pés, não me imagino a fazer ou a ouvir rezas, não me imagino a ouvir alguém com conversas da treta como se fosse coisa das profundidades, não me imagino organizada em grupinhos e tarefinhas como se tivéssemos regredido ao tempo da escola infantil. Não me imagino.
Não é a minha praia.
Primeiro, tinha que ser misto. Retiro só de mulher para mim não teria graça. Nem percebo que cena é essa de estarem só mulheres, todas um ar vagamente retrohippie, certamente todas vegetarianas ou vegans, todas parecendo levitar na maionese. Não percebo qual a graça. Deve ser uma seca mas uma seca das valentes.
Para além disso, retiro para ser bom de verdade, teria que ter massagem. Se penso em estar num retiro, penso logo nisso: massagem, de preferência ao ar livre, ao sol. De preferência perto de laranjeiras em flor. Música de fundo, sim. Podia ser canto gregoriano, sim, que é sexy para valer. Mas podia também ser blues ou jazz.
Ao ver o documentário e ao ver a procura danada que têm ocorreu-me que ora aí está um belo nicho de mercado para quem queira investir: um Retiro
- sem conotações de espécie alguma
- onde ninguém se saia com teorias de cão de caça
- onde seja proibido as pessoas porem-se em círculo, de mãos dadas.
- um lugar tranquilo,
- com actividades para quem queira
- ou lugares para descanso ou passeio para quem esteja afim é de mandar as actividades para o espaço,
- com liberdade total para cada um (desde que não colida com a liberdade dos outros)
- em contacto com a natureza
Deve haver outros sítios assim, mas mais cosmopolitas, melhor apetrechados. Mas era o lado nada cosmopolita de Entre-os-Rios que me agradava. Ao fim de semana, chegavam ao parque das Termas vendedores ambulantes que traziam toalhas bordadas, bolos regionais. E eu gostava de andar por ali.
Um retiro deve ser assim.
Um lugar simples, agradável, tranquilo, sem ninguém a maçar-nos ou a querer entreter-nos.
E que tenha jardins, recantos, zonas de sol mas também de penumbras e sombras, lagos, caminhos bons para passear, perfumes, silêncios, pássaros, regatos, segredos inconfessáveis, pecados sem arrependimento. E em que se possa dormir até à hora que se quiser. E boa comida.
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As fotografias foram obtidas na net e mostram sítios onde se deve estar bem.
Arvo Pärt - Solitudine - stato d'animo
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Desejo-vos um dia feliz
Saúde. Boas notícias. Esperança. Tranquilidade.
1 comentário:
Bom dia HJM. Ah e uma caminhada na serra, inesquecível uma que fiz na Freita,era Outono, almoçamos em cima das pedras no meio do rio -o corpo cansado de bom a cabeça dopada dopada.
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