quinta-feira, abril 09, 2020

Quarentena com a Dona Helena -- como fazer Cloroquina em casa


Nestes dias de quarentena, teletrabalho puro e duro desenvolvido em regime de confinamento, pouco tempo sobra para a informação séria. 

Sempre que consigo espreito essa coisa do Lancet ou o tal de John Hopkins e outro de que agora, dado o adiantado da hora, não lembro o nome. Coisa sofisticated, super fashion. Quem quer estar in tem que seguir. Quando sobra disposição, dou um alôzinho a sites mais simplinhos, o WHO ou a secção do corona da DGS, saitinho ainda mais caseirinho.

Contudo, aqui o confesso: tudo coisa muito prosa, Darwin para escambau, coisa e tal de dna's e outras frescuras que não estão com nada, bobeira de gente desocupada. Inspiração da boa eu colheria nas reportagens do Bolsonaro ou do Trump que esses aí fiam-se na virgem, são crentes dos bons, não correm nem nada, que macho que é macho, para além de tomate coração-de-boi mas em negro, tem coragem para enfrentar o merdinhas, não foge a esconder-se em casa, não põe trapinho na cara e, se tiver que pôr para não dizerem que não liga, põe-no é no queixo ou na testa, mostra que não tem medo que o corona entre pela boca, porque se o cara tentar morre logo é estraçalhado à dentada.

Mas, hélas, o teletrabalho invade o meu ser, toma conta do meu tempo e, infelizmente, não tenho disponibilidade para me informar nem para me inspirar. Por isso, raciono. Raciono muito, por estes dias. Cinjo-me ao que realmente importa. Mezinha. Dica. Diz-que-diz-que. Não vou em qualquer cantiga. Selecciono as boas fontes, ouço com atenção as que que se vê à légua que sabem do que falam. Sou fã de guru.

Dona Helena é uma das que sigo religiosamente. Um dia esculpo uma imagem dela aqui num tronco, mando o meu marido benzer e ponho num altar com velinha de sebo a alumiar. Dona Helena promovida a Santa Helena. (Mas escondo não vá algum napoleão vir isolar-se para aqui. Era o que me faltava, o mal de estômago ainda se lhe pegava à barriga e me esgotava o stock de papel hisgiénico. Era o que faltava.)

Bem, dizia eu de que.

Dona Helena, que está de quarentena, faz uns vídeos para a família a que eu consigo acesso, não perguntem como. Fá-los de noite, escondida na cisterna, às escuras que é para o bicho não a pegar. Faz bem. Toda a gente devia seguir o exemplo. Mas isto há gente que não tem tino, que mal faz sol vai fingir de atleta para o paredão, vai ao shopping da feira de Matosinhos, foge para festejar a Páscoa no Algarve. Coisa assim, coisa de quem não tem noção. Gente sem noção é coisa que não se atura.

Ponho, então, aqui, o vídeo da Dona Helena para vosselências verem com os vossos próprios olhos. Eu sigo os conselhos todos dela, todos. Este aqui, hoje, é dos bons. Sabem aquela coisa que o Trump anunciou faz tempo que cura? A cloroquina? O Trump e o seu devoto Jair, bem entendido. Dona Helena sabe como se faz e ensina. Se houver ingredientes que vosselências não tenham -- eu não tenho alguns -- podem trocar. Eu já fiz a minha poção com ingredientes daqui mesmo e já provei. sabe bem e faz bem. Sinto-me até trinta anos mais nova. Posso ensinar:
Duas gotas de hipoclorito com cheirinho (o hipoclorito é da família do cloro e vende-se em garrafão e garrafinnha), uma colher de café de sal refinado, uma colher de chá de açúcar mascavado, uma colher de sopa de óleo de benzedura, uma gota de mata-piolhos, dois olhos de boga esmagados, três teias de aranha (mas sem mosca lá presa), uma colher de sopa de licor beirão (eu já tinha falado nisto), uma colher de sopa de enxúndia de perua e uma colher de sopa de banha de porco. Coloca-se num cadinho sobre lamparina e mexe-se com pata de galinha, mas pata sem unha arranjada, até tudo se derreter e misturar. Depois de arrefecer e coalhar, separa-se em pequenas doses. Coisa homeopática, que é como a ciência é mais eficaz. A seguir deve fazer-se dez vezes o sinal da cruz em cima para fechar. É melhor guardar em lugar fresco, cada dose em papel de prata, coisa parecida com Dom Rodrigo mas em versão farmacêutica na base do 3D, coisa fina.
Todos os dias, antes do pequeno almoço, depois de dar três voltas de joelhos em redor da casa e de levantar os braços ao céu gritando aleluia, logo seguido de cinco valentes cabeçadas no chão, deixa-se derreter lentamente na boca uma porção de mezinha anti-corona. 

Com este tratamento não há merdinhas que entre no corpo da gente.

Agora vocês vejam a receita de Dona Helena e vejam com que ingredientes melhor se identificam, se com os dela se com os da vossa vovó UJM. No efeito são equivalentes, isso garanto.

Já registei patente e até já tenho o Trump a querer comprar-me mas eu não estou à venda, ora essa.



Vou

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E um dia bom também para vocês. Saúde.

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Fui

2 comentários:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Ui, o pessoal das mezinhas, upa upa, vai não vai descobrem a cura para o bicho de uma penada.

https://youtu.be/8CQf1RqEcCU

Aquele abraço.

Lúcio Ferro disse...

Ridendo castigat mores. Recordou-me uma anedota contada na WWII quando um soldado inglês, acabado de ser "salvo" para um dos navios que acorriam a Dunquerque, saca do kit que lhe sobrava et voila, uma cana de pesca, arma a coisa e põe-se a pescar. Os marinheiros, considerando a bizarria, perguntam, já em tom de gozo: olha lá, estás à pesca da baleia? Imperturbável, o soldado responde: não, dos submarinos nazis...
Muito boa a página do The Lancet e da Johns Hopkins, com tantos bolsoneros que por aí andam convém educá-los.
Abraço. :-)