Não sou dada a obituários, epitáfios ou adágios. Dito assim até parece tolice pois a beleza estética pode sobrepor-se ao sofrimento que, supostamente, lhes esteve subjacente e eu, escusaria de me repetir, prezo bastante a estética da beleza. Mas a verdade é que prefiro celebrar a vida a entregar-me a despedidas.
Mas tantas vezes Lagerfeld aqui me fez companhia, tantas vezes o seu traço se estampou nas peças Chanel que aqui trouxe que hoje não poderia deixar de o ter aqui comigo. Há pessoas cuja obra transcende a sua própria vida e Karl Lagerfeld com os seus pecadilhos (como, por exemplo, o da fuga ao fisco), sendo ele mesmo um personagem icónico (aka Logofeld), deixou uma obra tão magnífica que lhe sobreviverá por muitos e bons anos.
Não foi só a moda -- mas, a moda, senhores, que imensas, belíssimas, intemporárias e diversas peças ele concebeu!
Mas foi também a fotografia. Um equilíbrio sempre tão perfeito entre a subtileza e a sensualidade, entre o claro e o escuro, entre o clássico e o contemporâneo.
Mas foi também a fotografia. Um equilíbrio sempre tão perfeito entre a subtileza e a sensualidade, entre o claro e o escuro, entre o clássico e o contemporâneo.
E as suas histórias, vídeos criados e realizados por ele. A fantasia e a elegância suspensas no tempo.
E as suas casas. Obras de arte. O apartamento de Paris, a maravilhosa casa de Hamburgo rodeada de verde.
Olha-se e pensa-se: que exagero. Mas é um exagero tão elegante, tão bonito.
Olha-se e pensa-se: que exagero. Mas é um exagero tão elegante, tão bonito.
E os livros. Milhares de livros. Li: trezentos mil livros. Duas bibliotecas imensas. Vi fotografias: uma loucura. Lagerfeld dizia que apenas tinha um vício: o dos livros. Sucumbia ao vício dos livros. Dizia que um dos melhores perfumes é o de livros acabados de fazer.
Era também dono da 7L, uma livraria em Paris, e de uma editora dedicadas à arquitectura, à fotografia, à arte em geral.
Mas a moda... Fosse couture, haute couture, fosse streetwear, fosse quase prêt-a-porter, todas as suas criações resultavam sempre perfeitas, sempre fascinantes.
E os seus desfiles! Sempre um acontecimento, sempre uma total surpresa. Um criativo absoluto. Tendo sabido manter o classicismo, a irreverência e o look de mulher independente, Lagerfeld conseguiu aliar a matriz original da fundadora, Coco Chanel, ao permanente devir do air du temps.
Como bem é sabido por todos quantos por aqui me acompanham, sou grande admiradora dos produtos Chanel. Posso não ter poder de compra para poder fazer o gosto ao dedo mas olhar e admirar não custa dinheiro.
Mas Lagerfeld era também um homem que se impunha pela indiferença à opinião alheia sobre si próprio, alguém que, depois de perder o amor da sua vida, se habituou à vida a sós com a sua muito amada Choupette.
A fama da sua língua afiada vinha de longe e há inúmeras frases que lhe são atribuídas. Escolhi algumas para aqui colocar mas há dezenas, algumas bem divertidas.
Ser feliz? Não, não sou tão ambicioso. |
Gosto de saber, saber tudo. Estar informado. Sou uma espécie de porteira universal, não um intelectual. |
A juventude é um clube em que todos os membros serão excluídos, um dia ou outro |
A personalidade começa onde acaba a comparação |
Sem comentários:
Enviar um comentário