segunda-feira, junho 18, 2018

Uma mole muito pouco humana



No outro dia li um artigo muito perturbante. Pensei aqui falar nele mas não estava com a disposição no ponto certo. De resto, é tema recorrente nas minhas preocupações -- refiro-me à conjugação de dois factores: a desregulação em que operam os desenvolvimentos tecnológicos e o alheamento em relação a isso em que vivem os poderes públicos e a classe política (a nível internacional).

Perguntava-se o autor se a tecnologia já estava a ganhar controlo sobre nós e dava vários exemplos de como os humanos já estavam a ser vítimas dos avanços desregulados que se verificavam aos mais diversos níveis desde o que se passa nas redes sociais (Facebook, agora WhatsApp e o que mais aí virá) até a casos chamados 'estranhos' envolvendo machine learning e inteligência artificial. 

É tema que me é caro e muito gostaria de ser capaz de transmitir o receio que tenho face aos riscos que sei serem mais do que muitos.


Digamos que estou crente de que a maior parte dos receios mais propalados e sobre os quais se debruçam as redes sociais ou a comunicação social são coisa nenhuma quando comparados com os riscos enormes que podem advir de um uso indevido e desregulado dos algoritmos que estão na base da dita inteligência artificial e que, quando conjugados, com a capacidade, ubiquidade e baixo custo das tecnologias se podem tornar uma real ameaça para a humanidade.

Assusta-me ver o avanço progressivo de tudo isto perante a indiferença colectiva de toda a gente. Assusta-me ver como a troco de selfies, de frivolidades sem sentido, de partilha de likes ou da volúpia do exibicionismo ou do voyeurismo as pessoas fecham os olhos a todos os riscos. 

Hoje, depois de um dia de calor e depois de trabalhos diversos, continuo a não ter grande disposição para me alongar no tema mas vi uma notícia sobre um trabalho em preparação que remetia para trabalhos anteriores do mesmo autor. Trata-se de Spencer Tunick cuja arte se traduz em grandes instalações e respectivas fotografias de nus humanos. Junta muitas pessoas nuas e fotografa-as.


Uma que me impressionou bastante, consistiu em juntar uns milhares de pessoas pintadas de quatro tons de azul. Como um rebanho de avatares, as pessoas caminhavam na rua. Depois deitavam-se no chão, amontoavam-se na rua. 

Sempre que vejo coisas assim sinto como que uma agonia interior, como se estivesse a constatar que, a troco de coisa nenhuma, as pessoas mansamente se predispõem a ser meros corpos sem vontade, corpos ao sabor de quem os comande.


Como se o futuro não precisasse de vir porque o presente já é assustador que baste: as pessoas já se prestam a tudo.

Podia passar um máquina trituradora por cima que, para aparecerem na fotografia, as pessoas o permitiriam. Não é por delicadeza que se deixam matar. É por mera futilidade, por mera estupidez.

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Falar de amor parece quase coisa de revivalismo. 


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