RECALIBRAR = desviar as atenções para aplicar um golpe, aldrabar o pagode, baralhar e dar de novo? Não sei. Pergunto. Não há por aí algum Marques Guedes que me saiba explicar? Pode exemplificar com a CES ou com qualquer outra coisa das muitas com que este governo tem recalibrado em cima dos pensionistas e funcionários públicos.

Não havendo por aí algum Marques Guedes desta vida, pode ser que haja, entre os meus Leitores, linguistas experimentados que saibam usar e interpretar a língua com mestria, quiçá sabendo encontrar o significado correcto para palavras que a novilíngua passoscoelhista vai parindo.

Ou, não havendo linguistas, talvez algum reformado ou algum funcionário público me saiba esclarecer o que significa 'recalibrar', habituados que estão a que lhes recalibrem em cima.

Eu, pobre de mim, não digo que seja mais bolos mas desta semiótica de Massamá é que não pesco peva.

Vai daí, passando a vida à nora, não tenho outro remédio senão ir à pesca ao Priberam.

Recalibrar não encontro. Ok. Já me contentarei com 'calibrar'.

ca·li·brar

verbo transitivo

1. Determinar o calibre de.

2. Dar o calibre conveniente a.

Portanto recalibrar é fazer isto vezes sucessivas, será?

Mas então bora lá ver o que é calibre.

ca·li·bre 

substantivo masculino

1. Diâmetro interior das armas de fogo, tubos, etc.

2. Peso ou diâmetro de projécteis, cabos, etc.

3. Calibrador.

4. [Figurado]  Qualidade, classe, importância.

5. Volume, tamanho.

Palavras relacionadas: vasodilatador, vasoconstritor, darmadeira, dramadeira, vasoconstrição, vasodilatação, lazarina.

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Passo por cima das palavras que o Priberam me diz que são relacionadas para não ficar ainda mais baralhada (vasodilatar os cortes nas pensões? dramadeira? lazarina? - credo, não me vou meter por aqui)

Bem, agora que já vimos o que há para saber sobre o significado das palavras base, por favor pensem comigo. O que Marques Guedes apareceu a informar sobre a forma como o Governo de Passos Coelho vai dar a volta à inconstitucionalidade do corte das pensões - que vai recalibrar a Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES) - significa o quê?

Que vão dar outra vez ou determinar outra vez o volume, o tamanho, o diâmetro, o peso, a qualidade ou o quê da contribuição extraordinária às pensões? Alguém me sabe explicar o que significa...?

Não seria mais fácil dizerem simplesmente que vão sacar mais dinheiro aos pensionistas (a esses inúteis que para aí andam que não há meio de morrerem, esses parasitas, esses velhos dum raio que ainda não aprenderam a viver do ar)? 

Não seria preferível, em vez do testa de ferro Marques Guedes, aparecerem os mandantes - o Passos Coelho e mais o vice-Portas com a sua irrevogável linha vermelha intransponível - a dizerem que se estão nas tintas para os velhos, para os funcionários públicos, para os portugueses? 

Aparecerem com bonecos na mão e, enquanto falam, irem-lhes espetando agulhas? 

Não seria menos hipócrita?

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Bom. (Bom, não: mau). Mas adiante.

É que, até aqui, estive a falar da questão linguística. 

Mas há também a questão da decência. 

É que isto que ouvi e li é uma coisa indecente. 

Ainda agora a minha mãe me dizia ao telefone, Mas tu já viste? Não têm vergonha nenhuma, roubam de qualquer maneira.

É um facto ou, se não é, parece e, em política, o que parece é.

Vejamos:

• Uma coisa é o défice orçamental e isso é um compartimento das contas.

• Outro, estanque em relação ao anterior, é o dos fundos de pensões. 

Não há - não deve haver, não pode haver - vasos comunicantes entre estes dois compartimentos. 

A questão das pensões tem a ver com as carreiras contributivas das pessoas. É verba contratada e que deve ser respeitada.

A outra questão, a do orçamento de Estado, tem a ver com gestão da máquina de estado em tudo o que isso implica.

Lá porque há má gestão da máquina do Estado, pode ir-se ali ao lado e confiscar dinheiro ao rendimento dos pensionistas?

Fico doida com isto. Tanta imoralidade, tanta desvergonha.

Esta gente rebenta com a economia, depois vêem que não têm receitas para colmatar a despesa, e, vai daí, em vez de olharem para os privilegiados de sempre e de estimularem a economia, vão sacrificando quem apanham a jeito: em especial, pensionistas e funcionários públicos. 

Que coisa vergonhosa, isto. Que desrespeito pela inteligência e pela dignidade das pessoas, credo.

Mas eu tenho que começar o ano já a maçar-me desta maneira, senhores? Ninguém me poupa? 

Venho eu para aqui na boa, a pensar em coisinhas boas, ligeiras, animadas, toda lampeira para armar aqui um folguedo e ouço uma destas.

Caraças!

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