sábado, setembro 07, 2013

Enquanto os meus amores dormem, eu rendo-me ao prazer das palavras inteligentes e luminosas e festejo, como uma menina radiante, os presentes que os meus amigos deixam aqui à minha porta. Momentos bons. __________ [Ontem o Um Jeito Manso recebeu de visita uma capicua - atenção: eu disse capicua, não catatua. Quero eu dizer: tive ontem 1.111 visitas. São sempre muito bem vindos, venham em capicuas ou com catatuas ao ombro. Muito obrigada por tudo!]


Depois de uma noite de quatro horas, de um dia dos danados, uns seiscentos quilómetros de autoestrada, muito falatório em inglês (coisa que, parecendo que não, cansa um bocado mais do que na língua nativa), depois da agitação de tipo hora de ponta a fazer jantar com toda a gente já a querer comer, e depois, à mesa, um a fazer gracinhas como querer atirar a papa pelos ares e outra a querer ir tirar um e outro cafézinho, e depois de muita brincadeira, desenhos, saltos na cama e, para rematar, a história da cinderela, eis que dormem os dois.

Mais doces, mais fofos, uns texuguinhos mais lindos. 




Amanhã juntar-se-ão os primos e a festa será ainda mais animada. Por isso, enquanto a coisa está calma, deixem-me descansar. Peace and love. And quiet night, please.


O mio bambino caro, Puccini pelas Meninas Cantoras de Petrópolis




Entre muitos milhares de sítios e muitos milhares de pessoas, coloca-me a sorte junto à fazedora de poemas que, por vezes, aqui vem deixar a luz das suas palavras. Da primeira vez soubemo-lo depois, porque aqui mostrei as fotografias onde tínhamos estado as duas a escassos metros uma da outra. Da segunda vez, porque conheço o filho (quem o não conhece?) imaginei que seria ela mas não tive a certeza nem vi como me aproximar não tendo a certeza. Ela não me viu nem me conhece. Mas sabe, a posteriori, que eu ando ali por perto, sem que ela me pressinta.

Há coisas que não se explicam.

Em dia de histórias, conto eu, pois, este conto. Era uma vez uma mulher especial com dois filhos especiais que já lhe deram três princesas muito lindas. Nuns dias ela embala as princesas, veste-as de folhos e cores, noutros deixa que os sonhos voem feitos palavras. Tenho a sorte de, por vezes, essas palavras virem aqui pousar. Esta noite tinha estas no parapeito da minha janela:

              Não analises um poema
              deixa que seja ele a explicar-te o som a cor o tamanho das coisas                                  mais banais
              deixa que ele se ilumine
              te ilumine
              e pouco mais...
              despi-lo é violá-lo
              e se o amas apenas tens de senti-lo
              e tão só
              amá-lo


Mas eis que o Poeta-Filósofo me desarma. E eu rendo-me. Touchée.

Diz ele:



Ocorreu-me agora uma coisa sobre a análise poética. 

Há um prazer específico que lhe está associado. 

Esse prazer tem uma natureza infantil e é idêntico ao da criança que, depois de brincar com um certo brinquedo e porque gosta dele, o vai desmontar para ver como funciona. 

Esse desmontar nasce de um acto de amor. O que se pode concluir daqui? Que a análise é um acto infantil. 


Talvez, mas há uma outra possibilidade: pode-se concluir que o amor é uma coisa perigosa. 

Por exemplo, só analiso poemas de que gosto. 

Relativamente à criança o analista tem uma vantagem. O brinquedo desmontado raramente volta ao que era. O poema permanece na sua inteireza. 

Há ainda uma outra coisa, e essa é perversa. Há duas formas de pureza, a da razão e a do coração. 

A filosofia estriba-se na pureza da razão, a sua leitura da poesia, na pureza do coração. 

A análise provoca a contaminação e utiliza a razão para alcançar um excesso de gozo, para um prazer que ultrapassa o prazer inicial.



Com esta argumentação, já percebo melhor a motivação de quem abre um poema para o ver por dentro. 

E que palavras maravilhosas.

Já o jrd tinha concluído e, como sempre, directo e certeiro:

Jorge C. Maia para além de ser um filósofo é também um grande poeta, por quem tenho uma enorme admiração, mesmo quando dele discordo.


Um dia comentei no Kyrie Eleison que "a poesia é uma arma carregada de futuro" (Gabriel Celaya) e ele não concordou. Que fazer, pergunto eu, se os Poetas sabem sentir muito mais do que nós?


Pois é, jrd.

É claro que um engenheiro (engenheiro que é engenheiro é engenheiro toda a vida) fala outra linguagem (mesmo quando também é poeta). E diz: Quando eu era engenheiro de telecomunicações aprendi que para comunicar é necessário um emissor, um canal de comunicação e um receptor e claro, uma linguagem percetível a ambos e capaz de ser transmitida. A arte para mim é essencialmente uma forma de comunicação de emoções, de sensações, de “estados de alma” ( que infeliz esta expressão!!!). Se o emissor não faz a mínima ideia de que está ou o que pretende comunicar e se o canal de comunicação, o texto ,a escultura ,a foto, a pintura não funciona, o pobre do receptor só por acaso poderá receber alguma coisa. E se recebe não é obra do “artista” mas sim do Senhor Acaso.

Quer que eu o rebata, Senhor Engenheiro? Lamento. Não o faço. Concordo.

Paula Rego
(Feias? Macacadas? .... Não acho.
São mulheres normais, apenas isso)

Mas antes já me tinha dado motivos para o fazer. Disse: 

Porque me irritam solenemente o Pedro Cabrita Reis ( com uma sala dedicada na Tate Modern) ou o Julião Sarmento (o artista plástico que mais vende no estrangeiro) ou até a Paula Rego (com personagens sempre horrendamente feias, prefiro de longe as macacadas que fazia anteriormente), a Gabriela Llansol (com tracinhos originais em vez de palavras), o Gonçalo M Tavares (totalmente incompreensível) ou o António Lobo Antunes actual ( um híper chato labiríntico)





E aqui tenho pontos para discordar. Rebato quanto a Paula Rego, uma pintora 'maluca' cá muito da minha estimação, ou a Maria Gabriela Llansol com palavras fantásticas por entre os tracinhos. Quanto aos outros também não rebato, com excepção para as Crónicas de Lobo Antunes.


E depois chega uma pessoa muito querida, tratadora de mantos de anjo, que, por pura generosidade, uma generosidade que agradeço, perde toda a isenção e diz uma enormidade destas:  Parabéns pela escritora, pintora, criadora, etc., que é. 

Aqui é que eu tenho que rebater à séria: pela imensa admiração que sinto por escritores, pintores, criadores artísticos em geral, tenho que dizer com toda a sinceridade: gostava muito de ser isso tudo - mas não sou. Sou uma aventureira, uma descarada, uma inconsciente, sou muitas coisas deste género mas escritora ou pintora, lamento muito, mas não sou. 

Sou uma menina deslumbrada pela arte e pela inteligência dos outros, pela natureza, pela beleza, pelo cheirinho bom dos meus amores pequeninos, pela vida, pelo que conheço e pelo que sei que um dia hei-de ainda conhecer e também pelo que sei que jamais chegarei a conhecer. 

Recebo dos meus amigos presentes valiosos, sorrisos, palavras que me tocam e maravilhas como os vídeos que me foram enviados. Escolho um deles, aquele que representa uma menina como eu.




"Argine" - Wonderful animation


****

A fadinha voadora e a bailarina suspensa, penso que já anteriormente aqui mostradas, e que agora se encostaram às palavras do JCM, são pequenos seres que se movem quando a janela deixa entrar a aragem e que, deste modo, espalham graça sobre mim enquanto aqui escrevo. 

****

E, por agora, nada mais. Vou descansar porque estou mais para lá do que para cá. 

(সেম কুএরের কার্রেগুই নুমা তেচ্লা আলী এম সিমা এ অ কইসা ইস্টá অ সির আসিম। ক কইসা দ কারাçএস সেরá এস্টা? লেইও আলী ন বতãও ক é অ ত্রান্স্লিতেরাçãও দে পালাভ্রাস এস্ক্রিতাস ফনেতিকামেন্তে এম ইংলêস. দেভে সের দা হরা মাস নãও পের্সেব বেম ক রিও দে কইসা é এস্টা).

Adiante.

Tenham, meus Caros Leitores, um sábado muito bom.

7 comentários:

Anónimo disse...

eu podia dizer que fico sempre abismado com a inteligência dos outros (mas depois ocorro-me que que ainda não temos cura para o cancro, sida, grandes problemas matemáticos ainda não estão resolvidos, alguns com prémios de 1 milhão de dolares) e prefiro a expressão, abismado com as capacidades dos outros. E neste mundo cada vez mais global mais abismado fico , pois tenho a acesso a mais informação, e cada vez mais sinto-me pequenino.E isso é bom pois leva-me a querer ser mais, na brincadeira, costumo dizer que fisicamente ainda não cheguei aos 100%, porque depois é só a descer.Das suas palavras retenho "pela natureza, pela beleza, pelo cheirinho bom dos meus amores pequeninos, pela vida, pelo que conheço e pelo que sei que um dia hei-de ainda conhecer e também pelo que sei que jamais chegarei a conhecer.".Infelizmente já pertenço ao grupo de pessoas que gostaria que o pêndulo parasse, ou melhor que voltasse para trás, para fazer diferente do que fiz, principalmente, na relação com o meu Pai, mas agora é tarde.https://www.youtube.com/watch?v=XPBfaMsA97o (colocaram 26 segundos de publicidade antes de começar, mas vale a pena esperar)

Anónimo disse...

e pense seriamente em colocar este site no blogometro (os mesmos que fizeram o concurso aventar de blogs)-http://blogometro.aventar.eu/?page=3

claro que teve um pico de 1111 num dia, mas acredito que no longo prazo isso vai ser uma média diária.Basta ter o sitemeter instalado no blog - http://www.sitemeter.com/?a=signupoptions .O que é bom precisa estar visível.

Anónimo disse...

e este vídeo é para todos vermos que somos mesmo pequeninosssssssss-O universo conhecido - http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=17jymDn0W6U#t=226

Anónimo disse...

uma das boas experiências da internet (para além ler blogs como este) é as imagens, noutro dia encontrei esta extensão para chrome, basta instalar, e depois é só pousar o cursor em cima da imagem para ver o tamanho original sem ter que clicar na imagem - https://chrome.google.com/webstore/detail/hover-zoom/nonjdcjchghhkdoolnlbekcfllmednbl

jrd disse...

Parabéns pela afluência absolutamente invulgar.
Esse jeito manso tem um poder de atração irresistível. :-)


Se para uma criança,desmontar um brinquedo pode ser um acto de amor. Para um adulto, desmontar o amor pode ser uma brincadeira cruel.

JOAQUIM CASTILHO disse...

Olá UJM!

1.111, lindo número e lindo feito que lhe assenta que nem uma luva resultado de todos sentirmos o prazer que transparece da sua escrita
e que todos lhe agradecemos incluindo o Senhor Engenheiro que raramente o terá sido!

Parabéns, obrigado e um abraço

Maria Eduardo disse...

Olá UJM,

Parabéns pela linda capicua, 1.111 visitas num só dia, não é por acaso, mas sim porque tem o dom de deslumbrar os seus Leitores, sabe atraí-los, depois ficam amarrados ao seu encanto, às suas capacidades intelectuais, à sua sensibilidade, à maneira como ama a vida, a beleza, a natureza e como partilha connosco, essa parte de si, todos os dias, desinteressadamente, com um jeito doce, natural e apaixonante. Da minha parte quero agradecer-lhe toda essa partilha de conhecimentos pois tenho aprendido imenso consigo e já não dispenso a sua companhia. Por vezes sinto-me desajeitada em deixar os meus singelos comentários, mas faço-o ousada e despretenciosamente como uma forma de reconhecimento por todo o seu esforço, simpatia e amizade. Dar tanto de si, sem nada receber em troca, é um acto de uma nobreza imensa, de amor pelo próximo que não há palavras para definir a sua extensão. Por tudo isto, Querida UJM, deixo-lhe aqui o meu manto de anjo com raízes muito profundas, bem agarrado à terra desejando-lhe que continue com imensa alegria de viver, de escrever, e de nos encantar a todos.

Um beijinho e muito obrigada.