sábado, setembro 21, 2013

Bergoglio, agora Francisco, aos poucos vai abrindo as portas da Igreja aos que, até aqui, nela não conseguiam entrar (pelo menos pela porta da frente, às claras). Homossexuais. Mulheres que abortaram. Mulheres que querem exercer o sacerdócio. Francisco diz que discutir isto não deve ser a prioridade da Igreja. Diz que os bispos não devem andar sempre de passeio, de aeroporto em aeroporto, devem é estar junto das suas comunidades. Que o que importa são os pobres, os refugiados, os que precisam de apoio. /// E, embora tendo muito pouco a ver com o tema anterior, convido-vos a verem as palavras de uma desarmante simplicidade e a comovente interpretação do jovem Choi Sung-Bong naquele concurso dos Talentos.


Tantas vezes já aqui o tenho dito. Não sou praticante. Não sou de ir a missas, a peregrinações, muito menos a retiros. Nada. Não tenho por hábito rezar. Não casei por igreja. Não baptizei os meus filhos.

Mas sou profundamente reverente em relação à natureza e às pessoas em geral. E sou muito reverente em relação à capacidade de generosidade, à bondade genuína.

Para mim o importante na vida é a solidariedade, a vontade de que todos nos desenvolvamos em perfeita igualdade de oportunidades, é a procura da felicidade para todos, o querer que todos encontrem meios dignos para sonhar o futuro.

Não consigo conceber os que apoiam medidas que protegem segmentos da população e condenam ao empobrecimento os restantes, não consigo conceber os que, dizendo defender e praticar a doutrina social da igreja, apoiam  medidas que excluem algumas pessoas do abraço solidário da sociedade.

Sempre achei incongruente que alguém se considere cristão, católico praticante, e, ao mesmo tempo, exclua do perímetro solidário as mulheres que praticam aborto, os homossexuais.

Não consigo conceber que alguém inteligente pense que alguma mulher normal e consciente aborte por desporto. Pelo contrário, acho que se uma mulher, por um qualquer desesperado motivo, resolve abortar, deve é ser muito apoiada, acarinhada. Não falo de perdão. A palavra perdão é rara no meu léxico, tal como o é a culpa. Falo de tentar ajudar-se uma mulher que tem uma vida desestruturada ou atravessa um momento difícil ou o que for e que, necessariamente, precisa de qualquer apoio.
Também já o disse aqui muitas vezes e sinto que começo a repetir-me mas, ainda assim, não posso estar sempre a ser original e, se o que penso se mantém, então, vou mesmo repetir-me. Sou heterossexual convicta, sempre fui, sempre me senti atraída pelo sexo oposto. Nunca tive qualquer relacionamento íntimo com alguma outra mulher. Não me esforço para ser hetero, é uma coisa que me é absolutamente natural. Pelo contrário, se quisesse contrariar a minha tendência, ver-me-ia aflita. Se, por um qualquer motivo, eu fosse cair numa comunidade gay e não quisesse destoar, nem sei como seria. Ora isto, imagino eu, é o que se passa com quem seja homossexual. Admito que não o seja por desporto. Imagino que, pelo contrário, deve ser um castigo esconder essa tendência. Por isso, não consigo conceber que alguém se arrogue o direito de excluir de qualquer comunidade uma pessoa que é como é porque é e em que não há nada que se possa fazer para o mudar. Um homossexual é tão pessoa como eu e não concebo que alguém o discrimine devido às suas tendências sexuais - tal como me parece ridículo e inaceitável que se formam lobbies em torno de orientações sexuais. 

E que a Igreja condene a contracepção, acho outro disparate completamente fora de qualquer razoabilidade - e nem vou elaborar sobre isso porque me parece uma coisa tão óbvia que dispensa comentários.

Ora, uma vez mais, Francisco tocou o meu coração ao desvalorizar a importância que a Igreja tem atribuído a tão absurdas questões e defendendo que a Igreja deve ser um local de acolhimento e não de segregação e exclusão.

Revejo-me muito nesta lógica de vida que Francisco vem advogando. O mundo poderá tornar-se um lugar menos perigoso se nos aceitarmos uns aos outros, se aceitarmos as diferenças dos outros.

A vida já é tão má para tanta gente que é estranho que nos desfoquemos disso para nos centrarmos em questões acessórias e absurdas.

Jorge Bergoglio, o Papa Francisco, um homem normal, nada de conversas alusivas e eruditas, nada de palavras circunstancias e de efeito nulo, vem desde o primeiro minuto a mostrar que, para ele, a Igreja não é o templo de salamaleques mil mas sim o abrigo dos que a ele querem ou precisam de se acolher.


Tomara que a Igreja nunca lhe feche a porta a ele.

*

Agora deixem que vos mostre uma pessoa que também me emocionou. As razões são outras, muito outras, nada a ver com o que estive a falar. Aqui o que me tocou foi a capacidade de sobrevivência e de sonhar que um jovem muito pobre, sem família, sem nada, conseguiu manter apesar de tudo.  Nunca será demais a admiração que manifestemos pelos que têm vidas difíceis e que, apesar disso, conseguem sobreviver e seguir em frente, nem se sabe como.

Transcrevo da Wikipedia:


Choi Sung-Bong nasceu na Coreia do Sul em 1990 e tornou-se a mais popular personalidade no concurso televisivo "Korea's got talent" (A Coreia tem talento).



Sung-Bong foi abandonado num orfanato quando tinha três anos de idade. Vítima de maus tratos no orfanato, fugiu com cinco anos e viveu nas ruas durante dez anos. Mesmo assim propos-se a exame e concluiu a escolaridade obrigatória estando sozinho.



A sua interpretação de Nella fantasia, de Ennio Morricone causou sensação e tornou-o na maior vedeta do concurso na Coreia até ao momento.


Por favor, não deixem de ver. Tomara que todos tivéssemos esta força dentro de nós.




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Desejo-vos, meus Caros leitores, um belo fim de semana. 

Vou ter a tropinha toda cá em casa - e é sabido que é gente com um poder de destruição (ou melhor, de desarrumação) que não dá para acreditar. Se à noite ainda conseguir escrever, tentarei vir até aqui dar dois dedos de conversa.

3 comentários:

Alice Alfazema disse...

Olá, UJM!

Também me revejo nas suas palavras de vida e sentimentos, é natural que voltemos e dizer as mesmas palavras é a nossa essência. Realmente este Papa tem sido surpreendente, também, tenho apreciado isso, espero que dure muitos anos para que as mudanças possam acontecer.

Quanto ao video, não há palavras que descrevam o rapaz tudo aquilo que passou e ouvir a sua voz é uma imensa surpresa que me faz pensar em tudo aquilo que há de bom neste mundo. Cá em casa tenho alguém que compõe e me fala de notas de música e de sons como quem fala e descreve sabores, cheiros, sentimentos, silêncios...nessas alturas eu aprendo e aprender me faz muito feliz. O interessante nisto é que quem me diz isto não tem experiência de vida, mas tem algo especial que eu gostaria que mais gente pudesse aprender como eu aprendo. A seiva da vida é afinal uma coisa simples e banal.

Um bom fim-de-semana com os seus pimentinhas e afins. :)

Beijinhos

Anónimo disse...

o beato João César das Neves é que não deve gostar

Maria Eduardo disse...

Olá UJM,
Subscrevo inteiramente tudo o que diz sobre o Papa Francisco. Tenho também uma grande admiração por este homem bom, generoso, humilde e solidário. Está a dar uma grande lição ao mundo com as remodelações que está a fazer no seio da Igreja e esperemos que continue a mostrar a toda a humanidade que se pode marcar a diferença com um simples gesto de generosidade, compreensão e aceitação do ser humano, tal como é. Com ele as portas da Igreja estarão sempre abertas para receber todos os que nela querem entrar independentemente das suas ideologias quer religiosas, sociais ou sexuais. Também diz que os conventos devolutos deveriam ser transformados em lugares de abrigo a pobres e refugiados em vez de hotéis!.... Que o Papa Francisco consiga abrir novos caminhos ao mundo para que haja mais humanidade e generosidade entre as pessoas e assim poderem contribuir na construção de um mundo novo, melhor e mais solidário.

A interpretação de Choi Sung-Bong foi de um autêntico tenor! Um exemplo de vida de grande força interior e humildade, exemplo que toda a humanidade devia conhecer e meditar.

Gostei e obrigada pela partilha.

Um beijinho grande