terça-feira, junho 04, 2013

Nuno Crato na TVI 24 e o mamar doce da cobra antes de devorar a indefesa presa. Há no sorriso parado, na voz mansa e nas palavras pastosas do Ministro uma angustiante falta de respeito pelos professores mas há também falta de moral, cinismo, manipulação, desprezo pela população. Nem consigo ver: acho que aquele sorriso e aquelas palavras manhosas roçam a abjecção. Que os professores lhe saibam dar uma lição de inteireza e dignidade é o que eu desejo.


Uma vez assisti a uma cena tenebrosa. Estava in heaven e, num buraco fundo, vi uma cobra enorme e um ratinho. Fiquei aflita. Percebi que algo de mau ia acontecer. Queria salvar o ratinho mas não fui capaz de o tirar de lá. Como fazê-lo? Não me ia meter dentro do buraco... Bati palmas, fiz barulho, tentei que o rato fugisse, tentei distrair a cobra. Não resultou. Fui a correr buscar um pau, bati na cobra mas ela virou-se e fiquei com medo que subisse pelo pau e me mordesse. Larguei o pau, assustada. Continuei a bater palmas, a bater com os pés no chão. Não resultou. A cobra olhava fixamente o ratinho e o ratinho estava sem reacção, passivo. A cobra foi-se aproximando, eu horrorizada, atirei umas pedrinhas que estavam ali ao pé.  Nada, nem o ratinho se mexeu, nem a cobra.

Queria afastar-me mas não me afastei na esperança que o ratinho fugisse, que a cobra se distraísse e desistisse. A cobra cada vez mais próxima, o ratinho inerte. Podia ter fugido mas não fugiu. Depois a cobra abocanhou-o, devagar, devagar. 




Nessa altura o ratinho estrebuchou, o rabinho a dar a dar - mas já era tarde demais. A cobra continuou a engoli-lo, devagar, devagar. Eu também quase sem reacção, horrorizada, esvaída de aflição e pavor. Até que a cobra engoliu o completamente.

Lembrei-me disto enquanto vi agora um bocado da entrevista de Nuno Crato na TVI 24, com o Paulo Magalhães. 




Sempre aquele mamar doce, sempre aquele sorriso parado. Mente, manipula, prepara-se para aplicar mais um golpe fatal a uma classe tão mal tratada e sempre aquele sorriso cínico, sempre aquele olhar falso, sempre aquela voz suave, falsa, falsa. 

A ciência foi abandonada, a investigação passou para secundaríssimo plano, o ensino é o que for, os professores são carne para canhão nesta perseguição sem moral contra os funcionários públicos - e Nuno Crato sempre com aquele sorriso.

Não sei se os professores se vão deixar ficar inertes, inertes, sem reacção, deixando-se devorar sem um gemido.

Tomara que não.

Tomara que lutem, que se portem com dignidade, que mostrem que ainda são uma das profissões mais nobres da sociedade.

3 comentários:

Anónimo disse...

Magnífico Post!
Também não consegui ouvir a víbora.
Tenha uma boa noite!
P.Rufino

irene alves disse...

Parabéns por este seu post. Também
gostaria que os professores fossem
gente de coragem e dessem uma
valente lição a este Nuno Crato.
E já agora o Governo parece que
não desistiu da TSU sobre os reformados, porque segundo o jornal
I, pediu um parecer a Vieira de
Andrade e o mesmo acaba dizendo:
alerta que a aproximação do sector público ao privado pode ter "uma
leitura armadilhada", mas não tem
dúvidas: o corte deve ser sobre todos os reformados. Não só é mais
justo como dá maiores garantias de
constitucionalidade. Portanto parece que se preparam é para aplicar a todas.
Veja, se consegue saber alguma
coisa, por favor.
Bj.
Irene Alves

jrd disse...


Como ex-mao que se preza, o Crato não pode ser bom...