quarta-feira, junho 25, 2025

Theodoro, Sincera.mente, Kiko is Hot

 

O Instagram mostra-me coisas e geralmente gosto do que me mostra. Os algoritmos são bem concebidos, lá isso tenho que conceder. Por exemplo, ouço com atenção dicas sobre saúde, sobre alimentação, sobre exercício físico e já partilhei um ou dois vídeos com a família. E gosto muito de ver cortes de cabelo e transformações que quase parecem de personalidade só porque a pessoa mudou completamente de penteado ou de cor de cabelo. Quanto a decoração, jardinagem ou culinária isso nem se fala: vejo de gosto e aprendo sempre. Depois há os DIY (Do It Yourself) que me deixam fascinada mas que são tantos e tão variados que não consigo fixar um décimo do que vejo: truques para melhor dobrar e acondicionar roupa, para pintar, para transformar pequenos espaços em espaços multi-usos, para enfiar linha no buraco da agulha, para regar flores na nossa ausência, etc. E relatos de artistas que mostram como pintam, como incorporam outros materiais nas suas obras ou, simplesmente, que mostram os seus trabalhos. 

Um mundo.

E dá ideia que meio mundo tem coisas a ensinar aos outros: três alimentos maravilhosos, três alimentos péssimos, três cremes fabulosos, três truques fantásticos para disfarçar a barriga, três regras de etiqueta para estar à mesa. 

Vou navegando por ali e, como tenho dito, sem propósito. Não tenho nada para ensinar. Pego no telemóvel e digo a primeira coisa que me vem à cabeça. Digamos que são apontamentos, breves e irrelevantes testemunhos mas testemunhos de pensamentos ou coisas banais. Não sei se faz sentido. Penso nos recursos informáticos necessários para acondicionar, catalogar, tornar disponíveis a todo o mundo que queira ver coisas tão despropositadas. É como isto que aqui escrevo. São registos que ficam armazenados em servidores, que circulam pelas redes. Em qualquer parte do mundo a qualquer hora do dia, qualquer pessoa pode ver o que faço. E, no entanto, o que faço é totalmente irrelevante. Mas, se calhar, a vida é mesmo assim, uma sucessão de eventos, uns dignos de ficarem para a história e outros assim, banais, irrelevantes. 

No meio do que me aparece tenho conhecido personagens cuja existência desconhecia em absoluto e que agora vejo na boa. Destaco três. 

Um, o Theodoro, é um influencier brasileiro com mais de cinco milhões de seguidores, que tem recebido prémios e tem sido capa de revista. Acho-lhe piada. É extrovertido, alegre, bem disposto. Mostra-se com o marido, com os pais, com as tias, pessoas humildes, mostra o cão. Claro que não acrescenta nada de extraordinariamente existencial ao mundo. Mas, sendo um jovem gay e que é tão bem aceite pela família e pela sociedade, julgo que isso é importante, sobretudo para que os mais preconceituosos percebam que a homossexualidade não é uma opção, é uma orientação, e não é uma limitação nem uma menorização. Ninguém tem direito a ser mais ou menos feliz por ser ou deixar de ser hetero ou homossexual.


Outro é o Sincera.mente. Acho-lhe um piadão. É genuíno, é divertido, é boa onda. É drag mas uma drag com muita pinta, com bom gosto, inteligente, rápido na construção de uma boa tirada, com uma intuição e uma imaginação toda ela eivada de bom humor. As suas conversas na rua são um monumento à boa disposição e ao humor a sério.


O terceiro é o Kiko is Hot. Não sei bem definir qual a sua actividade (mas é puro desconhecimento meu). Se calhar é artista de teatro. Ou faz podcasts. Ou será DJ? Não sei. Mas gosto dele. É simpático, é divertido, goza com ele próprio. Também é gay. Vi que diz que, por ele, tanto pode ser do sexo masculino como do feminino. E acho que isso tem que ser respeitado. Acho que deve ser uma boa onda, uma boa companhia, uma graça.


Nestes tempos em que parece que a homofobia está outra vez a caminho de ser legitimada, penso que é importante que figuras públicas que são gays não se escondam, mostrem que são estimadas, amadas pela família, respeitadas. E penso que quem está seguro da sua sexualidade e não tem receio de ser 'contagiado' ou receio de ser olhado de lado deve falar do assunto de forma aberta, simples, sem tabus. Só os cobardes podem achar que quem é homossexual é um ser inferior, que pode ser insultado, humilhado, ameaçado.

Mau é ser mesquinho, hipócrita, manipulador, narcisista, mentiroso, vigarista, burro ignorante e prepotente, agressivo. A homossexualidade não é um traço de caráter pelo que afastar ou repudiar ou pretender isolar socialmente alguém só por isso não faz sequer sentido.

Só por ter conhecido estes três bacanos já acho que o Instagram tem valido a pena. 

E só espero que o Chega, com o PSD a reboque, não apareça por aí um dia destes, qual Trump, a querer proibir espectáculos drag. Desta gente tudo se espera. 

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