Ando tão numa outra que me parece pura perda de tempo pôr-me a falar de temas que não me interessam. Mas a verdade é que compreendo que quem aqui me visita também já deve estar pelos cabelos com os meus bucolismos e as minhas florzinhas.
Só que falar dos ataques de uns malucos a uns fanáticos, das retaliações de uns estupores a uns fundamentalistas, de umas ameaças de uns filhos da mãe a uns sacanas de primeira é coisa que me maça. Pá, maça-me mesmo. Mesmo que queira alinhar três palavras falta-me a inspiração para inventar motivações válidas ou reações lógicas. Tudo me parece uma soap opera ensopada em sangue, fragmentada por estilhaços, mas com a agravante de os intervenientes serem uns palhaços, uns trogloditas. Por isso, lamento mas não consigo.
Acho que ando em modo 'férias grandes'. Quando andava no liceu, aspirava a entrar nas férias grandes em que havia sempre praia com amigos, festas de anos com slowzinhos e bolos incluídos, passeatas e risotas com fartura. E esse espírito parece que desceu em mim e me impede de me deter em temas 'pesados' ou chatos ou absurdos.
Sobre o Governo também não quero dizer nada. Ainda agora começaram, há que esperar para ver. Além disso, quero que, a bem do País, as coisas lhes corram bem. E, no que se refere à oposição, o PS tem que dar ao pedal para se voltar a aguentar em cima da bicicleta, mas há também que lhe dar tempo. Tempo. Aguardar. Não falar só por falar.
Por isso, querendo não defraudar a paciência de quem aqui vem na esperança de me ouvir a falar de coisas mais actuais e concretas, vou falar do conflito entre uns tais Anjos e uma tal Joana Marques.
Para começar tenho que confessar que não sou seguidora ou apreciadora nem de uns nem de outros. Do pouco que lhes conheço, a qualquer dos três, não aprecio. Nada daquilo faz o meu género.
Mas se acho que o que eles cantam não faz mal a ninguém, quem gosta gosta, quem não gosta segue em frente, já do que ela faz não se pode dizer o mesmo.
É humor, dizem. Mas eu, ao pouco que lhe tenho ouvido nunca achei ponta de corno de piada nenhuma. Parece-me apenas uma criatura maledicente, antipática. Haverá quem ache graça a ouvir umas pessoas a troçarem de outras. Eu não acho. Pelo contrário, incomoda-me.
Quando o Ricardo Araújo Pereira põe a ridículo maus desempenhos no exercício de cargos públicos por parte de pessoas pagas por todos nós e que se revelam uns burgessos que não sabem falar, nem estar, nem fazer, não me choca. É gente incapaz cuja profissão supostamente é trabalhar em benefício da população e que, nos vídeos que ele mostra, se revelam uns bimbos que jamais, em tempo algum, deveriam estar naquelas funções. Outras vezes mostra candidatos que pisam o risco, que tropeçam, que se desviam. Mas, lá está, estão a candidatar-se a cargos públicos. Seria bom que fossem exemplares, competentes, acima de qualquer suspeita. Por isso, não me choca que sejam chamados à atenção. E se o forem de forma como ele o faz em que pouco diz, apenas os expõe e, sempre, através de vídeos públicos, também nada a dizer. Não sei se aquilo é humor ou se é crítica social ou política. Mas aceito.
Mas gozar com pessoas que estão no exercício do seu trabalho e no decurso da sua vida, por exemplo por cantarem menos bem, por se vestirem menos bem, por trabalharem de uma forma algo questionável ou seja lá por que for, isso parece-me bullying, maldade, exercício gratuito de maledicência. Forçosamente irá afectar negativamente as vítimas, irá humilhar as pessoas, envergonhá-las, prejudicá-las. Nunca gostei de assistir à troça de uns sobre os outros. Nunca. Se não consigo impedi-lo, afasto-me.
Tenho observado que meio mundo anda a defender a pespineta Joana Marques. Alega-se que é humor ou liberdade de expressão. Não concordo nem um pouco. O que ela faz é dizer às claras aquilo que os maledicentes fazem à boca pequena, é dizer de viva voz o que tanta gente anónima despeja nas redes sociais. Mas isso não é bom pois a humilhação que inflige aos visados é ainda mais cruel, mais amplificada.
Dito isto, acho também um disparate a reacção dos Anjos com o recurso à via judicial, com aquele pedido de indemnização. Penso que mostrarem publicamente o seu desagrado e seguirem em frente teria sido mais razoável, mais digno. Assim, o que conseguiram foi o oposto do que pretendiam: são ainda mais ridicularizados. Mais valia terem ficado quietos.
Agora penso que seria interessante que se debatesse sobre o caminho do entretenimento em Portugal. Se ouço algumas rádios, fujo a sete pés: meio mundo diz graçolas parvas, riem-se muito das parvoíces que dizem. Se calha ouvir alguns podcasts, fujo a sete pés: perguntas parvas, respostas parvas, a futilidade como o novo 'normal'. E o endeusamento que fazem desta Joana Marques é outra aberração. Como pode ter tamanho palco uma pessoa que amesquinha os outros, que é gratuitamente desagradável, que causa constrangimento e angústia às suas vítimas? Em que mundo é que aquilo é humor? Gozar com os outros, apoucá-los, é engraçado? Não acho. Acho triste.
Já é tempo de se reconhecer o mérito a quem tem alguma profundidade, a quem consegue falar de assuntos interessantes, desenvolvimentos científicos, arte, experiências sociológicas, a quem consegue falar de assuntos em que haja mérito, a quem revele saber e cultura, a quem tenha graça e delicadeza e bondade -- em vez de dar palco a parvoíces de gente parva que se acha engraçada a expor a sua vacuidade e a troçar com as fragilidades alheias.
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