Travo lutas antigas. Muitas tenho perdido e, mesmo se ganho, são frequentemente vitórias precárias. Mas nunca me dou por vencida. Uma das mais presentes tem a ver com a forma como se aborda a terra. Eu sou pela natureza. Gosto das ervinhas que nascem, gosto das florzinhas espontâneas, gosto que cresçam, que atraiam insectos. O meu marido é o contrário: para ele isso é mato que tem que ser cortado e não descansa enquanto a roçadora não avança. Diz que temos que poder andar sem termos que nos desviar ou sem nos picarmos. Eu, em contrapartida, não me importo de arrancar à mão o que acho que não tem cabimento.
Mas os meus filhos têm a mente formatada como o pai. Se vêem a buganvília a tombar, linda, como um pesado cortinado carregado de flores, se vêem os jasmins a cobrir os muros ou os arbustos das sebes laterais sem estarem aparados e, pelo contrário, altos e exuberantemente floridos, dizem que o jardim está mal cuidado. O meu marido rejubila quando ouve essas críticas e serve-se desse argumento ao longo de toda a semana, como se tivesse com ele uma claque unida para me convencer.
No campo é a mesma coisa: onde ele vê um matagal que precisa de ser arrasado, eu vejo rosmaninho, alecrim, sálvia, orégãos, tudo espécies que quero preservar. Só não me importo que arranque o tojo ou as silvas mas nem ele nem alguém que se contrate estão para estar a escolher pé a pé de erva antes de passar a máquina.
Portanto, uma luta. E, no entanto, sinto que, se deixarmos que a natureza seja livre, ela vai recompensar-nos, festejando a vida com pujança, cor, liberdade, alegria.
Já contei muitas vezes que a anterior dona desta casa, sempre que passa por cá, fica muito surpreendida com o que as árvores, os arbustos, as flores se têm desenvolvido. Ela tinha jardineiro salvo erro duas vezes por semana (diz que era muito lento...) e ela própria fez cursos de jardinagem creio que em Agronomia, ali à Ajuda. E diz que não percebe porque é que as coisas não se desenvolviam como desataram a desenvolver-se desde que nós cá estamos. O meu marido usa muitas vezes o argumento com um twist: ou seja, diz que, quando para cá viemos, estava tudo aparado e bem arranjado e que agora está tudo ao deus dará. E eu fico feliz pois, para mim, o deus dará é o que se quer, que as coisas sejam tão exuberantes quanto a sua natureza o dite.
Lá na nossa casa in heaven, como já contei tantas vezes, o pequeno bosque que se formou até esquilos atraíu. Por aqui, por enquanto, só gatos, passarada diversa e pequenos e delicados répteis. Nos dois sítios, gostaria de ter um pequeno lago pois sei que mais animais apareceriam e isso enche-me de felicidade. Mas não temos nenhuma nascente pelo que teríamos que estar sempre a abastecê-lo com água da rede e, se isso falhasse, morreria a vida que dependesse dessa água. Não se pode arriscar.
Mas, com estes diferendos sempre presentes aqui em casa, é com alegria que acolho vídeos como o que aqui partilho. Estive a mostrar umas partes ao meu marido que nem sequer queria ver, mas, tendo visto, acha que isto só lhe dá razão: são lugares em que só andando de botas até ao joelho senão fica-se todo picado, não são lugares em que se ande à vontade ou em que se possa colocar uma espreguiçadeira para estar tranquilamente ao sol. Não deve ser bem assim. Há zonas. Vou ter que estudar melhor o conceito. Pelo que aqui se diz, o conceito da 'arca' aplica-se inclusivamente às varandas, aos terraços.
Um deleite ver estas imagens. Tem legendagem em português.
Conheça a jardineira irlandesa que lidera um movimento global de renaturalização | WILD HOPE
No meio do colapso da biodiversidade em todo o mundo, Mary Reynolds, da Irlanda, está a construir um movimento para transformar os jardineiros em guardiões do planeta, devolvendo o nosso próprio pedaço de terra à natureza e restaurando a esperança de que as ações individuais podem criar mudanças duradouras.
À medida que as práticas agrícolas consomem mais terra e contribuem para as perdas de habitat em todo o mundo, Mary sublinha a importância de agir individualmente. Em nenhum lugar isto é mais fácil de fazer do que com a sua própria terra, criando uma ARCA – Atos de Bondade Restaurativa. Mary revela como rapidamente criar uma e deixar a natureza colher os frutos, algo visto em primeira mão pelos antigos agricultores que se tornaram preservacionistas da natureza, Anita e Will Wheeler, que agora são o lar de uma infinidade de animais nativos que prosperam na sua ARK.
O movimento está a crescer, à medida que Mary alcança uma comunidade global que quer livrar-se das expectativas primitivas que os jardins exigem e trazer mais vida. Está até a criar raízes entre as gerações mais jovens. Uma visita à escola de Loreto, no condado de Wexford, prova como até um pequeno pedaço de terra pode não só restaurar uma comunidade nativa de plantas, mas também tornar-se um refúgio seguro para os alunos. “Pedacinho a pedaço, lá chegaremos” - garante Mary, “faça uma manta de retalhos de esperança”.
3 comentários:
Solução. Dividir o espaço. uma parte fica ao natural, a outra fica ao natural, pela trela. M.Linho
UJM
Parabéns ao Marido e restante família Sporting. Apesar de tudo... Merecem a vitoria pelo desempenho na competição.
Para mim naturalmente NATUREZA. Aquela que consegue fazer brotar flores entre pedras, na areia, na agua. Não tenho um jardim, tampouco um quintalinho, mas nas minhas varandas gosto de deixar crescer tudo o que de verde nasce e que gracinha acho as amarelinhas das azedas. Essas e as sardinheiras resistem ao vento norte que sopra da serra. Este ano, não sei como, tenho sardinheiras brancas raiadas de violeta. Sempre foram rosa. É a natureza no seu melhor.
Que seja um fim de semana feliz, já começou verde de esperança.
Enviar um comentário