Nunca gostei de matemática da mesma maneira que os meus colegas que gostavam de matemática. Mais do que querer decorar ou, até, perceber axiomas ou teoremas, eu gostava de me aventurar de forma 'fluida' pelos meandros do meu próprio pensamento lógico. Há algum tempo um colega dessa altura recordou como eu surpreendia os professores com a forma como resolvia os problemas de matemática. Não me lembro disso mas lembro-me do prazer de encontrar lógica em algumas caminhos e de ir, tomada por esse prazer, ir por eles afora.
Em todos os níveis de ensino, fosse qual fosse a complexidade dos assuntos, eu detestava o que fosse de decorar, custava-me imenso decorar o que quer que fosse, e, contrapartida, gostava de ir pela matemática como em passeio de descoberta. Acontecia-me, até, ter prazer em deixar-me guiar pela intuição, deslizar pelos raciocínios e chegar aos resultados como se fosse 'ao calhas'. Por isso, por vezes sentia o chamado síndrome do impostor pois parecia-me que acertava por acaso, por ser bafejada por alguma espécie de iluminação que me fosse exterior, alheia ao meu mérito. E o pior é que, por vezes, tudo me parecia tão incrivelmente óbvio e linear que me faltava até a paciência para lá chegar passo a passo, só me apetecendo voar directamente para o resultado final.
Acontecia-me, quando via como os meus colegas se tinham preparado, estudado, e sabiam tudo na ponta da língua, sentir admiração por eles e, a mim própria, ver-me impreparada, desleixada nos meus estudos e obrigações, à mercê de uma sorte que poderia falhar-me.
Contudo, quando posta à prova, a coisa fluía e eu a ideia que tenho é que me sentia quase como se estivesse possuída por uma luzinha que me guiava.
Essa mesma sensação já a tenho sentido também a escrever, quando não sei o que vou escrever antes que os meus dedos escrevam, como se o fizesse por decisão própria. Sinto-me como se alguma coisa dentro de mim ultrapassasse a minha vontade humana.
E, no fim, fico surpreendida com o que, involuntariamente, fiz.
E sei que, escrito assim, pode parecer que estou a armar-me ao pingarelho ou que me acho especial. Mas não é isso que acontece. Uma pessoa que estuda muito, que se prepara, que tem um método apurado de estudo, está em melhor condições que eu pois parece que me sinto sempre vulnerável, em risco de a inspiração ou a boa sorte me abandonar.
Tirando isso, o que sei de certo é que pouco ou nada sei e que o muito que desconheço me fascina como se fosse uma luz dourada e breve, uma música soprada pelos deuses ou um punhado de palavras cintilantes que alguém solta ao vento.
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Já aqui falei inúmeras vezes em fractais. É tema que me fascina. Não sei explicar porquê mas fascina-me. Acho que neles reside um mistério que parece insondável (e que, no entanto, pode ser traduzido por uma fórmula matemática simples, elegante como são todas as coisas simples.)
Ando por aí, em geral pelo campo, em especial in heaven, a descobri-los e a deixar-me fascinar por eles.
Não sei. Tendo a querer ater-me à sua simplicidade original. Mas não estou certa de que seja a melhor abordagem.
Por exemplo, uma multidão é algo que tem regras próprias ou deve ser vista como um aglomerado de pessoas em que o comportamento da multidão reproduz, embora em larga escala, o comportamento de cada indivíduo?
O tema não é abstracto: aplica-se a diversos campos do saber (biológico, computacional, sociológico...).
O vídeo abaixo, da BBC, fala sobre o tema.
O que são os fractais, padrões matemáticos infinitos apelidados de 'impressão digital de Deus'
O que as galáxias, as nuvens, o sistema nervoso, as montanhas e o litoral têm em comum?
Todos contêm padrões intermináveis conhecidos como fractais.
Os fractais são ferramentas importantes em diversas áreas — desde estudos sobre as mudanças climáticas e a trajetória de meteoritos até pesquisas sobre o câncer (ajudando a identificar o crescimento de células mutantes) e a criação de filmes de animação.
Desejo-vos dias felizes
8 comentários:
Hoje já sabemos quão complexo é o universo pela medida do nosso desconhecimento... Nós nem o magnetismo estamos perto de perceber o seu alcance, quanto mais as outras forças... Mais de 90% do universo é composto de materia e/ou energia que por não conseguimos sequer perceber o que é chamamos "escura"... Mesmo que os computadores quanticos mudem o paradigma longe estaremos por muito tempo de perceber os "segredos" do universo... Já conseguimos detetar os ecos do Big Bang no sec XX e reproduzir a explosão original no XXI e isso apesar de excecional pouco ajudou a perceber como as coisas funcionam. Há muito, mas é que muito por desbravar primeiro num universo em expansao... A unica certeza é que caminhamos para a desagregação universal, a extinção de tudo por via dessa expansão. Sabemos como acabará, como começou e quase nada de tudo o resto.
A unica certeza que temos, é como disse Lavoisier, nada se perde nada se cria tudo se transforma. Aliás basta ver isso pelo BIG BANG, primeiro não havia nada, depois explodiu tudo.
Parecido com o que vai acontecer no dia 18, não há uma ideia de jeito para o País, mas ao fim do dia, vai haver vários vencedores, os do costume, os perdedores serão os mesmos do costume também.
Esta quadra é um aviso importante em tempos de pleito eleitoral:
“Fui ao mar buscar laranjas, / Que é coisa que lá não tem; / Fui enxuto, vim molhado, / Nem sequer vi o meu bem”.
Pedro da Silveira. Poeta açoriano
É isso mesmo. Desconhecemos o essencial do mundo, tal como desconhecemos muito de nós próprios, do nosso cérebro, do local físico em que se aloja e se desenvolve a nossa 'alma', a nossa personalidade. E esse desconhecimento é, em si, fascinante. Permite-nos fantasiar, permite-nos, até, iludir-nos sobre a nossa eternidade, nós frágeis, insignificantes e efémeras criaturas.
Gostei muito do que escreveu.
Escreva mais, ok?
Abraço
Muito de acordo.
Não fosse eu ter dentro de mim a noção do dever de cidadania e nem me apeteceria ir votar. Desiludem-me as opções. Não há nenhuma que me faça ir de peito feito. Tudo muito limitadinho. Uns muito videirinhos, outros muito apertadinhos, outros demasiado soltos (e ocos), outros ainda a parecer que estão a aprender o caminho. Respondi ao questionário do Observador (muito básico, com perguntas enviesadas) e obtive uma resposta surpreendente embora um bocado estúpida (resultado de perguntas também estúpidas). Mas é isto: uma realidade demasiado pastosa para o meu gosto.
Salva-se o poema do Pedro da Silveira. Não há mais?
A teoria (há muito comprovada) do Big Bang não trata da questão do "antes" (quando - se é que que - não havia nada). Apenas explica o que aconteceu nos primeiros micro segundos do universo: a explosão do atomo primevo. Se há apenas transformações ou se efetivamente há perdas de massa e/ou energia pelo caminho são questões sempre em estudo. Reitero que existe 96% do universo que é matéria e energia que não sabemos onde está, o que é, como se articula com o resto. Só sabemos que existe - porquê? Isso é fácil: porque se não existisse não seria possível o universo estar a expandir em cada vez maior aceleração. Mais explicações ocupariam aqui demasiado espaço .
Mas eu gostava de saber. Não se preocupe com o espaço... se for preciso, divida por mais que um comentário... Vale?
Seremos frágeis e insignificantes criaturas? E se a materia escura, que não conseguimos detetar por nenhuma via até ao dia de hoje for composta por realidades temporal-espaciais paralelas que também têm o seu "peso"? Quiçá já existimos no passado, num passado tão longiquo quanto o de um universo já morto. Tudo é possível, quando é desconhecido. Uma coisa é certa: o desconhecido existe. Sabemos que existe por cálculos que não bateriam certo se a tal materia e a tal energia escura não existissem. E sabemos que os calculos estão comprovadamente certos: cálculos sobre a velocidade a que se deslocam estrelas, galaxias e constelações de galaxias e sobretudo a velocidade de expansão do próprio universo no seu todo, que não poderia expandir assim se contabilizássemos apenas a materia, escura e "não escura", pois essa materia, pouca que fosse, geraria pelo efeito gravitacional um desacelaramento do universo e, eita, o universo está a expandir cada vez mais rapido até à Grande Desagregação (Big Rip). Portanto, alem da materia escura que desconhecemos, há energias em jogo além da gravidade causada pela conexão de massas (=densidade total), a tal energia escura. Poderá ser, na minha hipotese preferida, energia residual de outros Big Bang. De universos já "mortos"? Talvez. Talvez o nosso universo tenha surgido da explosão do atomo primevo que se formou a partir da "rebeldia" de uma pequena parte de um universo desagregado ao máximo e pum! surgiu um universo (isto é: surgiu o tempo-espaco) "sobreposto" aos tais restos do universo desagregado e sem matéria palpável (mas existente na verdade, simplesmente dispersa até ao infinito e por isso desagregada a ponto de nao "saber existir"). A ser verdade, haverá que reconstruir os tais restos para saber o que são/foram (num outro universo já morto...). Esses ecos do passado poderão ser fabulosamente semelhantes a nós próprios, às nossas estrelas e planetas. Só não me perguntem como surgiu, nesta teoria, o "primeiro" universo: o antes do início dos inícios (a assombrosa fase do NADA) continua inconcebível. (A ideia de magia/deus, como justificação sobrenatural e por definição inexplicável, não ajuda - é só mais um fator cuja origem passaríamos a ter de explicar também e por definição não poderíamos - não me satisfaz intelecto nem "coração".)
Nota final apenas para dizer que a minha hipótese preferida é perfeitamente possível num "vácuo quantico" como é perfeitamente possível existir. Nele, particulas virtuais "aparecem" do virtual nada. Isso já foi testado e confirmado. Em termos filosóficos é que as minhas duvidas permanecem. Que o concreto nasça do virtual não quebra o meu cerebro, que o virtual nasça do nada (nada mesmo nada) é que me custa aceitar. E por muito que digam que a questão do inicio dos inícios é irrelevante porque o tempo-espaco relevante é "só" o do nosso universo porque antes dele não havia tempo-espaco, para mim não: o tempo-espaco relevante é todo aquele que alguma vez existiu na historia de tudo, i.e. todos os universos e "vácuos" que já tenham existido e existam e venham a existir.
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