domingo, maio 25, 2025

Modo de pausa

 


Depois de ter esperneado com o resultado das eleições, ter espremido os neurónios tentando pôr em equação o ensarilhamento em que estamos metidos, depois de ter lido mil opiniões e ouvido cinquenta mil sapientes veredictos, o que tenho a dizer é o mesmo que sempre fiz em situações de berbicacho: bola para a frente porque para a frente é que é caminho.

Enquanto muitos dos meus colegas adoravam enfronhar-se em cansativos meas culpas ou em intermináveis sessões de lições aprendidas, eu sempre fui mais de me reunir rapidamente com quem tinha alguma coisa de inteligente a dizer (opiniões de burros ou de papagaios dispenso), tirar meia dúzia de conclusões, com essas conclusões e mais o que há pela frente traçar um caminho e... bora lá antes que se faça tarde.

Portanto, por mim já chega de andar a tentar a pisar e a repisar sobre o mesmo assunto.

É certo que continuo a achar que o Montenegro é um chico-esperto e que, nos 11 meses em que governou, não fez nada de jeito -- e o que pareceu melhorzinho foi a continuação do que vinha do anterior governo ou a distribuição de ma$$a, pois tinha folga (herdada) e sabia que as eleições estavam ao virar da esquina. Mas, enquanto a Spinunviva ou outras argoladas do género não o derrubarem, só espero é que faça aquilo para que foi eleito.

Quanto ao PS, sempre disse que achava que o Pedro Nuno Santos não era a pessoa certa para suceder a António Costa. O PS pela mão de Pedro Nuno Santos quase me levou a não votar no PS. Pedro Nuno Santos foi um erro de casting, como os resultados eleitorais mais do que demonstraram. 

Na altura, pareceu-me que José Luís Carneiro seria a pessoa certa. Mas, na altura, o Chega ainda gatinhava. Agora, os do Chega já andam em duas patas e já convenceram milhão e tal de pessoas que são os melhores para governar o País. Orwell cheirou-os a léguas (a eles e a todos os outros que têm feito o mesmo percurso). Não sei se, para a presente circunstância, José Luís Carneiro tem o carisma, o punch e a visão para levantar o PS e, ao mesmo tempo, para atirar o Chega ao tapete. Não estou a querer dizer que acho que não. Estou apenas a dizer o que disse, que não sei. Não o conheço suficientemente bem. Mas espero que sim. Espero bem que sim.

Face a este panorama, se eu fosse o Marcelo o que faria, antes de mais, em paralelo com as conversas oficiais com os partidos e off the record, seria chamar os directores de informação dos diferentes meios de comunicação social para os desafiar a fazerem um pacto (de regime) para que parem de andar atrás do Ventura. O Chega é o Ventura. E o Ventura é um demagogo, sem ética, sem vergonha. Mas é também um excelente comunicador. Criativo e bom comunicador. Consegue lançar ossos para a praça pública a toda a hora, mobilizando a agenda dos media. Só que os canais de televisão -- ou de rádio ou os jornais -- não são cães para irem atrás de qualquer osso, pois não? Se a Comunicação Social deixar de dar palco ao Ventura, o Chega esvazia-se. Provavelmente deveria ser a ERC a ter um papel pedagógico junto da Comunicação Social. Mas a ideia que tenho é que a ERC não risca, não serve para nada. Portanto, penso que deve ser o Marcelo (que tem muitas culpas no cartório em toda a instabilidade que atravessamos) a atravessar-se.

Identicamente, alguém deveria andar em cima das redes sociais dos partidos, em especial do Ventura e do Chega. Contas falsas devem ser denunciadas. Incitamentos ao ódio ou insultos devem ser denunciados. Há mecanismos legais para lidar com tudo. Não deve haver complacência.

Tirando isso, penso que, com toda a humildade, deve tentar validar-se se as percepções de tanta gente estão erradas ou se, pelo contrário, são legítimas. 

Dou alguns exemplos:

Como são atribuídos os subsídios? Como é que isso é auditado para verificar se não há abusos? Há gente que não faz nenhum e que vive, ao após ano, à pála de subsídios?

Há mesmo milhares e milhares de imigrantes que não trabalham e que recebem subsídios? 

Há mecanismos para acolher e integrar os imigrantes, em especial os que não falam português? 

E, pelo que se tem visto em algumas reportagens, os abusos que se têm detectado no SNS são altamente lesivos das contas públicas e, também pelo que tem visto, os processos administrativos, para além de permitirem toda a espécie de abusos, são manuais, precários e não há auditorias. Será que isto acontece generalizadamente? 

Tenho lido que em Portugal há mais médicos por habitante do que na maioria dos outros países. E, no entanto, há muitos milhares de pessoas sem médicos de família, é preciso esperar muitos meses por uma consulta banal (e sobre as de especialidade acho que ainda é pior). Parece que há sempre falta de dinheiro. E, no entanto, na volta o que há é dinheiro a mais, esbanjamento, aproveitamento, muita ausência de gestão, muito regabofe. Tenho defendido que a gestão de hospitais deve ser entregue a gestores profissionais. Não a médicos, não a gentinha dos partidos. Hospitais que gerem orçamentos de milhões têm que ser entregues a gestores competentes e profissionais. Numa altura em que a Saúde está tão mal, com Urgências fechadas, com tantos atrasos, se entregassem a gestão a profissionais não apenas se poupariam muitos milhões como os serviços melhorariam rapidamente. Se as pessoas começarem a ver 'saneamento' de gastos abusivos e melhoria no atendimento com certeza o paleio populista será esvaziado.

Quanto à habitação, também é preciso arranjar soluções urgentes: aproveitem edifícios públicos, adaptem-nos, alojem o máximo de pessoas. Rapidamente. Com assertividade. Com pouco paleio. E favoreça-se e apoie-se o ressurgimento de cooperativas de habitação. Apareçam com soluções concretas, rápidas, bem articuladas, bem acompanhadas, bem divulgadas. Esvazie-se o populismo.

Já disse e repito-me: é tempo de juntar esforços contra o populismo. E, enquanto a legislatura for avançando, o PS terá tempo para se reorganizar. Ou haverá tempo para aparecer um novo partido (caso o PS não consiga livrar-se do anquilosamento aparelhista, não consiga regenerar-se assimilando com inteligência o ar do tempo).

Mas, dito isto, agora vou continuar na mesma onda em que tenho estado nestes últimos dias: a ler, a curtir, regando, cozinhando, caminhando, estando em família, na boa. Agora nem tenho escrito. Tem-me apetecido descansar, estar em modo de pausa.

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Desejo-vos um belo dia de domingo

8 comentários:

Maria Mendes disse...

No final do seu post explicou tudo o que aconteceu nas últimas eleições legislativas. Um País mal governado. As pessoas querem mudança. Poderia escrever aqui relatos verdadeiros de pessoas que trabalham e quando estão em situação de doença grave recebem 350 euros de subsídio. A vida no País real é drástica.

Anónimo disse...

Se UJM fosse Marcelo, faria o que ele tem feito, que é cantar aquela canção, OH TEMPO VOLTA PRA TRÁS, e pelo visto tem resultado.

-Um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo, esperando que seja o último a ser comido.-
Winston Churchill

Por isso, em homenagem aos eleitores do CHAGA, e primos diretos ou em segundo grau, dedico este plagio da net.
Ode Aos Doidos
Gyl

Sinto perto de mim uma sombra
Que pouco a pouco me envolve;
Confesso que isso me assombra
Pois algo me furta e não devolve.

Talvez corrompa a minha alma
Ou quem sabe me leve o sonho.
Sei é que ando a perder a calma
Por isso eu tresdobro, tristonho.

Sinto esvair-se minha ingenuidade
Quando interajo com suínos e símios,
Com certos muares (de verdade)
Que acham os próprios relinchos exímios.

Talvez eu seja o culpado pelos tormentos,
Pelos copos que se enchem e transbordam.
Plantei tempestades, hoje colho os ventos
Dos tecidos cosidos por mãos que não bordam.

Mas nem por isso deixarei de dar os meus recados,
De gritar para aqueles pobres que não tem juízo:
Que deus escolheu aqueles que não teriam pecados;
Por isso os doidos terão lugares certos... No Paraíso.

A todos os outros sugiro esta canção.
https://youtu.be/oLoXFmJBvlk

marsupilami disse...

Força. Tem razão, ruminar não é bom para a saúde. Um detalhe, antes de mudar de assunto. Cheira-me há muito que o Marcelo é um apoiante não assumido do Ventura. Não que queira que este chegue a Califa, mas vê-o como o instrumento ideal para "limpar" o terreno e ajustar contas antigas. É patente que ainda não aceitou tudo o que se passou há meio século. Foram demasiadas impertinências que teve então (e ainda hoje) de engolir. Ainda não está tudo limpo, falta o PS. As vias do Senhor são tortuosas, e as da Opus Dei ainda mais.

Ccsatanho disse...

O que esperar de um povo que levou cinquenta anos de ditadura, e, depois em democracia, vota maioritariamente em Salazar como figura do século vinte , só pode ser um povo castrado.

Parece que dá reunião da monarquia do novo PS, saiu o rei d.josé carneiro . Depois de décadas a votar PS, para não votar na direita, deixo deh colocar a cruz nesta associação da causa monárquica. Pior era impossível trazer a direita do partido ao poder, e, pior, vai deixar entrar a raposa no galinheiro para ser devorado. É lá com eles. Os anarcas diziam há quarenta anos: putas ao poder, os filhos já lá estão.

Um Jeito Manso disse...

Discordo da sua análise. Manter a mesma atitude, sem a adequar às circunstâncias, leva ao desaparecimento (veja-se o que aconteceu com o PCP ou com os dinossauros). Como gostaria que o PS não se extinguisse, vou ter esperança que o José Luís Carneiro tenha a inteligência e a arte para dar a volta.

Ccastanho disse...

Dado já não ter coração para ver clássicos, já andei 5 km e tal, e agora estou a ver a construção de uma casa modular no Youtube, entretanto,auma das filhas rompendo o protocolo entre nós,diz-me que Renato Sanches a um minuto do fim faz penalty, pior é impossível. Voltando á construção da casa modular, é uma maravilha construir aquele pazle onde tudo encaixa milimetricamente. Maravilha, não fora o trauma do meu execrável Benfica.

Ccastanho disse...

Até me esqueci do vídeo.
https://youtu.be/GXIMQnndCVU?feature=shared

Anónimo disse...

É evidente que a culpa do crescimento dos partidos com os quais não concordamos é da comunicação socia!
O Mao-Tze-Tung tinha toda a razão em promover a revolução cultural ensinando às massas de grunhos e ignorantes o caminho justo (entretanto houve milhões de mortos mas isso será uma questão de pormenor)