Afinal foi mesmo o Mentenegro e não o Bolsonaro que, às 20 horas, horário do mais nobre que há, irrompeu pelas nossas casas adentro.
Antes de soarem as vinte badaladas, ninguém sabia o que justificaria tal despropósito: iria anunciar uma reestruturação de monta? Iria anunciar grandes medidas de fundo, quiçá fracturantes?
Afinal, depois de o ver e ouvir, toda a gente continuou na mesma. Um acto falhado, foi o que toda a gente, em todos os canais, concluiu. Parece que tudo se resumiu a anunciar, mais uma vez como se fosse coisa dele, a compra de carros de que o Governo do Costa já tinha tratado. Uma reincidência patética em querer ficar com louros do trabalho alheio, algo que deveria merecer tratamento psicoterapêutico.
Passou-se, disseram quase todos. Não tem noção, disseram os restantes. Absurdo, concluíram todos em uníssono.
Mas não eu. Eu alcancei o propósito da coisa.
Nem vale a pena imaginar grandes motivações pois 'o saloio de Espinho' (Marcelo dixit) é rasteiro demais para isso. Geralmente, com pessoas assim, os propósitos são apenas os que estão à vista.
E o que esteve à vista foi a árvore de Natal. E foi isso que ele ali esteve a fazer, nem mais nem menos: a mostrar a árvore de Natal.
Bem, talvez tenha tentado um pouco mais que isso. Bimbo que é bimbo, não perde oportunidade de exibir a sua bimbalhice. E, portanto, penso que não errarei se disser que ele ensaiou também apresentar-nos um presépio humano. Todos sabemos que, com aqueles seus arroubos de macho alfa e sorrisinho de joker, o seu pratinho é exibir-se em modo moderno, arrojado. E, portanto, ao lado da árvore de Natal, ali esteve o Presépio de São Bento à moda do saloio de Espinho.
Ele, o São José, claro (e nem vou comentar); a Rita Júdice (coitada, de tão boas famílias e agora a ver-se metida nestas alhadas), a Nossa Senhora; a fofinha Fiasco, o menino Jesus. Provavelmente, terá mesmo pensado em apresentá-la nuazinha, deitada nas palhinhas, a dar às perninhas, numa little manjedoura colocada ali em cima da mesa. Mas ela deve ter dito que estava frio, que se não fosse isso até dizia que sim, chefe, e para reforçar a sua posição, apresentou-se de echarpe enrolada ao pescoço. Dos restantes que ali estiveram a fazer figura de corpo presente, coitados, não sei qual aceitou fazer o papel de burro, qual o de boi (acho que eram homens pelo que vamos esquecer a vaca). E ainda estava ali gente que chegava para dar para os Reis Magos e para mais uns quantos carneiros.
Admirou-me foi o saloio de Espinho não ter levado a sua Senhora, que se veste tão a preceito, quiçá poderia desta vez não ir toda de pink com blusinha em transparências e rendas como se apresentou no Parlamento para comemorar o 25 de Novembro, mas ir toda de branco, com um piedoso véu, para tentar disputar o lugar de Primeira Nossa Senhora e atirar a Rita para um papel secundário. Cá para mim, alguém do protocolo deve ter aconselhado a desta vez não ir até porque já não cabia mais gente naquele presépio.
Quanto ao resto, cá para mim não vale a pena querer encontrar mais alguma justificação. Não há. Foi só isto.
___________________________________
Até aqui tenho o vídeo do encontro dos Reis Magos antes de lá irem levar os seus presentes. Foi pena não termos visto o momento em que fizeram a oferta: provavelmente o senhor da ASAE levou as azeitonas que, segundo ouvi dizer, foram apreendidas naquelas magníficas rusgas, o da Judite uma carteira Kelly de contrafacção e o da GNR a cavalo deve ter levado umas chamuças ainda quentinhas que arrebanhou nalguma lojinha do Martim Moniz.
10 comentários:
Análise lúcida e conclusões precisas. No entanto, e há quase sempre um no entanto, quando o "engenheiro" da cela 44, e a restante quadrilha, andavam por aí que comentários a si lhe mereceram?
Já o disse aqui muitas vezes e volto a dizê-lo: não votei em Sócrates para que ele fosse meu amigo mas, sim, primeiro-ministro. Julguei-o sempre, e julgo, enquanto primeiro-ministro. Foi um bom primeiro-ministro, dos melhores que tivemos. Discordei dele algumas vezes, no 2º mandato, em especial quando aumentou os funcionários públicos quando já era notório que a crise financeira internacional chegaria até nós.
Não perceber a diferença, como primeiro-ministro, entre Sócrates e o Mentenegro é sofrer de grave miopia ou sei lá o quê.
O que Sócrates fez depois ou antes de ser primeiro-ministro a mim não me interessa.
Anónimo;
Quem identificava seres humanos com números eram os nazis. E parece que continuam a fazê-lo.
De facto, grande primeiro ministro. A bancarrota foi uma questão de somenos!
Com número foi identificada a cela, não o cidadão
Caso não saiba, foi indicação da Comissão Europeia aos países que, naquela altura, para fazer face à retracção inerente à crise financeira, se deveria adoptar uma política de estímulo à economia. Isso estava inclusivamente acordado com Passos Coelho. Ao chumbarem o Orçamento, a Merkel ficou passada com o Passos Coelho. E claro, a seguir foi o que se viu. Claro que o país estava endividado, e isso já vinha de muito antes, era aliás um problema comum a muitos países na Europa. Não foi só Portugal que se viu aflito com as crises das dívidas soberanas. Sabe que a crse foi global, não sabe? Ou pensa que o que aconteceu na Grécia, na Irlanda, por exemplo, também foi da responsabilidade do Sócrates?
E sabe que, neste momento, a Itália ou a França estão com dívidas públicas enormes, não sabe? A culpa foi do Sócrates?
Sabe que a Merkel, nas suas Memórias, diz que a sua maior frustração foi a crise financeira, a crise das dívidas soberanas, não sabe?
Talvez seja melhor informar-se um pouco melhor antes de se pôr a atirar pedras, não lhe parece?
Sei, sei! Porém, felizmente, também sei o que é uma bancarrota.
É verdade: a crise financeira internacional foi uma chatice, aqui e em todo o mundo.
Bem sei que o rigor é estranho para alguns (frequentemente o meio digital é propenso ao disparate) mas vou tentar soletrar para ser mais fácil entender: os países não sofrem crises financeiras; estas são inerentes exclusivamente aos estados. Além disso nem "todo o mundo" fez parte desse descalabro
Então também vou falar devagarinho: não me parece que aqui seja local, de facto, para ter que estar com rigores absolutos. Além disso, estou em crer que "à bon entendeur demi-mot suffit".
Mas seja: estado e não país. E claro que não foram todos os países. Mas vá informar-se sobre quais os países do mundo ocidental (soi-disant), ou mais restritamente, se quiser, os europeus, que escaparam totalmente incólumes à crise das dívidas soberanas. Depois da crise financeira global de 2008, veio a crise das dívidas soberanas dos países europeus, tendo sido afectados diversos países (e alguns, como saberá, ainda andam bastante à nora com isso). Ora, voltando, à vaca fria: sendo uma crise transversal, mundial ou europeia, como queira analisá-la, que fixação bizarra é essa em Sócrates?
Enviar um comentário