segunda-feira, junho 10, 2024

Europeias 2024 -- os quês e os porquês
Análise, partido a partido

 

PS - Com uma AD que deu origem ao actual governo -- um governo desgraçado, que tem revelado uma atitude videirinha, pacóvia, ignorante e chico-esperta --, seria expectável e razoável que o PS conseguisse uma distância mínima de 5% em relação à AD. Mas não conseguiu. 

E não venham dizer-me que o PS ainda está a arrumar a casa, a juntar os cacos (como ontem ouvi, na televisão, um débil mental a dizer). Qual desarrumação? Quais cacos? Acaso o PS estava desarrumado? Acaso alguém tinha partido a louça toda? Estão malucos ou quê? O PS estava a governar e bem, tinha a casa arrumada. Poderia estar ainda muito agarrado a velharias, gente ainda muito saudosa dos maravilhosos tempos que se seguiram à queda da ditadura, gente que continua a sonhar sobretudo nos amanhãs que cantam. Mas, tirando o aspecto da renovação que já era (e ainda é) indispensável, era um partido bem dirigido. António Costa era um líder inquestionável.

A razão residirá, isso sim, muito na forma como este PS de Pedro Nuno Santos se posiciona. Continua a querer ressuscitar a geringonça, continua a querer agradar ao eleitorado mais à esquerda, mesmo quando está mais do que claro que esse eleitorado já praticamente não existe. 

Além disso, Pedro Nuno Santos funciona na base do eucalipto: à sua volta, nada. E isso foi bem patente na forma como se apresentou agora a cantar vitória. Em vez de aparecer rodeado pela equipa dos deputados eleitos, não senhor, apareceu ele, ele e ele. E num lado a Marta Temido e no outro o Carlos César. Muito mau. Depois de ter corrido com uma mão cheia de deputados notabilíssimos, nem para com os agora eleitos teve o gesto de os levar para o palco.

Da mesma forma como na política nacional não se sabe rodear de figuras de enorme qualidade como Mariana Vieira da Silva ou Fernando Medina ou Duarte Cordeiro (e outros a quem António Costa soube valorizar). Parece apenas dar ouvidos aos geringônticos Alexandra Leitão (e, de certa fora, Mendonça Mendes).

Ao parecer querer livrar-se de todos os que eram figuras de destaque na governação de António Costa e ao parecer não saber compreender a nova realidade, o PS não sabe ir buscar um eleitorado novo nem sabe recuperar a classe média que se deslocou para a sua direita por não se rever neste PS que, com Pedro Nuno Santos, aparece aos olhos do eleitorado como anquilosado e encostado a uma esquerda moribunda.

Ouvi Pedro Nuno Santos anunciar que vão lançar uns novos Estados Gerais. Espero que daí nasçam novas ideias. Espero que percebam que não é com Carlos César e outras peças de museu ou com Alexandra Leitão e outros saudosos da Geringonça que vão conseguir contrariar a tendência descendente que se vem desenhando. De resto, também não sei se a noite eleitoral era o momento ideal para falar nisto. Sendo estas eleições europeias tão relevantes, Pedro Nuno Santos esqueceu-se disso e só falou de política nacional. Muito curto em termos de visão estratégica. O que ali vi foi sobretudo o PS a olhar para o seu umbigo, parece que incapaz de olhar para o que o rodeia e para o contexto europeu.

Espero que consigam mudar (para melhor) pois o País precisa de um bom partido social-democrata.

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AD - Beneficiam da inércia e da deficiente informação dos eleitores tal como beneficiam do colo que a comunicação social lhes dá. Com Portas e Marques Mendes a fazerem campanha activa em horário nobre, ao domingo, em canal aberto (com a conivência da Comissão das Eleições) e com uma profusão de comentadores a manipularem a opinião política, conseguiram aguentar-se. Com o que têm demonstrado desde que formaram Governo, com um eleitorado bem informado e com um PS mais assertivo e inteligente, a AD teria levado uma banhada. Não levou. Mas é o que temos. De qualquer forma, penso que é uma questão de tempo.

Montenegro, na noite eleitoral, também não se lembrou de que se estava a tratar de eleições europeias. Não deve sequer saber quais os problemas europeus. Tudo o que disse me soa a conversa videirinha, saloia, a falar muito e sem acrescentar nada.

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Chega - Felizmente sofreram um trambolhão. Gostava que lhes acontecesse qualquer coisa como a que aconteceu ao PRD, ou seja, que um dia destes o Chega acabasse. Mas não sei, não. André Ventura não acabará, arranjará maneira de andar por aí pois nitidamente tomou-lhe o gosto, é um populista que não vai ser capaz de parar. André Ventura é inteligente, é ubíquo, é uma máquina, e, como sabe lançar sound bites em permanência, a comunicação social não o larga e isso chama os eleitores. Mas, enfim, assim como assim, os eleitores souberam dar-lhe um chega para lá e isso talvez faça André Ventura refrear a sua energia destrutiva.

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Iniciativa Liberal - Subiram e subiram bem. A democracia liberal é um caminho aberto e o eleitorado jovem e com sangue na guelra  bem como uma classe média informada e exigente que se vê abandonada pelos partidos do dito centrão dar-lhe-ão ímpeto para subir ainda mais. A nível europeu, o espaço da democracia liberal será, creio que cada vez mais, o oxigénio de que a democracia precisa para impor, com alguma modernidade e juventude, os seus valores, fazendo uma barreira contra o populismo e contra a direita reaccionária que tanto nos ameaça.

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Bloco de Esquerda - Caiu e caiu bem. O Bloco é um partido que por vezes está bem mas, na maioria das vezes, está mal, sendo frequentemente populista, agarrando-se a causas marginais, assumindo atitudes justicialistas e arvorando-se em dono da verdade.

Na intervenção que tiveram a propósito dos resultados eleitorais, considero patética a sua  alucinação a cantar vitória, a rirem, às palmas, todas contentes como se não tivessem percebido que a sua representação se viu reduzida a metade. De loucos.

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CDU -- Caiu e caiu bem. Continuam agarrados a ortodoxias de antanho, defendem já não se sabe bem o quê, não percebem que já não representam quase ninguém, ignoram tudo o que de novo e relevante se passa à sua volta. A intervenção de João Oliveira e do Raimundo é alienação em estado puro. Marimbaram-se para a política europeia (realidade que, a bem da verdade se diga, lhes passa ao lado), marimbaram-se para os temas mais relevantes da actualidade e sorrindo de gosto, eufóricos, cantaram vitória e reincidiram na única e estafada lenga-lenga que conhecem. Já vão em 4% dos votos, só conseguiram um deputado, e ali estiveram, contentes como se tivessem ganho as eleições. Não sei se isto deve ser visto como uma perturbação do foro psicológico ou cognitivo mas alguma é.

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Livre -- Tenho pena que não Francisco Paupério não tenha sido eleito. O Livre é uma esquerda moderna, ambientalista, humanista, informada. Como tenho vindo a dizer, acho importante que haja uma esquerda inteligente, informada, aberta aos novos temas. Gostava que, em Portugal, o Livre crescesse pois a democracia precisa de partidos assim. E a Europa precisa também de vozes jovens, civilizadas, democráticas, abertas ao futuro.

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Abaixo, as Primeiras impressões

8 comentários:

Anónimo disse...

Palpita-me que votou IL.

Isso é que é uma sanha a Pedro Nuno Santos. Mas não foi desta. Ainda que, a insistir em juntar os farrapos àqueles dois mortos-vivos, lá chegará o seu tempo.

VXYZ disse...

Como matemática explique a azia contra professores.

Um Jeito Manso disse...

Primeiro comentador,

Nada de pessoal me move contra Pedro Nuno Santos. Apenas acho que está desfocado e que, a continuar assim, vai enfraquecendo o PS.

O PS tem gente de enorme valor e que, não sei porquê, está marginalizada. O PS fez coisas importantíssimas na sua governação (apesar da difícil conjuntura que atravessou). Em vez de saber capitalizá-las, o PS de Pedro Nuno Santos parece que tem vergonha de louvar o imenso trabalho bem feito.

E em vez de perceber que as causas que movem o eleitorado hoje não são as mesmas que o moviam quando queriam correr com o Passos Coelho, parece que continua preso às causas que são caras ao eleitorado do PCP e do Bloco de Esquerda -- quando este eleitorado já praticamente não existe.

Além disso a faixa etária que está a suportar o PS tem mais de 55 anos. Ora isto demograficamente dita o fim, a prazo, de um partido. A malta mais nova está a aderir a partidos como o Livre ou a Iniciativa Liberal. E o PS de Pedro Nuno Santos não está a compreender isto.

É o que eu penso.

Um Jeito Manso disse...

VXYZ

Há comentários tão abstrusos que uma pessoa nem sabe se deixe para lá ou se tente responder...

'Como matemática explique (...)'...? Então se for física já não preciso de explicar? Se for economista também estarei dispensada?

Há com cada um... Com uma premissa dessas, nem sei se acrescente mais alguma coisa...

Enfim...

E a que propósito vem isso dos professores agora? No post escrevi alguma coisa sobre professores?

E não tenho azia nenhuma contra professores (em geral). Tenho, sim, sobre a forma como alguns professores se auto-desrespeitam indo para a rua com cartazes em que põem os governantes com cara de porco e com lápis espetados nos seus olhos ou como se auto-desrespeitam marimbando-se para a aprendizagem dos alunos e para os transtornos familiares que causam com greves sistemáticas nem se percebe bem a propósito de quê.

Se as greves têm a ver com o descongelamento de uns quantos anos de carreira, então, acrescento que os professores desrespeitam-se, também, aos olhos da população ao esquecerem que isso aconteceu com toda a gente em Portugal que viu carreiras e ordenados congelados sem que isso ainda tenha sido revertido.

Portanto, não tenho azia contra professores em geral mas com os que são baderneiros, arruaceiros e egoístas.

Mas isso tem o quê, agora, a ver com as eleições europeias? E isso tem o quê a ver com a minha formação de base, seja ela qual for?

Ou não me diga que é ou foi professor e que é daqueles que não atina com nada, misturando alhos com bugalhos...?

ccastanho disse...

A UJM continua a marginalizar os grisalhos, como se eles fossem uma cambada em vias de extinção e com eles, Pedro Nuno Santos, será decapitado no pelourinho da inquisição da nova ordem neoliberal servil do capitalismo selvagem por não perceber, ou não querer perceber, que a salvação dos portugueses,(no entender da UJM) são essa nova casta de excelsos jovens, que escolhem o lado neoliberal salvador da economia nacional que estão a votar na IL.

Essa casta de excelsos jovens são tão insignificantes nos resultados eleitorais que dá dó.

Um Jeito Manso disse...

Ccastanho,

A demografia é uma coisa tramada... Não querer olhar para isso é enfiar a cabeça na areia. É o que tem feito o PCP.

Diogo Almeida disse...

UJM, consciencialize-se de que não existem políticos de «enorme valor». O político é um gajo de fazer andar; do acto de mandar; de operar as leis. Há, apenas, logística entre teoria(s). Nunca se achará entre eles o «grande valor»; esse está reservado aos cientistas, e num tom mais elevado aos artistas, aos que pensam antes de agir e operar. São eles que criam o próprio «Valor». Ai ai ai.

Ao político falta-lhe muito manejo do silêncio; profundidade; a cultura Antiga, já que a moderna...

Mas isto é um ponto.

O outro ponto é este: a UJM tem o teclado do pc com teclas viciadas?

É que está sempre a insistir que «o PS governava e BEM» o país.

Aposto consigo que se fosse António Costa a concorrer enquanto líder do partido no 10 de Março de 2024, perdia ainda por maior margem do que perdeu PNS, dando mais para o Chega. Não?

O País, àquela altura, só sabia viver de crise em crise. E graves. O Montenegro está a tentar responder...

Anónimo disse...

tem o elbow mesmo muito ofendido por o seu borreguinho não estar à frente do rebanho. se fosse ele a ad e os amigos de direita estavam de grande e a diferença seria muito mais do que 5% mas de derrota.