terça-feira, junho 11, 2024

Falemos, com alguma objectividade, de coisas concretas

 

A propósito da parvoeira e da chico-espertice do so-called choque fiscal da AD (na verdade, meros trocos em cima do que o PS tinha feito) e sobre a qual o PS está a fazer outra parvoíce ao não deixar o PSD fazer o que quer, e a propósito também da deriva absurda da AD ao pretender dar uma escandalosa borla fiscal a quem tenha até 35 anos (ganhem o que ganharem), fiz um pedido ao ChatGPT. 

Abaixo, transcrevo o que ele me devolveu. Não validei os números pelo que se alguém quiser fazer uma análise idêntica para fins concretos e de responsabilidade deverá conferi-los, recorrendo a fontes oficiais. 

O que aqui tenho está em inglês pois parece-me que, ao ter que consultar fontes oficiais (OCDE, UE, etc., como vi que 'ele' consultou) há menos risco de erros de o ChatGPT se baralhar por deficiente tradução/interpretação.

Quando os saloios da AD acham que vão atrair ou reter pessoas que estão a viver fora ou que, estando cá, equacionem emigrar, seria bom que, antes, fizessem uma análise global.

Por exemplo: 

  • Trabalhando cá, como é que o salário médio português compara com alguns dos principais países que acolhem a nossa emigração?
  • Como são os impostos cá e lá? É que uma família que se mude tem que pensar como fica quando tiver 36 anos.
  • Com que salário anual se atinge a taxa máxima de IRS?
  • Como é o PIB e o crescimento nesses países? (Isto é, são países ricos? Há crescimento económico?)
  • Qual o imposto sobre capitais (Juros de depósitos a prazo ou de títulos de dívida pública, etc) nesses países?
  • (Por mera curiosidade, como comparam os impostos sobre os resultados das empresas, vulgo IRC?)

Eis as respostas que o ChatGPT me forneceu (e que, repito, não me dei ao trabalho de validar)

Portugal

  • Average Annual Salary: €22,628
  • Income Tax Rates: 14.5% to 48%
    • Maximum Rate Applied At: €80,882
  • GDP per Capita: €22,440
  • Average Annual GDP Growth Rate: 2.2%
  • Capital Gains Tax: 28% for individuals, 25% for companies
  • Corporate Tax Rate (IRC): 21%

Analysis: Portugal has a lower average salary and a high top tax rate, impacting those with incomes above €80,882. Despite lower living costs, disposable income is limited, affecting the overall quality of life. 

Ah pois...

Vejamos, agora, os países para os quais os portugueses mais emigram ou emigraram.

Spain

  • Average Annual Salary: €28,375
  • Income Tax Rates: 19% to 47%
    • Maximum Rate Applied At: €300,000
  • GDP per Capita: €29,700
  • Average Annual GDP Growth Rate: 2.4%
  • Capital Gains Tax: 19% to 23%
  • Corporate Tax Rate: 25%

Analysis: Spain offers higher salaries with a top tax rate impacting those earning above €300,000. With moderate living costs and good public services, the balance between income and taxes is favorable, enhancing the quality of life.

France

  • Average Annual Salary: €39,300
  • Income Tax Rates: 0% to 45%
    • Maximum Rate Applied At: €160,336
  • GDP per Capita: €38,500
  • Average Annual GDP Growth Rate: 1.3%
  • Capital Gains Tax: 30%
  • Corporate Tax Rate: 25%

Analysis: France provides high salaries with the top tax rate starting at €160,336. Despite high living costs, comprehensive social services and public benefits contribute to a high quality of life.

Germany

  • Average Annual Salary: €49,200
  • Income Tax Rates: 0% to 45%
    • Maximum Rate Applied At: €274,613
  • GDP per Capita: €46,200
  • Average Annual GDP Growth Rate: 1.8%
  • Capital Gains Tax: 26.375%
  • Corporate Tax Rate: 15% + 5.5% solidarity surcharge

Analysis: Germany has the highest average salary among the listed countries, with the top tax rate affecting incomes above €274,613. High disposable incomes and efficient public services result in a high standard of living.

United Kingdom

  • Average Annual Salary: €37,600
  • Income Tax Rates: 20% to 45%
    • Maximum Rate Applied At: €174,500 (£150,000)
  • GDP per Capita: €44,300
  • Average Annual GDP Growth Rate: 1.4%
  • Capital Gains Tax: 10% or 20% (18% or 28% for property)
  • Corporate Tax Rate: 25%

Analysis: The UK offers high salaries with the top tax rate starting at €174,500. High living costs, particularly in London, are offset by good public services and infrastructure, maintaining a high quality of life.

Summary

  • Portugal and Spain: Moderate quality of life with progressive tax systems and lower income levels. Spain offers a better balance due to a higher threshold for the top tax rate.
  • France and Germany: High quality of life with robust social services. Germany's higher salary and tax threshold provide more disposable income.
  • UK: High quality of life with high incomes and living costs. The UK offers a balanced approach with higher tax thresholds and comprehensive services.
Penso que está claro, não está?

Portugal tem salários bem mais baixos do que os países que tradicionalmente mais portugueses atraem, é um país bem menos rico, carrega nos impostos sobre rendimentos das pessoas que é um disparate e um abuso.

Portanto, é nisto que os governantes (sejam eles quem forem) têm que se concentrar: estimular fortemente o crescimento económico, incentivar fortemente a subida de salários, reduzir a taxação de IRS da classe média, taxando mais apenas os verdadeiramente ricos (vide valores acima) com vista a libertar liquidez para as famílias.

Em contrapartida, (a serem verdadeiros os números acima), bem pode taxar mais as empresas, em especial as que têm lucros mais elevados pois, aparentemente, Portugal, entre estes países, é quem taxa menos.

Mas há outros índices a ter em atenção, nomeadamente o Índice de Felicidade. E mais uma vez transcrevo a resposta que obtive e, de novo, a serem verdadeiros os valores que o Chat me devolveu, dá que pensar:

Based on the latest World Happiness Report, here are the happiness index scores for Portugal, Spain, France, Germany, and the United Kingdom:
  • Portugal: 5.9
  • Spain: 6.5
  • France: 6.7
  • Germany: 6.9
  • United Kingdom: 6.8​ 

These scores provide a comparative measure of subjective well-being across these countries, reflecting factors such as GDP per capita, social support, healthy life expectancy, freedom to make life choices, generosity, and perceptions of corruption. 

De notar que o valor mais elevado é obtido pela Finlândia que tem 7,8

Ou seja, também aqui, Portugal está abaixo dos países que acolhem grande parte dos nossos emigrantes. E este indicador é daqueles que, por ter um âmbito muito abrangente, mais diz sobre a qualidade de vida num país.

Podia elencar outros indicadores que traduzem a qualidade de vida (quer a real quer a percepcionada) mas isto é um blog, não pretende, de forma alguma, dar-se ares de compêndio...

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Em gestão há uma metodologia que se designa por Balanced Scorecards. As empresas identificam objectivos que pretendem atingir (transpondo para a realidade nacional, suponhamos que, em Portugal, se pretendia ter um índice de felicidade de 7 no prazo de 3 anos, um salário médio equivalente a 80% da média dos salários médios dos países acima referidos no prazo também de 3 anos, uma taxa média de IRS para salários até 150.000€ anuais equivalente à média dos referidos países também no prazo de 3 anos, etc., etc, etc...). Então, para cada objectivo, traçar-se-iam iniciativas para lá chegar, e métodos para as monitorizar bem como indicadores para ir avaliando periodicamente a sua prossecução.

Claro que, ao detalhar iniciativas, iremos ter iniciativas múltiplas seja ao nível da formação académica e profissional, seja ao nível das medidas sociais para incentivar a renovação demográfica, medidas para proporcionar estímulos lúdicos que ajudem a percepcionar uma melhor qualidade de vida, etc.

Ou seja, de forma integrada, monitorizável e mensurável, seria possível pôr o país a caminhar rumo aos mesmos objectivos, de forma convergente, inteligente, inequívoca.

Deixaria de ser uma realidade ao gosto de cada comentador, cuja avaliação é na base das bocas. Pelo contrário, passaríamos a trabalhar num registo de seriedade intelectual, de objectividade.

E teríamos a certeza que o que estaríamos a fazer não seriam medidas avulsas, de utilidade duvidosa, injustas, absurdas.

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Sobre o (grave) problema do SNS e da Saúde em geral, a ver se falo no assunto amanhã ou, senão, um dia destes. Contudo, vou já adiantando que a resolução do (grave) problema em causa não é tema para médicos.

6 comentários:

marsupilami disse...

Partido Socialista: PS
Iniciativa Liberal: qual IL!, deveria ser PNQPI (quem descodifica o acrónimo?)

Um Jeito Manso,

Em vez do Chat (coitado), sugiro um estudo mais substancial - a saber, "Capital e Ideologia" de Thomas Piketty. Thomas, tal como os nossos amigos do PNQPI, pertence à nossa classe social (Thomas -> Tomás, check!), tem gostos próximos dos nossos, enfim é um fulano com um capital cultural "comme il faut". ;)

Mas, no que diz respeito ao livro, não estou a brincar. É essencialmente um livro de História económica e política; e lendo-o ganha-se um certo músculo que talvez obste certo tipo ofuscamentos involutários. Enfim, é um livro de leitura obrigatória para quem gosta de andar informado (pardon, não resisto a uns slogans parvos, são os "after effects" da campanha publicitária, ups!, eleitoral)

Um resto de bom dia! :)

Um Jeito Manso disse...

Olá marsupilami

Não descodifiquei. Pareceu-me aquilo do LGBTQIAPN+. Se tivesse escrito PB ou percebia de caras. Assim, não sei.

Quanto ao Thomas Piketty claro que já cá canta desde há muito (bem... há muito, há muito não será pois não saiu assim há tanto tempo, quiçá uma meia dúzia de anos, por aí, acho eu. E tenho ideia que até cá tenho dois livros dele, o primeiro que deu brado mas tenho ideia que comprámos um outro. Hei de ver.)

E não há cá nenhuma questão de ofuscamento. Tenho uns óculos anti-reflexo que são uma maravilha.

De qualquer forma, obrigada pela dica.

Mas olhe, não subestime o ChatGPT. Ainda tem uns lapsos mas é uma ferramenta extraordinária. Faz o trabalho de pesquisa e compilação, apresentando os resultados de forma sistematizada e tudo em fracção de segundos.

E faz outra coisa que soube que fazia através do meu filho pois nunca me teria ocorrido. Tire uma fotografia ou digitalize uma coisa e peça para 'ele' interpretar. É na hora. Fotografei o resultados de umas análises (6 páginas). Foi instantâneo. Reproduziu tudo, teceu considerações e tudo correcto. Outro dia tentei com um gráfico. Interpretou-o que foi um miminho. Não sei como é que as escolas e a sociedade em geral vão lidar com isto pois isto substitui trabalho de análise, pesquisa, escrita, etc... Muito incrível. Ainda não é totalmente seguro pois já detectei algumas incorrecções em números que apresenta (sobretudo quando o que lhe peço envolve leitura de muitas fontes, escolha da melhor mas também cálculo. Mas há de ser aprimorado.

Já tem conta no Open AI e já experimentou questionar o Chat GPT? Se não, sugiro que experimente. Aposto que vai ficar admirado.

Um bom dia para si.

ccastanho disse...

Agradeço o trabalho que nos mostrou.
A informação é sempre bem vinda.

marsupilami disse...

QIAPN+?... Ando mesmo desactualizado. Partido do Não Queremos Pagar Impostos. :)

Então, veja o gráfico 14.1 do outro livro do Piketty (Le capital au XXIème siècle). Atente especialmente na curva dos EUA (e do UK). Sabia disso? Se como eu não sabia, é surpreendente, não é? Anti-intuitivo, completamente ao contrário da "doxa". Tem aqui um pdf com todos os gráficos do livro, é na página 101 do ficheiro.

http://piketty.pse.ens.fr/files/capital21c/Piketty2013GraphiquesTableaux.pdf

O Chat? Tenho umas 'chats' com ele de quando em quando. Usado com critério, pode ser bastante útil mas é pouco fiável (falo de ciências duras). Temo que para 95% da malta, crie mais ruído que outra coisa. Não há nada como o método mais primitivo de todos - as orais - para apanhar calões.

marsupilami disse...

A propósito da IA, lembrei-me de uma palestra muito interessante de um grande especialista Luc Julia "L'intelligence artificielle n'existe pas"

https://www.youtube.com/watch?v=yuDBSbng_8o

Boa noite!

Um Jeito Manso disse...

marsupilami

Concordo com Piketty no que se refere ao nefasto que é a concentração de enormes fortunas nas mãos de poucos. Até a nível existencial é um absurdo.

Piketty refere que a redistribuição equilibrada e justa conduz a uma sociedade mais justa, mais desenvolvida. E eu concordo.

A questão está em determinar o patamar a partir do qual se deve considerar que uma pessoa é muito rica, devendo partilhar com as pessoas que ganham menos grande parte dos seus rendimentos.

Mantendo a estrutura muito escalonada que temos hoje, poder-se-ia ir pela lógica dos percentis para definir o que são ricos para lhes atribuir a taxa máxima, mas creio que isso não tem leitura fácil por grande parte da população.

Por isso, em alternativa aos percentis, poderia ser razoável considerar que o actual escalão máximo (que me parece mais razoável que não exceda os 40%, até para que, acrescendo a TSU, as pessoas não vejam 'desaparecer' muito mais que 50% dos seus rendimentos) seria atingido por rendimentos superiores a 10 vezes o salário mínimo nacional. E parecer-me-ia razoável criar um escalão para o percentil daqueles, poucos, muito ricos. Por exemplo, não me choca ter um escalão de 60% para rendimentos superiores a 40 vezes o salário mínimo.

Mas, de qualquer forma, aquilo que a mim me parece que faria mais sentido seria fazer uma simplificação fiscal de leitura muito óbvia. Penso que as melhores soluções são sempre as mais simples. O que temos hoje é uma gatafunhada que mais parece uma brincadeira.

Não creio que a flat rate seja a solução para Portugal (no mínimo, penso que deveria sempre haver 3 patamares para se poder ter uma taxa diferenciada e agressiva para os muito ricos) mas gostaria de ver um sistema progressivo simples como este:

Rendimentos Baixos: Taxa de 10% para rendimentos até €20.000.
Rendimentos Médios: Taxa de 20% para rendimentos entre €20.001 e €50.000.
Rendimentos Altos: Taxa de 30% para rendimentos entre €50.001 e €100.000.
Rendimentos Muito Altos: Taxa de 40% para rendimentos entre €100.001 e €200.000.
Rendimentos Excepcionalmente Altos: Taxa de 50% para rendimentos acima de €200.000.

Aqui fui para números redondos apenas para exemplificar mas poderíamos ter patamares em função de multiplicadores tendo por base o salário mínimo (como acima referi).

E defendo, sobretudo que a par da simplificação do sistema fiscal, se institua, com mão de ferro, um sistema rigoroso de controlo e punição da fuga ao fisco.