sexta-feira, dezembro 15, 2023

Tentando recolocar-me nos carris em que gostaria de me mover

 

O dia foi tão duro que a minha fragilidade ficou muito mais patente do que eu desejaria, e não apenas perante os outros como perante mim mesma. Por isso, percebi que não havia volta, tinha mesmo que tomar um ansiolítico. Tomei metade agora à noite e vamos ver se resulta. Por vezes, tomando um ben-u-ron para alguma dor, durmo como uma pedra durante horas. Com este meio ansiolítico, com sorte dormirei umas doze horas de seguida. Bem precisada estou. A noite passada, antevendo (ou temendo) as notícias que o dia me traria, mais uma vez praticamente não dormi e, nos escassos minutos em que dormi, foi para ter pesadelos.

Uma coisa sou eu a opinar a propósito das situações difíceis pelas quais os outros atravessam: ouço, aconselho, penso com todos os neurónios disponíveis. Ainda ontem, em conversa com uma amiga, cuja mãe, idosa e naturalmente vulnerável, está a atravessar aquele momento delicado em que se percebe que, apesar de ser essa a sua vontade, já é arriscado continuar sozinha, falei acho eu que ponderadamente, alertei para os prós mas também para os contras. Nesse papel sou não apenas compreensiva como racional.

Mas quando sou eu aquela que se encontra perdida e assustada, a minha racionalidade evapora-se. Fico incapaz de me posicionar de forma objectiva e corajosa. Felizmente tenho quem me apoie e ampare neste doloroso exercício de me manter de pé e de cara sorridente para tentar transmitir a possível tranquilidade a quem dela precisa muito, muito, muito mais que eu. É que, objectivamente, o drama maior não sou eu que estou a vivê-lo e, por isso, não posso portar-me como a parte mais frágil desta situação.  Pelo contrário, eu deveria ser a pessoa com mais força para ser capaz de transmiti-la. Mas não estou a ser capaz de sê-lo. Sozinha eu cairia.

Quem passa por estas situações sem ter quem o/a ajude a manter a cabeça no sítio, os pés na terra, o corpo erguido, o coração inteiro, e, ao mesmo tempo, boa cara, deve chegar a ponto de sentir que está a lutar pela própria sobrevivência. Imagino que as forças faltem com muita frequência.

[Tão avessa que sempre fui a falar dos meus problemas, desta vez, por muito que tente impedir-me, não tenho conseguido. Pode ser que o ansiolítico e que alguma racionalidade que consigam enfiar-me na cabeça consigam voltar a colocar-me nos meus próprios carris. 

Por isso, não tenho conseguido responder e agradecer aos comentários (e, por isso, vos peço desculpa) nem tenho conseguido escrever sobre assuntos divertidos ou diversos e, apenas a custo, tenho conseguido escrever sobre a actualidade. Felizmente, de vez em quando, o meu marido, ao insurgir-se com o que se passa na nossa vida política, resolve escrever ele. Bem lhe agradeço.]

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Estive a ver se descobria vídeos interessantes para partilhar pois custa-me que aqui venham e apenas encontrem esta recorrente ladainha. Mas nem para isso tenho paciência. Vou aqui colocar um apenas pelo título pois, a bem dizer, só o espreitei por segundos. Pode ser que, a seguir, vá ver se vale a pena.

O que liga Rothko e Mozart?

Mark Rothko was obsessed with Mozart's music, considering him the 'alpha & omega' of composers. But what can we learn from this obsession? In this essay, I look at the parallels between Mozart's music and Rothko's paintings and consider how both artists aim to achieve the same goal - the simple expression of the complex thought.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá UJM, da minha parte, que já a leio vai para 10 anos nem sempre presentes mas nunca completamente ausentes, não me incomoda nada que fale da sua vida e talvez seja por essa partilha e pela diversidade do seu blog que ainda por aqui passo os olhos. Pelo contrário, preocupa-me que esteja angustiada e não desabafe (na medida que lhe seja confortável). Não somos todos iguais mas a mim sempre me acalmou ouvir os problemas dos outros e quando tenho eu problemas acalma-me partilhá-los. Devido à educação que recebi sempre vi com maus olhos esta minha procura pelo outro e sentia a obrigação de ser mais estóica. Mas com a idade aceitei que isto que nos faz humanos ajuda-nos a viver melhor a vida. De uma forma ou de outra o tempo tudo resolve, e às vezes não nos resta mais que esperar que o tempo passe. Bom descanso. Ana

Janita disse...

Cara UJM, quem já leu os seus posts cheios de vida e de ânimo, sobretudo no tempo em que ainda estava no activo, ou seja, no desempenho da sua vida profissionl, até dói a alma constatar como a sua disposição e jeito alegre de ser e pouco manso, mudou.

Na tentativa de a animar um pouco, alinhavei um post que, no mínimo, gostaria lhe pusesse um sorriso no rosto. É uma brincadeira sem grande interesse para a maioria dos leitores, mas como o elaborei a pensar em si é-me indiferente a aceitação que possa ter.

Gostaria que elevasse esse astral, pense que o que não tem remédio remediado está. Suponho saber o que a apoquenta, assim como suponho que a ausência de tudo o que a assoberbou durante anos: reuniões de trabalho, o corre-corre para cumprir horários e compromissos, lhe estejam a fazer alguma falta e a criar em si um certo vazio. Há que dar tempo ao tempo para que tudo se volte a ajustar na sua vida.

Não lhe vou dizer quando farei a tal publicação nem quero que se sinta na obrigação de me visitar. Nada disso. O que me move é saber do seu real valor, da sua força anímica, do seu talento para a escrita e vê-la assim tão apagadinha, deu-me vontade de a ajudar a arribar. :)
Força, UJM!
Há sempre um amanhã que espera por nós.

Aceite um sincero abraço meu.

Janita