sexta-feira, julho 28, 2023

Habemus pasta -- The walk of shame
Grande Bordalo II

 




Devo dizer que me incomodam grandemente as grandes concentrações por motivos religiosos. Ainda mais quando os participantes são jovens. Aceitarei razoavelmente se andarem nisto das Jornadas para aquilo que o Cardeal Américo das Multas Aguiar diz: para a borga e para farras. Mas custar-me-á a perceber se alguns vierem numa de beatice, todos muito pios, todos muito formatados, todos numa de virem contactar de perto com o espírito do Senhor, todos disponíveis para participar em sessões que, a mim, me parecem sinistras, coisa quase de seita espírita como uma que vi ontem na televisão em que um padre, creio que americano, dizia que estavam ali em penitência.

A juventude quer-se irreverente, polémica, questionadora, alegre. Haver jovens que acreditam que nasceram pecadores, que a vida é um calvário e que têm que sofrer penitências, parece-me preocupante, doentio.

Em vez da crendice em milagres, fenómenos paranormais ou a irracionalidade de se acharem melhores que os outros, os jovens devem, antes, ser estimulados a estudar, a investigar, a adquirir mais e melhor conhecimento científico, devem ser incentivados a duvidar, a pôr em causa, a ir mais longe.

E já nem falo na hipocrisia dos canalhas que, a coberto do manto da santidade, abusam de seres indefesos ou vivem à larga à custa de nada, ou seja, à custa do dinheiro ou dos bens que os devotos lhes dão.

Gastar 1 milhão de euros como a Câmara de Cascais vai gastar nos trapinhos que a padralhada vai vestir parece-me ofensivo, vergonhoso, inaceitável.

Gastar os milhões de que se ouve falar em palcos, em tretas de toda a espécie e feitio, para que um montão de gente ande na maior ociosidade, a cantar, a sorrir e a achar-se mais santos que os outros , parece-me absurdo, ridículo e contrário ao que supostamente apregoam.

Por isso, gostei de ver a passadeira da vergonha feita de 'notas' no palco principal da JMJ.

Sei que a fé é uma coisa pessoal e, como tal, não questionável. E eu nada tenho contra os crentes. Mas a fé verdadeira é uma coisa íntima. Não é coisa que se ostente ou transaccione. E a forma como a Igreja Católica promove a 'fé' é deformada, negacionista, irracional, doentia. 

12 comentários:

Diogo Almeida disse...

Não tem nada contra quem acredita em Deus ou incomoda-a muito que existam pessoas que acreditam? É que começa o texto a dizer uma coisa, que sustenta ao longo dele, e depois termina em contradição. Quanto ao ser jovem, que na sua óptica não se coaduna nada com «beatices», não quero daí perceber que o mundo devia ser todo preto.

Um Jeito Manso disse...

Olá Diogo,

A resposta à sua pergunta está no último parágrafo do meu texto. Uma coisa é a fé, coisa íntima, privada, do foro pessoal, outra é o espectáculo, a ostentação, a crendice, etc., em volta dela.

E não percebo a sua última frase.

Anónimo disse...

Cara UJM, é "Habemus". Só assim faz sentido.

ccastanho disse...

UJM
Do que tenho observado nestes grupos, para além de visitarem monumentos ( o que é importante), são constantes cânticos a Deus, numa beatice confrangedora e até deprimente.

As autarquias gastam uma nota com esta manifestação cristã que não leva a lado nenhum.

APS disse...

Isto acaba por ser como os concertos de rock, metálica, rap e outras bugigangas. Para minha ingénua surpresa soube ontem que, pelo menos, há lugares para 30 e 60 euros. Deve ser para evitar a entrada de bimbos católicos pobres, neste recinto inefável das alturas.

Segismundo disse...

Consta que a Virgem, a tal que emprenhou por obra e graça de uma pomba branca, vulgo Espírito Santo, vai aparecer por ali, de Kalashnikov, «Não pensem que vim trazer a paz à terra; não vim trazer a paz, mas a espada», para, de uma vez por todas, converter a Rússia. É o 4º segredo, disse-me a Lúcia. Quanto ao circo das Jornadas, agora que o prepúcio do Cutileiro já foi encamisado, vai correr tudo bem!

aamgvieira disse...

Qualquer que sejam os comentários ou considerações, nos países muçulmanos em que o fanatismo medieval/religioso é lei, Bordalo 2 não existeria,,,,,,,quanto mais o Nº 1 !!!

A.Vieira

aamgvieira disse...

Sabe-se agora que a empresa de Bordalo 2 faturou mais de 700 mil euros em contratos públicos nos últimos 5 anos.

Bordalo 2 é essencialmente mais um fidalgo da "corte socialista" que sofre de indignações seletivas" vivendo à conta dos nossos impostos....."

A.Vieira

julho 28, 2023

C. Duarte disse...

Olá ujm
A fé pode ser vivida dentro de quatro paredes, nunca assumida em público e jamais em grupo. É isso, certo?
C. Duarte

Moraislex disse...

Lamento muito, mas não concordo.
Sou católico praticante, que para mim é a única espécie de católico, mas não vou às jornadas, tal como não frequento algumas das realizações da Igreja.
Não acho nada de mal que as pessoas se juntem para partilharem a sua fé, embora para mima minha relação com Deus seja mais privada, mas na caso do pai há muitas moradas, e são muitos os caminhos que a elas conduzem. Que estejam sempre abertas e desimpedidas, para que cada um escolha a sua, é o que se exige.
Quanto ao Bordalo, para além do mau gosto, a sua "intervenção" só prova que a Igreja hoje é, por culpa sua, um alvo fácil, e quando o leão está doente até os burros lhe dão coices.
O debate do laicismo está fora do tempo. O estado deve ser laico, mas não indiferente,e a Igreja deve estar separada do estado, mas não alheada do país.
O resto é fumo.

Anónimo disse...

Por falar em Lúcia, está perto o dia em que vai ser anunciada a sua santificação. Para mim, será agora pela boca do Francisco.
Enclausurada num convento, nem sequer teve as oportunidades que as pessoas livres têm para poder mostrar que não pecava. Uma Via Verde para a santidade não é para todos.

Um Jeito Manso disse...

Caros,

Continuando ainda com alguma dificuldade de locomoção digital (leia-se, de movimentação da mão direita), vou tentar fazer uma resposta conjunta:

1. De facto, tinha escrito mal 'Habemus'. Pode parecer uma desculpa esfarrapada mas quando escrevo com as duas mãos, os dedos vão às letras sem quase eu ter que intervir. Escrevendo basicamente com a esquerda, parece que volta e meia a escrita perde o automatismo. Obrigada pela indicação que me permitiu corrigir imediatamente. É que, ainda por cima, tenho um grave defeito: geralmente não revejo o que escrevo...

2. A fé, em minha opinião, é uma coisa íntima, privada, não negociável. Mas isso não significa que eu pense que tenha que ser secreta. Não acho. Mas faz-me impressão a exploração (comercial e não só) de crendices nas grandes movimentações de massas como a das celebrações da suposta aparição, ou agora, em que se movimentam milhares de jovens na prática para nada a não ser andarem nas festas e na borga, como diz o novo Cardeal, e, tirando isso, andarem em concertos e outros eventos do género. E, com isso, gastam-se milhões de dinheiro público e quase se paralisa a capital do País. Acho absurdo. Também não gostaria de ver a mesma coisa, o mesmo aparato, o mesmo dispêndio de dinheiros públicos, com devotos de outras religiões e/ou igrejas.

3. O Bordalo II é um excelente artista, com obras espalhadas por todo o mundo (é ver o site ou fazer pesquisas). Se algumas autarquias portuguesas compraram algumas obras fizeram bem e provavelmente nem são autarquias socialistas. Não percebo que mentalidade é essa de querer conotar a arte e o engenho do Bordalo II com o PS. É não conhecer, de todo, a dimensão e a notoriedade dele ou não perceber o valor da sua arte dizer que vive à custas dos nossos impostos. Não vive. Está muito, muito, para além disso.

Obrigada a todos.

Dias felizes.