sábado, abril 08, 2023

Um urso cabeludo, um coelho aos saltos, um cão imponente, muita natureza, paz e beleza
-- In heaven --

 

Estava a passear ao fim da tarde, passarinhos cantando de dar gosto, olhando e fotografando flores e florzinhas, só eu e o meu urso cabeludo, quando o vejo dar um salto e largar em louca correria. No mesmo instante, vejo um coelho aos saltos, correndo e saltando. Por pouco não fiz o mesmo. 

Em vez disso desatei aos gritos, gritando pelo nome do urso perseguidor. Poderão achar que é exagero meu mas juro que estava arrepiada. Nos momentos em que um crime pode estar em perspectiva todo o meu corpo fica em transe. Finalmente vi o urso deter-se num zona de moita mais compacta e desatar aos saltos, com latidos curtos e bem sonoros. E eu  gritar por ele. Temi até ao último instante que me aparecesse com o inocente coelhinho nos dentes.

Mas o coelho, veloz, deve ter-se enfiado nalguma lura. 

Pois eis que o urso veio a correr, aos saltos, a dar ao rabo, pondo-se de pé, todo ele sorrisos e felicidade. Pela reacção percebi que achou que fez o que achou que tinha que ser feito: rechaçou o inimigo.

O meu marido chegou entretanto e ele fez a mesma festa. Nitidamente estava a dar conta, também ao dono, de que tinha feito uma boa acção.

Depois foi pegar-se com os enormes lobos da quinta lá de baixo. Os três bisontes ferozes encostados à vedação do lado de lá e o urso do lado de cá, uma peleja que só visto. Dos três do lado de lá, há um que é imponente. Quando me aproximo, cala-se e fica a olhar para mim. É um animal fascinante.

Como continuei a minha caminhada não vi o vizinho, apenas ouvi vozes. O meu marido contou-me que o vizinho estava a chegar e, ouvindo tamanho ruidoso concerto, foi ver o que se passava e aproveitou para desejar boa páscoa. Simpático.

Entretanto, andei a apanhar nêsperas e, pelo sim, pelo não, a comê-las. E fiz também os meus telefonemas. E etc.

Já quase noitinha, o meu marido sugeriu que era melhor virmos para dentro e eu concordei porque a friagem começava a descer. Ele foi chamar o cão de guarda que andava desaparecido. Aqui é que o dog anda nas suas sete quintas. 

A fotografia está assim pois foi feita muito de longe, um zoom bem longínquo

Chamou, chamou. Por fim já chamava à bruta, na base da ordem de ou vens ou vais pagá-las. Fui também chamar. E também assobiei (que I know how to whistle). 

Nada de fera.

Passado um bocado apareceu, lampeiro, com as barbas meio molhadas e todo ele se lambendo. Feliz da vida.

Passado um bocado, já aqui na sala, veio pôr ao pé de mim uma corda de brincar. Peguei e ele agarrou com os dentes para eu puxar e ele fazer o mesmo em sentido contrário. E então senti-lhe um cheiro que não identifiquei, um cheiro orgânico, a coisa viva, uma coisa muito disturbing. O meu marido disse: por isso não veio quando chamei por ele. Nem quero pensar no que pode ter sido.

Para além de coelhos há de certeza vários esquilos. 

Debaixo dos pinheiros do costume há um mar de pinhas roídas. Quantos esquilos serão necessários para darem conta de tamanho ror de pinhas...?

Mas lá em baixo, ao fundo, também já vi vestígios deles. 

E sabe-se lá o que mais há de bicharada. Já para não falar nos pássaros. Um chilreio que derrete qualquer coração. Aliás, tudo aqui derrete, afaga e conforta o meu coração.

Tirando isso, fui ao supermercado e fiquei outra vez estarrecida com o que gastei. No fim, olhei para o talão tentando perceber como foi tal possível. As coisas a um preço estúpido. No fim, como que para gozar com a minha cara, aparecia escrito que tinha poupado 19€. Se tivesse apanhado a patroa do supermercado à minha frente capaz de fazer uma bolinha com o talão e, pedindo-lhe licença, fazer-lhe pontaria à cara de pau com que se apresenta a dizer que, nisto tudo, a distribuição está a fazer grandes sacrifícios. 

Mas, pronto, já fiz as compras todas para o fim de semana. Dessa já estou despachada.

Só ainda não contei que depois da visita familiar, da ida ao supermercado e do almoço, viemos os dois até ao sofá, carregámos no botão para o transformarmos em quase cama e, não sei como, quando demos por nós, eram seis e meia da tarde. Não sei quando é que este peso de sono nos vai sair de cima. Imagina se isto nos dava quando ainda estávamos no activo. Havia de ser bonito. Ou então isto não tem a ver com a covid mas com cansaço acumulado durante décadas. Não sabemos. 

Mas há-de passar.

O que sabemos é que há por aqui muito que fazer, muito mato para cortar, muita árvore para podar. Temos que vir com mais tempo. 

E só de pensar nisto me encho de felicidade.

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E, já agora, dois vídeos cheios de muita beleza e que também me trazem felicidade


Julie Gautier. Musica de Carlos Hof do album ADORE.

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Corda flexível de aço @CirqueduSoleil
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Um dia bom
Saúde. Serenidade. Paz.

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